quarta-feira, dezembro 28, 2005

A cinco meses dos Lagos



Estou a ver que o nosso amigo Jackie Durão está cheio de «ganas» para o novo ano. Por isso, nada melhor que esclarecê-lo devidamente sobre o que o espera no próximo dia 20 de Maio, nos Lagos de Covadonga. Para isso, nada melhor que começar a estudar aqui as altimetrias das subidas: o Mirador del Fito, a Robellada e os temíveis Lagos.

Como já tive oportunidade de lhe dizer, a parte mais delicada da prova (111 km) chega logo aos 8 km - a subida do Mirador Del Fito (9,3 km a 5,7 %). Para todos, mas especialmente para ele que não é um trepador, esta subida inicial poderá funcionar como a verdadeira charneira da prova, já que é fundamental para ele chegar ao alto integrado no grupo dos «portugueses» que, em princípio, não se irá desmembrar nesta fase - eu, Miguel, Nuno e Pedro(?). Caso contrário, o mais provável é ter de fazer todo o percurso que resta... sem a nossa companhia. Por isso, creio que a sua preparação específica deve concentrar-se especialmente em passar bem esta primeira subida, uma vez que depois não deverá ter grandes dificuldades para se manter integrado no pelotão (excepto se o Miguel não decidir atacar!) até à subida final, dos Lagos. Onde, então, começará «outra» história. E que explico já a seguir.

Para ir interiorizando alguns pontos de referência, deixo aqui uma imagem (em cima) que pode ser útil ao nosso amigo Durão. Após a primeira curva fechada à esquerda, com a casa em frente, estarão percorridos 100 km e faltarão «apenas» 12 km para terminar a Clássica. Mas atenção, não são 12 km quaisquer. Além de levarem a locais com paisagens arrebatadoras, inesquecíveis, são maus à brava. Para chegar ao alto, ao Lago Ercina, devemos contar uma inclinação média acima dos 7%, mas se excluirmos duas descidas vertiginosas de cerca de 300/400 metros cada (que por isso nem dão tempo para descansar) , a inclinação média é superior a 9% ao longo de toda a subida, com passagens a 11/12% e a 14/15%, na famosa Huesera. É mesmo muito duro.
O melhor que posso referir sobre este calvário asturiano, é que, para mim, é a subida mais díficil de todas as que já fiz. E já foram algumas, não menos míticas: Col de Croix de Fer, Col de Telegraphe, Col de Galibier, Les Deux Alpes, Tourmalet, Aspin, Luz Ardiden, Aubisque, Marie Blanque e o Mont Ventoux.

Por isso, caro Durão, acredita que quando entrares na Huesera vais certamente lembrar-te de tudo o que entretanto irás, ou não, fazer nos próximos 5 meses.

segunda-feira, dezembro 26, 2005

A bom rolar...

O treino do último sábado foi bastante produtivo. Na companhia de uma dupla de bom nível (Carlos e Nando), fiz Alverca-Loures-Azambuja-Alverca (85 km) em ritmo progressivo. Na primeira metade, contra o vento (entre 30 e 35 km/h), a render, e depois de dar a meia-volta em Azambuja, agora a favor do vento, o que permitiu atingir velocidades de cruzeiro acima dos 40 km/h até ao Carregado. Melhor do que isso, foi ter sido possível manter o regime cardíaco sempre abaixo do limiar anaeróbio, como se pretende.
De resto, a subida de Vila Franca para Arruda estava prevista, mas por motivos de horário (os meus) não a fizemos. De qualquer modo, para suprimir o meu «corte», o Nando e o Carlos decidiram trepar o Cabeço da Rosa, depois de me deixarem em Alverca. Ficou evidente que o Nando está cada vez mais perto da boa forma, ou, pelo menos, de um nível que lhe permita nos tempos mais próximos começar a castigar-nos. Amanhã volto à estrada depois dos excessos natalícios e para sábado, à mesma hora (8h45) voltamos a repetir a dose ou talvez com um percurso ligeiramente mais acidentado. Para terminar o ano em beleza!
Hoje, quando ia para o trabalho, cruzei-me com o Sérgio Paulinho, em pleno treino, na zona de Sta. Apolónia. E perguntei-me por é que depois do recital dos Jogos Olímpicos de 2004 teve um ano discretíssimo na Liberty? Não tenho grandes dúvidas em considerá-lo com ciclista cheio de potencialidades. A forma como conquistou a medalha de prata em Atenas demonstrou que além de muito boas capacidades físicas, por agora à medida de provas de um dia, tem grande sentido táctico e inteligência de corrida, qualidades fundamentais a um campeão. Será que 2006 será o ano da sua afirmação internacional? Ou passará ao lado de uma grande carreira, regressando sem glória ao nosso ciclismo, onde dói muito menos ser estrela, mesmo que só na sua terra?

quinta-feira, dezembro 22, 2005


Esta é a terrível Cuesta de Huesera, a parte mais dura da mítica subida dos Lagos de Covadonga. A partir deste local, seguem-se 1,5 km a 15% de inclinação média!!!! Um dia alguém descreveu esta passagem da seguinte maneira: «Aqui se fica a conhecer a verdadeira essência do ciclismo!»
Foto tirada na tarde do dia 20 de Maio de 2005, véspera da Clássica Internacional dos Lagos de Covadonga. Para mais informações, contactar Miguel Marcelino, que nesta manhã fizera o seu reconhecimento durante o treino de... desentorpecimento; e Nuno Garcia, que, no dia seguinte, na prova, passou por aqui a 140 pulsações por minuto, depois de ter ajudado a anular uma série de fugas ao pelotão protagonizadas pelo seu compatriota durante toda a tirada. Por causa destas brincadeiras, outro português passou quase 4 horas em regime anaeróbio! Ele há companheiros assim, há!
Pró ano, vamos lá para ganhar ao c.... do basco! Um tal de Aitor Quintana, que nunca alguém ouviu falar dele...

Bruyneel ao site da Marca


Johan Bruyneel, director-desportivo da Discovery Channel, ao site da Marca: «Armstrong tinha outro Tour nas pernas, quiçá, dois». Além de outras passagens interessantes, como «Depois de ver os videos do último Tour é que ele (Armstrong) reparou na diferença para os demais e como esta era maior do que pensava» (...) «Aprende-se muito a ver os videos, os nossos e os dos adversários. Não sei se consigo ser objectivo, mas havia uma grande diferença entre ele e os outros».
Mais relevante ainda: Que herança deixa Armstrong? «A forma de preparar um objectivo. A sua forma de trabalhar foi metódica e única, quase matemática: se fizeres isto, isto e isto, o resultado é este. Com as suas condições, claro está. O ciclismo sempre se baseou nas tradições, nas histórias dos ex-profissionais, que sempre disseram que para se preparar um objectivo devia fazer-se sempre da mesma maneira. Armstrong rompeu com tudo isso, libertou o ciclismo das suas tradições, fez provas em túnel de vento, inovou no material... e isso aborreceu os que não querem que o ciclismo saia desse mundo. Agora, depois do seu domínio, esses mesmos pensaram que o Tour já não era mais a sua corrida, mas a de Armstrong, porque ele fazia o queria nela. E ainda por cima era americano».

domingo, dezembro 18, 2005

Ai aqueles 15 km finais!

Depois de uma semana a tremer de frio e de pingo no nariz – em consequência! –, a volta domingueira, por muitos aguardada com especial expectativa devido ao seu percurso inédito, afinal foi assim tão… terrível. Posso dizer que, no meu caso pessoal, teria sido a mais moderada das últimas semanas, se não estragasse tudo nos últimos 15 km!
E apenas me posso queixar de mim próprio, por ter decidido ir em busca da dupla Miguel-Freitas entre a subida da Tesoureira e Bucelas, depois de iniciar a perseguição com pouco mais de 1 minuto de atraso. A coisa até parecia que iria ser pacífica e decorria sem sobressaltos na subida, em que tive a companhia do Carlos até próximo do café dos velhos, chegando a tê-los a uma distância de pouco mais de 100 metros já à entrada de Casais da Serra. No entanto, quando o terreno suavizou, e eu esperava que a «caçada» estava praticamente garantida, retemperando forças durante alguns segundos antes da aproximação final, eis que a dupla (excelente equipa, não há dúvida!) decidiu aumentar fortemente o andamento, gorando as minhas pretensões de chegar ao cruzamento já integrado. Pior, a distância tinha aumentado. A partir de então, tomei imediatamente consciência que não teria vida fácil se os quisesse mesmo apanhar. Fiz rapidamente o ponto da situação e calculei que estaria com as forças umas boas décimas abaixo das dos dois fugitivos e que para anular aquela diferença de 15/20 segundos praticamente sempre em descida acentuada seria preciso contar com um momento de relaxe (nunca de fraqueza!), mesmo que ligeiro. Fiz as contas aos topos que faltavam – apenas três! – onde poderia ter algo mais a meu favor. O primeiro, na Chamboeira, deu para reduzir 10/30 metros; na passagem pelo Freixial (na curva apertada depois das bombas) estava a pouco mais de 15 metros. Poderia ser no próximo topo (do aviário, mais curto)! No entanto, o Freitas inteirou-se da minha proximidade, gritou para o Miguel, e está tudo dito! Mesmo assim, restavam cerca de 10 metros, 10 intermináveis metros. E o último topo, da fábrica de rações. É terreno para homens fortes, ainda com reservas após 90 km. O Freitas, lá está, tomou a dianteira, acelerou. Eu entrei com 52x15 e não podia tirar… muito! Foram os 300 metros mais longos dos últimos tempos. A cerca de 50 metros do topo, quando reparei que não daria para encostar definitivamente, ainda pensei em desistir, mas resisti… e a caçada só terminou… no fim, na recta à entrada de Bucelas. Eles não forçaram, principalmente o Freitas que poderia ter sprintado. As suas palavras, nessa altura, foram sintomáticas: «Já podes respirar, Ricardo».
Bem, quando disse que tinha estragado tudo, foi porque na Tesoureira ia com a sensação de leveza, de um treino com alguns picos mas moderado, e a partir de Bucelas até casa tinha agulhas as espetarem os músculos. Talvez depois de analisar os dados do Polar encontre algum alívio para as dores.

Notas de observador:

1- Muito interessante se tornou a tirada após a Arruda, quando o Freitas atacou. Desde aí, houve muito ciclismo, com mais gente a sair, e perseguição efectiva do pelotão até Cadafais, onde foi consumada a absorção dos fugitivos. O Carlos e o Daniel destacaram-se (tal como o Freitas) na combatividade, enquanto eu, o Fantasma (a estrear a sua mais recente aquisição da gama Cannondale) e o Nando (que começa a aparecer cada vez mais vezes à cabeça, sinal que está a subir de forma) fizemos as despesas da perseguição. Com a entrada na secção para muitos desconhecida do percurso (Cadafais-Carnota-Freiria), continuou a haver muita animação, primeiro com o Miguel a acelerar o grupo (obviamente iria fazer estragos se o Freitas não o colocasse na ordem!) e colocar de sobreaviso as principais figuras, e depois com os inevitáveis Carlos, Daniel e Farinha a não desarmarem. A subida final fez-se a bom ritmo, com o Miguel a assumir as despesas. E onde se deve realçar o facto de a maioria dos elementos ter chegado no grupo da frente.

2- A sequência das últimas semanas com feriado a meio trouxe evidentes melhorias na condição física da maioria dos elementos mais assíduos. E que são mais profícuas nos que têm respeitado intervalos de descanso mais alargados (não como eu!). Agora, seguem-se dois domingos «off», com muitos doces e fritos à mistura. Vamos ver como decorre a «reentre» de 2006.

3- Há uns meses, eu tinha batido o recorde de furos numa só volta: três. Hoje, o Freitas bateu certamente o de raios partidos: também três. E seria bem feito que os tivesse partido a todos naquela parte final.

4- Ausência notada, a do L-Glutamina (Steven), que teria certamente um forte contributo para dar nalgumas fases «quentes» desta volta, e que o seu colega de equipa ZT terá precisado. Este esteve sempre entre os da frente mas resguardado, provavelmente por ainda não ter tomado consciência de que está cada vez mais perto de ser capaz de voos mais altos. Ao que, definitivamente, o Daniel não liga a mínima, e que o Carlos demorou mas acabou por assumir. E sempre com tendência para subir.

5- Ainda por falar em ausências, o Fantasma nem deu pela falta do seu «co-equipier» Pina, que fez a sua aparição tardiamente, já no Sobral. E o que será feito do Pedro?

