quarta-feira, janeiro 30, 2008

Manique do Intendente: a crónica

Manique do Intendente confirmou as boas expectativas. Percurso a satisfazer gostos multifacetados. No rescaldo do polémico Santo Estêvão pode dizer-se que quem previa ajustes de contas, ficou frustrado. Ainda assim, viram-se alguns elementos especialmente activos no início da tirada, responsáveis pelo primeiro corte no pelotão, bem cedo, ainda na passagem em Alverca. Situação passageira. O grupo da frente não mostrou interesse na iniciativa, nem os detrás deixaram de se empenhar em fechar rapidamente a distância.
Nova movimentação no empedrado de Vila Franca. Desta vez, o Freitas força e entra no asfalto com mais de uma centena de metros de vantagem sobre o esfrangalhado pelotão. Logo que este se reagrupou e fazia a leitura da situação, teve de fazer um compasso de espera quando furei, antes de Castanheira. Já pouco antes tinham-se juntado ao grosso da coluna dois companheiros da equipa de veteranos de Salvaterra, entre eles o Carlos Coelho. O Duarte já vinha integrado desde Vialonga.
Ultrapassado o percalço, o pequeno grupo rapidamente se juntou ao restante, embora ainda com o Freitas destacado. Avistámo-lo pouco depois de Alenquer e porque vinha em andamento moderado, o pelotão não teve de gastar muitas forças para absorvê-lo pouco antes do início dos topos da Ota e Abrigada.
Ao sentir chegar o grupo, o ex-fugitivo não se importunou, mantendo-se à frente – também porque ninguém quis assumir a liderança -, agora com cadência ligeiramente mais forte, a provocar as primeiras baixas na causa do grupo logo no início do exigente encadeamento da Espinheira. E assim continuou, sempre na frente, mesmo depois de finalizar este sector, mas sempre em andamento certo, sem forçar demasiado.
O figurino manteve-se até Alcoentre, mas logo que se tomou a estrada para Manique do Intendente o passo tornou-se definitivamente mais rijo. Desta vez, os dois «Salvaterra» intrometeram-se na condução, mas o Freitas (ainda ele) não estava pelos ajustes e lançou o que restava do grupo na primeira subida de Maçussa – a do cemitério. Entrada de rompante, muito forte nas primeiras duas centenas de metros e saída para o lado. Fiquei na frente e não foi fácil encontrar o andamento certo, principalmente quando os homens de Salvaterra «esticaram» pela rampa acima, abrindo cerca de 30 metros até ao topo, onde relaxaram. Eu, nem tanto. Passei directo e ganhei alguma vantagem, mesmo sem forçar demasiado na descida de ligação ao muro final, dentro da localidade. O pequeno grupo (os três «Salvaterra» – Duarte incluído -, Jony e Salvador) que se formou após a subida inicial, alcançou-me mesmo antes do terreno se voltar a inclinar... e bem. Desta vez, pude meter o passo que mais me convinha mas logo vi passar rapidamente os dois «Salvaterra», com o Jony no encalço, embora só o Carlos Coelho tenha resistido até ao alto, onde passou a ter-me como única companhia.
Após isto, a neutralização na rotunda imediata para reagrupamento geral. Ficaram a faltar o ZT e o Samuel, já distanciados deste a Espinheira e que acabaram por falhar a direcção certa em Pontével, acrescentando mais alguns quilómetros «picantes» até Aveiras.
A partir daqui, o pelotão organizou-se e rolou compacto até ao final, apenas intercalando o sprint tradicional de Vila Franca, em que o Freitas não teve concorrência. A média superior a 30 km/h (contabilizando o tempo de espera em Maçussa) não deixa de ser bastante apreciável considerando a distância (+130 km) e o relevo algo acidentado nalguns sectores.

No próximo domingo, enquanto por cá se disputará a mais exigente volta de Santiago dos Velhos, alguns elementos do Pina Bike vão participar num treino de conjunto, em Caneira, organizado pelo camarada Paulo Pais. O percurso escolhido não apresenta dificuldades especiais – aliás, acaba por bastante rápido – e a distância (aprox. 80 km) também não é «assustadora». De qualquer modo, o andamento determinará, como sempre, a exigência da sessão. Eis o trajecto: Caneira, Turcifal, Catefica, Torres Vedras, Ameal, Outeiro da Cabeça, Bombarral, Pêro Moniz, Vilar, Maxial, Sarge, Torres, Catefica, Turcifal e Caneira.

terça-feira, janeiro 22, 2008

Momentos raros...

