quinta-feira, junho 29, 2006

Novos «papa-quilómetros» e as consequências

O nível do pelotão Pina Bike não pára de aumentar. Pelo menos, a atentar pelo empenho e disponibilidade para treinar de cada vez mais dos elementos que habitualmente o compõem e, com isto, acentuando o desequilíbrio entre os que, por motivos diversos, descuram a preparação. De um cenário, não muito longínquo, de só se andar de bicicleta aos domingos, nas habituais voltas, passou-se para regimes praticamente diários de treino – isto exceptuando os chamados «internacionais» que, por força dos seus compromissos além-fronteiras, tiveram sempre mais rodagem. Agora fala-se de programas semanais de seis dias, de meses de 500 km! Nem os «internacionais»!

Mas este aumento exponencial do volume de treino tem consequências inevitáveis, algumas a implicarem reflexão:

1ª- Vai haver um aumento inevitável do fosso entre os novos «papa-quilómetros» e os que – repito, por diversos motivos – continuam no regime antigo. A manter-se o desequilíbrio de treino, mesmo que actualmente ainda não seja visível, a médio (quiçá a curto) prazo as dificuldades dos menos rodados não vão ser somente em aguentar os «internacionais» (como agora), mas também os que já treinam tanto como estes.

2ª- Consequência da primeira… consequência: depois vamos ver se serão os raspanetes que os farão parar os novos poderosos! Não foi por acaso que, no rescaldo do último domingo, se falou de grupo de elite sobre o que participou naquela exigente volta e resistiu a andamentos tão selectivos. Ou seja, quem está a perder terreno terá enormíssimas dificuldades, agora e no futuro, em acompanhar o ritmo do pelotão – e não só o que os «internacionais» a espaços impõem. Daqui a algum tempo ainda será necessário impor zonas de andamento livre…

3ª- Esta tem um cariz um pouco mais científico mas serve de alerta para eventuais efeitos contraproducentes do treino intensivo. Ou seja, o aumento do volume e da carga de treino provoca efeitos positivos mais ou menos imediatos, mas implica uma abordagem muito mais criteriosa aos métodos fundamentais da preparação física – treino, descanso e alimentação –, sob pena de a grandes picos de forma sucederem quebras igualmente vertiginosas. Creio que até já existem alguns indícios preocupantes – refiro-me ao afundamento do poderoso Fantasma em S. Tiago dos Velhos. Como bem diz o Durão, o mais difícil não é atingir a boa forma, mas sim mantê-la, principalmente para quem, como o nosso pelotão, tem domingos «competitivos» durante quase todo o ano. E também de mim (ou contra mim) falo!

terça-feira, junho 27, 2006

Dureza, ataque e... polémica!