6- Mais uns dias e terei concluído o primeiro mês de preparação para a temporada 2006. Nessa altura, tenho previsto realizar um teste (mais preciso e rigoroso) ao meu estado de forma actual, uma vez que iniciei os treinos mais cedo do que nos anos anteriores. E para tirar umas dúvidas que andam cá a assolar-me!

terça-feira, dezembro 13, 2005

Santana da Carnota

Volta do próximo domingo:

Loures-Tojal-Alverca (p/ Arruda)-À do Barriga-Arruda (p/ Carregado)-Cadafais (p/ Santana da Carnota)-Refugidos-Carnota-Freiria (p/ Sobral)-Sobral (p/Bucelas)-Seramena-Forte de Alqueidão-Arranhó-Quinta do Paço (a seguir p/ Tesoureira)-Tesoureira-Casais da Serra-Freixial-Bucelas-Tojal-Loures

Distância: 92 km

Pontos quentes: Alverca-À do Barriga (6,8 km a 2,4%); Cadafais-Refugidos (2 km a 2,4%); Carnota-P.M. (3,1 km a 3,5%); Seramena-Forte de Alqueidão (2,9 km a 3,4%); Tesoureira-Casais da Serra (2,6 km a 3,4%)
Descrição: Percurso praticamente plano até Alverca, onde se toma a direcção para Arruda, através da subida bem conhecida para Á-do-Barriga (6,8 km a 2,4%), com uma ascendente irregular no início, secção mais dura a partir do cruz. do Calhadriz e dois quilómetros finais, muito suaves. Depois desce-se rapidamente para Arruda e daqui para Cadafais com alguns topo no início. Em Cadafais (2 km antes do Carregado) volta-se à esq., iniciando-se a secção inédita entre Cadafais e Santana da Carnota, uma subida com 11 km, semelhante à do Sobral na extensão e inclinação média. Do cruzamento de Cadafais até Refugidos sobe-se de forma constante a 2,4% durante 2 km, passando depois a um falso plano ascendente (6 km a 1,7%), com alguns topos de permeio, antes de se iniciar a fase de subida propriamente dita, a partir da localidade de Carnota (3,1 km a 3,5%), com algumas rampas bem inclinadas. O ponto mais alto (PM) encontra-se no interior de um eucaliptal (presumo!), seguindo-se 3,7 km em falso plano descendente até ao cruzamento da Freiria (N115), onde se vira à esq. para o Sobral. Depois do Sobral, já com 57 km nas pernas, sobe-se para o Forte de Alqueidão (2,9 km a 3,4%), rumando-se para Arranhó, Quinta do Paço e à dir. para Tesoureira, e daqui para Casais da Serra (2,6 km a 3,4%). A parte final (75 km), em direcção a Bucelas e daqui para Loures, em descida irregular, ainda poderá trazer mais animação.

Dicas: não há subidas verdadeiramente duras e selectivas, mas, como se pode facilmente constatar, o constante sobe-e-desce recomenda vivamente andamento moderado, em pelotão compacto, nos primeiros km, na subida de Á-do-Barriga e nos topos à saída de Arruda, até ao cruz. de Cadafais. Daqui até ao Forte de Alqueidão (23 km) está o sector mais difícil, onde se vão esgotar muitas reservas, que, porém, serão ainda necessárias para subir para Casais da Serra e depois para chegar a Loures por Bucelas.

Hot-spots (previsíveis): Poderá haver surpresas não recomendáveis de Alverca para À-do-Barriga. Mais tarde, o andamento deverá ficar progressivamente mais «rijo» ao longo da longa subida da Carnota, mas os últimos 3,5 km para o Prémio da Montanha serão certamente os mais intensos. Depois, é preciso ter «debaixo de olho» a subida para o Forte de Alqueidão, que pode fazer descolar elementos antes da descida, e mais tarde para Casais da Serra. Aqui o reagrupamento é certo, antes da descida para Bucelas, que promete, desde já, ser agitada.

segunda-feira, dezembro 12, 2005

Cavalgada!

Depois das aventuras e desventuras de Sintra voltou-se aos percursos menos tortuosos, com uma inédita passagem pela curta mais exigente subida de S. Domingos de Carmões, algures entre Sobral e Merceana, num total de quase 100 km.
Ainda com as duras andanças de Sintra na memória – mais do que nas pernas, o que só abona em favor do estado geral do grupo – o pelotão, mais uma vez numeroso (engrossado com a presença dos nossos companheiros do BTT de Loures), rumou a Bucelas e fez-se à subida do Sobral em ritmo moderado, que permitiu manter a coesão praticamente até ao alto do Forte de Alqueidão. Todavia, houve um fugitivo pouco habitual – o Freitas –, cuja iniciativa, ainda muito antes do cruzamento da Tesoureira acabou por vingar, não obstante a reacção do pelotão sensivelmente a partir da Frutar, embora sem intenção de mover uma perseguição efectiva – que, aliás, seria tardia.
Assim, não espantou que o líder tivesse chegado ao alto com vários minutos de avanço – facto muito pouco usual, para não dizer inédito. Todavia, o pelotão parecia disposto a não forçar – e fê-lo bem. Entre o grupo perseguidor, ainda houve alguns esboços de ataque, prontamente anulados. Não havia mais permissão para sair.
O tal novo sector de ligação a Carmões, tinha como aliciante uma curta subida de 1,8 km, a 4,8%, que, uma vez abordada com empenho pelos mais fortes daria certamente bom despique. Marquei o ritmo ao longo da subida, aumentando-o progressivamente até patamares altos, entre os 85% e os 90% (167/177), para terminar perto dos 95% (max. 184). Lá no alto, inseparáveis de mim, o Miguel e o Freitas: o primeiro sem surpresa e o segundo a mostrar que continua em crescendo de forma, num tipo de subida (curta) em que tem «obrigação» de entrar com os da frente. Certamente dir-me-á, como sempre: «Deus sabe como é que eu ia». Mas a verdade é que é ali o seu lugar. Igualmente bem, o Carlos e o João.
Depois do reagrupamento, retomou-se o percurso conhecido da volta da Merceana, que seguimos até final. Com as subidas para trás, a história da etapa mudou radicalmente. E mesmo reduzido em alguns elementos, o pelotão partiu para uma empolgante cavalgada entre Carmões e Alenquer (17 km), que se fez à média de 36,4 km/h!!! Comigo a fazer de Hincapie e um comportamento exemplar dos restantes 10 bravos cavaleiros. Sem um pio, nem um ai. Tudo agarradinho. 27 minutos a alta intensidade. Impressionante. Grande momento de ciclismo em grupo. Eis os eleitos: Miguel, Freitas, ZT, Steven (L-Glutamina), Farinha (Fantasma), Abel, Pina, Luís, Carlos, Daniel e Ricardo. Espero que os meus companheiros tenham tido o mesmo proveito que eu tive (refiro-me apenas a prazer, porque em termos de treino foi uma «estragação»). Ah, muito sinceramente, nunca pensei em ajudas. Foram todos extraordinários.
A partir de Alenquer, o ritmo aliviou… mas pouco. O comboio Pina Bike, agora sem locomotiva fixa e a ritmo mais inconstante, percorreu-se os 22 km até Alverca a 34,7 km/h!!!! É obra, senhores! Vi passar à cabeça mais amiúde o Fantasma, o L-G, o Daniel e o Carlos, partindo deste as acelerações mais fortes – sempre correspondidas pelo pelotão. O sprint em Vila Franca foi vigoroso e o Freitas fez valer os seus galões, logo seguido do Pina. E foi com pena, embora já fatigado, que me despedi do grupo na rotunda do Cabo de Vialonga. E até Loures, como é que foi!?


Notas de observador

1. Quero arriscar que o segredo do sucesso desta volta foi o andamento constante sem momentos prolongados de extraordinária intensidade nem de grande relaxe. Além disso, penso que a escolha do percurso (passe a imodéstia) foi acertada e deve servir de modelo, pois ficou mais uma vez provado que, também aqui, é no meio-termo que se encontra a virtude. A montanha é muito selectiva e acentua fortemente as diferenças – além de criar um estigma psicológico. De qualquer modo, reitero que, com uma abordagem mais comedida, as fortes percentagens também se passam com (quase) a mesma galhardia com que lidam estes percursos «ondulados». A planície, por sua vez, é um engodo a andamentos violentos. Mas há que ir a todas!
2. Parece-me que a única coisa que realmente faltou (se faltou!?) nesta volta foram momentos verdadeiramente competitivos (ataques, acelerações), que são sempre condimento apetecível. À excepção da fuga do Freitas no Sobral (praticamente sem perseguição) e do habitual sprint de Vila Franca não houve veleidades aos combativos. Os andamentos vivos desencorajaram mais iniciativas. Mas ainda houve algumas.
3. O colossal empeno do Hélder em Sintra foi tema de conversa no grupo e promete ainda fazer correr alguma. Fina ironia e muitas interrogações sobre as causas do sucedido (cãibras, quase esgotamento…) monopolizaram os diálogos nos primeiros quilómetros da volta. Mas num ponto parece haver unanimidade: o homem, quando recuperar deste revés, vai querer causar estragos.
4. Já vejo alguns elementos que tiveram algumas semanas de dificuldade a recuperar a sua boa forma. Isso é prova de empenho e motivação, e forte contributo para reforçar (ainda mais) o bom nível do grupo.
5. Alguém já reparou que dia de Natal e de Ano Novo são dois Domingos?

sexta-feira, dezembro 09, 2005

Crónicas de Sintra

Manhã de sol, percurso fantástico no cenário da Serra de Sintra e pelotão numeroso: a jornada de ciclismo deste feriado teve todos os ingredientes para ser memorável. E foi! Mas com lembranças distintas – umas boas, outras assim-assim e outras nem por isso.
Já se sabe que quando maior é o grupo, menor é a sua homogeneidade, e potencialmente maiores as discrepâncias. E se, na volta do último domingo o terreno plano ainda disfarçou essas diferenças, a verdade é que num percurso selectivo como o de hoje não há como escondê-las. E pior ainda quando se produzem desgastes antes mesmo destes se imporem naturalmente pelas dificuldades do terreno.
Fazer o primeiro quarto de uma volta, selectiva como esta, como se fosse o último, não ajuda nada, principalmente para os que estão justinhos de forças. E são alguns. Uns porque estão muito em baixo de forma, outros porque não se dão bem com terrenos acidentados. E quando toca a subir bem, são muitos mais.
Subiu-se Guerreiros demasiado depressa, Sta. Eulália também e como se não bastasse, em Negrais desatou tudo numa correria desenfreada. A factura, estava mais que visto, seria alta. E foi!
Mas vamos à crónica: a subida de Lourel para S. Pedro de Sintra cavou as primeiras diferenças, curtas (ainda), provocadas por uma aceleração progressiva de um grupo constituído por 5/6 unidades, que passou a quarteto (Miguel, Hélder, Ricardo e Freitas) nos últimos 400 metros, e uma explosão minha perto do final (para regimes nunca alcançados!). Houve cortes no pelotão mas as diferenças foram escassas.
A recta do autódromo para Alcabideche fez-se quase sempre acima dos 50 km/h e até à Malveira houve sempre gente para trás (eu, o Miguel, o Hélder, o Salvador, nem sei quem mais…), lutando por reentrar, começando a sentir-se as primeiras consequências do desgaste precoce. E os pratos principais ainda estavam por servir. O primeiro, mesmo a sair: Malveira-Cabo da Roca. Três na frente: Ricardo, Hélder e Carlos. Ritmo moderado, mas com a dificuldade adicional de o vento soprar de frente. O Hélder cedeu e o Carlos resistiu… até à entrada em cena do Miguel, já perto do último quilómetro. Depois foi entre eu e ele. A situação não chegou a fazer chispa, mas deu para nos sentirmos, digamos, em boa companhia. E a última subida para o cruzamento do Cabo da Roca foi bem rasgadinha, com muito respeitinho mútuo. Terá sido a primeira vénia à nova temporada. Pena que ele, a partir daqui, não tivesse voltado a estar na frente.
Depois do reagrupamento parcial, desceu-se para Colares e chegou-se depressa ao início da subida da Várzea e depressa a escalámos. E mais ainda, quando passei a integrar um pequeno grupo (com algumas bicicletas de triatlo) que seguia há alguns quilómetros à nossa frente. Foi alto, sim senhor! (pulsações upa, upa!) Mais do que para o Cabo da Roca. Dos nossos, o Carlos foi o que mais perto ficou. Mas também o Zé-Tó, o Steven, o Pina, o Daniel e aquele elemento «poderoso» (penso que anónimo) que andou sempre na cabeça do pelotão, não perderam muito tempo. E foram estes que chegaram primeiro ao cruzamento para Algueirão, onde aguardámos pelos «possíveis».
Até Loures, o ritmo não abrandou, em género de prova de eliminação, ao estilo de uma Clássica da Taça do Mundo. Só resistiram os mais fortes, os restantes baquearam ao esforço da distância, das inclinações e das correrias madrugadoras. Eu, Daniel, Zé-Tó, Freitas e João em corrida de gatos e de rato. Eu fui o rato. Os primeiros gatos, o Daniel e o Zé-Tó; os segundos o Freitas e o João. Eu esgueirava-me nas subidas, eles caçavam-me nas descidas. Primeira vítima: João. Segunda: Freitas. Em Casal de Cambra, Daniel e Zé-Tó juntaram-se a mim, e o Freitas ainda entrou pouco antes da subida para Caneças - e de eu ter ido definitivamente embora. Em Loures, Zé-Tó e o Freitas chegaram juntos, o Daniel terá chegado pouco depois e logo, logo a seguir o Steven. Perdão, o L-Glutamina. Não muito tempo depois, também o Pina e o Salvador…

Notas de observador:
1. A malta anda entusiasmada, bem treinada, mas atentem às dificuldades do percurso (distância/desnível), senão não há mão para os empenos. Volto a frisar que os ritmos iniciais foram demasiado altos para o contexto da volta (responsabilidade de quem encabeçava o pelotão). Estes excessos têm várias consequências: acentuam as dificuldades dos menos bem preparados e cavam um fosso ainda maior para os mais fortes, mais tarde, quando será o próprio terreno a impô-las. Resultado: uns ficam muito para trás e outros muito para a frente. Não tenha ilusões: o que por vezes se faz, tanto em etapas planas como nas «montanhosas», está apenas ao alcance de desportistas já muito bem treinados. Velocidades de cruzeiro acima dos 40 km/h mesmo na planura da lezíria são muito altas, meus amigos. Subir Guerreiros e S. Eulália em regime anaeróbio e meter o pelotão a esticar ainda em Negrais, quando ainda faltavam 90 km na Serra de Sintra é uma loucura desmedida num grupo heterogéneo. Por isso, se me permitem a liberdade, aconselho sinceramente a que se protejam o mais possível, que se escondam, que guardem forças para quando elas são realmente precisas. Porque nunca são demais, acreditem! Mais cedo ou mais tarde, vão precisar delas. E mais perto do final se ainda as tiverem, então gastem-nas como quiserem…

2. A dupla que se disse vítima de conspiração no último domingo, Zé-Tó/L-Glutamina, (tão bem que eles ficam de amarelo canarinho!) vingou-se «à séria» da dupla de fugitivos da lezíria Pina/Fantasma. E não só porque a primeira mostrou estar em grande forma e a caminho de níveis ainda mais elevados, mas porque a segunda cedo ficou privada do contributo efectivo de um dos elementos, o Fantasma, que tirou logo o bilhete na subida para o Cabo da Roca e não mais se viu, deixando desamparado o seu companheiro de equipa, que, mesmo sozinho perante o duo rival, deu muito boa conta de si. E mais não era obrigado. Fantasma, melhores dias virão!

