segunda-feira, maio 29, 2006

Sobral da Abelheira: Escaldante!

No rescaldo de uma semana inteira no estaleiro, a níveis físicos rasteiríssimos, a volta deste domingo estava a mesmo a prometer uma valente tareia. O percurso acidentado e o pelotão em grande forma deixavam antever que não poderia contar com especial clemência. Além de a Clássica do Sobral da Abelheira ser um agitado carrossel, com algumas subidas bem duras, a fase de grande apuro físico dos «internacionais» apontando para as grandes provas do ano – mas não só, os «nacionais» mostraram que também estão «finos» – eram duas certezas de que o andamento seria forte. Restava-me, então, decidir se tentaria segui-lo nos momentos de maior ímpeto ou se deveria optar por uma toada mais moderada, e aconselhável. Optei pela primeira, mais para ver até que ponto chegaram os estragos da maleita. Conclusão rápida: fizeram e bem! Bastaram poucos quilómetros e os primeiros apertões para ver que a coisa estava mazinha. E o calor infernal que se fez sentir aumentou ainda mais a dificuldade do teste.
Logo à saída de Bucelas, na subida da Chamboeira, a coisa começou a aquecer. Ainda com os Lagos a fervilharem nas pernas, o Freitas, que está a capitalizar o seu momento de grande forma, teve a primeira das suas inúmeras iniciativas para acicatar os ânimos no pelotão. Não satisfeito, repetiu na subida do Milharado… e depois em Pêro Negro, só descansando a seguir ao cruzamento de S. Sebastião. Por pouco tempo…
A partir do Livramento, foi o Nuno que tomou as rédeas. E não olhou a meios. Meteu andamento em todos os topos e aos poucos desfez o grupo, ao ponto que, logo nas primeiras rampas da dura subida do Sobral da Abelheira (1,5 km a 9%), só restavam os «internacionais». Aqui sentiu-se bastante o calor. Faziam sufocantes 36 graus. Terrível! O andamento foi bom (6 minutos a 178 bpm) – embora inferior a uma passagem que fiz em treino em meados de Março (5.48 m a 182 bpm) e ficou a compensação de ter correspondido satisfatoriamente, tendo em conta as minhas condições.
Os últimos 600 metros ainda em subida, até à Barreiralva, já se fizeram em ritmo de recuperação, e depois até à neutralização na Murgueira, onde uma aguadeira septuagenária teve a amabilidade de nos matar a sede…
De novo na estrada, rumo a Mafra e à complicada subida da Carapinheira, felizmente feita a ritmo de passeio. Todavia, o Freitas tinha reservado a cartada final na ligação Alcaínça-Malveira: lançou-se na descida, mas teve resposta muito atenta do Nuno e do Fantasma. Para mim, então, tinha chegado a hora da decisão: tentar ir ou ficar… definitivamente. A resposta tinha de ser rápida! Obviamente, optei pela primeira. A descida velocíssima de Alcaínça fez desde logo a selecção: quem se contivesse dificilmente conseguiria reentrar.
Entretanto, o Nuno/Fantasma apanham o Freitas no pequeno topo à saída desta localidade e este olhou para trás para ver quem mais é que viria. E eu – ainda a cerca de 150 metros – pensei que teria de fechar rapidamente o espaço antes do trio começasse unir esforços. O Carlos, o único que seguia comigo na perseguição (penso que o restantes, entre eles o Miguel e o Steven, ficaram surpreendidos com as movimentações e perderam o «timing»), percebeu exactamente o mesmo. Por isso, forcei e a recolagem foi bem conseguida, mas o meu companheiro deixou-se… ficar. Ainda mal refeito do esforço, junto-me ao trio e ouço o Nuno dirigir algumas palavras para o Freitas (que me pareceu, qualquer coisa como: «vamos passar à vez»). Mau, mau! O Garcia tomou o comando e o Fantasma tirou imediatamente o bilhete. E eu passei imediatamente para a ponta do elástico – que esteve teve mesmo a partir-se junto ao cruzamento da Abrunheira (ainda com o Nuno à frente) e depois à chegada à Malveira (já com o Freitas a trabalhar, na rampa do cemitério). Foram 2,5 km muito intensos (sempre acima das 175 bpm com «pico» às 185 bpm), a uma média de 30,5 km/h em subida! Estes dois homens estão muito fortes, por isso, nestas condições, ter resistido até ao fim foi muito positivo para mim.
O pior foi o resto da viagem até Alverca, «desgraçado» e sob um calor tórrido. Fui com o peso dos sapatos nas rectas e do corpo nas descidas. E fiz o Cabeço da Rosa em contagem decrescente… Ah, depois de parar para abastecer em Bucelas, à chegada a Vila de Rei, até o Salvador me alcançou – ele que vinha ficado para trás algures… perto de Mafra!
Pode ter havido um facto positivo com esta paragem forçada: a regeneração muscular após um período de fadiga que culminou nos Lagos. O objectivo é recuperar a forma e apurá-la… até 10 de Julho.

