A edição de 2014 da Clássica Livramento-Óbidos, organizada
pelo camarada Paulo Pais, foi mais um retumbante sucesso, ao reunir várias
dezenas de participantes dispostos a contribuírem para uma jornada de sã
convivência e momentos de intenso (e imenso!) ciclismo, honrando a denominação
simpática por que está a ficar afamada, a de Campeonato do Mundo... As
condições meteorológicas desde outono primaveril – ou quase estival... – também
ajudaram e foi praticamente sem aquele habitual friozinho cortante matinal que
o pelotão arrancou do Livramento em direção a Torres, cumprindo a regra que faz
do conceito/filosofia deste evento ser tão peculiar: o andamento «certo», sem
desvarios, até à paragem em Óbidos.
De qualquer modo, há andamento certo e... andamento certo. E
há que... «metê-lo». Este ano, calhou-me (voluntariamente!) a mim e ao Mário (a
partir de Torres, esclareça-se) e com mais intensidade do que nas mais recentes
edições. Na primeira parte do percurso, este ano, média 35,8 km/h; em 2013, 33
km/h. E acrescente-se o fator peito ao vento, que, se a memória não me trai, no
ano passado, para mim foi inexistente - ou quase. Mas, como disse, a (minha) iniciativa
foi voluntária e, acima de tudo, motivada pelas boas sensações de final de
temporada – ainda resquícios de forma trazidos do Skyroad da Lousã. Mas não há
milagres, e a boa vontade implicou naturalmente desgaste, num terreno
ascendente (ainda que suave) e muito aberto ao vento. De resto, reconheço que
as sensações (boas) não refletiram a pulsação média algo elevada.
De qualquer modo, repito, não estive sozinho nessa
«generosa» função. Acompanhou-me o Mário, que, analisando o desempenho coletivo
do regresso (e mesmo excluindo o efeito retemperador da paragem de alguns
minutos devido a queda no pelotão na aproximação ao Ameal), arrisco afirmar que
foi o homem do dia! Justifico-o, desde logo, ao comparar a sua prestação como a
minha, uma vez que, em Óbidos, tínhamos o mesmo nível de exposição ao desgaste:
no final, a partir do Turcifal, eu entrei claramente na reserva, enquanto o
novo reforço da equipa Pinabike ainda teve pilhas para integrar o grupo da
dianteira e liderá-lo até à derradeira rampa. Para mim, o homem da Clássica! Mais
uma vez, impressionante! Uma enorme promessa para 2015, mas também uma
expectativa de ver como reage ao longo de uma época desgastante.
No entanto, e perdoem-me continuar «a puxar a brasa à
(nossa) sardinha», estendo a homenagem à presença massiva de elementos Pinabike,
que corresponderam não só ao compromisso/dever de representar um dos grupos
domingueiros de maior nomeada da nossa região, mas, acima de tudo, de gratidão e
honra à camaradagem, disponibilidade e simpatia de sempre do mentor desta
Clássica, o insuperável PP. A todos eles (nós), uma vénia!
Voltando à estrada, eis o rescaldo do regresso, a parte
«competitiva», a partir de Óbidos, em que desde logo o andamento foi «livre», e
não só após o Bombarral (também contrariamente ao que tem sucedido em
pretéritas edições - cuja mudança aplaude-se, embora tenha havido algum excesso
de nervosismo, e não só durante este trajeto). Assim, média de 37 km/h contra
apenas 32 em 2013, com diversos elementos empenhados em puxar pelo extenso e
agora muito mais alongado pelotão. Todavia, foi com a entrada no falso plano
ascendente para o Outeiro da Cabeça que se «libertaram os cavalos», embora sem
a selvajaria dos piores anos. Foi, de resto, muito à imagem de 2013: andamento
certo, sem ataques ou esticões. E com a média idêntica: 37,5 km/h.
Ao invés, na descida rapidíssima que se segue, começaram as
movimentações, que animam a toada mas, naturalmente, condenadas, sem exceção,
ao insucesso. No topo seguinte, um dos mais desabrigados deste troço até
Torres, o andamento elevou-se uns bons furos, e uma solicitação mais forte para
fechar um espaço fez-me atingir o pulso máximo do dia (185). Mas quando a
contenda parecia definitivamente lançada, ocorre uma queda no meio do pelotão,
devido a um furo (rebentamento), que motivou a indispensável paragem.
No reatamento, embora com o grande grupo fracionado pela
saída a conta-gotas de alguns elementos, que se meteram ao caminho durante a
neutralização, os momentos mais altos estavam reservados para a parte final do
trajeto, a partir de Torres, como é habitual. O primeiro topo da Variante daquela
cidade foi em ritmo progressivo, não «atacado» desde o início, deixando para o
topo final e ligação a Catefica as maiores intensidades. Naquele, meti o
andamento mas sem grande seletividade, por dois motivos: primeiro, o Freitas
pediu-me para não forçar; segundo, as pernas já não estavam boas para fazê-lo...
A seguir, na passagem pelos stands, o Mário rendeu-me e teve a mesma recomendação
do Freitas. A este fez bem pedir!... O mesmo já não podia ao Duarte Salvaterra ou
ao elemento do Movefree (azul), atacantes, à vez, na rampa final para Catefica,
a obrigarem a cerrar fileiras nas suas rodas. A mim, o esforço de fechar espaço
de alguns metros acabou-me com o resto...
Na ligação ao Turcifal e à rampa final do Livramento, apenas
o corte no grupo da frente, com cerca de 10 unidades (5+5), como resultado,
primeiro, de um forcing longo do João Silva e, depois, de mais uma iniciativa intensa
do Duarte, e definitivamente, devido a outro ataque do Movefree. Eu e o Duarte
ficámos no 2.º grupo; o Freitas e o Mário no 1.º. Na rampa final queimaram-se
os últimos cartuchos. Por ter ficado à distância, não sei quem ganhou a
camisola de Campeão do Mundo. Mas merece-a, certamente! Será que a partir do próximo
ano haverá essa «graça», que propus ao PP?! – haver um jersey arco-íris para
«defender» na edição seguinte. Tinha a sua... piada!