3. Principais destaques da jornada: o Carlos, em alto nível na subida para o Cabo da Roca e na Várzea; o Zé-Tó confirmou o crescendo de forma também a subir; e o Daniel resistiu entre os primeiros quase até final.

4. Convite: amanhã (sábado), às 8h30, no Café Golo (Tojal), para um treininho higiénico Bucelas-Sobral-Feliteira-Pêro Negro-Sapataria-Póvoa da Galega-Vale S. Gião-Bucelas. Inscrições neste blog. P.S.: 5 minutos de tolerância.

segunda-feira, dezembro 05, 2005

Muito alto, muito alto!

O regresso à lezíria trouxe, naturalmente, velocidade elevada e regimes cardíacos acima dos recomendáveis para a presente fase da temporada – pelo menos, para mim! Todavia, rolar (um pouco) mais devagar em alguns sectores do percurso teria sido pedir demasiado a alguns «duros» do nosso pelotão, entre eles, o Fantasma (que regresso!) e o próprio Freitas (mais «castigador» do que nunca). Tudo isto, numa etapa marcada pelos furos dos «éles» (Samuel e Abel, ambos com direito a dose dupla), a provocarem interrupções no andamento e inclusive, como se verá, cortes decisivos no grupo.
Até ao cruzamento da antiga estalagem do Gado Bravo (desta vez a volta fez-se no sentido oposto ao que é habitual) não houve grande história, mas logo que se entrou na estrada secundária o pelotão dividiu-se, ao género dos famosos abanicos espanhóis, embora por aceleração de algumas unidades e não por acção do vento. De qualquer maneira, o grupo da frente (Miguel, Farinha, Salvador, Abel, Zé-Tó) esteve sempre à vista (nunca mais de 100 metros) e perfeitamente controlado pelo perseguidor (Ricardo, Duarte – J. M. Nicolau -, Freitas, Zé-Tó, Steven e Pina - este acabou por saltar para dianteira antes da junção). Nesta altura, eu rolava à cabeça, entre os 37 e 38 km/h, por sinal confortavelmente em cadência elevada, até que o Freitas se cansou de ver os fugitivos à distância e resolveu anular a diferença… rapidamente – demasiado, para mim!
Apesar de o pelotão rolar de novo compacto, a velocidade não baixou. Pelo contrário, aumentou. Primeiro o Farinha (Fantasma) e depois o Freitas meteram o pelotão a 40-41 km/h e causaram as primeiras «baixas» na rectaguarda do grupo: o Steven (perdão, o L-Glutamina, que tão boas indicações tinha dado na última quinta-feira, e que ontem, para sua «desgraça» foi forçado a recorrer à BTT), o Zé-Tó e eu. Conta-se assim: o Steven começou a fraquejar, o Zé-Tó abriu um espaço e eu fiquei na expectativa. Ainda em tempo útil, alertei-os para não se deixarem cortar, mas para o Steven era escusado e o Zé-Tó decidiu ficar para o ajudar. Naquele impasse, fiquei em posição intermédia, a aguardar que os dois recolassem, e juntos tentassemos ir ao grupo da frente, o que acabou por ditar também a minha sentença (e no final, ainda levei uma reprimenda por não ter esperado!).
Entretanto, tentei recuperar mas as pulsações saltaram para valores proibitivos (acima das 180), por isso resolvi deixar-me ir, uma vez que o cruzamento com a estrada nacional estava próximo e lá, certamente, haveria novo reagrupamento.
E houve. Mas por pouco tempo. O Farinha e o Pina a abriram a caminho de Benavente e rapidamente cavaram um fosso significativo, a exigir nova perseguição. No entanto, o Steven (L-G) estava definitivamente limitado pela sua inadequada montada e todo o grupo decidiu aguardar, perdendo-se, para «sempre», o encalce dos dois fugitivos – apesar de tudo, foi uma bela recompensa para ambos!
Depois de integrado o L-G, rolava-se a bom ritmo até que… mais um furo – do Abel. Oito minutos depois voltavamos a arrancar, desta vez, esperando que fosse sem mais percalços.
A passagem pela ponte de Marechal Carmona proporcionou a habitual aceleração, levando ao sprint (a 52 km/h) em Vila Franca, entre mim e o Freitas. Resultado: empate técnico, porque meia roda de diferença é irrelevante quando não há risco de meta. É justo! Depois, até Alverca não houve descanso – agora principalmente por minha culpa. Foi para acabar com o resto. No final, para mim foram 100 km à média de 28 km/h, o que, com tantos atrasos, dá para ter ideia de como se andou depressa.

Notas de observador:
1. Confirmou-se, uma vez mais, que este tipo de voltas, sempre a rolar, tem uma abordagem bastante agressiva, sem paralelo em todas as outras, mesmo as que não incluem subidas a sério. Essa abordagem acutilante parte, maioritariamente, de elementos que, por hábito, são muitíssimo mais comedidos quando o terreno é mais acidentado, o que me leva a crer que no meio termo está a virtude. Ou seja, nem as voltas mais montanhosas deveriam ser encaradas de maneira tão passiva, nem estas de modo tão viril.

2. Assim, por serem tão disputadas pouco se rolar descontraidamente, estas etapas planas não permitem fraquezas, nem sequer distrações – que resultam em cortes, atrasos e em esforços adicionais evitáveis. Eu que o diga! Aliás, para mim, nesta altura são treinos de intensidade, que colocam a nu todas as limitações de um início de temporada. Por exemplo, o Zé-Tó mostrou-se surpreendido por saber que, em esforço, as nossas pulsações eram idênticas.

3. Já disse, mas voltou a frisar: o Fantasma voltou em grande e, mesmo que involuntariamente, puniu o seu arqui-rival L-Glutamina (L-G), fazendo pagar bem caro ter sido forçado a comparecer com um todo-o-terreno numa prova de velocidade. O primeiro «assombrou» o pelotão, metendo ferro desde o início da volta, e a caminho de Benavente partiu numa aventura a dois com o Pina, dois excelentes roladores. A coisa estava a fazer-se, mas à semelhança da última quinta-feira, aquando da fuga do Zé-Tó e do Carlos, ficou o gosto amargo de a perseguição não ter ido avante – por culpa das limitações do L-G. Tal como os dois diziam em conversa animada no início da volta, para a próxima deveriam unir esforços.

4. Já agora, L-G, lembras-te dos 5 minutos de avanço com que chegaste à Malveira no feriado? Pois é, ontem aquele grupetto que te agarrou à saída de Vila Franca ficou 9 minutos retido em Samora Correia, depois de tu passares. Nunca mais te esqueças do CAAD 8, tá!

quinta-feira, dezembro 01, 2005

Prometeu e cumpriu

O homem prometeu e cumpriu. Para compensar a falta de presença no último domingo, o L-Glutamina (o Steven) já tinha ameaçado neste blog atacar no Freixial e pôr-se em fuga com pouco mais de 10 km percorridos de uma volta de… 90 km. E para os cépticos que glosaram da sua promessa aventureira, não fez esperar a resposta. Mais: antecipou a iniciativa, acelerando o andamento ainda antes de Bucelas, sem que alguém ousasse responder. Continuariam sem acreditar que fosse para valer? E lá foi, apesar de a partir do Freixial terem ocorrido as primeiras mudanças de ritmo, com o pelotão a fraccionar-se na longa subida, mas sem êxito na sua «captura».
O primeiro fugitivo do dia chegou à Malveira com mais de 5 minutos de avanço sobre o primeiro grupo de perseguidores. Todavia, não ficou totalmente satisfeito com a prestação, reconhecendo que não cumprira, na íntegra, a promessa: «Tinha dito que a fuga era até ao final». Fica para a próxima. Isto se houver, pois em futuras iniciativas do género dificilmente voltará a contar com a parcimónia do pelotão. Adiante.
Na Malveira, quando se esperava que houvesse um compasso de espera para reagrupamento, o primeiro grupo, agora com o L-G já integrado, continuou em bom andamento. E eu, com o Pedro e o seu amigo, estive a 20 metros de também nos juntarmos, mas deixámo-nos atrasar entre o imenso trânsito no interior da vila, obrigando a que, a partir de Alcainça, o esforço na perseguição tivesse de ser bastante mais forte. Alcançámos primeiro o Nando (está para ficar!!) e depois o João e o L-G, que não tinham resistido ao andamento imposto pelo trio Freitas, Carlos e Miguel. Recolámos já na última subida para o Carapinheiro, depois da rotunda nova da AE, com o Miguel a pisar no acelerador para passar à frente no alto. Enfim o reagrupamento!
A ligação entre Mafra e a Ericeira fez-se a bom ritmo, novamente com dois grupos (e eu novamente no perseguidor), e embora com controlo da distância, só pouco antes da descida para a Ericeira se voltou a rolar em pelotão compacto.
À saída desta bela vila piscatória, apareceu o vento de cara, pronuncio que os próximos quilómetros até Terrugem haveriamos que enfrentar um adversário adicional. E a subida de Foz do Lizandro para o Pobral, a mais exigente do dia, vinha já a seguir. Bom ritmo, primeiro o Miguel à cabeça, depois o Pedro, depois eu. Nos últimos 500 metros, meti a pedaleira grande para forçar os músculos, acelerando um pouco o andamento. No alto, pouco depois do Freitas ter afirmado, entre duas tomadas de fôlego, que o grupo vinha «todo partido», olhei por cima do ombro e quem! O Glutamina – o próprio! Embora a subida não tenha sido a grande intensidade, ali estava ele a demonstrar que, depois da fuga madrugadora, era, de facto, o homem do dia.
Até à Terrugem, o ritmo abrandou muito, mas logo a seguir saltavam mais dois elementos: o Carlos e o Zé-Tó. Aceleração forte, descarada, nas barbas do pelotão, que não demorou a reagir, mas rapidamente se verificou que a tarefa exigia empenho. Na perseguição Freitas, Miguel, Pedro, o seu amigo, Ricardo, Steven (L-G) e o Pina. Definitivamente para trás, o Luís e o Samuel (em deficit de forma devido a paragem) e ainda mais para a frente, o Salvador (sempre esquivo). Na passagem pela Granja e na aproximação a Pêro Pinheiro, a perseguição estava bem lançada, testando fortemente a resistência dos dois fugitivos. No entanto, em Pêro Pinheiro decidiu-se aguardar pelos retardatários, não permitindo saber até onde iriam os fugitivos e a capacidade dos perseguidores. E a coisa estava mesmo séria. Assim, para ver de novo o Carlos e Zé-Tó só em Loures.
Assim, resolveu-se apreciar o bom cheiro do leitão de Negrais, mesmo a abrir o apetite para o almoço, e aproveitavou-se para jogar ao gato e ao rato, culminando num sprint vigoroso em Sta. Eulália – que antecedeu nova paragem. A partir daqui já se descontavam os quilómetros para Loures e pedia-se ao céu para aguentar a chuvada que ameaçava abater-se a qualquer momento. Depois de Ponte de Lousa, a subida curta para o alto de Guerreiros fez-se a esticar ligeiramente o elástico e o Freitas surpreendeu toda a gente com uma boa aceleração final (e não propriamente um sprint, o que merece registo!). Eu, por exemplo, fiquei à procura dos carretos e só recolei na descida.
Em Loures lá estavam o Zé-Tó e o Carlos (este já em sentido contrário, a provar que deixara o servicinho feito, e bem feito, porque fez o seu companheiro de fuga tirar o bilhete ainda antes de Negrais). O homem faz-se. Tal como o Zé-Tó e o Glutamina, que apesar da maior discrição na última parte da volta, não deixou de ser o homem do dia!
Para uma grande jornada de ciclismo só foi pena aquela interrupção na perseguição aos dois fugitivos. Fica para a próxima…