«Eh pá, o Capitão está roxo!» A afirmação do ZT, no alto da Freixeira, onde ele o Abel nos esperavam, definiu o mal que o Fantasma passou para ali chegar, desde Loures. Primeiro, foi o Durão a impor um passo rijo, constante, na subida de Guerreiros, e depois, eu, a partir da Freixeira até à Venda do Pinheiro. Andamento, de facto, demasiado alto, convenhamos, tendo em conta que eram os primeiros quilómetros (e duros!) e a dificuldade do percurso. Reconheça-se…
Relaxou-se na descida para a Bucelas, mas, mais tarde, a caminho de S. Tiago dos Velhos o ímpeto voltou a disparar. Eis o Durão ao ataque, logo na primeira rampa à saída de Bucelas. O pelotão teve de cerrar fileiras na perseguição, mas rapidamente se fizeram as primeiras baixas: o Fantasma tirou bilhete. E o que à primeira vista parecia uma medida de poupança foi, pelos vistos, a roxidão que lhe desceu às pernas. Fez bem, digo eu!
Analisada a situação à cabeça, não foi difícil perceber que o fugitivo estava com ideias fixas, por isso era aconselhável mantê-lo à distância e não incorrer no erro de recuperar em esticão. Para tal, impunha-se que o ritmo do pelotão fosse elevado e, principalmente, não fraquejasse. O que não se afigurava fácil... Todavia, ainda a meio da subida, o fugitivo já estava controlado. Nessa altura, fiquei satisfeito, acima de tudo, pelo facto de na minha roda ainda se manter um grupo apreciável: João, ZT, Salvador e um outro elemento novo.
A aventura do Durão terminou em S. Tiago dos Velhos, antes da parte mais complicada da subida, a partir de Adoseiros. Assim, mal foi absorvido, passou-me as rédeas. E na aceleração final, segurou-se com firmeza à minha roda. Os perseguidores referidos chegaram ao Lameiro das Antas com pouco mais de 40 segundos de atraso. Excelente!
Depois de esperar e esperar pelo Fantasma – agora já com outras cores! -, retomámos a marcha a caminho do Sobral, descendo à Quinta do Paço. Mas aí a polémica estalou. O Relojoeiro atirou-se ao Durão, culpando-o do castigo infringido ao pelotão (ele que até se juntou apenas na Chamboeira!!!). A partir daí, o Durão amoleceu e com o grupo fustigado fiz as despesas desde Arranhó até Santana da Carnota. Ao todo, 40 km. Valeu a pena, acima de tudo, pelo proveito. O andamento foi moderado, sem momentos de relaxe, e por isso penso que todo o pelotão lucrou. Após a Freiria, de regresso ao Sobral, soltou-se finalmente. A subida para o Forte de Alqueidão não destoou, mas a descida para Bucelas foi a «mata cavalos». O Durão voltava às lides, provavelmente embrutecido pelo raspanete» e impôs um ritmo «assassino» que só o Salvador (em muito boa forma) conseguiu resistir, numa típica prova de eliminação… A velocidade média é elucitativa: 46 km/h. Já agora, a média total da volta também: 29 km/h. Podiam era ter dado uma ajudinha.

