segunda-feira, novembro 28, 2005

Volta de quinta-feira: Ericeira

A pedido de várias «famílias», aqui está a descrição da volta da próxima quinta-feira (dia 1), muito à imagem da do último domingo, mas num cenário completamente distinto, com Ericeira e o mar em pano de fundo.

Loures-Tojal (4 km)-Bucelas (8)-Freixial (12)-Venda do Pinheiro (20)-Malveira (23)-Alcainça (26)-Mafra (32)-Paz (33)-Ericeira (42)-Foz do Lizandro (47)-Pobral (50)-Odrinhas (56)-Terrugem (61)-Pêro Pinheiro (68)-Negrais (74)-Sta. Eulália (76)-Ponte de Lousa (81)-Pinheiro de Loures (86)-Loures (88).

Principais Pontos Quentes:
Primeiro, a subida de 8 km, a 2,2 % entre o Freixial e Venda do Pinheiro, com muitos descansos, mas também com pequenos troços entre 6 e 8%: como a rampa de Vale de S. Gião.
A passagem por Alcainça também não é fácil: 1,7 km a 4%. E logo a seguir, desde a curva da ponte até ao cruzamento do Carapinheiro: 1,7 km a 1,9 %
No entanto, a maior dificuldade da etapa é a subida da Foz do Lizandro até ao Pobral: 3 km a 4,5 %, numa altura em que já se levam percorridos 50 km.
Entre Pobral e Terrugem (7 km) é um pouco «rompe-pernas», com alguns topos complicados, como o de Odrinhas, numa zona muito aberta ao vento marítimo.
Entre Pêro Pinheiro e S. Eulália também não será fácil, mas mais pelos quilómetros já acumulados do que pelos 7,5 km a cerca de 1,5 % dessa ligação.
Finalmente, para os que ainda se sentirem com reserva de força, resta-lhes a subida de Ponte de Lousa para o Alto de Guerreiros (0,8 km a 4 %) para colocarem os restantes em dificuldade. Antes de descer até Loures.

ATENÇÃO: ENCONTRO NAS BOMBAS DA BP (LOURES) ÀS 8H30, PARA SAÍDA ÀS 8H45.

Excelente jornada de ciclismo

Excelente jornada de ciclismo, a de ontem. Percurso equilibrado, pelotão coeso e organizado – com algumas ausência de vulto mas um regresso saudado: o Nando –, ritmo quase sempre moderado (altamente recomendado para esta altura da temporada), e nem os aguaceiros dos primeiros quilómetros chegaram a ameaçar estragar a festa.
Já há muito tempo que o Sobral não era subido de maneira tão… suave, a um ritmo que, sem ser demasiado baixo, permitiu que todo o grupo chegasse compacto ao Forte de Alqueidão – apesar de uma ligeira fractura depois de Arranhó. Todavia, os da frente nunca quiseram cavar o fosso, nem os detrás se deixaram cai definitivamente nele. Depois do pelotão ter perdido algumas unidades em Arruda (Carlos de S. Iria, Hélder, João e o Nando encurtaram a sua volta), rolou-se a boa velocidade (mas sem forçar) na longa descida para o Carregado (onde, no final, encontrámos o Zé-Tó, que se tinha adiantado bastante após o Sobral) e depois até Alenquer.
Eis o grupo que fez a volta completa: Freitas, Miguel, Nuno, Pedro, Ricardo, José Morais, Zé-Tó e o Carlos do Barro.
Os topos à saída desta cidade provocaram ligeiros adiantamentos de algumas unidades (o Zé-Tó deu boas indicações) pelos vistos consideradas «perigosas», tal a forma empenhada com que fez a perseguição. Foi a única parte da volta em que a intensidade subiu a níveis que têm sido habituais nos últimos tempos. Contudo, uma vez reagrupados, fez-se a ligação até à Merceana sem sobressaltos.
Aqui, já se sabia, a subida até ao Sobral, não muito inclinada mas longa (8,4 km) e os quilómetros já percorridos (+70), iriam fazer uma selecção natural. O Pedro e o Miguel ganharam algumas dezenas de metros no primeiro sector, o mais duro, com o Freitas em posição intermédia, à minha frente. Atrás, os restantes reuniram-se em «grupetto» – curiosamente também o Carlos, que há algumas semanas estava em grande momento de forma. Terá sido uma abordagem mais comedida ou também ele já entrou em processo de «desaceleração».
Depois de alcançar o Freitas juntámo-nos ao duo da frente num local em que o terreno suaviza e fizemos os quatro o resto da subida, em ritmo moderado, sem procurar causar grandes desgastes, apesar do Miguel ter comandou quase sempre as operações, aqui e ali forçando ligeiramente. O Pedro limitou-se a seguir a toada (com aparente facilidade), o Freitas resistiu muito bem e ainda teve ensejo de fazer a despesa final, e eu por vezes deixava-me descair, controlando, acima de tudo, o batimento cardíaco.
De novo, todos reunidos após o Sobral, restava o última subida do dia, até ao Forte de Alqueidão, onde as selecções fizeram-se da mesma maneira, mas, desta vez, como o Carlos entre os primeiros. Nos últimos 200 metros, acelerei forte (para sentir a reacção muscular) e depois de relaxar no topo, só o Pedro e o Freitas seguiam no encalço, enquanto o Carlos viria a encostar mais tarde. Na descida, ainda fizemos mais 1 ou 2 acelerações, mas depois do Carlos ter ameaçado entrar pelo pára-brisas de um «mata-velhos» (não hão-de os idosos morrerem do coração!), reunimo-nos em quarteto até Bucelas.
Notas de observador:
As ausências: foram várias e especialmente notadas, inclusive de alguns duros do pelotão, como o L-Glutamina e o Fantasma, que na semana passada tinham saído de peito cheio de uma gloriosa tormenta climatérica. No entanto, ontem a chuva não terá sido suficientemente forte!
Zé-Tó: em subida de forma, como (eu) há muito tempo não se via. A manter esta ascensão, em breve vamos ter homem. E um homem possante! À atenção dos todo-o-terreno que actualmente dominam!
Nuno Garcia: continua a sua lenta recuperação de forma após longa paragem. Todavia, sabe-se já que a partir de dia 1 vai regressar ao degredo das arábias. Para si, que voltará a enfrentar objectivos ambiciosos em 2006, a pré-temporada será um pouco mais extensa e a implicar abordagem mais cuidada. Até ver, sem motivos de preocupação.
A abordagem: a abordagem a esta volta foi, já se disse, ideal para a altura do ano, privilegiando a intensidade baixa ou moderada e, desde modo, também a coesão do grupo. A manter – já na próxima quinta-feira (feriado).