Notas de observador:

1. Temos-te debaixo de olho, L-Glutamina! Na ausência do Fantasma, provaste que das bocas se pode passar aos actos e cumpres o que prometes, partindo sozinho, de peito feito, sem receio do muito que ainda estava para vir. Fizeste bem em parar na Malveira, pois, de tão tresmalhado que estava o andamento lá atrás, arriscarias mesmo chegar sozinho a Loures. Definitivamente, pareces preparado para uns apertos. E então aí, a coisa pia mais fino.
2. Foi o primeiro dia da nova temporada para o Miguel, grande companheiro de andanças internacionais. Força, amigo, temos muito que pedalar até às míticas 21 curvas…
3. O Freitas parece revigorado. Confidenciou-me que foi a paragem de duas semanas que beneficiou a recuperação. A verdade é que está mais solto e ousou acelerar numa subida (embora curta) em vez de sprintar. No domingo, a confirmar-se uma volta para roladores pode ser que deixe o seu crivo.
4. O Carlos. Voltou a dar nas vistas, depois de umas semanas de maior apagamento. Queixou-se que uma ameaça de caimbra o tinha impedido de subir com os primeiros no último domingo da Merceana para o Sobral. E que a mulher lhe tinha dado com o rolo da massa por ter sabido, através deste blog, que ele quase entrara pela frente de um carro na descida do Sobral. Tranquilize-se a senhora, porque o seu marido sabe o que faz: era apenas um micro-carro, quase do tamanho de uma bicicleta. Estou a brincar! Desta vez andou sempre no grupo da cabeça, e atacou – mas foi traído. Sim, porque ninguém gosta entrar em fuga e depois os perseguidores resolverem renunciar por outros motivos que não seja por falta de forças. Desculpa lá, companheiro. Por mim, não se volta a repetir. (brinco, porque esperávamos por elementos que podiam estar em dificuldades).
5. Finalmente, o Zé-Tó. Um bis (+) em menos de uma semana. Estando tu a subir de forma, já se sabe com que contar – um homem sempre disposto a espevitar o andamento! E quando estiver «au point», do que serás capaz? Até lá, deixa a malta fazer a pré-temporada descansada, está bem?!

segunda-feira, novembro 28, 2005

Volta de quinta-feira: Ericeira

A pedido de várias «famílias», aqui está a descrição da volta da próxima quinta-feira (dia 1), muito à imagem da do último domingo, mas num cenário completamente distinto, com Ericeira e o mar em pano de fundo.

Loures-Tojal (4 km)-Bucelas (8)-Freixial (12)-Venda do Pinheiro (20)-Malveira (23)-Alcainça (26)-Mafra (32)-Paz (33)-Ericeira (42)-Foz do Lizandro (47)-Pobral (50)-Odrinhas (56)-Terrugem (61)-Pêro Pinheiro (68)-Negrais (74)-Sta. Eulália (76)-Ponte de Lousa (81)-Pinheiro de Loures (86)-Loures (88).

Principais Pontos Quentes:
Primeiro, a subida de 8 km, a 2,2 % entre o Freixial e Venda do Pinheiro, com muitos descansos, mas também com pequenos troços entre 6 e 8%: como a rampa de Vale de S. Gião.
A passagem por Alcainça também não é fácil: 1,7 km a 4%. E logo a seguir, desde a curva da ponte até ao cruzamento do Carapinheiro: 1,7 km a 1,9 %
No entanto, a maior dificuldade da etapa é a subida da Foz do Lizandro até ao Pobral: 3 km a 4,5 %, numa altura em que já se levam percorridos 50 km.
Entre Pobral e Terrugem (7 km) é um pouco «rompe-pernas», com alguns topos complicados, como o de Odrinhas, numa zona muito aberta ao vento marítimo.
Entre Pêro Pinheiro e S. Eulália também não será fácil, mas mais pelos quilómetros já acumulados do que pelos 7,5 km a cerca de 1,5 % dessa ligação.
Finalmente, para os que ainda se sentirem com reserva de força, resta-lhes a subida de Ponte de Lousa para o Alto de Guerreiros (0,8 km a 4 %) para colocarem os restantes em dificuldade. Antes de descer até Loures.

ATENÇÃO: ENCONTRO NAS BOMBAS DA BP (LOURES) ÀS 8H30, PARA SAÍDA ÀS 8H45.

Excelente jornada de ciclismo

Excelente jornada de ciclismo, a de ontem. Percurso equilibrado, pelotão coeso e organizado – com algumas ausência de vulto mas um regresso saudado: o Nando –, ritmo quase sempre moderado (altamente recomendado para esta altura da temporada), e nem os aguaceiros dos primeiros quilómetros chegaram a ameaçar estragar a festa.
Já há muito tempo que o Sobral não era subido de maneira tão… suave, a um ritmo que, sem ser demasiado baixo, permitiu que todo o grupo chegasse compacto ao Forte de Alqueidão – apesar de uma ligeira fractura depois de Arranhó. Todavia, os da frente nunca quiseram cavar o fosso, nem os detrás se deixaram cai definitivamente nele. Depois do pelotão ter perdido algumas unidades em Arruda (Carlos de S. Iria, Hélder, João e o Nando encurtaram a sua volta), rolou-se a boa velocidade (mas sem forçar) na longa descida para o Carregado (onde, no final, encontrámos o Zé-Tó, que se tinha adiantado bastante após o Sobral) e depois até Alenquer.
Eis o grupo que fez a volta completa: Freitas, Miguel, Nuno, Pedro, Ricardo, José Morais, Zé-Tó e o Carlos do Barro.
Os topos à saída desta cidade provocaram ligeiros adiantamentos de algumas unidades (o Zé-Tó deu boas indicações) pelos vistos consideradas «perigosas», tal a forma empenhada com que fez a perseguição. Foi a única parte da volta em que a intensidade subiu a níveis que têm sido habituais nos últimos tempos. Contudo, uma vez reagrupados, fez-se a ligação até à Merceana sem sobressaltos.
Aqui, já se sabia, a subida até ao Sobral, não muito inclinada mas longa (8,4 km) e os quilómetros já percorridos (+70), iriam fazer uma selecção natural. O Pedro e o Miguel ganharam algumas dezenas de metros no primeiro sector, o mais duro, com o Freitas em posição intermédia, à minha frente. Atrás, os restantes reuniram-se em «grupetto» – curiosamente também o Carlos, que há algumas semanas estava em grande momento de forma. Terá sido uma abordagem mais comedida ou também ele já entrou em processo de «desaceleração».
Depois de alcançar o Freitas juntámo-nos ao duo da frente num local em que o terreno suaviza e fizemos os quatro o resto da subida, em ritmo moderado, sem procurar causar grandes desgastes, apesar do Miguel ter comandou quase sempre as operações, aqui e ali forçando ligeiramente. O Pedro limitou-se a seguir a toada (com aparente facilidade), o Freitas resistiu muito bem e ainda teve ensejo de fazer a despesa final, e eu por vezes deixava-me descair, controlando, acima de tudo, o batimento cardíaco.
De novo, todos reunidos após o Sobral, restava o última subida do dia, até ao Forte de Alqueidão, onde as selecções fizeram-se da mesma maneira, mas, desta vez, como o Carlos entre os primeiros. Nos últimos 200 metros, acelerei forte (para sentir a reacção muscular) e depois de relaxar no topo, só o Pedro e o Freitas seguiam no encalço, enquanto o Carlos viria a encostar mais tarde. Na descida, ainda fizemos mais 1 ou 2 acelerações, mas depois do Carlos ter ameaçado entrar pelo pára-brisas de um «mata-velhos» (não hão-de os idosos morrerem do coração!), reunimo-nos em quarteto até Bucelas.
Notas de observador:
As ausências: foram várias e especialmente notadas, inclusive de alguns duros do pelotão, como o L-Glutamina e o Fantasma, que na semana passada tinham saído de peito cheio de uma gloriosa tormenta climatérica. No entanto, ontem a chuva não terá sido suficientemente forte!
Zé-Tó: em subida de forma, como (eu) há muito tempo não se via. A manter esta ascensão, em breve vamos ter homem. E um homem possante! À atenção dos todo-o-terreno que actualmente dominam!
Nuno Garcia: continua a sua lenta recuperação de forma após longa paragem. Todavia, sabe-se já que a partir de dia 1 vai regressar ao degredo das arábias. Para si, que voltará a enfrentar objectivos ambiciosos em 2006, a pré-temporada será um pouco mais extensa e a implicar abordagem mais cuidada. Até ver, sem motivos de preocupação.
A abordagem: a abordagem a esta volta foi, já se disse, ideal para a altura do ano, privilegiando a intensidade baixa ou moderada e, desde modo, também a coesão do grupo. A manter – já na próxima quinta-feira (feriado).

sexta-feira, novembro 25, 2005

A imagem (1)


Esta imagem fala por si. Foi tirada em 2 de Maio de 1999, algures nos Pirinéus franceses. Lance Armstrong, acompanhado pelo seu director-desportivo Johan Bruyneel, durante o reconhecimento da etapa-rainha do Tour desse ano, o primeiro depois do cancro. Nesta altura, carregadinho do EPO, certamente nem sentiu as mais de 8 horas a subir e descer montanhas de 2000 metros, sob uma chuva diluviana. E os seus adversários, onde estariam?? Posted by Picasa

quinta-feira, novembro 24, 2005

O bom sofrimento!

Ainda no seguimento dos episódios de treino com o Nando que relatei, embora seja redundante dizê-lo, não é demais sublinhar que o ciclismo é uma modalidade em que a performance está estreitamente ligada à capacidade de sofrimento e ao desafio dos limites físicos do ser humano. Mesmo ao «nosso» nível, essa componente está muito presente. Por exemplo, quando são os outros a colocarem-nos sobre essa pressão, mesmo para quem, como eu, nunca competiu «oficialmente».
Neste particular, houve situações, com alguns distintos elementos, que me obrigaram a suar as estopinhas, a ir buscar o que provavelmente nem sabia que tinha para dar, só para não… ficar para trás. E como, às vezes, isso custa! Um nome que me vem logo à cabeça é o do Hélder – que penso que todos conhecem, um atleta federado, o que diz quase tudo sobre os seus índices físicos.
Há dois anos, em meados de Março, na tradicional volta de Torres, fez-me passar as passinhas do Algarve na subida de Vila Franca do Rosário para a Malveira. Errei ao tentar-me manter ao seu lado, e não na roda – aprendi desde logo que isso não se faz com este senhor, porque é daqueles que se dá mal se alguém tenta dar-lhe o braço, por isso acelera sempre mais um pouco. Outra característica do Hélder (esmagadora do ponto de vista psicológico) é a mania de, nestas ocasiões, perguntar constantemente se o outro vai bem. Ao início ainda tentei guardar o jogo, mas na esperança de alguma clemência, acabei por reconhecer que já tinha ido melhor. Então, o homem não é que me sugere que meta rotação e beba água! O Marco (de Caneças), que completava o trio, revelou mais tarde que se tinha apercebido que eu ia em muito mau estado. «Eu vi, tinhas o suor a subir pela cara». «A subir», disse bem, não a descer!
Mais recentemente, em meados de Junho, naquela pequena subida da Ota – penso que a maioria do grupo se recorda – quando o Nuno se passou e meteu um ritmo arrasador. Foi daquelas correrias em que a paisagem se esbate.
Outra foi na Serra da Estrela, também este ano, para acompanhar o andamento imposto pelo Miguel na zona do Sanatório. Em determinados pontos em que ele acelerou procurando claramente causar a ruptura, ainda cheguei a ponderar dar-lhe algum espaço e esperar por uma zona mais «doce», que vem logo a seguir. Mas foi daquelas vezes em que se resiste sempre mais um bocadinho… Deixá-lo ir (e ao Nuno?) teria consequências imprevisíveis.
Ainda este ano, mas devidas ao cansaço, foram os empenos na subida dos Lagos de Covadonga, principalmente depois da terrível Huesera, e os três últimos quilómetros do Col d’Aubisque, na Etapa do Tour. A sensação do «nunca mais acaba».
Isto quando sofrer vale a pena! Porque do que não vale a pena teria muito mais para dizer…