Notas de observador:

Elogios à tenacidade dos elementos que completaram a volta (cerca de 115 km e quase 1500 metros de ascendente acumulado), porque as dificuldades começaram cedo, agravaram-se a meio, e a parte final não foi nada fácil. Estiveram que nem aço, principalmente o Fantasma, o referido elemento para mim desconhecido e o João, embora este se tenha adiantado aquando da longa espera no Lameiro das Antas, continuando apenas na companhia do Samuel. Foi pena, porque o João provou estar em grande forma. Como nunca o vi! Acabámos por reencontrar este duo, já na descida do Forte do Alqueidão para Bucelas. Mas como estes, outros, como o Abel e o Salvador, que entraram mais tarde, também acabaram a volta. Em grande!

A subida de S. Tiago dos Velhos foi interessante, apesar de todas as dificuldades por que a maioria dos elementos passou. O ataque do Durão logo no duro primeiro quilómetro e o facto de ter sido «para valer», obrigou a uma perseguição aplicada, na qual devo destacar a excelente prestação dos elementos que se mantiveram firmes na minha roda. E apesar da fuga ter estado quase sempre controlada, havia que evitar fazer a reabsorção em «esticão» e ao mesmo tempo não deixar cair o ritmo. O Durão apercebeu-se rapidamente que não iria longe e para evitar mais desgastes abdicou antes de S. Tiago dos Velhos, passando de imediato à defesa – ou seja, à minha roda. A partir de Adoseiros, a inclinação aumenta e com a fadiga acumulada o grupo desmembrou-se naturalmente. Mas tal não diminui a sua prestação. Bem pelo contrário. Os 9 km entre Bucelas e Lameiro das Antas foram intensos q.b. – e a prová-lo estão os «meus» 168 bpm de média.

Quanto ao episódio que gerou tanta controvérsia, creio que as razões se dividem. Já se disse que o andamento imposto desde o início pelo Durão foi realmente elevado e a passagem pela Freixeira foi mais difícil ainda - embora não tanto pelo ritmo na subida (4.26m é um crono que está dentro da normalidade), mas porque não houve metro de tréguas até aí chegar. E daí até alguns «poderosos» ficarem roxos foi um ápice. Mas o ataque do Durão em S. Tiago dos Velhos não pode ser condenado. Ali é terreno propício. E fez-se ciclismo! Do bom! Os que participaram (tão bem!) no esforço de perseguição têm motivos para estar satisfeitos.

