Que proveitoso foi ter
sido o elemento mais fraco (ou quase) do grupo que se destacou a partir da
primeira subida maior da Clássica Pina Bike de 2014, realizada no último
domingo, talvez uma das mais interessantes e mais exigentes dos últimos tempos,
reunindo um extenso lote de participantes de indiscutível craveira e
proporcionando uma jornada excelente de ciclismo. Digo-o, porque serviu de teste
quase perfeito de preparação para o Grandfondo do Gerês, que é já no próximo
dia 15.
O percurso desta clássica
foi a condizer com estes objetivos e o nível qualitativo e motivacional da
maioria dos elementos que esteve presente compôs o resto. Um recheado pelotão
zarpou de Loures para um desafio de quase 140 quilómetros e mais de 2000 metros
de desnível positivo acumulado, por apanhado de algumas das subidas mais
exigentes e simbólicas da nossa região.
Na fase inicial do
trajeto, todavia, cerca de 50 km em terreno mais acessível, quase sempre plano,
até Alenquer, e depois em suave ondulado até Ribafria, onde se iniciou a
primeira subida do dia: Pereiro de Palhacana. Até lá, muita disponibilidade na
condução do pelotão, embora com a moderação que o traçado montanhoso lá mais
para a frente recomendava. O Freitas foi um dos que mais se destacaram no
trabalho no seu terreno predileto, mas não foi o único a colaborar para que a
média em Ribafria se situasse em apreciáveis 35 km/h. De resto, a partir de
Alenquer, e principalmente do cruzamento da Espiçandeira, para o falso plano
ascendente que liga a Ribafria, o andamento subiu um bom nível, para disparar
na rampa íngreme de entrada na subida de Palhacana (3,6 km a 4,5%).
Então, aqui, a separação
definitiva. Ao contrário do que tinha sugerido/aconselhado na apresentação da
Clássica, mas previsível pelo contingente de nível que nela figurava, logo na
primeira rampa o andamento foi forte ao ponto de separar desde logo as águas...
Mesmo entre os que se destacaram formaram-se dois grupos, que a irregularidade
da vertente ajudou a reunir no derradeiro quilómetro da ascensão. No cume, talvez
menos de um terço dos que integravam o pelotão no sopé: eu, Rui Torpes, Renato
Ferreira, Tiago Silva, Ricardo Gonçalves, Augusto Vitorino, André, Ricardo
Afonso, Capela, Duarte Azenha, Carlos Santos e, entrando mais tarde, Tiago
Martins. Para mim, 175 de pulsação média. Uff...
Na ligação ao Sobral,
recuperação. Mas a acalmia não chegou sequer à vila. Pelo menos, para mim,
vítima (ou afortunado) de mim próprio... Ainda para mais tinha acabado de
«ordenar» ao Afonso que não passasse mais pela frente (fê-lo por breves instantes
no início da subida que terminara), que nos poupássemos para as (muitas) agruras
que ainda se seguiriam. Mas eu aprecio quando o ritmo nas transições é morno e
por isso passei para a frente para o estimular. Mas só isso. Ainda acenei para
que me seguissem, e o que ganhei foi... a parceria do Torpes. Ui! Abeirou-se e
lançou-me o desafio da fuga algo dissimulado (para meio entendedor...) e eu não
podia fazer-me rogado. O mais que se disse foi: «queres lixar-me!». Presente
envenenado! Mas muito proveitoso. A partir daí metemos um ritmo forte, em
colaboração, embora sentindo-o sempre a não entrar em sobre-regimes. Eu nem
tanto, principalmente desde que entrámos na subida da Cabeda (178) até ao
Alqueidão (177). Não vislumbrarmos o grupo de perseguidores encorajava-nos.
Estariam a ser permissivos. O Torpes alertava: «já vi fugas resultarem
assim...»
No entanto, a resposta
tardou mas foi eficaz. Pelos vistos, começou ainda na Cabeda e culminou já em
plena descida da Louriceira. Nestas coisas há sempre «estranhezas», como a de o
esforço da perseguição ter sido exclusivamente do Tiago Silva, num grupo tão
bem composto. De qualquer modo, o facto de nos ter retirado quase 1 minuto no setor
Cabeda-Alqueidão! Por esse motivo, apesar de ter durado cerca de 40 minutos (e
muitas forças preciosas!), a nossa aventura não foi mais longe...