Há momentos raros no ciclismo, para quem o pratica de forma totalmente amadora e recreativa, mesmo com a regularidade, dedicação e o empenho que se sabe, e em busca da melhores performances. No último domingo, aconteceu um deles, durante a volta de Santo Estêvão, proporcionado por contingências que não valem a pena sequer mencionar, porque geradoras de repetida controvérsia e de consenso impossível. Adiante!
Importa, então, comentar – e principalmente elogiar! – o desempenho de dois verdadeiros poderosos destas lides que personificam o espírito de superação e o modo competitivo (goste-se ou não!) de encarar este formidável desporto: o Capitão e o Salvador, que comigo partilharam um esforço intenso de muitos quilómetros, resultando em experiência enriquecedora e de indiscutível satisfação pessoal para os três e – arrisco mesmo dizê-lo – para qualquer ciclómano que se preze.
Essa experiência consistiu numa espécie de contra-relógio de equipa (resumida a apenas três elementos), desde o Porto Alto a Loures (aprox. 80 km do percurso da volta, que tem 120 km no total), à excelente média de 36 km/h! Tal prestação, mesmo em terreno quase sempre plano, não é só resultado de inegável apuro de forma, como apenas foi possível por ter havido, da parte de todos os intervenientes, uma entrega sem restrições ao esforço, confiança inabalável e coordenação total. Fisicamente foi muito exigente, obrigando a sofrer nalgumas passagens, a gerir criteriosamente a energia e a não descurar a alimentação. Mas a pesada fadiga, no final, foi certamente recompensada com a convicção do excelente - quiçá surpreendente - desempenho.
Por isso, reitero o elogio aos meus «companheiros» nesta tirada atípica. que não pretendia ser um treino (admito que nunca fiz nenhum que se assemelhasse a tais características!), mas acabou por sê-lo, e de grande qualidade. Para mais, porque nutro – já o disse várias vezes neste blog – especial predilecção por este género de exercício do ciclismo, tipo contra-relógio colectivo, em que, mais do que a forma física de cada elemento, o que conta é o entrosamento colectivo e a entrega de todos os participantes, além de indispensável confiança e respeito mútuos. Foi precisamente esse princípio que nunca esteve em causa durante esta magnífica jornada – e que a tornou possível.
Depois dela – e dirijo-me especialmente para o Capitão e o Salvador – subiram-se mais alguns degraus na «escadaria» do desportivismo. Foram bravos, parabéns!

segunda-feira, janeiro 14, 2008

Ota: tradição mantida, tradição quebrada

Há quem diga que a Ota não se faz sem chuva e uma boa correria. A 1ª edição de 2008 da «clássica das clássicas planas» não fugiu à regra. A intempérie foi pesada e, a espaços, também o andamento. Uma visita a saudar: a do camarada Paulo Pais.
Como é apanágio, no Vale do Brejo, praticamente a meio do percurso, eclodiram todas as estratégias e esforços da tirada. Desta vez, a «história» foi diferente do habitual ou até mesmo inédita: a chegada ao alto não foi disputada por um grupo (embora seja quase sempre restrito), mas por apenas dois elementos em fuga praticamente desde a saída da Ota – a cerca de 7 km do referido «ponto quente».
Sublinhe-se mais uma vez o imprevisto da situação, considerando a tradicional marcação apertada que se faz naquele trajecto que, por consequência, torna extremamente complicar a qualquer iniciativa do género ter sucesso. Desta vez, foi diferente, segundo creio, devido aos seguintes factores:

1º A situação especial que se proporcionou após o topo de Alenquer, dividindo-se o pelotão e havendo uma perseguição intensa até à Ota. E não só: contribuiu também o facto de mesmo depois da perseguição ter terminado (com o junção do único perseguidor ao grupo da frente), o ritmo não ter baixado na passagem pela localidade da Ota, gerando-se desde logo a primeira tentativa de fuga, como é habitual, rapidamente anulada.

2º O ataque individual (também não propriamente surpreendente) que desenhou a fuga, ao que apenas houve um ciclista a reagir com eficácia, formando-se uma dupla «forte» com ligeiro avanço. Ainda assim, nada que fosse inédito e menos ainda decisivo para o desfecho que se deu – uma vez que, a partir do momento em que o formava duo (pela «natureza» dos seus elementos) não era certo que a eventual fuga não acabasse ainda antes de se iniciar...

3º Este motivo sim, o entendimento, foi determinante: ganhando alguns metros, os dois fugitivos beneficiaram da demora da reacção (porque naquela situação deveria ter sido imediata) do trio perseguidor. Tal não sucedeu, e rapidamente se abriram algumas centenas de metros, que, à medida em que a subida do Vale do Brejo se aproximava, tornaram-se mais difíceis de recuperar. Uma vez entrando claramente destacados na subida, a tarefa dos perseguidores ficou mesmo... impossível.