segunda-feira, março 27, 2006

Um furo e dois heróis

Uma fuga e um furo, pouco antes de Castanheira do Ribatejo, marcaram definitivamente o cariz da Clássica do Reguengo, no último domingo. O percurso era longo (120 km) mas, já se sabia, totalmente plano, à medida de roladores e encorajador de iniciativas como a que sucedeu à passagem pelo paralelo de Vila Franca, onde o Fantasma e o Salvador se distanciaram rapidamente de um pelotão numeroso, com algumas ausências importantes (casos do Miguel, L-Glutamina, Daniel, Vidigueira, entre outros, provavelmente vítimas da mudança de hora?!) mas repleto de caras novas. Entre estas, Paulo Matias, que fez uma aparição fugaz na recente Clássica de Évora, e que, desta vez, teve a particularidade de alterar o figurino da tirada – involuntariamente, diga-se.
Quando a fuga do dia durava há apenas dois quilómetros, cerca de Castanheira, e com o pelotão, numa primeira fase, a organizar-se para controlá-la, eis que Paulo Matias fura, forçando a uma paragem colectiva que, no mínimo, demorou 10 minutos. Foi esta a vantagem com que os dois fugitivos ficaram a aproximadamente 90 km do final. Recuperável para um pelotão forte e bem organizado? Talvez, mas difícil, mesmo tratando-se de uma dupla apenas. De resto, reforcei essa ideia pelo facto de o relevo não impor grandes dificuldades.
Uma vez retomada a marcha, sabia-se que iniciava uma caçada duradoura, que só terminaria quando concretizada (ou não!). O pelotão tentou desde logo organizar-se na perseguição, o que foi conseguido apesar de a coordenação ter estado longe de ser perfeita. Além disso, havia que contar com a menor capacidade de alguns elementos, principalmente quando o cansaço começasse a pesar nas pernas. Por exemplo, nos topos à saída de Azambuja houve necessidade de interromper o ritmo para «resgatar» o Abel.
De qualquer modo, rolou-se depressa atrás das duas figuras da jornada, primeiro a favor do vento até ao cruzamento de Cruz do Campo, e depois, contra o vento, com mais moderação, na estrada de lezíria que liga Valada a Azambuja.
Nesta altura, começou a duvidar-se sobre a presença dos fugitivos no mesmo percurso do pelotão. Que injustiça! Mas foi por mera falta de noção do tempo e da distância. A vrdade é que se andava muitíssimo bem lá na frente. De tal maneira, que, finalmente, só pouco antes de Vila Franca é que se avistaram – e a junção feita apenas no Sobralinho, após cerca de 90 km de escapada. Feitas as contas por alto, os dois protagonistas perderam, em média, cerca de 6,5 segundos por quilómetro, para um pelotão – sublinho –, numeroso e bem organizado. Não é bom, é muito bom, mesmo considerando a planura do percurso e as interrupções (duas ou três) no ritmo da perseguição – factores que terão, sem dúvida, contribuído para aumentar (mas não muito) aquele tempo. E se atentarmos à média realizada (à passagem por Alverca: 32 km/h), ainda com melhor noção ficamos do mérito da dupla de heróis. Mais: aquando da chegada, de rompante, do grosso da coluna, a dupla, embora naturalmente com bastante fatiga, estava longe de se arrastar – e o Fantasma ainda deu um ar da sua graça quando o comboio ia lançado antes de Alverca. Haverá dúvidas que o segredo da sua fantástica subida de forma é a aplicação na preparação semanal (descanso incluído) e a assiduidade à terapia dominical?

Notas de observador

1- Para a semana começam as Clássicas de Primavera, com a de Sintra 2, uma reedição da que foi disputada no final do ano passado e que tantas marcas deixou em alguns elementos do pelotão, nomeadamente em «duros» como o Hélder. As dificuldades vão aumentar e também a necessidade de moderar o andamento pelo menos nas fases intermédias, entre as subidas. Porque vão haver muitas. E também um final muito acidentado, entre Algueirão e Loures. Nesta altura, a capacidade de resistência a esforços intensos prolongados vai fazer a diferença. Vejo muita gente em crescendo de forma e interessada em lutar pelo «pódio», como disse o Z. A selectividade do terreno começará a impor-se à distância e os roladores darão lugar os todo-o-terreno, e estes terão de se haver com os trepadores nos momentos «altos». Será também boa ocasião para aferir as evoluções de forma de alguns elementos, e até dos que têm objectivos definidos na temporada. Além disso, chegou-me aos ouvidos que há algumas «contas a ajustar». Pela minha parte, deverei experimentar as pernas. A ver vamos.