Surpreendeu-me o João. Está em grande forma, a dar o litro e a ler muito bem as incidências da prova. Pena que não tivesse feito o resto do percurso em grupo. Bem precisei da sua ajuda! Serão os treinos a meio da semana com o Durão? E quem é o novo elemento, que desconhecia? Esteve tão bem como o João, juntando a isso o facto de ter integrado sempre o núcleo duro que completou o percurso. Esperemos que seja para continuar?!

segunda-feira, junho 19, 2006

De volta às lides... bravas

Antes de mais, saudações ao Miguel e ao Nuno pela excelente participação na Quebrantahuesos. As classificações obtidas provam os magníficos desempenhos de ambos na rainha das Clássicas cicloturistas em Espanha, e são muito bom pronuncio para a Etapa do Tour, onde estaremos juntos no próximo dia 10 de Julho.
Miguel: 7h21m09s (posição 1845, média de 27,8 km/h)
Nuno: 7h25m17s (posição 1999, média de 27,6 km/h)

Por cá, depois de uma semana de «estágio» a banhos, mas de chuva, numa estação balnear algarvia voltei ao convívio do grupo em mais uma volta domingueira – e também a relembrar-me de como se está a andar depressa…
O percurso era relativamente acessível, logo, propício a grandes cavalgadas. Todavia, depois da primeira parte plana, entre Loures e Alenquer, tornava-se mais acidentado, com pontos fortes a coincidirem com a dura rampa do cemitério de Ribafria, a subida da Freiria para o Sobral e depois para o Forte do Alqueidão. Mas mesmo o sobe e desce final acabou por não foi suficiente para um pelotão cheio de força, havendo necessidade de «meter» mais quilómetros e a subida da Tesoureira para Casais da Serra para saciar o apetite dos mais vorazes. Enfim…
No início, após o habitual aumento progressivo do andamento até Alverca, a velocidade de cruzeiro disparou consideravelmente (como também é tradicional), cumprindo-se uma média superior a 36 km/h até Vila Franca, troço «fetiche» do Durão, que aproveita quase sempre para «abrir a caixa». Seguiu-se uma passagem invulgarmente suave pela rudeza do empedrado de Vila Franca, mas após a Castanheira o grupo voltou a «andar» depressa até Alenquer.
A partir daqui começavam as dificuldades do relevo, embora sem grandes obstáculos. Aliás, os maiores foram a péssima qualidade do piso na estrada de Ribafria e o topo picante que ascende ao cemitério. Foi aqui que o grupo se retraiu. Talvez devido ao desconhecimento quase generalizado da subida, que apesar de ter uma parte inicial bastante acentuada (precisamente a que passa junto ao cemitério) é curta e passa-se bem (menos de 1 km). Também devido à aceleração (coração acima das 180 bpm), houve uma selecção mais acentuada do que seria previsível, destacando-se as boas prestações do Carlos (dos poucos que já conheciam a subida) e do Zé-Tó (que não deve ter tiudo receio na abordagem). Por isso, o reagrupamento foi mais demorado.
Na subida para o Sobral recuperaram-se forças, embora nos últimos quilómetros, mais suaves, tenha havido alguma animação, principalmente por «instigação» do Carlos, que iniciava então uma série de ataques invulgares nele – atitude a saudar! O Salvador foi outro que impressionou, não tanto pela combatividade (já habitual), mas porque esteve sempre em lugares de destaque, respondendo muito bem às mudanças de velocidade mais fortes, sem quebras. Por exemplo, no Forte do Alqueidão não se coibiu de levar o grupo na subida, na companhia do Fantasma, mas acabou por se acusar menos que este o esforço quando os «poderosos» entraram em acção (no esforço final fui às 191 bpm). De resto, aqui foi o Durão a abrir as hostilidades, com o Carlos a responder muito bem aos ataques.
A descida para Arranhó foi (invariavelmente) rápida. O Durão meteu o «passo» e o grupo teve de se agarrar. Porque não fiz o mesmo, fiquei descolado e tive de gastar energias suplementares, tendo sido salvo pela paragem para reabastecimento nas bombas de Arranhó.
A subida da Tesoureira para Casais da Serra voltou a aquecer a volta, com o Carlos (mais uma vez!), a mexer no ritmo do pelotão. E quando se desceu para Bucelas, a coisa ferveu no topo da fábrica de ração – aqui com uma intervenção escaldante do Fantasma e do Pina. O sprint em Bucelas foi interessantíssimo, mas o Durão ainda teve forças para recuperar e passar à frente, depois de ter sido surpreendido quando relaxava após o topo. Isto depois de eu ter batido o Fantasma por uma unha negra.
Mas o calor não parou. A subida do restaurante dos Pneus voltou a derreter a união do grupo – e a mim, definitivamente, que, ao ter decidido «tirar tudo» antes do topo, vi o grupo passar em bloco e já não tive «disposição» para fazer o esforço de recuperação – quando o grande Abel o fez com êxito. Ainda segui o pelotão endiabrado à distância até à subida de S. Roque, mas depois dei meia-volta com o objectivo de fazer mais algumas dezenas de quilómetros. O regresso a Alverca, em descompressão, acabou por ser complicado devido à fadiga muscular (excesso de ácido láctico acumulado em quatro ou cinco acelerações muito fortes), mas aos poucos, depois de voltar a comer e beber bem, os depósitos saíram da reserva, permitindo fechar a contabilidade (141 km) com a subida de A-dos-Melros.