Então, para mim, era tempo
de ver como era «recebido» no grupo. Não foi com hostilidade, o que agradeci,
aproveitando para recuperar algumas forças na descida para Monfalim e Arruda. Mas
a fuga tinha sido um estímulo e na abordagem à Mata voltei a encabeçar o grupo,
no que tive rápida parceria do Augusto. Aí fiquei até ao primeiro gancho,
quando o Tiago tomou as rédeas, fazendo grande parte das despesas até perto do
alto, quando houve uma mudança de velocidade que deixou em dificuldades alguns
elementos, entre eles, eu... (após 177 de batidas médias). Mas houve quem
perdesse o comboio. Não definitivamente, porque a descida foi «sem pedalar» e
seguiu-se uma paragem para reabastecimento na N. Sra. Da Ajuda.
A partir daí (já com as
ausências do Afonso, Capela, Duarte e do Paulo Pais que nos intercetou na
subida para o Alqueidão) e com o Tiago Martins reintegrado, rumámos à
Tesoureira.
E novamente, para mim, o
mesmo figurino (ou figurinha...). Entrei cheio de alma, como um lobo, como se
não houvesse amanhã, com o ímpeto de manter todos aqueles poderosos na roda,
mas apesar de não ter tido saída de sendeiro, tive de suar as estopinhas para
me agarrar na fase final da subida (172). Nova baixa: André.
Seguiu-se Ribas, e pelas
sensações que vinha a ter, não esperava que após a rampa de entrada, com o
andamento estimulado por uma iniciativa do Torpes e do Augusto, não tivesse
mais capacidade para seguir o grupo. As pernas não respondiam e tive de meter
andamento de contenção, sempre a perder terreno. Na dianteira, só via o grupo
perseguidor com o Tiago Martins em evidência – renascido das cinzas e mais
dinâmico do que nunca! Os primeiros, não sei quanto tempo fizeram, mas o melhor
registo do Strava foi o do Ricardo Gonçalves com 8m42s. O 3.º melhor! Muito
bom! O Tiago, o último contabilizado, 9m17s, excelente! Eu, mesmo assim, 10m02s.
No Alto do Andrade, embora
sem grande esperança de voltar ao grupo, não abdiquei e lancei-me a caminho de
Lousa, para Montemuro. À entrada, o local incentiva-me: «eles vão mesmo aí à
frente!». E iam... Após o cemitério, estavam a 200 metros e pareciam
tranquilos. Por isso, carreguei (o que podia...). Só que... a pouco menos de 50
metros, (pareceu-me) o Tiago mexeu na frente (enormíssima parte final de Clássica:
temos homem para o Gerês!) e levou o Torpes e o Augusto. Os restantes ainda
hesitaram, mas creio que preferiram aguardar por mim. De qualquer modo, as forças
já iam justas para todos. O Carlos Santos recuou e deu-me a sua roda para me recolocar.
Mas a aproximação ao topo foi rapidíssima e levou-me a energia que restava até
à reserva.
Resultado, logo que entrou
a subida (e é suave) das Galés não deu mais, fiquei definitivamente sozinho,
limitando-me a gerir o (pouco) que restava, porque ainda me faltava... chegar a
Alverca!
Em Loures, 4 minutos de
atraso para os primeiros. Mas, à chegada a casa, total de 170 km e 5h45m de
grande treino – e estimulante ciclismo!
O TPC está feito, agora
recuperar bem, e que venha o Gerês!
2 comentários:
foi sem duvida um dos melhores percursos do calendário 2014 com vontade de repetir a volta completa mas com tempo. actualmente o grupo está com um andamento/médias excepcionais, em todo o tipo de terreno. Parabens e força aos quintanas domingueiros. RA
Este relato é de meter inveja, ahhh
Excelente!
Como é que poderei andar nesse ritmo se o meu caro Ricardo atinge (nada de confusões com outro cenário, ehhh, a língua portuguesa é muito traiçoeira) 177 de FC e a mim só é permitido 170 (220-50 anos=170FC) assim não dá estou e mais alguns (poucos) em desvantagem, aaahhh
Fantástico, parabéns para vocês
Pedro Fernandes (Carregado)
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