2- Não dá para ignorar este episódio verdadeiramente rocambolesco, que nada tem a ver com ciclismo, mas com outra modalidade por mim muito apreciada: o atletismo – ou o que poderia ser uma tentativa de organizar uma competição do género. À passagem pela estrada de lezíria, entre Reguengo e Azambuja, marcações de distâncias na berma e diversos agentes de autoridade estrategicamente colocados em cruzamentos não deixavam dúvidas que ali se disputava – ou iria disputar – uma prova de atletismo de fundo. A confirmação veio pouco depois, quando avistámos os batedores, que abriam caminho ao líder destacado da prova – que logo se percebeu ir muitíssimo destacado. Mas muitíssimo mesmo. Provavelmente até demais. Tanto, que ponderámos que seria mesmo o único participante. Aliás, nos 7 km seguintes, até Azambuja, não cruzámos com mais algum, apesar de, entretanto, num posto de abastecimento, um membro da organização continuar à espera de fornecer aos restantes alguns líquidos. Arrisco dizer que em vão. Ou seja, o atleta, que até ia numa boa passada, era vencedor… à partida. Todavia, há uma explicação minimamente plausível: na mesma altura, cerca de 35 mil potenciais adversários atravessavam a Ponte 25 de Abril. Assim, as probabilidades de vitória do solitário desportista aumentaram exponencialmente. Há dias de sorte…

domingo, março 19, 2006

Um domingo... diferente!

Estava longe de prever terminar a semana em Montejunto. Mas são assim as partidas do tempo e do nosso amigo Freitas. Os últimos dias foram de impiedosa intempérie e estava convicto que hoje só um verdadeiro milagre demoveria S. Pedro de prolongar a sua ira. Apesar de o dia ter nascido enganosamente ensolarado, por precaução reservei um bolso para o impermeável. E fiz bem, porque mal pus o pé fora de casa o céu cobriu-se de nuvens negras e em Vialonga já chovia torrencialmente. Antes de me cobrir de plástico já estava conformado de que iria ser mais um dia de pinto. Mais: a bátega foi tal que não deu para ficar com pinga de dúvida.
Encharcado e atrasado, detive-me à entrada do Tojal perante os sinais de luzes de uma conhecida carrinha de transporte de produtos, perdão, de medicamentos urgentes. Ao volante, o Freitas. Destino: Montejunto. No início pensei que ainda estaria a sonhar, mas com a água fria que me chegava ao corpo vi logo que não. «Então e a malta? Não iamos para Runa?», perguntei. «Estão nas bombas, alguns. Mas vão em direcção ao Sobral. Para apanhar chuva, pelo menos que faça alguma coisa de jeito», respondeu com cara de enfado. Fazia sentido. Todavia, chuva, vento e dor não fazem o cocktail mais apetecível. Reconheço que tive alguma (grande) renitência em aceitar a ideia, mesmo sabendo que as oportunidades para treinar em Montejunto não são frequentes, ainda para mais (bem) acompanhado. Mas naquele estado as alternativas não eram muito melhores, e por isso lá fui sentado no banco revestido a panos de desenrasco e com a ventilação no quente. A meio caminho, a coisa esteve muito mal parada, quando começou a cair da grossa na variante de Alenquer – que nos fez recordar aquele dia terrível do acidente do Miguel. E a visão sobre a serra era aterradora. No entanto, caiu forte, mas durou pouco. E o sol, embora timidamente, pôs-se sorridente.
Próxima paragem: Abrigada. Parque de estacionamento da escola secundária, ponto de partida para a jornada que se avizinhava… dura. Direcção: Espinheira e Cercal, para atacar a montanha por Pragança – por onde gosto mais! Até lá, ficamos (ou fiquei?!) a saber que até à subida propriamente dita o trajecto não é fácil. Topos e mais topos tocados a vento, que – nessa altura ficou evidente – soprou de cara ao longo de toda a subida, tornando-a ainda mais difícil por ter inclinações muito acentuadas. Foi, por assim dizer, uma subida sofrida, por não ter tido possibilidades de «meter» rotação (quase sempre sem passar das 60 na rampa dos 15% e na parte final depois do quartel). O ideal para mim é 80-90. Mesmo assim, o «crono» final foi razoável.
Nota ainda para a boa subida realizada pelo Freitas, que preferiu ir no seu «passo» logo de entrada, mas manteve-se sempre a distância curta, chegando ao alto com menos de 1 minuto de atraso.
Meia volta ao cavalo e nova subida, agora por Vila Verde dos Francos, a única vertente a favor do vento. Agora, tal como sucedeu há algumas semanas, quando aí estive a treinar sozinho, o «elan» foi muito superior. Boas sensações para a época (ou seja, sem deslumbrarem), possibilidade de fazer alterações de ritmo e sem aquele sintoma nada animador de «quando é que é que isto acaba!».
O Freitas voltou a optar por subir no seu ritmo, mas terá pago o esforço da primeira subida (aliás, fiquei com essa ideia logo que o vi chegar após esta), e foi sempre em perda até ao alto. Assim, no final, a diferença foi bastante maior (cerca de 4 minutos).
Cumprida a pesada pena a que nos submetemos regressámos à base, voltando a enfrentar os topos e… o vento forte a partir da Espinheira. Mas pelo menos não voltou a cair pingo de chuva. 80 km às voltas por Montejunto: um domingo, de facto, diferente e inesperado!