sexta-feira, novembro 25, 2005

A imagem (1)


Esta imagem fala por si. Foi tirada em 2 de Maio de 1999, algures nos Pirinéus franceses. Lance Armstrong, acompanhado pelo seu director-desportivo Johan Bruyneel, durante o reconhecimento da etapa-rainha do Tour desse ano, o primeiro depois do cancro. Nesta altura, carregadinho do EPO, certamente nem sentiu as mais de 8 horas a subir e descer montanhas de 2000 metros, sob uma chuva diluviana. E os seus adversários, onde estariam?? Posted by Picasa

quinta-feira, novembro 24, 2005

O bom sofrimento!

Ainda no seguimento dos episódios de treino com o Nando que relatei, embora seja redundante dizê-lo, não é demais sublinhar que o ciclismo é uma modalidade em que a performance está estreitamente ligada à capacidade de sofrimento e ao desafio dos limites físicos do ser humano. Mesmo ao «nosso» nível, essa componente está muito presente. Por exemplo, quando são os outros a colocarem-nos sobre essa pressão, mesmo para quem, como eu, nunca competiu «oficialmente».
Neste particular, houve situações, com alguns distintos elementos, que me obrigaram a suar as estopinhas, a ir buscar o que provavelmente nem sabia que tinha para dar, só para não… ficar para trás. E como, às vezes, isso custa! Um nome que me vem logo à cabeça é o do Hélder – que penso que todos conhecem, um atleta federado, o que diz quase tudo sobre os seus índices físicos.
Há dois anos, em meados de Março, na tradicional volta de Torres, fez-me passar as passinhas do Algarve na subida de Vila Franca do Rosário para a Malveira. Errei ao tentar-me manter ao seu lado, e não na roda – aprendi desde logo que isso não se faz com este senhor, porque é daqueles que se dá mal se alguém tenta dar-lhe o braço, por isso acelera sempre mais um pouco. Outra característica do Hélder (esmagadora do ponto de vista psicológico) é a mania de, nestas ocasiões, perguntar constantemente se o outro vai bem. Ao início ainda tentei guardar o jogo, mas na esperança de alguma clemência, acabei por reconhecer que já tinha ido melhor. Então, o homem não é que me sugere que meta rotação e beba água! O Marco (de Caneças), que completava o trio, revelou mais tarde que se tinha apercebido que eu ia em muito mau estado. «Eu vi, tinhas o suor a subir pela cara». «A subir», disse bem, não a descer!
Mais recentemente, em meados de Junho, naquela pequena subida da Ota – penso que a maioria do grupo se recorda – quando o Nuno se passou e meteu um ritmo arrasador. Foi daquelas correrias em que a paisagem se esbate.
Outra foi na Serra da Estrela, também este ano, para acompanhar o andamento imposto pelo Miguel na zona do Sanatório. Em determinados pontos em que ele acelerou procurando claramente causar a ruptura, ainda cheguei a ponderar dar-lhe algum espaço e esperar por uma zona mais «doce», que vem logo a seguir. Mas foi daquelas vezes em que se resiste sempre mais um bocadinho… Deixá-lo ir (e ao Nuno?) teria consequências imprevisíveis.
Ainda este ano, mas devidas ao cansaço, foram os empenos na subida dos Lagos de Covadonga, principalmente depois da terrível Huesera, e os três últimos quilómetros do Col d’Aubisque, na Etapa do Tour. A sensação do «nunca mais acaba».
Isto quando sofrer vale a pena! Porque do que não vale a pena teria muito mais para dizer…