Na próxima semana, a volta que está prevista é a seguinte: Loures-Pinheiro de Loures-Lousa-Venda do Pinheiro-Malveira-Vila Franca do Rosário-Enxara do Bispo-Pero Negro-Sapataria-Póvoa da Galega-Vale S. Gião-Casais da Serra-Tesoureira-Arranhó-Forte de Alqueidão-Sobral-Arruda-Cadafais-Carregado-Vila Franca-Alverca-Tojal-Loures (aprox. 110 km)

Além disso, devido ao aumento da temperatura, a concentração nas bombas passou para 8h15, para sair às 8h30.

terça-feira, maio 23, 2006

Lagos de Covadonga - a crónica

Um pelotão de 1500 ciclistas à conquista de uma montanha verdadeiramente infernal: eis a Clássica Internacional Lagos de Covadonga 2006.
Tenho pela subida dos Lagos uma relação de amor-ódio. Porta de entrada nos famosos Picos da Europa, é a mais espectacular e exigente de todas as que já subi – e não foram poucas, todas com aura mítica: Tourmalet, Aspin, Mont Ventoux, Galibier, Aubisque, Marie Blanque, Croix de Fer, Luz Ardiden, Deux Alpes, entre outras. Confronta-nos com o antagonismo brutal entre o cenário natural idílico e a dureza tenebrosa das rampas que separam, pouco mais de 12 km, o Santuário de Covadonga e o tranquilo Lago Ercina, o segundo e mais elevado, a pouco mais de 1100 metros de altitude.
A cada ano que a visito – e é já o quarto –, a montanha parece-me mais bela e arrebatadora. Na véspera da prova, o tradicional reconhecimento de carro, aviva-me sempre a lembrança do primeiro dia, aquele de Maio de 1998, em que disse para mim próprio que ainda não estava preparado para conseguir vencê-la. E não consegui!
Agora, oito anos volvidos, e apesar da rodagem «internacional», aquela montanha continua a fazer-me calafrios e a sofrer como, até ver, nenhuma outra. O meu calvário chama-se Huesera – uma rampa de 800 metros a 14% de inclinação média, que se enfrenta depois de 5 km que não baixam dos 9%, e que precede mais 6 km que misturam passagens a 13-14-15 e duas descidas curtas e vertiginosas, que passam num ápice. Lá, como alguém disse, deparamo-nos com «a verdadeira essência do ciclismo». O cenário é sempre igual: corpos curvados sobre o guiador das bicicletas, pedalada lenta, seca, muito suor e sofrimento. O que diria o «grande» Miguel Indurain, cuja presença à partida de Cangas de Onis era inspiradora, se me visse nestes propósitos?!
Mas a Clássica dos Lagos é mais do que a subida final. Muito mais. Desde logo, o Mirador del Fito, logo aos 8 km de prova. Uma subida de 10 km a 5% de média, digamos, para abrir a «caixa». Logo nas primeiras rampas, o pelotão alonga-se na estrada sinuosa e eu tomo o pulso à minha condição (pulso não foi bem, já que o meu Polar deixou de funcionar e fui «por sensações» a prova toda!), impondo o ritmo do quinteto de portugueses. A saber, os Pina Bike: Ricardo Costa, Luís Freitas, Nuno Garcia, Miguel Marcelino; e o alentejano de Vendas Novas, Jerónimo, que, já batido nestas andanças, desde cedo encontrou o seu próprio passo para melhor gerir o esforço. Os Pina Bike mantiveram-se juntos e sensivelmente a partir de meio da subida, o Miguel e o Freitas renderam-me no comando das operações, este último a deixar desde logo a ideia de estar em grande forma – só podia para não se resguardar nem a subir! De qualquer modo, o ritmo foi moderado, mais do que o do ano passado, em que fizemos cerca de 2 minutos menos.