quinta-feira, março 16, 2006

Ainda no rescaldo de Évora...

Ainda sob os efeitos da bem sucedida tirada Loures-Évora, a Clássica do Reguengo, que se disputará no próximo dia 26, tem características muito parecidas e promete também agradar à maioria. É sempre ou quase sempre a rolar (bom para atenuar as diferenças), suficientemente extensa (mais ou menos 120 km pesam nas pernas) e tem um sector (intermédio) com cerca de 20 km (entre Vale da Pedra e Azambuja) numa estrada estreita, nem sempre com piso regular, em meio envolvente tipicamente campestre, ao estilo das clássicas do Norte da Europa, que aprecio bastante. Aqui, a cota varia entre o 1 m e o -1 m, e a única dificuldade é não distrair-nos com a paisagem. Os que ainda não conhecem, certamente vão gostar – isto se no dia 26 tiverem tempo de a apreciar.
Embora a ida e o regresso seja pelo mesmo caminho (até e a partir de Azambuja), o troço que referi dá a esta volta uma personalidade muito especial, em ambiente tranquilo (praticamente não há trânsito) e propício a grandes cavalgadas. Posso dizer que é o meu local de eleição para treinar em terreno plano – mas também sugiro apenas para passear.

Entretanto, este domingo é a volta de Runa, que já foi disputada no início do ano, com muita animação. Nessa altura, o Freitas já demonstrava a boa forma e o espírito de combatividade actuais, agitando as águas logo à saída da Merceana, depois de a primeira metade do percurso ter sido tranquila. Até ao cruzamento de Runa foi bastante divertido, com a perseguição, algo desgarrada, ao fugitivo, que acabou por ser alcançado na última descida (mas apenas por três elementos). Recordo-me que, depois, a «parede» junto ao campo de futebol, à saída de Runa, foi pacífica, o mesmo sucedendo em Sapataria e Montachique. Desta vez, estas duas últimas estão excluídas, entrando a não mais fácil subida para o Sobral (de Dois Portos) e depois para o Forte de Alqueidão.
No rescaldo de Évora, sugiro que alguns elementos que mostraram estar em boa forma apliquem os ensinamentos obtidos (e foram muitos!) nessa jornada alentejana e não se deixem surpreender com eventuais movimentações em locais insuspeitos. Relembrem-se, a união e a coordenação fazem a força e atenuam (ou mesmo anulam) as diferenças