Dureza

Questionava, em conversa com o Freitas, mais uma vez sobre as razões que têm motivado tão longa ausência do Nando. Mas sem êxito. Nestas ocasiões fico sempre a lamentar a falta que ele faz ao nosso grupo, pela sua camaradagem, pela disponibilidade física quase inesgotável, pela sua atitude felina. Também me vêm há memória os treinos que fizemos os dois na última temporada, de Fevereiro a Abril. Sempre com muita «dureza», como ele costuma dizer. O homem não gosta de estar mal, nem de esticões, dá-se mal com isso, prefere meter «ferro» e colocar o comboio a alta velocidade quilómetros a fio. Por vezes, esquece-se do esforço que está a fazer e do tempo, tal a força que tem. Recordo-me, por exemplo, de um treino, entre Torres e o Bombarral, «numa estradinha que é um mimo», como ele próprio definiu, em que logo à saída de Torres meteu aquele seu passinho pesado, entre os 35 e os 40 km/h, o peito ao vento, a cabeça (sem capacete) presa ao guiador e deixou de falar. A estrada é lisa e ondulada, e lá atrás eu parecia um yô-yô. No plano afastava-me, nos topos aproximava-me. Sim, porque o aço também verga. Ainda pensei em dizer-lhe para abrandar, para descansar um pouco, para me deixar puxar, mas mais… devagar. Mas não o fiz por parecer um sacrilégio interromper aquele trabalho. Chegámos ao Bombarral, demos a volta por Pêro Diniz, Vilar e o homem sempre a puxar. Na subida para Vila Verde dos Francos passei pela frente, mas pouco, o homem não deve ter apreciado o meu atrevimento. Foi nisto até aguentar, e queria levar-me a casa por Alenquer e Vila Franca. É pá, não! – pensei - vamos cortar já aqui na Merceana direito ao Sobral. Só aí, na longa subida, começou a dar sinais de fadiga. Certamente o desvio não estava no seu programa. Mais tarde contei-lhe o que se passou. Senti-me na obrigação de justificar porque é que quase nunca passei pela frente. Ficou indignado, pediu-me que, para a próxima, lhe dissesse para ir mais devagar. «Oh Ricardo, quando é assim dizes… não vale a pena irmos assim». «Irmos assim». Terei ouvido bem? Mas é que podes mesmo crer que digo!
Outra vez, foi no final de um treino longo, mas mais relaxado. O homem nesse dia «não queria fazer força». Descíamos da Venda para Lousa, quando lhe perguntei se queria fazer um desvio e subir Montemuro. A resposta foi mais ou menos assim: «…, …, …, tá bem, bora lá…». Pensei cá para mim. Fresquinho, dá para fazer a subida como se estivesse num treino de montanha – a fundo desde cá de baixo, nem mais nem menos –, o que, nas minhas contas, seria suficiente para o manter na minha roda a subida toda. Ataquei a primeira rampa em pé, sentei-me em frente ao cemitério, mantive o ritmo estabilizado, a fundo. Com ele sempre atrás de mim. Entrámos no pinhal e, de repente, ele passou para a frente. Para ajudar, pensei. Mal!! Foi para forçar, forçar, forçar… e eu a morder-lhe a roda com toda a força que podia. E rapidamente entre naquela fase Zen, em que a cabeça começa a funcionar a mil por hora, os andamentos parecem desajustados: meto uma acima, demasiado pesado, meto uma abaixo, demasiado leve. É cerrar ainda mais os dentes e acreditar! O suplício aliviou quando chegámos a Carcavelos (às primeiras casas) e o terreno suaviza. Pensei logo, o homem pensa que a subida acabou. Então tomei a dianteira e fizemos assim o resto, ao meu ritmo, com a intensidade do início da subida, até ao cruzamento de S. Estêvão das Galés – onde para mim pára o cronómetro. Quando lá chegámos, o tipo exclamou: «Vejo-me sempre à rasca contigo no início das subidas, porque as fazes logo ao máximo. Não sei como consegues, mas é mesmo teu». Ai, sim? Fui o resto do caminho até casa a pensar o que se teria passado, porque é que tinha fraquejado se antes vinha folgado e não estava nada à espera que o Nando me fizesse amargar daquela maneira. Em casa, em frente ao computador, tive então a resposta: tínhamos retirado 1 minuto ao meu anterior melhor tempo. 1 MINUTO!!!... em apenas 4 km! Hoje ainda continua a prevalecer, e certamente irá continuar… Aparece aí, oh Dureza!

quarta-feira, novembro 23, 2005

Nem a brincar!

Nome comercial: Captagon vitaminado
Substância activa: fenitilina
Grupo: estimulante
Canibal... onde é a tua farmácia?

terça-feira, novembro 22, 2005

Fenómeno Armstrong

Sou grande entusiasta do ciclismo. E como desportista, também sou estudioso da fisiologia, da preparação física e dos métodos de treino inerentes. Porque comecei relativamente tarde (26 anos de idade) a praticar a modalidade com mais assiduidade, desde então (1998-2005), tenho observado evoluções fisiológicas apreciáveis com o acumular dos quilómetros e o conhecimento mais aprofundado da metodologia de treino e do meu próprio corpo. Neste particular, Lance Armstrong é o meu exemplo máximo. Andava eu nas minhas incessantes pesquisas na net, quando me detive, com curiosidade, neste apontamento de Edward F. Coyle, fisiologista da Universidade do Texas que publicou um estudo pessoal sobre a evolução do heptavencedor do Tour, desde os 21 aos 28 anos: «Lance Armstrong foi o maior atleta de resistência do seu tempo». Por detrás desta percepção estão boas potencialidades genéticas para o ciclismo e um programa de treino rigoroso e científico concebido por Chris Carmichael (o próprio!), treinador de Lance Armstrong.
Com isso, ciclista o norte-americano conseguiu melhorar em oito por cento a eficiência dos seus músculos e em 18 por cento a potência muscular por cada libra (454 gramas) de peso. Como? Desenvolvendo as fibras musculares mais lentas e resistentes, essenciais para subir às montanhas ou vencer um «crono», de 60 para 80 por cento, em detrimento das fibras rápidas, em maior número nos sprinters.«Durante os sete anos que estudei o Lance, a sua maturação como ciclista tem sido marcada pelo crescimento sustentado da potência ciclística. Este desenvolvimento reflecte-se directamente na força e na velocidade quando ele pedala. Tendo em conta que apenas um a três por cento de diferença separa os vencedores dos lugares do meio da classificação, um aumento de oito por cento na eficiência é absolutamente extraordinário», afirmou Coyle.
Para completar esta tese, é interessante assistir à evolução de Armstrong, física e de resultados, ao longo da sua carreira (o antes e o depois do cancro), documentada através de fotos e comentários publicados no site de GrahamWatson, prestigiado repórter-fotográfico de ciclismo, seu amigo pessoal e grande admirador. Observando atentamente as imagens e as legendas, chega-se à conclusão que, de facto, existem pequenos (grandes) pormenores que fazem toda a diferença. Vale a pena.

segunda-feira, novembro 21, 2005

Tanta motivação!

Enfrentar a fortíssima intempérie que se fez sentir no domingo é uma demonstração cabal de culto da bicicleta, mas, sem dúvida, também a prova de que as voltas domingueiras actualmente são extraordinariamente atractivas, que se resiste à bátega só para não arriscar perdê-las. Reconheço que, nestes dias, a chuva (tão necessária) deixa-me verdadeiramente arreliado - foi o que mais uma vez aconteceu.
Mas não só. Também é sinal evidente da motivação para o ciclismo (e para o treino) de um grupo de elementos fortemente empenhado em subir de forma, apesar de, para todos os efeitos, estarmos em pleno «defeso» de uma temporada para alguns longa e desgastante. Para esses e para os restantes, não ficam dúvidas que desejariam que a nova época já fosse mais adiantada e que estivesse na altura de aumentar o volume e a intensidade dos treinos para preparar os grandes objectivos de 2006. No entanto, nem para todos esses objectivos vêm distantes – são todos domingos. E quem dera que houvesse um domingo a meio da semana. A reentré promete, e exige que algumas voltas de fim-de-semana passem a ter uma componente, digamos, mais «clássica» - como tiveram em 2005, por exemplo, a idas a Fátima, a Évora ou a Serra da Estrela.

sexta-feira, novembro 18, 2005

Carmichael, pontos quentes e tertúlia

O «nosso» Carmichael parece mesmo o verdadeiro Carmichael. E tem toda a razão na sua análise. Nesta altura do ano – e vou falar estritamente em mim – é desaconselhável realizar esforços intensos contínuos e prolongados, uma vez que não há, ainda, a base de endurance sobre a qual assentará o trabalho específico de subida do V02 max., a iniciar numa determinada altura da época, consoante das datas dos objectivos a alcançar.
No entanto, também estou convicto que a partir desta altura o mais importante é cumprir escrupulosamente o programa de treino ao longo da semana (para quem o faz com regularidade), privilegiando os regimes de endurance ou inferiores, não sendo muito relevante exceptuar um dia, que pode ser o domingo. Neste dia e só neste dia, tal como o bom do Chris aconselhava ao Armstrong: «ride it as you feel!», permitindo-lhe dar asas ao seu ímpeto, sem controlar o batimento cardíaco ou a cadência de pedalada. Também nós podemos cometer esses excessos sem afectar significativamente o esquema de treinos estipulado. Isso atenuava o stress e a monotonia inerentes ao plano de treinos demasiado rígido do Lance. Para nós, o domingo é boa altura para fazer isso mesmo, desde que cada um conheça bem o seu estado de forma actual e saiba prevenir eventuais exageros.
De qualquer maneira, no meu caso, está completamente fora de questão participar, por exemplo, na ida e volta a Fátima ou aceitar a interessante sugestão do Vinhokorov para uma verdadeira etapa de montanha em Montejunto (a seu tempo, de muito bom grado!), que, mesmo em muito boa forma, já seriam desafios extremamente exigentes - quanto mais agora…

Segundo assunto: as dúvidas do Rosé Morales sobre os pontos quentes da etapa de domingo. Bem, Rosé, creio que o teu instinto será a melhor maneira de tentares acautelar as mudanças de ritmo e as acelerações, que serão mais prováveis na subida do Sobral (com reagrupamento, como é habitual, na rotunda à entrada do vila); depois entre Arruda, Cadafais e Carregado (com reagrupamento, por exemplo, entre Carregado e a rotunda de Alenquer), na longa subida da Merceana para o Sobral (reagrupamento na mesma rotunda do primeiro, agora à saída da vila) e do Sobral para o Forte, não sendo prováveis mais paragens até Bucelas.

Terceiro assunto: o comentário do Paulo Borges, ao qual, como mentor deste blog e considerando não tomar excessiva liberdade se, além de mim, falar pela esmagadora maioria dos membros do grupo Pina Bike, impõe-se esclarecer que tudo o que se diz neste espaço tem importância relativa e exprime, muitas vezes, opiniões desbragadas e bem humoradas ou hiperbolizados sem necessariamente terem um efectivo sentido ou conotação negativa. Por ser espaço dedicado à tertúlia e ao livre arbítrio, tudo o que aqui é exprimido não deve ser tomado à letra – tratando-se apenas achas que se atiram à fogueira, para que o fogo fique ainda inflamado e não com o intuito de… chamuscar. Mas, Paulo, com o devido respeito, para nós a bicicleta não é apenas um pretexto para nos reunirmos todos os domingos e estreitar laços de convivência – é um vício saudável e uma contagiante paixão. Para constatá-lo, sugiro que alinhes connosco numa saída domingueira. Um abraço

P.S. Miguel, amigo, as rápidas melhoras!!! Eu sei bem o que isso é!!! Livra!!

segunda-feira, novembro 14, 2005

Fuga bem sucedida!