Dureza

Questionava, em conversa com o Freitas, mais uma vez sobre as razões que têm motivado tão longa ausência do Nando. Mas sem êxito. Nestas ocasiões fico sempre a lamentar a falta que ele faz ao nosso grupo, pela sua camaradagem, pela disponibilidade física quase inesgotável, pela sua atitude felina. Também me vêm há memória os treinos que fizemos os dois na última temporada, de Fevereiro a Abril. Sempre com muita «dureza», como ele costuma dizer. O homem não gosta de estar mal, nem de esticões, dá-se mal com isso, prefere meter «ferro» e colocar o comboio a alta velocidade quilómetros a fio. Por vezes, esquece-se do esforço que está a fazer e do tempo, tal a força que tem. Recordo-me, por exemplo, de um treino, entre Torres e o Bombarral, «numa estradinha que é um mimo», como ele próprio definiu, em que logo à saída de Torres meteu aquele seu passinho pesado, entre os 35 e os 40 km/h, o peito ao vento, a cabeça (sem capacete) presa ao guiador e deixou de falar. A estrada é lisa e ondulada, e lá atrás eu parecia um yô-yô. No plano afastava-me, nos topos aproximava-me. Sim, porque o aço também verga. Ainda pensei em dizer-lhe para abrandar, para descansar um pouco, para me deixar puxar, mas mais… devagar. Mas não o fiz por parecer um sacrilégio interromper aquele trabalho. Chegámos ao Bombarral, demos a volta por Pêro Diniz, Vilar e o homem sempre a puxar. Na subida para Vila Verde dos Francos passei pela frente, mas pouco, o homem não deve ter apreciado o meu atrevimento. Foi nisto até aguentar, e queria levar-me a casa por Alenquer e Vila Franca. É pá, não! – pensei - vamos cortar já aqui na Merceana direito ao Sobral. Só aí, na longa subida, começou a dar sinais de fadiga. Certamente o desvio não estava no seu programa. Mais tarde contei-lhe o que se passou. Senti-me na obrigação de justificar porque é que quase nunca passei pela frente. Ficou indignado, pediu-me que, para a próxima, lhe dissesse para ir mais devagar. «Oh Ricardo, quando é assim dizes… não vale a pena irmos assim». «Irmos assim». Terei ouvido bem? Mas é que podes mesmo crer que digo!
Outra vez, foi no final de um treino longo, mas mais relaxado. O homem nesse dia «não queria fazer força». Descíamos da Venda para Lousa, quando lhe perguntei se queria fazer um desvio e subir Montemuro. A resposta foi mais ou menos assim: «…, …, …, tá bem, bora lá…». Pensei cá para mim. Fresquinho, dá para fazer a subida como se estivesse num treino de montanha – a fundo desde cá de baixo, nem mais nem menos –, o que, nas minhas contas, seria suficiente para o manter na minha roda a subida toda. Ataquei a primeira rampa em pé, sentei-me em frente ao cemitério, mantive o ritmo estabilizado, a fundo. Com ele sempre atrás de mim. Entrámos no pinhal e, de repente, ele passou para a frente. Para ajudar, pensei. Mal!! Foi para forçar, forçar, forçar… e eu a morder-lhe a roda com toda a força que podia. E rapidamente entre naquela fase Zen, em que a cabeça começa a funcionar a mil por hora, os andamentos parecem desajustados: meto uma acima, demasiado pesado, meto uma abaixo, demasiado leve. É cerrar ainda mais os dentes e acreditar! O suplício aliviou quando chegámos a Carcavelos (às primeiras casas) e o terreno suaviza. Pensei logo, o homem pensa que a subida acabou. Então tomei a dianteira e fizemos assim o resto, ao meu ritmo, com a intensidade do início da subida, até ao cruzamento de S. Estêvão das Galés – onde para mim pára o cronómetro. Quando lá chegámos, o tipo exclamou: «Vejo-me sempre à rasca contigo no início das subidas, porque as fazes logo ao máximo. Não sei como consegues, mas é mesmo teu». Ai, sim? Fui o resto do caminho até casa a pensar o que se teria passado, porque é que tinha fraquejado se antes vinha folgado e não estava nada à espera que o Nando me fizesse amargar daquela maneira. Em casa, em frente ao computador, tive então a resposta: tínhamos retirado 1 minuto ao meu anterior melhor tempo. 1 MINUTO!!!... em apenas 4 km! Hoje ainda continua a prevalecer, e certamente irá continuar… Aparece aí, oh Dureza!

quarta-feira, novembro 23, 2005

Nem a brincar!