quarta-feira, junho 07, 2006

Falcões e novatos

O Durão tinha recomendado andamento moderado nos primeiros quilómetros da exigente volta do último domingo, e tivemo-lo. Mas não para todos: o João, logo em Guerreiros, começou a sentir inesperadas dificuldades, deixando-se descair do grupo e «obrigando» a intervenção dos pronto-socorro de serviço.
De novo compacto em Ponte de Lousa, o pelotão deslizou sem sobressaltos até à Venda do Pinheiro, inclusive na sempre exigente subida da Freixeira. A partir daqui, o ritmo animou-se. O vento de feição e a convidativa recta da Malveira fez quebrar, pela primeira vez, a barreira dos 50 km/h. A rolar!
Entretanto, quando o pelotão se preparava para descer para Vila Franca do Rosário chegou a notícia que o Hélder estaria na Venda do Pinheiro e vinha de… BTT! De roda cardada! Rasgaram-se imediatamente alguns sorrisos trocistas, prevendo o desfecho de tamanho sacrilégio em dia de jornada pouco convidativa a atitudes imprudentes – mesmo para que têm força em abundância, como é o seu caso. Felizmente (ou não), a sentença estava traçada. A velocidade com que os falcões se precipitaram na descida absolveu-o ao previsível tratamento de choque a que estaria condenado, lá mais para a frente.
Num ápice, os 50 km/h da Malveira passaram a parecer ridículos e foi proibido facilitar na rápida descida até ao cruzamento do Gradil, para onde o Tárcio estava com vontade de ir (será que começa a estar habituado à estranha atracção pela dor desta malta do Pina Bike!). Lá em baixo, o estreante Paulo Pais estava à nossa – para nos «tratar»! Feitas (rapidamente) as honras da casa, tocou a meter andamento, tanto mais que a presença do Durão à cabeça do grupo no início da subida para a Enxara do Bispo estava mesmo a pedi-lo! Refira-se que Paulo Pais compete, logo está noutro patamar. A sua fisionomia não mente: não há grama de gordura supérflua. Finalmente, o Durão tinha companhia com quem partilhar o seu estado de euforia… competitiva. Quem quisesse que fosse atrás! E não é que foram!
De tal modo, que, quando se abriu a janela ao vento no início do difícil troço entre Enxara e Pero Negro, já todos os Pina Bike estavam nos seus postos. A maioria a arfar, é certo, mas em formação ordenada. De peito feito…
Já a caminho do Alto da Sapataria, as primeiras escaramuças valentes. O Carlos e o Daniel (?) saíram em estilo, e o Miguel foi no seu encalço. Os três ganharam rapidamente avanço e passaram à frente no Prémio de Montanha. Aliás, o objectivo do trio era apenas esse, pois «tiraram» logo a seguir, sendo absorvidos rapidamente pelo pelotão, completamente estirado na esburacada descida do Milharado, já com o Freitas e o «falcão» Fantasma na liderança.
Assim, quando um pequeno grupo, que integrava o Durão e o Paulo Pais, chegou à Póvoa da Galega com alguns segundos de avanço sobre os restantes, reuniam-se as condições para a primeira grande situação de «corrida». Perante o ritmo de competição imposto pelos fugitivos, os perseguidores tiveram que se fazer à vida. Sem grande êxito, diga-se. Rapidamente, vi-me em posição intermédia e a fazer contas à vida. E às distâncias. Cerca de 20 segundos para a frente e a aumentar… e talvez o mesmo tempo para um pequeno grupo que vinha atrás, em que se vislumbram o Carlos e o Pintainho. Supostamente o Miguel também deveria estar, mas depois veio a saber-se que ficara com o Samuel, que passava algumas dificuldades.
No cruzamento de Casais da Serra para a Tesoureira, os fugitivos abrandaram (já era tempo!) e eu reintegrei-me (agora) sem grande esforço. Pouco depois chegavam, um a um, os restantes elementos. Não todos! O Miguel e o Samuel estavam em paradeiro incerto. O grupo deu por essa falta já na estrada do Sobral, a caminho de Arranhó – e o Durão deixou-se ficar! Grandes perdas, pois já se sabia que, com as figuras que pontificavam no pelotão, a «coisa», com certeza, seria interessante lá mais para cima, rumo ao Forte do Alqueidão. Assim, o ritmo foi brando até Arranhó, mas sem sinal dos retardatários, mas a partir daqui aumentei gradualmente o andamento – o suficiente para a maioria dos elementos do grupo ter optado por não segui-lo. O único que, mais tarde, o fez foi Paulo Pais, que, na zona dos ferro-velho, se juntou a mim e passou imediatamente ao comando, impondo um ritmo muitíssimo alto até ao Forte de Alqueidão – média a roçar os 30 km/h e pulsações superiores a 175 –, a que devo dar-me por satisfeito ter conseguido seguir. Sem dúvida, uns bons furos acima do que alguma vez fiz naquele troço da subida.
A partir daqui, o terreno suaviza, primeiro, em descida, rumo ao Sobral e a Arruda dos Vinhos, e depois para o Carregado, onde nos esperava longas rectas até Vila Franca e Alverca. Ao contrário do que se previa, não houve mais ataques ou escaramuças, apesar de o ritmo se manter bem vivo, primeiro graças ao Miguel (40 à hora dos Cadafais até ao Carregado) e depois com um trabalho repartido pelos «nossos» poderosos roladores – com enorme contributo do Samuel, recuperado do mau bocado por que passou na Tesoureira e no Sobral.