Depois de «coronar», como dizem os espanhóis, seguiu-se longa e perigosa descida até à costa do Cantábrico, às suas praias frias e desertas, e ao típico sobe e desce «rompe piernas», a recomendar muito tino no ímpeto. Foi o que parecia não ter o nosso companheiro Freitas «Durão» – mas deveria ser apenas e mais um reflexo do seu estado de grande vitalidade física. Prontamente aconselhado pelos «mais experientes», voltou ao conforto do seio do pelotão, onde os cinco se refugiaram até à subida do Ortiguero, com cerca de 4 km a 5% – uma espécie de Mata (Arruda), para quem conhece.
Entre o Mirador del Fito a Posada, onde se inicia a gradual ascensão, fez-se uma média de 36,5 km/h – nada que impressione quem está habituado a cavalgadas domingueiras com os «nacionais» do Pina Bike!
Quando a inclinação aumentou, o andamento baixou bastante – sinal que o grupo não era forte a subir. Então foi um espanhol com o estilo do Nando que fez a vez do Miguel (versão 2005), impondo um ritmo muito forte para todos os elementos do grupo. Nem todos, os Pina Bike resistiram e muito antes do cume juntaram-se à frente. O meu trabalho pode ter-me custado alguma energia preciosa…
A partir daqui, uma longa descida (15 km) com falsos planos a exigir «pedal» e depois o troço de ligação (8 km) até Covadonga, início da subida final para os Lagos. A média na descida rondou os 42 km/h e depois até Covadonga os 25 km/h, altura em aproveita habitualmente para restabelecer energias e preparar-se psicologicamente para a duríssima montanha.
Finalmente, os Lagos! Primeira rampa com mais de 10%, logo para abrir as hostilidades. Ouço o Freitas dizer que iria meter o seu ritmo e parecia ter a companhia do Miguel, que mostrava algum receio das suas capacidades. Eu também encontrei o meu ritmo para a primeira parte da subida, mais rápido que este duo, enquanto o Nuno – que se tinha atraso cerca de 20 segundos no reabastecimento antes da subida – vinha em recuperação. Constatei isso na primeira curva em cotovelo. O meu andamento foi muito regular durante os primeiros 5 km, quando a inclinação média raramente baixa dos 9%, mas na iminência da Huesera e do esforço adicional que é exigido, baixei ligeiramente o ritmo para tentar passar melhor. Nessa altura, o Nuno recuperou grande parte da desvantagem e aos 200 metros daquela rampa infernal (troço de 800 metros a 13-14-15%, num km a média de 13,8%) passou por mim e foi… embora. Paulatinamente, como se faz naquele local, ganhando metro após metro. À saída da Huesera senti que estava «acabado» para o resto da subida, a não ser que a inclinação baixasse – o que não acontece, se exceptuarmos as duas descidas rápidas que não permitem reencontrar o ritmo. Assim, os restantes 5 km foram sempre em perda, com algumas passagens de grande sofrimento. Esta subida é sempre um calvário! Atrás, sem que lá à frente fosse visível, o Freitas tinha deixado o Miguel e estava em nítida recuperação.
O Nuno fez uma excelente subida e chegou ao final com 2 minutos de vantagem sobre mim e o Freitas 1 minuto e uns pozinhos depois. Este surpreendentemente, admito-o! Foi grande a prestação do nosso companheiro Durão, demonstrando que o trabalho de casa, durante 15 dias de férias, foi muito bem feito. O Miguel atingiu o alto cerca de 2 minutos depois do Freitas (sensivelmente!) e o Jerónimo alguns minutos depois, também eles realizando óptimos desempenhos…
Próximo encontro, dia 10 de Julho, na Etapa do Tour.