Nome comercial: Captagon vitaminado
Substância activa: fenitilina
Grupo: estimulante
Canibal... onde é a tua farmácia?

terça-feira, novembro 22, 2005

Fenómeno Armstrong

Sou grande entusiasta do ciclismo. E como desportista, também sou estudioso da fisiologia, da preparação física e dos métodos de treino inerentes. Porque comecei relativamente tarde (26 anos de idade) a praticar a modalidade com mais assiduidade, desde então (1998-2005), tenho observado evoluções fisiológicas apreciáveis com o acumular dos quilómetros e o conhecimento mais aprofundado da metodologia de treino e do meu próprio corpo. Neste particular, Lance Armstrong é o meu exemplo máximo. Andava eu nas minhas incessantes pesquisas na net, quando me detive, com curiosidade, neste apontamento de Edward F. Coyle, fisiologista da Universidade do Texas que publicou um estudo pessoal sobre a evolução do heptavencedor do Tour, desde os 21 aos 28 anos: «Lance Armstrong foi o maior atleta de resistência do seu tempo». Por detrás desta percepção estão boas potencialidades genéticas para o ciclismo e um programa de treino rigoroso e científico concebido por Chris Carmichael (o próprio!), treinador de Lance Armstrong.
Com isso, ciclista o norte-americano conseguiu melhorar em oito por cento a eficiência dos seus músculos e em 18 por cento a potência muscular por cada libra (454 gramas) de peso. Como? Desenvolvendo as fibras musculares mais lentas e resistentes, essenciais para subir às montanhas ou vencer um «crono», de 60 para 80 por cento, em detrimento das fibras rápidas, em maior número nos sprinters.«Durante os sete anos que estudei o Lance, a sua maturação como ciclista tem sido marcada pelo crescimento sustentado da potência ciclística. Este desenvolvimento reflecte-se directamente na força e na velocidade quando ele pedala. Tendo em conta que apenas um a três por cento de diferença separa os vencedores dos lugares do meio da classificação, um aumento de oito por cento na eficiência é absolutamente extraordinário», afirmou Coyle.
Para completar esta tese, é interessante assistir à evolução de Armstrong, física e de resultados, ao longo da sua carreira (o antes e o depois do cancro), documentada através de fotos e comentários publicados no site de GrahamWatson, prestigiado repórter-fotográfico de ciclismo, seu amigo pessoal e grande admirador. Observando atentamente as imagens e as legendas, chega-se à conclusão que, de facto, existem pequenos (grandes) pormenores que fazem toda a diferença. Vale a pena.

segunda-feira, novembro 21, 2005

Tanta motivação!

Enfrentar a fortíssima intempérie que se fez sentir no domingo é uma demonstração cabal de culto da bicicleta, mas, sem dúvida, também a prova de que as voltas domingueiras actualmente são extraordinariamente atractivas, que se resiste à bátega só para não arriscar perdê-las. Reconheço que, nestes dias, a chuva (tão necessária) deixa-me verdadeiramente arreliado - foi o que mais uma vez aconteceu.
Mas não só. Também é sinal evidente da motivação para o ciclismo (e para o treino) de um grupo de elementos fortemente empenhado em subir de forma, apesar de, para todos os efeitos, estarmos em pleno «defeso» de uma temporada para alguns longa e desgastante. Para esses e para os restantes, não ficam dúvidas que desejariam que a nova época já fosse mais adiantada e que estivesse na altura de aumentar o volume e a intensidade dos treinos para preparar os grandes objectivos de 2006. No entanto, nem para todos esses objectivos vêm distantes – são todos domingos. E quem dera que houvesse um domingo a meio da semana. A reentré promete, e exige que algumas voltas de fim-de-semana passem a ter uma componente, digamos, mais «clássica» - como tiveram em 2005, por exemplo, a idas a Fátima, a Évora ou a Serra da Estrela.