segunda-feira, março 13, 2006

Clássica de Évora: agradável surpresa

No ano passado não participei na primeira edição da Clássica de Évora, mas através dos comentários ficara com a ideia que não teria grandes motivos de interesse. Admito que devido ao percurso ser praticamente plano, género que não aprecio particularmente, quando comparado, por exemplo, com o de Fátima, mesmo que efectuado pela EN1.
No dia seguinte à minha estreia, posso garantir que estava puramente enganado. Por todas as razões que justificavam o meu cepticismo. O traçado, que atravessa o baixo Ribatejo até ao alto Alentejo é, sem dúvida, para roladores, fortes, e a distância (140 km) não dá contemplações aos menos bem preparados. O perfil altimétrico é bastante curioso. Ao contrário do que se poderia supor, vai subindo gradualmente desde Vila Franca até Évora, com alguns picos mais acentuados a partir de Montemor-o-Novo, os últimos 30 km, tornando o final da tirada bastante mais selectivo. Além disso, a paisagem vai mudando à medida em que subimos – neste caso – para o Alentejo, diferindo bastante da que estamos habituados a contemplar na nossa região.
Depois, como diz a velha máxima ciclista, «as dificuldades ditam-se pelo andamento». E por isso foram acentuadas, não só pelo bom nível global do enorme pelotão que partiu de Loures, mas também porque a competitividade no seu seio está ao rubro. Assim, a crónica da etapa só poderia ser fértil de interesse.
Primeiro facto relevante a reter: o andamento sempre vivo desde a partida, esclarecedor sobre o cariz especial, e mais exigente, destas super-clássicas. Desta vez, ao contrário da maioria das voltas domingueiras, saiu-se a boa velocidade em direcção a Alverca, cumprindo-se, logo aí, uma média superior a 30 km/h. O mérito coube, em especial, a dois ou três elementos mais empenhados na frente do grupo, entre estes, o Casaínhos e o Freitas. Logo se viu que não era dia para relaxe. O único senão foi a passagem por Vila Franca, em que houve uma aceleração demasiado forte à cabeça que criou vários cortes no grupo – embora logo nas primeiras centenas de metros da recta do Cabo voltasse a reagrupar-se.
A ligação entre Porto Alto e Pegões fez-se em pelotão compacto, a uma média superior a 33 km/h, alcançada sem a necessidade de recurso à tradicional rendição ordenada na frente do pelotão, graças à disponibilidade para a exposição ao vento de um punhado de esforçados trabalhadores.
Factos a reter neste sector: a quebra de um raio de um «outsider» de ascendência africana que, pelos vistos, ninguém sabia a proveniência; e a avaria mecânica do veterano Victor, que agrava o rol dos seus habituais lamentos (brinco!)) e que acabou por impedi-lo de concluir a prova – mesmo que, às tantas, tenha tomado por empréstimo nova montada.
Uma vez chegados a Pegões, eis a primeira movimentação a sério do dia: o Freitas ataca logo após a rotunda, surpreendendo todos – ou quase, talvez menos o Miguel. Confesso que devido ao meu desconhecimento do percurso estava a aguardar por Vendas Novas para assistir às primeiras escaramuças da sua parte, aliás, como o próprio deixou bem explícito em comentário de antevisão à prova neste blog.
Mas o homem não esperou por mais tarde e arrancou com força, ganhando alguns metros (nunca foram mais de 100/150) ao pelotão, numa zona plana e totalmente exposta ao vento, o que facilitou a tarefa dos perseguidores. De resto, o entendimento no grosso da coluna foi exemplar e… surpreendentemente rápido. Por isso, a iniciativa foi condenada ao insucesso.
No entanto, 3 ou 4 km depois, é a vez do Miguel, seu gregário de luxo, também atacar, desta vez, em terreno mais propício, além de ter tido o mérito de deixar o pelotão perante a segunda necessidade de perseguir, num espaço de tempo curto – o que causou alguma retracção. Além disso, teve resposta pronta de Paulo Matias (estranhamente, porque acabara de se juntar ao grupo), criando evidente desestabilização no pelotão. Aproveitamento esse ensejo, o Freitas foi no encalço do duo, que passou rapidamente a trio. Agora a questão tornava-se mais séria – apesar de ainda faltarem muito quilómetros para a chegada –, obrigando a uma «caça» mais organizada e, sem dúvida, com muito maior intensidade que a iniciativa, a solo, do Freitas. Por isso, era fundamental manter o temível duo (o tal Matias não durou muito e deixou-se descair) a distância dita de segurança, o que não se avizinhava ser tarefa nada fácil. Principalmente quando avancei para a cabeça do pelotão para marcar o ritmo e me apercebi rapidamente que era preciso contar com alguém que me rendesse, sob pena de me causar um desgaste com consequências imprevisíveis. O Pina ainda prestou alguma ajuda, mas com a sucessão de pequenos topos e a necessidade de manter uma velocidade elevada resguardou-se numa segunda linha. Nessa altura, temi que a missão poderia complicar-se mais do que o previsto. Aliás, quando me recolhi um pouco no meio do pelotão constatei que havia alguns focos de contestação a um dos instigadores da fuga (o estranho Paulo Matias).
Felizmente, o Fantasma e o Vidigueira principalmente, e o «Mister» Benfica, a espaços, capacitaram-se que a partilha de esforços era a única forma eficaz e com menos desgaste de anular a escapada. Breves passagens pela frente, para manter a velocidade e ajudar-me a descansar do maior esforço imprimido dos topos, precipitaram o final da aventura dos dois co-equipers, poucos quilómetros depois de Vendas Novas.
Assim, voltava a estar tudo em aberto para o derradeiro e decisivo sector da prova, apenas com um grupo restrito de resistentes (bem ao estilo das clássicas dos profissionais) na dianteira. E na subida de Montemor jogou-se as maiores cartadas. No início, o Miguel assumiu o comando, tornando o ritmo mais rijo, momento propício para eu lançar o ataque que esperava ser decisivo. Fi-lo em força, porque a subida, curta, assim o exigia.
Como esperava, o Freitas foi o único a reagir – embora tivesse algumas dúvidas em relação ao Miguel. No interior da cidade, ainda em plena subida, já tínhamos uma vantagem de cerca de 100/150 metros, e à saída, quando começou a descida, a 25 km de Évora, deparava-se a dura tarefa de a consolidar.
Nos quilómetros seguintes, num terreno de falso plano ascendente, com várias rampas mais acentuadas, deu para perceber que o meu companheiro de fuga não estava em condições de colaborar afincadamente (não era bluff!), por isso, resolvi manter a intensidade, pois seria a única forma de aumentar as probabilidades de chegarmos isolados. Todavia, devido ao relevo suave e pouco selectivo, não teria grandes veleidades de me libertar da companhia que nos últimos tempos tem sido habitual – e com final invariável. Logramos mesmo aumentar consideravelmente a distância para os perseguidores até à chegada, a uma média de 33,5 km/h (média final muito apreciável de 32 km/h!), onde a vantagem para o primeiro grupo de perseguidores (salvo erro, Fantasma, Pina, Vidigueira e Casaínhos) se cifrou em 3 minutos. Os restantes elementos foram chegando a conta-gotas.