segunda-feira, maio 15, 2006

Só paramos aos 40 km/h de média

As voltas domingueiras da malta do Pina Bike estão assim: anda-se cada vez mais depressa e a malta gosta à brava! Desde que seja sempre a rolar, claro…
Ontem, para não fugir à regra das gloriosas tiradas planas, foi dar à corda praticamente desde Loures e durante mais de 100 km/h, perfazendo uma velocidade média que andou muito tempo em cima dos 34 km/h! Meus senhores, é recorde!
O vento estava de feição, fraco como se quer, e o pelotão bem recheado de insaciáveis devoradores de asfalto. Aí está a garantia de muito peso sobre os pedais. Por isso, depois do «aquecimento» na variante de Vialonga deu-se gás de Alverca a Vila Franca, onde houve direito a breves segundos para respirar, logo se metendo novamente o comboio a mais de 40 km/h em direcção ao Porto Alto.
O maquinista (perdão!) de serviço foi o Freitas, que não perdeu tempo a experimentar as forças para os Lagos – e são muitas, provando que o estágio de preparação para Covadonga está a dar os seus frutos. O nosso Durão está em alta e meteu passo sem esperar grande colaboração.
Enquanto à cabeça do grupo, os roladores se acotovelavam por uma oportunidade de ajudar a não baixar a velocidade – tarefa dura a 40 km/h –, eu apercebia-me de quão é bom andar quase sempre na cola do pelotão! Na Recta do Cabo foi-se passando, à vez, pela frente, mas quando chegou a minha já estávamos no Porto Alto. Ora bolas, que mal calculado! Aliás, foi dia de coincidências felizes, pois a situação repetiu-se à chegada à antiga Estalagem do Gado Bravo, mas desta vez porque o Nando decidiu quebrar a ordem pública. O desabafo do Pina prova que vinha com atenção: «Este gajo está cheio de sorte hoje»!
Ainda bem, pois no circuito Alverca-Porto Alto-Benavente-Estalagem, a locomotiva Pina Bike realizou a impressionante média de 35,5 km/h. Eu nem com uma pedalada contribuí!
Logo a seguir, a passagem pela Ponte de Vila Franca teve o tradicional apertão. O Miguel saiu em antecipação, mas ficou ao alcance. Uma vez feita a junção, o Freitas e o Nuno Garcia dispararam até ao topo. Destaque para o João entre os «nacionais», que, de resto, esteve em muito bom plano durante toda a volta, no seu estilo característico de gerir o esforço a seu bel-prazer, levando quase sempre para casa a sensação do dever cumprido…
A partir de Vila Franca, o ritmo foi mais moderado. Deu até para conversar, imagine-se! E para ver a paisagem… urbana. Chegou-se então a Sacavém e na iminência da subida para a Apelação tomaram-se posições na frente do pelotão. E começou a ladainha dos roladores, antevendo a dose de sofrimento que os espera. Puro engano. Os «internacionais» não se mexeram e o grupo foi subido a passo comedido, com o Freitas no comando – o que aliás é a melhor prova que a toada era inofensiva. Aliás, voltou a dar para trocar algumas piadas, por isso está tudo dito!
Assim, foram os homens da pedalada rija que mudaram o ritmo, já à entrada da Apelação. O Fantasma, ele próprio! Mas também o Pina. O Samuel, mais levezinho, também respondeu. Mas todo o grupo reagiu com facilidade e já na recta final, sem ataques efectivos, o Freitas sacou do sprint… quase a seco. Irresistível! Até Loures, houve tempo para voltar à conversa e fazer o balanço de um dia de grande velocidade, mas sem grandes desgastes…

Notas de observador

Lá está! Voltou-se ao terreno plano, voltou a homogeneidade no grupo e com esta subiu o nível do desempenho colectivo. Logo, mais participação e divertimento. Pena que nas voltas mais acidentadas, tal não suceda – pelas razões sobejamente referidas. De qualquer modo, penso que os mais bem treinados devem reconhecer a sua parte de responsabilidade e adoptar uma toada mais moderada durante um pouco mais de tempo naqueles momentos em que é aceitável que o andamento seja «livre» (por exemplo, numa subida). E mesmo que o ciclismo seja mesmo assim…
Eu penso desta maneira, garanto, mas só poderei voltar a abordar a questão se for o primeiro a dar o exemplo.