Foi arriscar e petiscar. A fuga iniciada na descida do Sobral permitiu-me chegar ao alto do Gradil isolado, resistindo à perseguição movida principalmente pelo Miguel e o Freitas. A escapada começou a desenhar-se na rápida descida do Sobral para a Feliteira, na companhia do Farinha (o Fantasma, ele próprio). O pelotão facilitou, demorou a reagir ou talvez por ter descido de forma mais cautelosa devido à estrada encontrar-se molhada nalguns locais, e deixou o duo ganhar avanço que se revelaria irrecuperável. A verdade é que tanto eu como o Farinha decidimos correr mais riscos, descendo, por vezes, a mais de 60 km/h, e quando abordámos a viragem à esquerda no cruzamento da Feliteira já tinhamos uma vantagem apreciável– provavelmente cerca de 20 a 30 segundos.
A partir daí, impunha-se decidir entre forçar o ritmo para tentar consolidar a escapada ou abdicar, já que faltavam ainda muitos quilómetros de terreno difícil até ao Gradil. Mas o ímpeto foi mais forte que a razão. Depois dos primeiros topos e de ter olhado frequentemente para trás para verificar o posicionamento dos perseguidores, quando o terreno suavizou procurei a ajuda do meu parceiro. Este rapidamente deixou claro as suas intenções: «Vou tentar seguir a tua roda até aguentar». A afirmação pareceu-me demasiado cautelosa, tendo em conta que (julgava eu!) o ritmo não era... terminal. Por isso, esclareci: «Não vou forçar demasiado, se eles se aproximarem muito desisto imediatamente». Todavia, o facto de, pouco depois o Farinha não ter resistido ao andamento, deixou-me entregue a mim próprio mais cedo do que previa.
E então, continuava ou parava? Decidi manter a estratégia inicial: continuar até sentir que não valia mais a pena.
Pouco antes de chegar ao cruzamento de Pêro Negro, reparei que os perseguidores estavam a aproximar-se. Mas ainda não o suficiente. Também não caí na tentação de forçar. Parecia-me um grupo compacto, mas, na verdade, o pelotão esfrangalhou-se mal iniciara a perseguição. Melhor! O sobe-e-desce entre Pêro Negro e Enxara do Bispo beneficiava teoricamente quem vinha atrás, mas numa das curvas reparei que, afinal, eram apenas dois os principais perseguidores: o Miguel e o Freitas. Um pouco mais atrás, a tentar a recolagem vinha o rapaz da BTT (BTT). Dos restantes nem as sombras.
No plano que se segue à descida da Enxara tomei consciência que a sorte da fuga jogar-se-ia já a seguir, no topo que antecede o cruzamento da EN8, e a primeira subida. Calculei que seria aí o «canto do cisne» para o Freitas e que, depois, o Miguel ficaria sozinho na perseguição – se o Freitas não levasse o seu «chefe-de-fila» até muito perto de mim antes do referido topo, o Miguel entraria na subida do Gradil a necessitar de recuperar bastante, aumentando assim as hipóteses de a fuga vingar!
E foi isso que aconteceu. Nas primeiras rampas a seguir ao Gradil (localidade) reparei que o BTT poderia «encostar» no Miguel e depois colaborarem juntos na perseguição. Todavia, não mais voltei a vê-los. Primeira subida, descida rápida a fundo e no final da segunda subida, a minha vantagem foi de 1.10 minutos para o Miguel, que se manteve isolado, e de 2.20 m para o BTT e o Pedro, que veio de trás. O Freitas chegou com quase 4.00 m, completamente «acabado». E os restantes… a conta-gotas.
O regresso não foi mais tranquilo. Na subida da Carapinheira, o Pedro adiantou-se no encalço de um «pro» do L.A. O Freitas tirou definitivamente o «bilhete» e eu, com a hora de regresso a apertar, lancei-me na perseguição. Depois de me juntar ao Pedro em Alcaínça, ultrapassámos o «pro» na subida para a Malveira. Grande volta, sempre a abrir!
Alguns dados interessantes recolhidos pelo meu Polar:
Desde o início da fuga até ao início da primeira subida do Gradil percorri 17,3 km em 28.55 m. à média de 36 km/h. A primeira subida do Gradil (2,3 km) fiz em 6.15 m à média de 22,3 km/h e a segunda (3 km) em 8.45 m, a 20,4 km/h. Desde o início da fuga até ao alto do Gradil (Murgueira) foram 25 km em 47.15 m. à média de 31,7 km/h, com uma frequência média de 172 bpm.
Apesar de não serem indicadores muito normais para a altura da época, até ver estou a cumprir o meu plano de preparação como previsto!

terça-feira, novembro 08, 2005

A expectativa

Surpreendem-me as repercussões do meu comentário da volta do último domingo, mais precisamente, as considerações finais, que, ao que parece, serviram para lançar, desde já, uma aura de grande expectativa sobre a volta do próximo fim-de-semana. Segundo várias sensibilidades que me chegaram, além da unanimidade sobre a forma espectacular como decorreu a volta da Ota, nunca o Gradil mereceu tanta... apreciação.
De qualquer maneira, estou em crer que não é o Gradil em si, ou a dificuldade da subida (uma dupla subida) que não é muita quando comparada com outras da nossa região, como Mata ou Ribas, mas porque é evidente que o mote deixado no último domingo terá, naturalmente, aguçou o apetite e já faz com que as principais figuras do momento estejam a contar munições, agora que o percurso oferece mais dificuldade e, logo, maior selectividade. A começar pela subida do Sobral, depois o famigerado Gradil, e por fim também não se deve descurar o acidentado regresso por Mafra até à Malveira – ou quem sabe, mesmo a longa descida até Loures.
Todavia, o que pretendo destacar é que, com agrado, verifico que se perderam alguns pruridos e acabaram de vez as questiúnculas confrontando várias sensibilidades sobre incidências menos consensuais que por vezes sucedem durante a… corrida. E que agora impera definitivamente o espírito de sã competitividade, que afinal constitui a verdadeira essência desta modalidade que tanto apreciamos. Partilho e subscrevo a filosofia de «todos por todos e todos contra todos», que, desde já, teve o mérito de contribuir cabalmente para elevar o nível geral do andamento do grupo ao limiar da pré-competição – se alguém duvidava disso, a prova não poderia estar mais fresca.
Hoje fico por aqui, mas creio que terei mais motivos para voltar com assiduidade até ao final desta semana, que promete ser… quente.

segunda-feira, novembro 07, 2005

Correria desenfreada

Já se sabia! Ota é sinónimo de velocidade e escaramuças. E embora não seja grande apreciador deste percurso, a verdade é que desta vez (mais uma) a «corrida» foi espectacular. Não só pelo ritmo, como pelas muitas lutas que se travaram, praticamente de início a fim, confirmando também a forma muito boa de alguns elementos – de resto, já referenciados neste blog.
Foi uma correria e tanto! Começou à saída de Vila Franca, quando o grupo se partiu devido ao empedrado (e preciso estar sempre com muita atenção!), obrigando-nos a uma perseguição até praticamente ao Carregado. No pequeno pelotão da frente estava gente muito forte, como o Freitas, o Miguel ou o João. De qualquer maneira, a coisa fez-se sem grande desgaste, graças a um eficaz trabalho tripartido: meu, do Carlos e do Pedro.
A segunda batalha foi previsível, ou seja, na secção mais selectiva de todo o percurso: a subida para o Vale do Brejo (2 km), a seguir à Ota. Logo no início, o Pedro saiu com força, respondendo prontamente o Carlos e logo a seguir o «Mapei». O Miguel não tardou também a iniciar a perseguição e juntou-se ao trio.
Preferi controlar o quarteto à distância de cerca de 30 metros, sabendo que o Freitas (teoricamente o mais forte neste tipo de subidas curtas) estava na minha roda. A opção foi um risco, mais ou menos calculado, porque a subida passa depressa e há pouco tempo para recuperar de um atraso significativo. Felizmente os fugitivos pararam depois do ligeiro descanso a meio da subida – marcaram-se ou nenhum teve capacidade para manter o ritmo – e nessa altura encostámos. A partir daí, sentindo-me com reservas, sabia que para tentar bater o Freitas teria de antecipar a aceleração final – e mais importante: conseguir manter a vantagem durante 300 ou 400 metros, até ao alto. Preferi sair com a pedaleira pequena, para diminuir o choque, mas após 100 metros vi logo que era necessária a grande. O Freitas teve dificuldade em responder (o mesmo já se tinha verificado a semana passada, à chegada ao Carregado, em terreno plano) e os cerca de 20 metros que abri no arranque foram suficientes para resistir até final. Fiquei satisfeito, como sempre que consigo fazer diferenças em terreno… adverso.
No entanto, logo a seguir, após ter parado alguns minutos para «mudar a água às azeitonas», fui injusta e lamentavelmente penalizado. Depois do reagrupamento, voltaram a acelerar, forçando-me a um contra-relógio louco de 10 km até Azambuja. Ainda bem que tenho bom cabedal para levar umas coças, pois, caso contrário, não mais apanharia o pelotão, o que seria, penso eu, escusado – era o que certamente aconteceria ao Samuel se, por acaso, eu não estivesse lá para o rebocar (menos sorte teve o senhor gordo que não conseguiu aguentar o ritmo).
À entrada de Azambuja a normalidade restabeleceu-se, mas rapidamente se partiu para outra correria. O grupo voltou a dividir-se devido à passividade (ou displicência?) de alguns elementos que ficaram para trás, e depois do mal estar feito houve que fazer nova perseguição. E que perseguição! Os que ficaram no grupo da retaguarda (entre outros, eu, o Miguel, o Freitas, o Pedro e o Steven) levaram uma valente lição, já que os homens que comandavam (destaque para o João, o Farinha, o Carlos e o Luís – perdão se algum faltar) fizeram um excelente trabalho (será que foram a render, e quem?), segurando uma vantagem de 300/400 metros que teimava em não diminuir, mesmo que atrás se rolasse sempre acima dos 40 km/h. À frente ritmo era tal, que o grupo foi perdendo elementos. A dificultar, atrás, o esforço de perseguição estava entregue apenas ao Freitas e ao Miguel – não colaborei para «compensar» o desgaste a que fui sujeito pouco antes.
A recolagem só aconteceu em Castanheira do Ribatejo – mas a obra estava feita e teve factura elevada. De qualquer maneira, ainda houve forças para o tradicional sprint em Vila Franca, onde o Freitas levou vantagem, tirando, aí, definitivamente o bilhete, já que o ritmo não abrandou, por iniciativa conjunta do João, do Miguel, do Carlos e do amigo do Pedro. Eu voltei a ter de correr atrás, só os apanhando em Alhandra - despedindo-me em Vialonga, depois de passar por Forte da Casa.
No final: 107 km e 3h30 - e exceptuando o tempo e a distância(13 km e 36 minutos) que fiz até juntar-me ao grupo, no Tojal, o quinteto que chegou à frente fica com a impressionante média de 32,4 km/h!!
Para terminar, deixo as habituais notas de observador: o João fez uma volta impressionante, principalmente ao não deixar que houvesse momentos de relaxe a partir da Ota – contribuindo decisivamente para aumentar a espectacularidade da tirada e provocando grande desgaste a algumas figuras de proa, entre elas, eu próprio. O Farinha também andou quase sempre na frente, como é seu apanágio.
Por outro lado, o Carlos, continuo a dizer, é actualmente o mais forte, mas ainda não teve palco à sua medida para o demonstrar cabalmente. Talvez o faça na próxima semana, a conformar-se o Gradil. Todavia, não terá a tarefa facilitada. Para fazer diferenças, além de qualidades de trepador é preciso ter experiência. E quando o terreno empinar, com certeza surgirão os trepadores natos, entre eles, o Miguel, que não vai querer deixar fugir a oportunidade de aferir… sensações. E eu, só se não puder!
De qualquer maneira, o percurso da próxima semana implicará uma abordagem mais cautelosa. A ver vamos...

terça-feira, novembro 01, 2005

O homem do momento!

A chuva fez tréguas em dia de Todos os Santos e permitiu que a volta de hoje decorre-se normalmente, agora em horário de Inverno. O ritmo das primeiras pedaladas indiciou que, uma vez mais, não era dia para «voltinhas higiénicas». E a subida do Sobral confirmou o «homem do momento»: o Carlos do Barro. O grupo rolou compacto, a boa velocidade desde Bucelas, mas só nos dois últimos quilómetros se abriram as hostilidades. O Carlos passou para a dianteira e fez uma aceleração forte mas progressiva, suficiente para dilacerar o pelotão. Na sua roda foi o Freitas. Eu estava na cauda do grupo e pensei duas vezes para reagir, e só o fiz porque o Miguel arrancou bastante decidido para a perseguição, tendo-lhe agarrado imediatamente a roda.
A vantagem do duo da frente nunca foi superior a 100 metros, mas mostrava-se difícil de anular apenas com o Carlos a fazer as despesas. Às tantas, o Freitas deu mostras de estar ceder, mas logo a seguir foi o próprio Carlos a acusar o esforço (ou segundo ele, a aliviar a pedido do Freitas). Este impasse foi-lhes fatal, porque o Miguel nunca desistiu da perseguição e eu… continuava a aproveitar a sua boleia. A pouco mais de 500 metros do Forte (alto) encostámos e passámos directo sem qualquer reacção dos lideres. E como o Miguel mostrou mais do que eu seria capaz, não merecia ser atacado nos últimos metros.
Quanto ao Carlos, embora o tipo de subida não é o que mais o favorece, deu mais uma demonstração da sua boa forma. Todavia, (tive oportunidade de lhe dizer) um ataque tão tarde no Sobral recomenda uma aceleração ainda mais forte e repentina, e só depois tentar manter um ritmo de cruzeiro elevado – como aquele que impôs. Desde que acredite nas suas capacidades, estou em crer que numa subida mais selectiva, será complicadíssimo, a qualquer um neste momento, segui-lo.
Outro momento alto da jornada foi a ligação entre Arruda e Carregado: começa com dois ou três «repechos» que dão para fazer a selecção e depois uma longa descida que se faz a alta velocidade até ao final, quase sempre disputado ao sprint.
Tomei a iniciativa no último topo e não pensei que apenas quatro conseguiriam responder (Miguel, Carlos, João e Freitas). Aliás, o único a responder com prontidão foi mesmo o Carlos, com quem ainda tentei render à vez mas sem grande coordenação e eficácia – neste momento é-me impossível manter intensidade elevada mais do que algumas centenas de metros. No encalço vinha um trio de luxo e a nossa aventura durou pouco. Fiz mais uma aceleração numa ligeira subida, para assustar o grupo, mas os «adversários» estavam muito atentos. E outro, decisivo, à entrada do quilómetro final, a que apenas responderam o Freitas (claro!) e o Carlos (lá está!). Mas o sprint estava entregue ao grande especialista! Creio que cheguei a ter alguns metros de vantagem, e assim a minha única possibilidade seria adiar ao máximo a aceleração final, mas também aí aumentaria a atenção e a capacidade de resposta do Freitas.
Do Carregado a Vila Franca, eu e ele ainda tivemos de suar as estopinhas, devido a uma paragem mais demorada para… mudar a água às azeitonas. Houve quem reconhecesse que nos tinham lixado de propósito. Acontece a quem facilita! Parece que o Zé Morais levou vantagem sobre o João Pedro no tradicional sprint.
No final, após 4 horas tinha 115 km no conta-quilómetros, os músculos doridos e as sensações normais para o momento.

domingo, outubro 30, 2005

Jantar-convívio

Atenção, companheiros de estrada, membros do categorizado grupo de ciclismo Pina Bike, no próximo dia 11 de Novembro, sexta-feira, realiza-se o tradicional jantar-convívio de final de época! Apela-se à presença de todos. Para mais informações e respectiva inscrição, dirijam-se à loja Pina Bike, em Loures.

quinta-feira, outubro 27, 2005

Etapa do Tour 2006... imperdível!