Notas de observador:

1. O Pina, o Fantasma e o Vidigueira: enormíssima prestação, a confirmar a ascensão de forma que têm registado nos últimos tempos, principalmente os dois primeiros quando o terreno é propício a roladores. Além de terem chegado no primeiro grupo de perseguidores, já antes tinham trabalhado com afinco na anulação das duas iniciais fugas do dia – principalmente o Fantasma, que, ao contrário do que é habitual em si, se resguardou durante a primeira metade da prova. Poderoso!

2. Nota muito elevada também para o Abel, que se mantinha no grupo da frente no início da subida de Montemor e chegou sem muito atraso a Évora. Além disso, foi excelente companhia durante o almoço, com muitas estórias sobre a sua riquíssima experiência no mundo do ciclismo. A sua saudável veterania é um exemplo a seguir pelos mais novos do nosso pelotão.

3. Outra demonstração de abnegação foi dada pelo Zé-Tó, que se lançou ao desafio de cumprir o percurso na íntegra após uma paragem para fins lúdicos de algumas semanas.

4. Esta poderia ser a anedota do dia. E conta-se assim. A poucos quilómetros de Évora, numa altura em que eu e o Freitas íamos em andamento vivíssimo, praticamente no «red line», eis que se ouve atrás de nós uma voz fresca e descansada, do Daniel: «É pá, vocês não esperam por ninguém» (a corrente da sua bicicleta tinha saltado no início da subida para Montemor, deixando-o fora de jogo logo na pior altura). Confesso que, num primeiro momento, fiquei surpreendido com a sua presença, pois amiúde certificava-me sobre o posicionamento dos perseguidores – e já não os avistava nas longas rectas que antecedem Évora. Mas garantidamente o Freitas ficou muito mais chocado, depois de tanto esforço ter feito – e estar a fazer (perdoem-me a imodéstia) – para se manter na minha roda. Pelo menos a atentar pela sua reacção espontânea – um incrédulo mas sonoro «f…da-se!). Como que a dizer: «como é que foi possível a este gajo ter chegado aqui!?» Daria tudo para ter visto a sua cara! E afinal, o bom do Daniel apenas tinha apanhado boleia do seu carro de apoio.