sexta-feira, novembro 18, 2005

Carmichael, pontos quentes e tertúlia

O «nosso» Carmichael parece mesmo o verdadeiro Carmichael. E tem toda a razão na sua análise. Nesta altura do ano – e vou falar estritamente em mim – é desaconselhável realizar esforços intensos contínuos e prolongados, uma vez que não há, ainda, a base de endurance sobre a qual assentará o trabalho específico de subida do V02 max., a iniciar numa determinada altura da época, consoante das datas dos objectivos a alcançar.
No entanto, também estou convicto que a partir desta altura o mais importante é cumprir escrupulosamente o programa de treino ao longo da semana (para quem o faz com regularidade), privilegiando os regimes de endurance ou inferiores, não sendo muito relevante exceptuar um dia, que pode ser o domingo. Neste dia e só neste dia, tal como o bom do Chris aconselhava ao Armstrong: «ride it as you feel!», permitindo-lhe dar asas ao seu ímpeto, sem controlar o batimento cardíaco ou a cadência de pedalada. Também nós podemos cometer esses excessos sem afectar significativamente o esquema de treinos estipulado. Isso atenuava o stress e a monotonia inerentes ao plano de treinos demasiado rígido do Lance. Para nós, o domingo é boa altura para fazer isso mesmo, desde que cada um conheça bem o seu estado de forma actual e saiba prevenir eventuais exageros.
De qualquer maneira, no meu caso, está completamente fora de questão participar, por exemplo, na ida e volta a Fátima ou aceitar a interessante sugestão do Vinhokorov para uma verdadeira etapa de montanha em Montejunto (a seu tempo, de muito bom grado!), que, mesmo em muito boa forma, já seriam desafios extremamente exigentes - quanto mais agora…

Segundo assunto: as dúvidas do Rosé Morales sobre os pontos quentes da etapa de domingo. Bem, Rosé, creio que o teu instinto será a melhor maneira de tentares acautelar as mudanças de ritmo e as acelerações, que serão mais prováveis na subida do Sobral (com reagrupamento, como é habitual, na rotunda à entrada do vila); depois entre Arruda, Cadafais e Carregado (com reagrupamento, por exemplo, entre Carregado e a rotunda de Alenquer), na longa subida da Merceana para o Sobral (reagrupamento na mesma rotunda do primeiro, agora à saída da vila) e do Sobral para o Forte, não sendo prováveis mais paragens até Bucelas.

Terceiro assunto: o comentário do Paulo Borges, ao qual, como mentor deste blog e considerando não tomar excessiva liberdade se, além de mim, falar pela esmagadora maioria dos membros do grupo Pina Bike, impõe-se esclarecer que tudo o que se diz neste espaço tem importância relativa e exprime, muitas vezes, opiniões desbragadas e bem humoradas ou hiperbolizados sem necessariamente terem um efectivo sentido ou conotação negativa. Por ser espaço dedicado à tertúlia e ao livre arbítrio, tudo o que aqui é exprimido não deve ser tomado à letra – tratando-se apenas achas que se atiram à fogueira, para que o fogo fique ainda inflamado e não com o intuito de… chamuscar. Mas, Paulo, com o devido respeito, para nós a bicicleta não é apenas um pretexto para nos reunirmos todos os domingos e estreitar laços de convivência – é um vício saudável e uma contagiante paixão. Para constatá-lo, sugiro que alinhes connosco numa saída domingueira. Um abraço

P.S. Miguel, amigo, as rápidas melhoras!!! Eu sei bem o que isso é!!! Livra!!

segunda-feira, novembro 14, 2005

Fuga bem sucedida!