Pois é, companheiros, hoje foi dia da revelação há muito aguardada: a Etapa do Tour de 2006 vai ser mesmo no coração dos Alpes. Por isso, tenho de reconhecer que recebi a notícia com um sentimento misto de entusiasmo e alguma angústia. Angústia porque já tinha aceite a ideia de que a confirmar-se a sua realização nos Alpes, com a longa deslocação que implica, desta vez não participaria, apontando baterias para outras clássicas, nomeadamente a estreia na Quebrantahuesos.
No entanto, a escolha da organização da prova foi, digamos, a «pior» possível para quem já tinha descartado a hipótese de fazer duas viagens de 1800 km… de carro. Quero dizer que o percurso é, como Musseuw já afirmou, verdadeiramente mítico, incluindo duas montanhas sagradas que há muito pretendo juntar ao meu currículo: o Izoard e o Alpe d’Huez. Uma etapa fantástica, imperdível. Já viram o meu dilema! O melhor é começar a fazer contas à vida…

terça-feira, outubro 25, 2005

Balanço da temporada de 2005

A proximidade da divulgação da Etape du Tour 2006 (na quinta-feira) e o facto de já se saberem as datas da Quebrantahuesos (17 de Junho) e da Lagos de Covadonga (20 de Maio) pode assumir-se como o encerramento definitivo da actual temporada e a abertura (em termos de planeamento) da próxima.
Por isso, dei por mim a fazer o rescaldo (mais um) da época ciclista de 2005, ano em que houve um significativo salto qualitativo de rendimento, não apenas pessoal, mas também da maioria dos elementos do grupo Pina Bike.
No meu caso, do ponto de vista das participações internacionais – Lagos de Covadonga e Etape du Tour —, a época foi extraordinária, antes de mais, por terem sido desafios concretizados sem «mau» sofrimento e recompensadoras experiências de companheirismo. O mesmo em relação ao calendário semanal de voltas domingueiras (à excepção de uma ou duas quedas sem consequências graves) e às três tiradas longas: Fátima, Vila de Rei e Serra da Estrela.
No entanto, no que se refere exclusivamente ao desempenho nos dois momentos altos da temporada (Lagos e Tour), pode aplicar-se a velha máxima de que o bom é inimigo do óptimo. Ou seja, numa época em que nível de treino foi superior ao de anos anteriores —, nomeadamente naqueles em que participei em clássicas internacionais (1998, 2000 e 2001) — a verdade é que não posso afirmar que o objectivo fazer coincidir os picos de forma com essas duas provas, foi totalmente atingido. Esse facto foi mais evidente nos Lagos, mas também no Tour, e deveu-se a um programa de preparação menos conseguido, talvez por ter seguido demasiado à risca os de anos anteriores, mas com mais volume e intensidade desde muito cedo – aqui residindo o maior erro.
A prova disso foi o bom rendimento no Loures-Fátima (dia 24 de Abril), ainda a um mês dos Lagos. Verdade seja dita: agora, no final da época, posso assegurar que aquela foi a altura em que me senti melhor! E depois de analisar o diário de treino, concluo que foram treinos de grande qualidade, com o Nando, logo a partir de início de Fevereiro, que contribuíram para entrar demasiado cedo em forma.
O desempenho nos Lagos conforma isso mesmo. Desde cedo, senti dificuldades para seguir o ritmo do Miguel no Mirador Del Fito (10 km a mais de 6%), estive quase sempre em sobre-regime mesmo em terreno plano, perante a elevada velocidade em que rolámos em pelotão, e na subida duríssima dos Lagos nunca consegui encontrar o ritmo certo e sofri demasiado – também pela falta do carreto 26. Aqui, faço referência para a excelente forma do Miguel, esbanjando energia em ataques em montanha e a «tirar» à frente do pelotão, que chegou a rolar a mais de 50 km/h, e terá sido só por isso que cedeu drasticamente a 2 km da meta. E para a boa condição do Nuno – que se passeou autenticamente (a sua baixíssima pulsação média ao longo da prova foi indigna!) e que só por isso terei conseguido cortar a meta praticamente ao seu lado, depois ter cedido alguns metros na subida, ainda antes do estoiro do Miguel.
Estávamos a pouco menos de dois meses da Etape du Tour e havia muito tempo para recuperar, primeiro, e depois apurar a forma. Contudo, apenas foi possível atingir o primeiro objectivo. A partir daí, os treinos passaram a ser quase exclusivamente de recuperação, com a fadiga muscular a impedir trabalho de intensidade, obrigando-me a tomar medidas extremas, como a auto-massagem e descansos activos – quando deveria estar a «meter» carga. De positivo, apenas dois treinos na serra de Monchique, com duas subidas à Foia, a meio de Junho – a altura em que o Miguel e o Nuno participavam na louca Quebrantahuesos, também com muita história! Felizmente, que no início de Julho as pernas começaram a ficar mais soltas e então foi possível treinar com qualidade, principalmente em Montejunto.
A Etape du Tour é sempre uma experiência indescritível, a Meca do cicloturismo mundial, valendo todos os esforços e sacrifícios que a sua preparação implica forçosamente na vida pessoal. Este ano foram 179 km; trepar o Marie Blanque (1ª), Aubisque (Especial), Soulor e mais três contagens de montanha secundárias; e a enorme emoção de estarmos no percurso do Tour, que lá chegaria dias mais tarde.
Os primeiros 50 km eram os mais fáceis em termos de revelo, mas, para mim, nem por isso foram os mais simples. O interminável pelotão rola muito depressa (as forças ainda são muitas nesta altura) e é preciso saber colocar-se bem para ir passando de grupo em grupo, proteger-se bem do vento e ter grande atenção a todas as movimentações para evitar quedas – tudo o que o Nuno e o Miguel fazem muito melhor que eu, ao ponto de, a cerca de 10 km da primeira montanha (Col d’Ichére: 3º categoria – uma espécie de Mata com seis quilómetros), ter deixado de os seguir para evitar desgastes que poderiam ser severamente pagos mais adiante. Assim, pensei, como seria previsível, que ambos subiriam praticamente ao meu ritmo essa primeira montanha e teriam mais probabilidades de entrar num grupo mais veloz. Logo dificilmente os voltaria a ver provavelmente até final, a não ser que recuperasse bastante em alta montanha — tarefa hercúlea perante dois excelentes trepadores.
Todavia, uma paragem forçada do pelotão, numa passagem estreita, na referida subida, permitiu nos voltássemos a reunir. A partir daí, seguimos juntos até ao alto e na descida de ligação ao Col de Marie Blanque – o primeiro grande obstáculo da jornada.
Os meus dois companheiros tinham-no fresquinho na memória — pois faz parte da Quebrantahuesos — e as descrições eram pouco animadoras. Um mês antes, o Miguel pusera ali o pé no chão e o Nuno disse ter sentido dificuldades extremas para vencer os últimos 4 km da subida, a mais de 11% de média!!!
A dureza confirmou-se e foi acentuada pelo facto de a estrada ser estreita e não permitir espaço para ultrapassagem a centenas de ciclistas que se arrastavam rampa acima. A solução foi recorrer a uma expressão que os franceses tão bem interpretam como «abre alas à esquerda», passando a multidão por uma faixa de escassos centímetros junto à berma, sempre com o «credo na boca» receando ter de por o pé à estrada, que, em inclinações de mais de 12%, seria dramático ao voltar a arrancar. Por isso, o Marie Blanque foi duplamente mais difícil, mas sem essa estratégia, seria com certeza muito pior. O Nuno chegou a ficar incomodado com a minha arrogância, mas soube-lhe bem ter aproveitado a boleia. O Miguel teve mais dificuldades e perdeu algum tempo até ao cume.
Voltámos a reunir no abastecimento, antes de iniciar a descida de ligação ao Aubisque, a grande montanha da etapa (17 km a 7,3%).
Os primeiros seis quilómetros são os menos inclinados (a cerca de 5%) e fizemo-los a muito boa velocidade. Sem modéstia, cheguei a interrogar-me porque é que os outros ciclistas iam tão… devagar. O Miguel cedeu, surpreendentemente, logo no início e o Nuno agarrou-se à minha roda, acompanhando-me numa primeira metade da subida em grande estilo.
Nos últimos 7 km, os mais duros, o Nuno também se deixou descair, e eu comecei a pagar a factura nos dois kms finais – algo penosos. Com o Soulor logo a seguir, tive algumas dificuldades para retemperar forças, e ainda faltavam mais de 50 km para a meta. Seguiu-se a longíssima descida e depois foi sempre rolar em pelotão compacto até Pau. No final, após 6h45m, a fadiga era muita mas prevalecia a fantástica sensação, unânime, de superar um exigente desafio à resistência física e psicológica.
O Nuno Garcia chegou 7 minutos depois, e o Miguel… quase 35 minutos. Ainda hoje não sei o que terá acontecido para perder tanto tempo, pois não corresponde, digamos, «à realidade». Seria ainda a ressaca do Quebrantahuesos – recorde-se as palavras do ciclista espanhol nos Lagos, que a prognosticou, afirmando que quem faz o Quebrantahuesos chega «malito» à Etape du Tour —, onde, de resto, o desgaste foi mais acentuado que o normal naquela exigente prova? — que o próprio Miguel poderá descrever melhor? O próprio Nuno certamente também a pagou, mas a verdade é que se defende melhor!
Finalmente, a meio de Setembro, a Serra da Estrela, ainda mais interessante por se ter revestido de uma inédita (e saudável) competitividade, e cuja crónica já foi exaustivamente contada neste blog (ver histórico), da qual ressalvo mais uma fantástica demonstração de força do Miguel, na fase mais difícil da subida e contra o vento, mas não suficiente para nos «deixar» – a mim e ao Nuno, este sempre muito bem protegido, e depois a inexplicável (e irremediável) quebra na descida das Penhas da Saúde.
Então chegou a minha «deixa», a altura que, antecipadamente, escolhera para dar tudo… até final! O Nuno seguiu a roda, como o fizera no Aubisque, e só cedeu na recta final, feita quase ao sprint. Tempo efectuado: 1h20, com vento. Sem vento, ficaríamos certamente abaixo das 1h15. Fica para o ano! Conheçamos então a Etape du Tour 2006!

domingo, outubro 23, 2005

Sempre a rolar...

Depois de uma semana sem tocar na bicicleta, de um princípio de gripe que deixou uma tosse de agoniar, não foi com muito entusiasmo que encarei a volta domingueira. Como o auge da forma já lá vai e mesmo tratando-se de um percurso plano – apesar de muitas vezes ser onde se fazem as tiradas mais duras – pela lezíria ribatejana receava que o rescaldo fosse ainda pior do que o da semana passada: um valente empeno!
No entanto, estive quase sempre bem protegido no meio do pelotão, e por isso as coisas correram melhor do que estava à espera. Aliás, estou cada vez mais convicto que quando opto por uma abordagem, digamos mais conservadora, as tiradas decorrem quase sempre sem grande agitação, quase ninguém «arrisca» suficientemente forte e assim o desgaste é bastante menor.
A provar a boa forma da maioria dos elementos do grupo, rolou-se a boa velocidade (o terreno ajudava) praticamente desde os primeiros quilómetros. Neste trabalho, destacaram-se o Freitas e o Miguel, dois homens com muitos quilómetros e uma temporada que já vai longa, mas sempre muito fortes e disponíveis. Depois, o Farinha, que esteve muito activo, a demonstrar crescendo de forma. Foi dele, a primeira escapada, na longa recta do Porto Alto, mas o Miguel, muito empertigado, não demorou a acabar com a aventura em solitário.
Absorvido o fugitivo, até Benavente o pelotão rolou mais suavemente, com vários elementos a passarem pela frente, entre eles o João e o Pedro… e o João Pedro. A calmaria durou até passarmos o troço da estrada municipal (na lezíria) em que o piso está em mau estado. Então, o inconformado Farinha voltou a acelerar um pouco e levou na roda o Zé-Tó. Todavia, a fuga foi breve. A resposta quase imediata do Freitas quebrou a ordem no pelotão, gorando mais uma vez as intenções dos fugitivos.
A partir de então, a corrida estava lançada e não se voltou a andar devagar. O Carlos começou a «tirar» a 40 km/h fez as despesas durante mais de 5 km, até muito perto do cruzamento da Estalagem do Gado Bravo.
Com a aproximação da ponte de Vila Franca, o único ponto em que relevo poderia fazer alguma selecção, as principais figuras procuraram posicionar-se à cabeça, onde agora era o João Pedro a impor o ritmo. Logo no início da rampa, o Carlos acelerou e abriu três ou quatro metros, mas o Miguel fechou muito bem o espaço e ainda forçou o ritmo, abrindo depois para o Freitas. Este ganhou ligeira vantagem, mas os perseguidores não desarmaram. Eu estava com algumas reservas e fechei o espaço, passando no topo à frente. Na minha roda, vinham o Freitas, o Carlos, o João e o Luís — que me chegou a passar no início da descida. Os restantes ficaram cortados. O quinteto chegou a Vila Franca ligeiramente destacado – mas… sem sprintar!
Em jeito de balanço, destaco a excelente forma em que se encontram o Carlos e o João – embora o primeiro não estivesse no seu terreno de eleição: a montanha. Creio que, actualmente, deverá ser dos mais fortes a subir. Resta aguardar por uma oportunidade para retirar as dúvidas!