Notas de observador

Sobre as estreias dos dois novatos, diga-se que da «intromissão» do Paulo Pais já está quase tudo dito e sabido, não estivéssemos na presença de um homem da competição, logo de nível inequivocamente superior. Senhor de andamento muito forte (bem acima do recomendado), provou que tem «capacidade» para, sempre que quiser, juntar-se aos gloriosos do Pina Bike. Teremos muito prazer em voltar a descarregá-lo.
Já em relação ao Pintainho, oriundo do universo das rodas cardadas, cuja presença era há muito aguardada com expectativa, esteve muito discreto enquanto durou… E foi pouco, uma vez que deu a volta ao cavalo no Forte do Alqueidão (aos 60 km de 110 km), depois de ter abanado com alguns achaques violentos e talvez adivinhando as agruras que o esperavam nas longas descidas e na planura que se seguiam.
De qualquer modo, ao voltar para trás (mesmo acabando, sem querer, por se integrar no lote dos mariquinhas, que referi na antevisão da volta), deve ter tido, finalmente, tempo para comer qualquer coisa, já que foram muitas as suas queixas por nem sequer conseguir ir aos bolsos devido aos ritmos dos falcões nas descidas. Mesmo assim, esperava-se mais também nas subidas, afinal o seu terreno predilecto. No Sobral (salvo erro!), parece que ainda tentou seguir a roda do Paulo Pais quando este acelerou para me «caçar» e acabou por pagar a factura. Fica a experiência... e o conhecimento de como se deve comer em cima de uma bicicleta de rodas finas.

Pena para as ausências do Durão e do Miguel no Sobral – de Arranhó ao Forte de Alqueidão. Garanto que foi uma experiência verdadeiramente positiva. Única. A repetir.

Finalmente – e mais uma vez –, rasgados elogios ao comportamento do grupo, que está muito forte e motivado

quinta-feira, junho 01, 2006

Doping e indecência

Variando um pouco, do mundo do nosso ciclismo para o ciclismo do nosso Mundo, há alguns assuntos da actualidade, no âmbito do pelotão internacional, que são motivos de grande controvérsia. Primeiro, o habitual: caso de «doping» que envolve o ciclismo espanhol, nomeadamente a Liberty e o seu director-desportivo, Manolo Sainz, e a Comunidade Valenciana, e o respectivo responsável. Uma vez mais, os contornos são diferentes, mas o conteúdo é sempre igual, confirmando que o ciclismo está mesmo viciado e que corre seriamente o risco de cair no mais profundo descrédito aos olhos dos seus mais ingénuos adeptos – em que eu reconheço incluir-me. Há algum tempo, o Pintainho veio aqui expor a sua opinião sobre os meandros do doping, numa teoria tão verosímil como frustrante, mas que, agora, começo a considerar – infelizmente, assumo – como condicionante irrefutável da verdade que deve imperar em qualquer competição desportiva.
Perante as notícias de doping que se avolumam, a minha tristeza é proporcional à revolta que move a vontade de ver todos os «fraudulentos» exemplarmente punidos. Todos! Sejam eles, directores-desportivos, médicos, ciclistas de segunda linha ou mesmo as grandes referências da modalidade. Apanhem-nos a todos, principalmente os primeiros e os segundos, porque os restantes são pouco mais do que vítimas-cúmplices deste jogo de falsidade. Assim, será que o Ivan Basso esmagou a concorrência no Giro porque, entre outras razões, passou a adoptar o estilo e a cadência de pedalada do Lance Armstrong? Será que este conseguiu elevar-se ao estatuto de mito porque foi, de facto, o melhor e mais profissional de todos os ciclistas da última década, ou será um atleta-mutante concedido em laboratório? O que faria Miguel Indurain atacar em alta montanha sentado no selim e queimar literalmente a resistência das bicicletas estáticas nos centros de medicina desportiva? E o Mercx, o Anquetil e o Hinault?…

Bem, há ainda outro assunto recente que me está a remoer: a suposta oferta indecente de Basso a Simoni, na etapa do Mortirolo, em que, segundo este, o camisola rosa ter-lhe-á sugerido deixá-lo ganhar a tirada troco de dinheiro. Simoni diz que é tudo verdade e que no próximo dia 5 vai a tribunal confirmar. Basso desmente, obviamente. Alguém está a mentir. E quem for, que motivos tem para o fazer? Basso, nº1 do pelotão internacional na primeira fase da temporada pós-Armstrong, terá realmente dificuldades financeiras ou será assim tão ganancioso? Ou foi para humilhar o seu adversário? E Simoni terá assim tão mau perder? Sejam quais forem as respostas, eu fico cada vez mais incrédulo quando sei de casos tais…