5. O Casaínhos. Presença assinalada e assinalável, pelo contributo que dão ao grupo a qualidade e experiência como ciclista, e também a sua forma de estar muito peculiar. Se novo repto não servir para convencê-lo a alinhar connosco com regularidade ao domingo, esperamos contar com ele na Clássica de Fátima, no próximo mês.

P.S. A Clássica de Runa, no próximo domingo, tem o seu percurso alterado. Assim, após Dois Portos, segue-se em frente em direcção ao Sobral (em subida), e depois para o Forte de Alqueidão (aguenta!), descendo para Bucelas e finalmente para Loures. Deste modo, evita-se o troço de estrada má da Feliteira/Sataparia. Motivo: a salvaguarda dos avultados investimentos em material que se tem feito nos últimos tempos.

segunda-feira, março 06, 2006

Carmões para todos os gostos

A Clássica de Carmões voltou a provar o mérito das tiradas com terreno-para-todos-os-gostos. Ou seja, teve um bocadinho de tudo: rolou-se calmamente, outras vezes moderadamente, e também como se não houvesse amanhã. Houve subidas, nomeadamente a do Sobral, a partir da Quinta do Paço até ao Forte de Alqueidão, e depois a de Carmões, feitas a grande intensidade, com direito a lutas férreas e ferozes perseguições. Enfim, espectáculo para todos os gostos.
As hostilidades começaram, como referi, no Sobral, a partir da Quinta do Paço, numa subida feita contra o vento, cujo andamento, até aí, foi quase sempre pautado pela dupla Freitas/Miguel. Imediatamente após o reagrupamento com o Pina, o Salvador e o Samuel (trio que partiu adiantado), o Freitas lançou o primeiro de alguns ataques. Começa a habituar-se tanto, que qualquer dia a coisa pode correr bem!! Mas teve sempre resposta eficaz da minha parte e do Carlos. O Miguel também não perdeu terreno, aproveitando as boleias para se manter à frente.
De resto, partiu dele uma ou duas acelerações fortes, na tentativa desgastar os restantes elementos, na habitual parceria estratégica com o seu chefe-de-fila. Infelizmente, devido ao acidente, ao que parece deverá continuar a ser gregário por mais tempo do que esperaria. No entanto, embora esteja a caminho da boa forma após a longa paragem e não seria, até ver, capaz de aguentar o ritmo até ao alto. De resto, quem também acabou por ceder aos constantes esticões, antes do planalto, foi o Carlos, deixando ao trio, e depois apenas a mim e ao Freitas - quando o Miguel acabou igualmente por ficar para trás nas últimas rampas - a discussão do sprint – ganho, para variar, pelo especialista.
Diga-se que os restantes elementos do grupo não chegaram muito depois, com o Vidigueira, o Daniel, o Pina e o Samuel (estes dois mais folgados) em bom plano.
Após o reagrupamento, seguiu-se em direcção ao Sobral e depois a Dois Portos, para enfrentar a dificuldade seguinte: a subida de Carmões, curta (1,7 km) mas ainda assim algo selectiva. O primeiro golpe de teatro foi o Miguel ter-se perdido depois de se adiantar na descida do Forte de Alqueidão, virando à esquerda para a Feliteira em vez de à direita para rampa que vai dar ao centro do Sobral. A notícia foi dada pelo próprio quando o pelotão estava prestes a iniciar a subida de Carmões, em perseguição a um trio – Daniel, Carlos e Pina – que entretanto se adiantara com autorização explícita do grupo – ou melhor da maioria, porque o Salvador bem «implorou» para que o ajudassem a apanhar o Daniel – sob pena de o ouvir! Todavia, com a complexa conversa telefónica com o Miguel sobre a sua localização certa, às tantas, quando se iniciou a subida já os fugitivos tinham aberto algumas centenas de metros, decisivas para terem conseguido manter ligeira vantagem no alto de Carmões - excepção feita ao Daniel que, como lamentou no final, acabou por «morrer na praia». E apesar da caçada cerrada movida por mim, com o Freitas a seguir a roda. A prova que o andamento foi vivo foi o facto de ter retirado 22 segundos (4.24 m) em relação ao tempo realizado ali, no passado dia 11 de Dezembro, então também na companhia do Miguel – o que é bom indicador de subida de forma.
Depois houve que esperar pelo desorientado Miguel. Eu e o Freitas voltámos a descer, esperámos e desesperámos, desdobramo-nos em telefonemas, alguns cruzados via central de comunicações de Camarate, para saber do paradeiro (depois do homem já se ter mandado contra um carro, não é de fiar!), até que finalmente apareceu. Não escapou a uns impropérios do seu chefe-de-fila. Bem merecidos, diga-se.
Quando voltámos a Carmões já tinham passado quase 15 minutos depois do restante grupo ter abalado, tornando desde logo impossível alcançá-lo – a não ser que decidisse parar. Mas não foi por falta de esforço da nossa parte. Finalmente com a ajuda do vento rolou-se freneticamente até… Alverca.
Para dar uma ideia aqui ficam os andamentos médios:
Carmões-Alenquer: 39 km/h
Alenquer-Carregado: 44 km/h
Carregado-Vila Franca: 42 km/h
Vila Franca-Alverca: 36 km/h
Foram 38 km fatigantes - é óbvio -, mas muito recompensadores. Para mim, representou uma espécie de desforra em relação ao vento que tanto me fustigou durante a última semana.