sexta-feira, maio 12, 2006

Lagos de Covadonga - 1

A Clássica Internacional Lagos de Covadonga tem uma característica determinante que a diferencia das grandes provas do género, em Espanha e França, que já participei. A sua quilometragem é relativamente baixa (111 km), que acaba por torná-la bastante rápida… até à subida final.
Além da distância curta, esta Clássica tem outras especificidades, como o facto de a primeira grande subida (Mirador Del Fito, 9,3 km 5,7%, contagem de 1ª cat.) ser logo aos 8 km. Ou seja, sempre é cerca de meia hora de esforço intenso, e se formos a «tope», como dizem os espanhóis, pode representar uma factura demasiado alta, a pagar na subida final, dos Lagos.
E há outra questão: quanto mais depressa se subir El Fito, em grupo de melhor nível se fica a partir da descida. E quanto mais elevado for o nível do grupo que integremos, mais depressa rolará nos 40 km seguintes, em terreno praticamente plano. Por exemplo, no ano passado chegou a rolar-se a mais de 50 km/h.
Depois, a partir dos 63 km inicia-se a segunda montanha, o Alto do Ortiguero, uma longa subida de 14 km, embora só os último 5 km sejam mais difíceis (5%) – onde, em 2005, o Miguel, tal louco imprevisível, decidiu atacar o pelotão espanhol, desintegrando-o.
Uma vez no alto (77 km), seguem-se 15 km de descida, com alguns falsos planos, daqueles em que é preciso pedalar para andar depressa. Foi aqui que, no ano passado, debaixo de chuva, dois matulões roladores espanhóis, rebocaram o grupo em que eu e o Nuno Garcia seguíamos até ao do Miguel, alcançando-o praticamente, no final, perto da rotunda em que se faz a viragem à esquerda em direcção a Covadonga. Aqui, o Miguel assegurou, em definitivo, o cognome por que passou a ser conhecido, ameaçando seguir em sentido contrário – neste caso, de regresso ao local da partida (Cangas de Onis) -, desestabilizando por completo o pelotão, que entretanto tinha engrossado com a junção dos dois grupos. Daqui até ao início da subida dos Lagos são 7 km que devemos nos alimentar, repor forças e preparar a «psique» para a duríssima subida final. Esta, então, fica para outro dia…

Para já, fica uma imagem frequente nas altas... percentagens

segunda-feira, maio 08, 2006

Assalto a Montejunto!

Subimos o nosso Alpe D’Huez! Numa jornada longa e dura, a rondar 140 km e com ascendente acumulado próximo dos 2000 metros, o bem composto pelotão Pina Bike cumpriu o glorioso objectivo de ascender ao ponto mais alto na nossa região (650 metros). De resto, foi um verdadeiro assalto a Montejunto, pois o grupo dividiu-se entre duas das (quatro!) vertentes da serra: Vila Verde dos Francos e Pragança, embora por esta tenha escalado a maioria dos participantes. Apesar de ter havido, entre estes, quem não chegasse ao cume, estão todos de parabéns pelo esforço e abnegação demonstrados!
O trajecto de Loures até à base da(s) subidas(s) não é, de todo, um passeio. Até Bucelas e depois ao Alto de Alqueidão, a seguir por Merceana e Atalaia; e daqui para Vila Verde dos Francos, Vilar e Pragança, houve que vencer os obstáculos do terreno, ainda com a oposição do vento. Na subida do Sobral foi evidente o regime de gestão de esforço do pelotão, por isso com facilidade se poderia ganhar algum avanço. Foi o que aconteceu a quatro elementos: eu, Daniel, Salvador e o Tárcio. O quarteto passou destacado no Alto de Alqueidão, mas à entrada do Sobral juntava-se um grupo que, entretanto, seguia intermédio. Este pelotão, já com razoável número de unidades, desceu para a Merceana e subiu para Atalaia e Vila Verde dos Francos sempre compacto e a ritmo moderado. E só em Vila Verde dos Francos, altura em que o João, o Zé-Tó e o Samuel (creio que não falta ninguém…) iniciaram a subida para Montejunto, se juntaram os perseguidores. A cerca de 18 km até Pragança, o pelotão ficava novamente compacto.
Daqui até ao alto de Montejunto são cerca de 6 km a quase 8% de inclinação média – uma ascensão digna de alta montanha. As primeiras rampas são duras e fizeram a primeira selecção – naturalmente a maior –, isolando, na frente, um quarteto composto por: Nuno Garcia, Freitas, Carlos e eu. O Carlos foi o primeiro a optar por seguir no seu passo, mais tarde (bem mais tarde, mas ainda na fase mais dura da subida) o Freitas também cedeu, seguindo, eu e o Nuno, juntos até muito perto do alto, à última curva, altura em que ele arrancou, de forma perfeitamente irresistível, para o final, deixando-me sem qualquer capacidade de reacção. A diferença entre nós acabou por ser significativa, tendo em conta que faltavam pouco mais de 100 metros. Para dar melhor ideia, foram cerca de 30/40 metros ou 15 a 20 segundos. Grande demonstração de força do Nuno, a provar que está de regresso à boa forma, em vésperas dos Lagos de Covadonga!
O Freitas chegou pouco depois, também ele efectuando uma excelente escalada, mais tarde o Carlos, depois o L-Glutamina e o Pina, e a fechar o grupo de cavaleiros do asfalto que tocaram o céu: o Tárcio (grande aquisição para o grupo!), o Luís e o Fantasma. Sem esquecer o João, o ZT e o Samuel que escolheram ascender por Vila Verde dos Francos. Grandes! Menção honrosa também aos que preferiram ficar na cota do quartel. Enorme jornada de ciclismo!