segunda-feira, outubro 17, 2005

Imenso desgaste

Depois de uma semana, sem vitalidade física, a volta domingueira resultou, para mim, num imenso desgaste. A escassez cada vez maior de treinos neste final de época e a fadiga acumulada ao longo do ano já não me permitem sair incólume de grandes cavalgadas, principalmente no seio de um grupo em que a maioria dos elementos está em muito boa forma, à semelhança do que já sucedera em 2004, por esta altura.
Está, pois, na altura de iniciar o período de defeso, o qual deverá implicar um escrupuloso privilégio à recuperação física e mental – reduzindo, ao mínimo, a carga e o volume de treino.
Por outro lado, é grande a motivação no nosso pelotão (já baptizado Pina Bike), cuja fama de andar depressa já é pública, e fica demonstrada, desde logo, pelo número de elementos, que, no último mês, raramente tem sido menos de 15.
A volta de Torres confirmou, precisamente, o crescendo de forma de alguns e expôs as fraquezas de outros. A subida do Sobral, todavia, não foi tão selectiva como habitualmente. O vento estava de feição e o ritmo foi quase sempre lento ou muito lento (à espera de um trio – José Morais, Zé-Tó e João - que se atrasara à saída de Loures) havendo, inclusive, quem se tivesse isolado sem praticamente acelerar, caso do João Pedro, numa longa fuga consentida, que acabou por vingar. De resto, só a cerca de 3 km do alto, por iniciativa do Carlos, do Barro, se começou a andar mais depressa. Destaque para o seu bom trabalho à frente do grupo, colocando um passo de tal forma rijo que desencorajou eventuais iniciativas de escapada, antes do sprint final, onde o Freitas confirmou que é o mais forte.
Depois de Torres, o regresso foi bastante mais exigente. No topo da rotunda da A8 houve as primeiras escaramuças. E também as primeiras «vítimas», partindo-se o pelotão em dois… ou três. De qualquer modo, foi um grupo ainda numeroso o que rolou (sempre a bom ritmo) até ao início da subida para Vila Franca do Rosário, onde, a partir daí, eu e o João dividimos as despesas, enfrentando um temível adversário: o vento. Apesar das minhas pernas pesarem chumbo, com o contributo do João, o andamento foi suficiente para manter um grupo compacto de, salvo erro, 9 unidades (eu, João, Freitas, Miguel, Filipe, Luís, Carlos, Pina e o Samuel, que entretanto tinha sido finalmente apanhado depois de andar em solitário desde Loures) até ao sprint final, no alto da Malveira.
Aí, mostraram-se os que vinham mais resguardados. O Miguel foi o primeiro a abrir as hostilidades, mas o Freitas faria valer os créditos, não tivesse sido traído pela quebra de um raio da roda traseira. Eu ainda esbocei uma tentativa de resposta, mas as forças esgotaram-se rapidamente. De qualquer modo, as diferenças, entre todos, foram muito escassas. Muito bem, o Filipe, ainda a dar as primeiras pedaladas no grupo, mas já um valor seguro, e também o Luís, o Carlos do Barro e, claro, o João. Aguardo para ver o seu desempenho numa subida mais dura.
Depois de me arrastar até casa, chegou a altura de arrumar as botas. As rodas pesadas (de andar de devagar, como eu as chamo) já estão montadas na bicicleta. Para tirar ideias!

sexta-feira, outubro 14, 2005

Volta de Torres

No domingo, a proposta é realizar a volta de Torres, já uma clássica. A ida faz-se, como tradicionalmente, por Bucelas, Sobral, Dois Portos e Runa, e o regresso pela Estrada Nacional 8, rumo a Vila Franca do Rosário e Malveira. O percurso tem cerca de 85 km e não tem grandes dificuldades de montanha, a não ser as subidas extensas mas pouco inclinadas do Sobral (11 km a 2,3% de inclinação média), até ao Forte de Alqueidão, e, mais tarde, de Vila Franca do Rosário até à Malveira (8 km a 2,2%), bem separadas no trajecto. De qualquer maneira, o relevo da região saloia é sempre um carrossel, com muito sobe e desce. Depois de duas semanas atribuladas, eis um bom teste ao estado de forma do nosso grupo.

P.S. Muito curiosas as reacções ao meu último comentário. Apercebo-me que o final de temporada (para alguns) e a chuva não arrefeceram o ímpeto. Haja espírito... e força!

quarta-feira, outubro 12, 2005

Afinal, a fuga era para vingar!

Pelos vistos, a chuva e a queda colectiva que provocou ainda nos quilómetros iniciais da volta do último domingo foi arreliadora para mais alguns que não apenas os desafortunados que foram ao chão e todos os outros que mostravam grande motivação em animar a tirada. Afinal, o Freitas, que se colocou em fuga logo à saída do Tojal viu os seus intentos gorados por toda a atribulação provocada pela queda e a subsequente alteração do percurso, em Vila Franca.
Fontes seguríssimas asseguraram a este blog que a iniciativa em solitário era para vingar, pelo menos, até à subida depois da Ota, pretensão que ganhou ainda mais consistência a partir do momento em que passou a ter a companhia do Hélder. Aliás, segundo a mesma fonte, havia uma estratégia bem definida, que passava por forçar o pelotão (ou algumas figuras do pelotão) a desgastarem-se numa longa perseguição, para que, caso houvesse aproximação aos dois fugitivos pouco antes ou já durante a subida da Ota, outro elemento da «equipa», com créditos de grande trepador (instruído para não colaborar no trabalho de tentar a anular a fuga), lançasse um ataque decisivo nessa parte selectiva do percurso – o Miguel.
Pessoalmente, ao tomar conhecimento destes factos, coloquei sérias reservas a que a fuga durasse tanto tempo com um pelotão tão numeroso e forte a perseguir – porque não restam dúvidas de que a perseguição aconteceria, ou melhor, já estaria em marcha, uma vez que a queda dá-se porque a velocidade já era elevada no encalço dos fugitivos. E estes estavam à vista, o que é sempre importante para quem persegue e uma situação muito desconfortável para os que são perseguidos. Mais: estou convicto que não seria por falta de colaboração que o pelotão não anularia (ou não controlaria) a fuga a curto prazo, já que, naquela altura, passavam pela frente diversos elementos.
Fica, todavia, a incerteza sobre o que realmente aconteceria. Porque seria fundamental anular a fuga antes do empedrado de Vila Franca (não porque estivesse escorregadio, mas porque tradicionalmente desmobiliza o grupo), e este não fica assim tão longe de Alverca. Além do facto de os elementos em fuga serem fortes, para mais com um excelente rolador como o Freitas interessado em que a escapada vingasse. Para mais, na companhia de um ciclista tão combativo como o Hélder, que certamente não deixaria de prestar toda a ajuda que conseguisse. E depois havia de contar com o ataque do Miguel.
A serem verdade estes factos, só posso lamentar que os incidentes causados pela chuva (ainda para mais porque os senti no corpo) tivessem invalidado tão legítimas pretensões, pois, de quem vêm, são invulgares ou quase inéditas, merecendo, por isso, saudação muito especial. Aliás, tal como o espírito de sã competitividade tão abertamente assumido. De qualquer maneira, outras oportunidades não hão-de faltar.

domingo, outubro 09, 2005

Maré de azar

Definitivamente, navego em maré de azar nas andanças do ciclismo. Depois de há uma semana ter batido o recorde pessoal de furos numa única volta – nada menos que três! –, este domingo somei mais um ao currículo, o definitivo sinal de que os pneus suspiram por merecida reforma após 12.000 km de carreira.
Mas este até foi um final adocicado de uma volta em que tive o que mais amargo se pode provar quando se anda de bicicleta: uma queda. A causa foi o piso escorregadio à saída da rotunda do Cabo, em Vialonga, que fez o Capitão estatelar-se mesmo à minha frente, levando-me como ele para o asfalto encharcado, e comigo também foi o Pina, ao não conseguir evitar o imprevisto obstáculo prostrado à sua frente.
Apesar de ter sido aparatosa, a queda, felizmente, não teve consequências graves, dela resultando apenas algumas escoriações e hematomas – mais profundas no Capitão –, mas nada que nos impedisse de continuar. Afinal, são ossos do ofício.
No entanto, a motivação do grupo para cumprir a volta completa (Ota) ficou agarrada ao alcatrão com a nossa pele, tanto mais, que o trajecto implicava a passagem, pouco recomendável nestas condições de piso molhado, pelo empedrado de Vila Franca – que deveria estar como sabonete. Por isso, decidiu-se dar meia volta à entrada da cidade, junto à Praça de Touros, e rumar a Sacavém e subir para a Apelação, regressando depois a Loures – e finalmente a Alverca. Fora de jogo ficaram o Freitas, que tinha entrado numa fuga madrugadora com o regressado Hélder, que, com tanta demora, por esta altura já estavam… no Carregado. O que restou do percurso decorreu sem mais incidentes e a bom ritmo até Loures. O pelotão saiu dividido de Vila Franca – com um intervalo superior a 3 minutos – e só voltou a reagrupar-se quando o primeiro foi alcançado à entrada da Apelação, rolando depois compacto e sempre veloz até ao Infantado – onde, finalmente, revemos o Freitas e o «esquecido» Samuel, que realmente estava ainda mais adiantado.
Pessoalmente, à parte da queda e do furo (como se fosse pouco!) não acusei demasiado a paragem de uma semana. Desta vez, no final o que estava mais dorido não eram os músculos. Mas estou em pleno abaixamento de forma, normal e recomendável em cada final de época.
Desejei-me melhor sorte para a próxima semana.

domingo, outubro 02, 2005

Volta... furada!

A volta de hoje prometia, mas saiu… furada. É verdade! Três furos na contabilidade pessoal não são propriamente um pecúlio muito comum, só ao alcance em dias de muitíssimo azar. De qualquer maneira, pior seria uma queda. Ou ficar «pendurado» na estrada, o que não aconteceu, como seria previsível estando sozinho numa situação destas (alguém anda com três câmaras de ar no bolso). Tudo graças à solidariedade que impera neste grupo – e ao engenho do Carlos e do João, em particular, que conseguiram reparam um pneu que parecia condenado a rebentar todas as câmaras que nele se metessem.
No entanto, irreparável ficou o interesse desta volta, que, até aí, estava a cumprir todas as expectativas. Grupo numeroso, motivado a dar o litro ao longo de um percurso que, embora curto, era extremamente selectivo.
O primeiro momento alto estava reservado para a subida da Mata, já uma clássica pela sua dificuldade. O ritmo foi animado desde Arruda, com vários corredores a passar pela frente, e a 2 km do alto, na passagem pela Mata (casas) fiz a aceleração decisiva. No ligeiro descanso antes do gancho verifiquei que só o Miguel conseguira responder e a menos de 1 km entreguei-lhe as despesas. Mas pouco depois, cometi um erro… ao induzi-lo em erro. Ao deixar-me descair para a sua roda, o Miguel terá eventualmente pensado que eu estava a ceder ligeiramente e fez duas ou três acelerações que, certamente, não faria – pelo menos naquela altura – e que me causaram um desgaste adicional e imprevisto. Na recta final, ele monopolizou muito bem essa vantagem e impôs-se por 2 ou 3 segundos. Muito bom!
Mas este seria apenas o primeiro prato forte. Outros estavam para ser servidos. Ou pelo menos mais um, bem condimentado, em Ribas, embora estivesse convicto que a inédita passagem pelo muro de Nossa Senhora da Ajuda também fizesse «estragos». Estavam, digo bem, se eu não tivesse furado e furado e voltado a furar, espartilhando, a partir daí, todo o grupo.
Mesmo assim, Ribas foi feito a bom ritmo, com o Pedro, o João e o Zé Tó. Lá em cima, no cabeço, lá estava o resto do pessoal, à espera dos retardatários. Melhores dias virão!
Nota de observador atento: neste final de temporada vai haver três homens a andar muito bem, logo mantenham o ascendente de forma. Atenção ao Pedro (que já deu provas durante a Primavera de ser dos melhores), ao João (muito bem na Mata, em Casais da Serra e em Ribas) e o Carlos, do Barro (excelente trepador). Os outros, como diz o nosso Fantasma, que façam pela vida, porque não a vão ter nada fácil…
E votos de boa etapa no feriado de quarta-feira – e domingo voltamo-nos a ver. Segundo creio, na sempre animada volta da Ota.