No próximo domingo realiza-se a Super-Clássica Loures-Évora (140 km)
Partida prevista para as 8h00 (da BP)
Mais informações aqui em breve (ou na loja do Pina)
Que o vento esteja… connosco!

sexta-feira, março 03, 2006

Abordagem à (alta) montanha

Ontem iniciei o treino específico de subida, com uma passagem pela Mata para tirar (falsas) ideias. E hoje fiz a primeira abordagem à (alta) montanha, com dupla ascensão de Montejunto: via Abrigada e Vila Verde dos Francos.
Nos dois dias, as sensações foram normais para a época, ou seja, indicam que ainda há um longo caminho a percorrer para aprimorar a forma neste tipo de esforço, fundamental para os objectivos a que me propus esta temporada – Lagos de Covadonga e principalmente a Etape do Tour.
No entanto, a subida pela Abrigada foi definitivamente para esquecer - e para traumatizar se eu não gostasse tanto de subir - devido ao forte vento contra que soprava. Para dar uma ideia, raramente passei dos 10 km/h no troço dos chamados 15% - que na realidade são 1,1 km a 11%... de média! E terrível primeira rampa - com aquela «curvinha» à direita - e melhor nem falar! Não satisfeito, resolvi salvar o dia enganando o vento, isto é, subindo por Vila Verde dos Francos. E embora já com as pernas moídas, o andamento já foi bem melhor, mais de acordo com os indicadores de forma actuais. O pior foi fazer os 45 km de regresso a casa, contra o vento e… a chuva que fez questão de aparecer mal comecei a descer para a Abrigada.
Começou a época do empeno!

quinta-feira, março 02, 2006

Desfile de Carnaval

A volta de Carnaval assinalou o regresso do Miguel, após o acidente da Ota. Logo para quase 130 km de pedal pela lezíria ribatejana (Valada) sempre em bom andamento. Agora é só recuperar o tempo perdido, que, pelos bons indicadores evidenciados, não foi demasiado relevante para a forma física.
De resto, o traçado quase sempre plano favoreceu os roladores, com destaque para o Daniel, que continua a subir de forma, não poupando esforços para mostrar a «camisola». Destaque ainda para a coesão do grupo, que rolou compacto durante (quase) todo o percurso, e demonstrou que, nas condições actuais, é muito difícil fazer vingar qualquer fuga duradoura. Aliás, é até complicado alguém adiantar-se ligeiramente sem permissão. O único que o fez foi o sempre inconformado Daniel. Desta vez não houve perseguições ferozes, nem ritmos avassaladores. Manteve-se uma velocidade de cruzeiro elevada (a média de 30 km/h prova-o) e assim não houve cortes significativos no pelotão.
Os momentos de maior «calor» foram as duas acelerações do Freitas na subida para Cruz do Campo, mas acabaram condenadas ao malogro. Ou então não quis ir mais longe, a solo, na sua iniciativa!? O certo é que o pelotão reagiu progressivamente sem ir ao choque, e fê-lo com total eficácia — tanto ali, como depois no último topo antes de Azambuja. Ao invés, o mesmo homem voltou a não deixar os créditos por mãos alheias nos sprints de Vila Franca e Alverca, já no regresso. Neste particular, deixou bem patente que actualmente muito dificilmente será batido.
No domingo, a Clássica de Carmões volta a privilegiar os homens possantes, deixando pouco espaço de manobra aos trepadores, embora as subidas do Sobral e de Carmões possam fazer algumas diferenças – e trazer animação adicional.