Notas de observador

Ontem foi dia de curiosa aferição. O Nuno Garcia chegou de longa ausência (pelo menos, intermitente) e ainda sem ter dado mostras de estar em boa forma, teve um excelente desempenho em Montejunto, com a agravante (no meu caso) de me ter deixado «pregado» na fase final da subida, após uma aceleração à «pro». Então, este sucedido pode despoletar a seguinte questão: o que faz um indivíduo com muito menos quilómetros e um programa de treino menos consistente, digamos, estar ao mesmo nível (ou melhor, na situação de ontem) dos que o têm? As respostas podem ser várias, mas procurando ser o mais objectivo possível, creio que existem factores que têm a ver com o «histórico», em que se incluem as suas características atléticas muito bem adaptadas ao exercício específico de subida, o esforço dispendido por ambos ao longo do percurso e, no meu caso pessoal, os condicionantes do normal cumprimento do plano de preparação, que, até prova muito mais evidente de estar errado, não irei alterar um milímetro. Ou seja, ontem ele esteve muito bem, perfeitamente irresistível, e eu igual a mim próprio.
O mérito do Garcia é ainda maior, uma vez que o tempo de subida, no meu caso, foi cerca de 1.30 m (23.07 m) inferior ao anterior melhor registo (realizado já na segunda-feira transacta). Por isso, considero que fiz uma boa subida, dentro do previsto, sendo esta de Pragança, para mim particularmente desconfortável, já que as suas elevadas percentagens não permitem, como tanto «preciso», manter rotação de pedalada alta, que aqui é, em média, 60/65 rpm, quando normalmente, em montanha, ronda 75/80. A prová-lo está o regime cardíaco médio (171): alto não tanto como se tivesse tido… mais força para o elevar a regimes «competitivo» (perto das 180) – o que não foi possível (nem é, para mim) numa subida tão inclinada.
Característica ou defeito? Penso que mais a primeira, embora a força também se optimize através de treino específico, o que é uma questão a rever (embora todos os anos o faça no início da temporada. Mas depois…), não sendo eu propriamente um ciclista leve (73 kg, peso de forma).
Mas há outros factores. Entre eles, a inclusão desta etapa de Montejunto no programa de treino semanal e não como um objecto específico de performance, logo, tendo chegado a domingo com toda a carga de trabalho da semana (e das anteriores) nas pernas. Este ano, só sucedeu o contrário em duas ocasiões: Évora e Fátima.
Mais importante – para mim, é claro! – é que os indicadores de forma são favoráveis para o grande objectivo da temporada: a Etapa do Tour. E são eles: desenvolvimento da capacidade para manter regimes muito próximo do limiar anaeróbio durante longos períodos de tempo – estamos a falar de três subidas de alta montanha, com mais de 1h00 de escalada! – e ainda muito bom endurance de base para vencer mais de 7h30 de bicicleta. E pelos indicadores, parece-me que estou no bom caminho... A ver vamos, dia 10 de Julho!
Nuno, caro amigo, mantém a frontalidade! A primeira «batalha» trava-se já no próximo dia 20, nas rampas da Huesera, mas a maior de todas será nas 21 curvas do Alpe D’Huez.
Grande abraço e muito obrigado pela consideração!