Foi arriscar e petiscar. A fuga iniciada na descida do Sobral permitiu-me chegar ao alto do Gradil isolado, resistindo à perseguição movida principalmente pelo Miguel e o Freitas. A escapada começou a desenhar-se na rápida descida do Sobral para a Feliteira, na companhia do Farinha (o Fantasma, ele próprio). O pelotão facilitou, demorou a reagir ou talvez por ter descido de forma mais cautelosa devido à estrada encontrar-se molhada nalguns locais, e deixou o duo ganhar avanço que se revelaria irrecuperável. A verdade é que tanto eu como o Farinha decidimos correr mais riscos, descendo, por vezes, a mais de 60 km/h, e quando abordámos a viragem à esquerda no cruzamento da Feliteira já tinhamos uma vantagem apreciável– provavelmente cerca de 20 a 30 segundos.
A partir daí, impunha-se decidir entre forçar o ritmo para tentar consolidar a escapada ou abdicar, já que faltavam ainda muitos quilómetros de terreno difícil até ao Gradil. Mas o ímpeto foi mais forte que a razão. Depois dos primeiros topos e de ter olhado frequentemente para trás para verificar o posicionamento dos perseguidores, quando o terreno suavizou procurei a ajuda do meu parceiro. Este rapidamente deixou claro as suas intenções: «Vou tentar seguir a tua roda até aguentar». A afirmação pareceu-me demasiado cautelosa, tendo em conta que (julgava eu!) o ritmo não era... terminal. Por isso, esclareci: «Não vou forçar demasiado, se eles se aproximarem muito desisto imediatamente». Todavia, o facto de, pouco depois o Farinha não ter resistido ao andamento, deixou-me entregue a mim próprio mais cedo do que previa.
E então, continuava ou parava? Decidi manter a estratégia inicial: continuar até sentir que não valia mais a pena.
Pouco antes de chegar ao cruzamento de Pêro Negro, reparei que os perseguidores estavam a aproximar-se. Mas ainda não o suficiente. Também não caí na tentação de forçar. Parecia-me um grupo compacto, mas, na verdade, o pelotão esfrangalhou-se mal iniciara a perseguição. Melhor! O sobe-e-desce entre Pêro Negro e Enxara do Bispo beneficiava teoricamente quem vinha atrás, mas numa das curvas reparei que, afinal, eram apenas dois os principais perseguidores: o Miguel e o Freitas. Um pouco mais atrás, a tentar a recolagem vinha o rapaz da BTT (BTT). Dos restantes nem as sombras.
No plano que se segue à descida da Enxara tomei consciência que a sorte da fuga jogar-se-ia já a seguir, no topo que antecede o cruzamento da EN8, e a primeira subida. Calculei que seria aí o «canto do cisne» para o Freitas e que, depois, o Miguel ficaria sozinho na perseguição – se o Freitas não levasse o seu «chefe-de-fila» até muito perto de mim antes do referido topo, o Miguel entraria na subida do Gradil a necessitar de recuperar bastante, aumentando assim as hipóteses de a fuga vingar!
E foi isso que aconteceu. Nas primeiras rampas a seguir ao Gradil (localidade) reparei que o BTT poderia «encostar» no Miguel e depois colaborarem juntos na perseguição. Todavia, não mais voltei a vê-los. Primeira subida, descida rápida a fundo e no final da segunda subida, a minha vantagem foi de 1.10 minutos para o Miguel, que se manteve isolado, e de 2.20 m para o BTT e o Pedro, que veio de trás. O Freitas chegou com quase 4.00 m, completamente «acabado». E os restantes… a conta-gotas.
O regresso não foi mais tranquilo. Na subida da Carapinheira, o Pedro adiantou-se no encalço de um «pro» do L.A. O Freitas tirou definitivamente o «bilhete» e eu, com a hora de regresso a apertar, lancei-me na perseguição. Depois de me juntar ao Pedro em Alcaínça, ultrapassámos o «pro» na subida para a Malveira. Grande volta, sempre a abrir!
Alguns dados interessantes recolhidos pelo meu Polar:
Desde o início da fuga até ao início da primeira subida do Gradil percorri 17,3 km em 28.55 m. à média de 36 km/h. A primeira subida do Gradil (2,3 km) fiz em 6.15 m à média de 22,3 km/h e a segunda (3 km) em 8.45 m, a 20,4 km/h. Desde o início da fuga até ao alto do Gradil (Murgueira) foram 25 km em 47.15 m. à média de 31,7 km/h, com uma frequência média de 172 bpm.
Apesar de não serem indicadores muito normais para a altura da época, até ver estou a cumprir o meu plano de preparação como previsto!

terça-feira, novembro 08, 2005

A expectativa

Surpreendem-me as repercussões do meu comentário da volta do último domingo, mais precisamente, as considerações finais, que, ao que parece, serviram para lançar, desde já, uma aura de grande expectativa sobre a volta do próximo fim-de-semana. Segundo várias sensibilidades que me chegaram, além da unanimidade sobre a forma espectacular como decorreu a volta da Ota, nunca o Gradil mereceu tanta... apreciação.
De qualquer maneira, estou em crer que não é o Gradil em si, ou a dificuldade da subida (uma dupla subida) que não é muita quando comparada com outras da nossa região, como Mata ou Ribas, mas porque é evidente que o mote deixado no último domingo terá, naturalmente, aguçou o apetite e já faz com que as principais figuras do momento estejam a contar munições, agora que o percurso oferece mais dificuldade e, logo, maior selectividade. A começar pela subida do Sobral, depois o famigerado Gradil, e por fim também não se deve descurar o acidentado regresso por Mafra até à Malveira – ou quem sabe, mesmo a longa descida até Loures.
Todavia, o que pretendo destacar é que, com agrado, verifico que se perderam alguns pruridos e acabaram de vez as questiúnculas confrontando várias sensibilidades sobre incidências menos consensuais que por vezes sucedem durante a… corrida. E que agora impera definitivamente o espírito de sã competitividade, que afinal constitui a verdadeira essência desta modalidade que tanto apreciamos. Partilho e subscrevo a filosofia de «todos por todos e todos contra todos», que, desde já, teve o mérito de contribuir cabalmente para elevar o nível geral do andamento do grupo ao limiar da pré-competição – se alguém duvidava disso, a prova não poderia estar mais fresca.
Hoje fico por aqui, mas creio que terei mais motivos para voltar com assiduidade até ao final desta semana, que promete ser… quente.