segunda-feira, maio 01, 2006

Alteração à Clássica de Montejunto

Por questões logísticas, a Clássica de Montejunto, a realizar no próximo domingo, vai sofrer uma alteração importante, não terminando, como de previsto, no alto da serra, para acabar, como todas as voltas habituais, em Loures e arredores. Deste modo, o percurso será modificado, seguindo em direcção ao Sobral (26 km), descendo depois para a Merceana (36 km). Daqui segue para a Atalaia (42 km) e em direcção a Vila Verde dos Francos (45 km) e aí, em frente para Vilar (48 km), Martim Joanes (52 km) e finalmente Pragança (60 km), onde se inicia a subida, atingindo-se o alto de Montejunto (antenas) com 67 km. A descida faz-se pela vertente de Vila Verde dos Francos e o regresso pelo percurso inverso, num total de 120 km… e muitas dificuldades!

A propósito de dificuldades, parece que foram estas que motivaram a debandada quase geral do pelotão durante a Clássica da Ericeira (domingo), à passagem por esta vila, com mais de um terço do percurso ainda por cumprir. Uma atitude que só se explica com a objecção a tudo o que não seja a rolar ou a descer. De qualquer modo, o traçado desta volta, embora acidentado, não é, de todo, «intransponível», o que leva a repensar seriamente a viabilidade de provas domingueiras que não sejam sempre (ou quase) em terreno plano. E nada melhor que comparar a atitude desta semana com a da última, na Ota. Assim, ficam os bons exemplos dos bravos que, à excepção dos ditos «profissionais», realizaram o percurso na íntegra: Luís, Salvador, Carlos e o «Coloured». Certamente, terão marcada no corpo a dureza do Muro de Montelavar, mas também a têm no espírito, como distinção da sua capacidade de sofrimento, coragem e superação. O meu aplauso!

Hoje, contra todas as previsões de treino, acabei… em Montejunto. Porquê, podem perguntar? Principalmente, no dia seguinte a uma volta empenhativa, que deixou marcas de fadiga – afinal, para mim, no domingo, foram mais de 140 km, 35 dos quais antes de me juntar ao grupo em Loures.
O principal (ir)responsável: eu. Claro! Mas porque fui na conversa de outro ainda mais… o Freitas. O que ficara combinado era uma voltinha higiénica a Torres (eu deveria atalhar caminho, por ficar fora do horário, já que trabalho em dia do… Trabalhador), todavia o telefonema madrugador, ainda eu estava a sair de casa, alterou radicalmente os planos. Chegara a notícia que o Nando, o João e o Carlos estavam a caminho de Montejunto, e já subiam o Sobral. Nada a fazer para os interceptar; a não ser … de carro. O Freitas foi para Bucelas e eu (mais esperto, há que admiti-lo! Ehe!), fui pela A1 e só parei na Atalaia, alguns quilómetros à frente do trio, seguindo depois com eles em direcção a Pragança, por onde fizemos a subida – seria reconhecimento para o próximo domingo?
O desgraçado do Durão fez um contra-relógio louco, ainda se enganou no caminho subindo pela duríssima rampa do Avenal e só nos encontrou, já nós descíamos. Enfim… dureza não é nada para quem está habituado.
No meu caso, fica a certeza que deveria era ter juízo, pois as minhas pernas foram a arder pelos 15% acima – e mesmo sem forçar nada (mais também não podia!). Todavia, surpreendetemente fiz menos 1 minuto que a minha melhor subida por aquela vertente, o que é bom indicador de forma (mesmo com vento favorável). O Carlos, mesmo a apalpar terreno (estreia por Pragança), deixou muito boas indicações para domingo. Estará como peixe na água…