segunda-feira, novembro 07, 2005

Correria desenfreada

Já se sabia! Ota é sinónimo de velocidade e escaramuças. E embora não seja grande apreciador deste percurso, a verdade é que desta vez (mais uma) a «corrida» foi espectacular. Não só pelo ritmo, como pelas muitas lutas que se travaram, praticamente de início a fim, confirmando também a forma muito boa de alguns elementos – de resto, já referenciados neste blog.
Foi uma correria e tanto! Começou à saída de Vila Franca, quando o grupo se partiu devido ao empedrado (e preciso estar sempre com muita atenção!), obrigando-nos a uma perseguição até praticamente ao Carregado. No pequeno pelotão da frente estava gente muito forte, como o Freitas, o Miguel ou o João. De qualquer maneira, a coisa fez-se sem grande desgaste, graças a um eficaz trabalho tripartido: meu, do Carlos e do Pedro.
A segunda batalha foi previsível, ou seja, na secção mais selectiva de todo o percurso: a subida para o Vale do Brejo (2 km), a seguir à Ota. Logo no início, o Pedro saiu com força, respondendo prontamente o Carlos e logo a seguir o «Mapei». O Miguel não tardou também a iniciar a perseguição e juntou-se ao trio.
Preferi controlar o quarteto à distância de cerca de 30 metros, sabendo que o Freitas (teoricamente o mais forte neste tipo de subidas curtas) estava na minha roda. A opção foi um risco, mais ou menos calculado, porque a subida passa depressa e há pouco tempo para recuperar de um atraso significativo. Felizmente os fugitivos pararam depois do ligeiro descanso a meio da subida – marcaram-se ou nenhum teve capacidade para manter o ritmo – e nessa altura encostámos. A partir daí, sentindo-me com reservas, sabia que para tentar bater o Freitas teria de antecipar a aceleração final – e mais importante: conseguir manter a vantagem durante 300 ou 400 metros, até ao alto. Preferi sair com a pedaleira pequena, para diminuir o choque, mas após 100 metros vi logo que era necessária a grande. O Freitas teve dificuldade em responder (o mesmo já se tinha verificado a semana passada, à chegada ao Carregado, em terreno plano) e os cerca de 20 metros que abri no arranque foram suficientes para resistir até final. Fiquei satisfeito, como sempre que consigo fazer diferenças em terreno… adverso.
No entanto, logo a seguir, após ter parado alguns minutos para «mudar a água às azeitonas», fui injusta e lamentavelmente penalizado. Depois do reagrupamento, voltaram a acelerar, forçando-me a um contra-relógio louco de 10 km até Azambuja. Ainda bem que tenho bom cabedal para levar umas coças, pois, caso contrário, não mais apanharia o pelotão, o que seria, penso eu, escusado – era o que certamente aconteceria ao Samuel se, por acaso, eu não estivesse lá para o rebocar (menos sorte teve o senhor gordo que não conseguiu aguentar o ritmo).
À entrada de Azambuja a normalidade restabeleceu-se, mas rapidamente se partiu para outra correria. O grupo voltou a dividir-se devido à passividade (ou displicência?) de alguns elementos que ficaram para trás, e depois do mal estar feito houve que fazer nova perseguição. E que perseguição! Os que ficaram no grupo da retaguarda (entre outros, eu, o Miguel, o Freitas, o Pedro e o Steven) levaram uma valente lição, já que os homens que comandavam (destaque para o João, o Farinha, o Carlos e o Luís – perdão se algum faltar) fizeram um excelente trabalho (será que foram a render, e quem?), segurando uma vantagem de 300/400 metros que teimava em não diminuir, mesmo que atrás se rolasse sempre acima dos 40 km/h. À frente ritmo era tal, que o grupo foi perdendo elementos. A dificultar, atrás, o esforço de perseguição estava entregue apenas ao Freitas e ao Miguel – não colaborei para «compensar» o desgaste a que fui sujeito pouco antes.
A recolagem só aconteceu em Castanheira do Ribatejo – mas a obra estava feita e teve factura elevada. De qualquer maneira, ainda houve forças para o tradicional sprint em Vila Franca, onde o Freitas levou vantagem, tirando, aí, definitivamente o bilhete, já que o ritmo não abrandou, por iniciativa conjunta do João, do Miguel, do Carlos e do amigo do Pedro. Eu voltei a ter de correr atrás, só os apanhando em Alhandra - despedindo-me em Vialonga, depois de passar por Forte da Casa.
No final: 107 km e 3h30 - e exceptuando o tempo e a distância(13 km e 36 minutos) que fiz até juntar-me ao grupo, no Tojal, o quinteto que chegou à frente fica com a impressionante média de 32,4 km/h!!
Para terminar, deixo as habituais notas de observador: o João fez uma volta impressionante, principalmente ao não deixar que houvesse momentos de relaxe a partir da Ota – contribuindo decisivamente para aumentar a espectacularidade da tirada e provocando grande desgaste a algumas figuras de proa, entre elas, eu próprio. O Farinha também andou quase sempre na frente, como é seu apanágio.
Por outro lado, o Carlos, continuo a dizer, é actualmente o mais forte, mas ainda não teve palco à sua medida para o demonstrar cabalmente. Talvez o faça na próxima semana, a conformar-se o Gradil. Todavia, não terá a tarefa facilitada. Para fazer diferenças, além de qualidades de trepador é preciso ter experiência. E quando o terreno empinar, com certeza surgirão os trepadores natos, entre eles, o Miguel, que não vai querer deixar fugir a oportunidade de aferir… sensações. E eu, só se não puder!
De qualquer maneira, o percurso da próxima semana implicará uma abordagem mais cautelosa. A ver vamos...

terça-feira, novembro 01, 2005

O homem do momento!

A chuva fez tréguas em dia de Todos os Santos e permitiu que a volta de hoje decorre-se normalmente, agora em horário de Inverno. O ritmo das primeiras pedaladas indiciou que, uma vez mais, não era dia para «voltinhas higiénicas». E a subida do Sobral confirmou o «homem do momento»: o Carlos do Barro. O grupo rolou compacto, a boa velocidade desde Bucelas, mas só nos dois últimos quilómetros se abriram as hostilidades. O Carlos passou para a dianteira e fez uma aceleração forte mas progressiva, suficiente para dilacerar o pelotão. Na sua roda foi o Freitas. Eu estava na cauda do grupo e pensei duas vezes para reagir, e só o fiz porque o Miguel arrancou bastante decidido para a perseguição, tendo-lhe agarrado imediatamente a roda.
A vantagem do duo da frente nunca foi superior a 100 metros, mas mostrava-se difícil de anular apenas com o Carlos a fazer as despesas. Às tantas, o Freitas deu mostras de estar ceder, mas logo a seguir foi o próprio Carlos a acusar o esforço (ou segundo ele, a aliviar a pedido do Freitas). Este impasse foi-lhes fatal, porque o Miguel nunca desistiu da perseguição e eu… continuava a aproveitar a sua boleia. A pouco mais de 500 metros do Forte (alto) encostámos e passámos directo sem qualquer reacção dos lideres. E como o Miguel mostrou mais do que eu seria capaz, não merecia ser atacado nos últimos metros.
Quanto ao Carlos, embora o tipo de subida não é o que mais o favorece, deu mais uma demonstração da sua boa forma. Todavia, (tive oportunidade de lhe dizer) um ataque tão tarde no Sobral recomenda uma aceleração ainda mais forte e repentina, e só depois tentar manter um ritmo de cruzeiro elevado – como aquele que impôs. Desde que acredite nas suas capacidades, estou em crer que numa subida mais selectiva, será complicadíssimo, a qualquer um neste momento, segui-lo.
Outro momento alto da jornada foi a ligação entre Arruda e Carregado: começa com dois ou três «repechos» que dão para fazer a selecção e depois uma longa descida que se faz a alta velocidade até ao final, quase sempre disputado ao sprint.
Tomei a iniciativa no último topo e não pensei que apenas quatro conseguiriam responder (Miguel, Carlos, João e Freitas). Aliás, o único a responder com prontidão foi mesmo o Carlos, com quem ainda tentei render à vez mas sem grande coordenação e eficácia – neste momento é-me impossível manter intensidade elevada mais do que algumas centenas de metros. No encalço vinha um trio de luxo e a nossa aventura durou pouco. Fiz mais uma aceleração numa ligeira subida, para assustar o grupo, mas os «adversários» estavam muito atentos. E outro, decisivo, à entrada do quilómetro final, a que apenas responderam o Freitas (claro!) e o Carlos (lá está!). Mas o sprint estava entregue ao grande especialista! Creio que cheguei a ter alguns metros de vantagem, e assim a minha única possibilidade seria adiar ao máximo a aceleração final, mas também aí aumentaria a atenção e a capacidade de resposta do Freitas.
Do Carregado a Vila Franca, eu e ele ainda tivemos de suar as estopinhas, devido a uma paragem mais demorada para… mudar a água às azeitonas. Houve quem reconhecesse que nos tinham lixado de propósito. Acontece a quem facilita! Parece que o Zé Morais levou vantagem sobre o João Pedro no tradicional sprint.
No final, após 4 horas tinha 115 km no conta-quilómetros, os músculos doridos e as sensações normais para o momento.