segunda-feira, maio 28, 2007

As revelações não páram!

Não me canso de elogiar a dedicação e o empenho de outros na prática do ciclismo. Assim, também encontro justificação para a minha «doença». No grupo em que me insiro os exemplos são muitos. Não somos profissionais, nem sequer «semi», mas quando a paixão arrebata e a disponibilidade de tempo permite traçar objectivos (uns mais, outros menos ambiciosos), é possível atingir-se níveis de aptidão física que possibilitem retirar o melhor partido da bicicleta – de estrada, entenda-se, pois o conceito que está por trás da concepção deste tipo de bicicletas é, indiscutivelmente, a performance.
Como dizia, no nosso pelotão restrito, há elementos que têm esse privilégio – o de conseguir conciliar os compromissos profissionais e pessoais (tantas vezes, à custa de sabemos bem o quê!) com os seus objectivos desportivos. Outros não, e outros mais ou menos. Por isso, existem diferenças de rendimento indisfarçáveis.
Tudo isto, para dizer que destaco, sempre com muito agrado, as boas prestações dos meus companheiros, reflectindo, lá está, a aplicação semanal nos treinos. Indiscriminadamente, se são velhos conhecidos ou se estão a dar os primeiros passos no seio do grupo.
Entre estes, o melhor exemplo é, claramente, o Jony, cujo percurso ascensional dispensa grandes explicações. Recorde-se que se «estreou» já no final da última temporada, integrando-se sem dificuldade pelas suas excelentes características inatas para a prática do ciclismo e obviamente pelo elevado espírito de camaradagem. Como traçou, de imediato, os tais «objectivos ambiciosos» para este ano, disparou rapidamente para patamares de rendimento ao nível dos melhores do grupo. Além disso, ninguém vai discordar que é o mais rápido do grupo e também o que (na minha opinião pessoal), em condições de «andamento livre», tem as melhores características de classicómano.
Mas há mais a merecer os mesmos elogios. Quem não se lembra do Salvador em Fátima-2005, de vê-lo fazer os últimos agarrado ao carro? E quem o vê actualmente, trabalhador incansável, voluntarioso, só pela fome de protagonismo, de testar os seus limites – isso é ciclismo. E continua a evoluir, a refinar a forma como anda de bicicleta, e os resultados vão aparecendo... E outros, como o Zé ou o Pedro, que entretanto decidiu fazer uma retirada para aprimorar a forma, mas cujo regresso não duvido. Bons atletas e camaradas.
Todavia, actualmente há novo «poderoso» na calha: o Polícia. Resultado comprovado de tudo o que já disse sobre empenho e disponibilidade! O homem faz-se! Chegou, viu e.... já pode «zangar-se» de vez em quando...
Ontem, ainda bem que não se «zangou»... comigo. Felizmente, pelo contrário, o seu contributo foi de enorme utilidade para que eu não tivesse acumulado ainda mais atraso aos meus compromissos familiares.

Foram estes compromissos que alteraram, a partir do Livramento, os meus planos e o cariz da volta domingueira, cujo percurso original, além de exigente, aprecio bastante. Nessa altura, apercebendo-me de que estava amplamente fora do tempo, e sem sinal do grupo que ficara a aguardar por retardatários, decidiu fazer-me à estrada a partir do «muro» de Freiria, para não mais parar.
Os meus parceiros de então, o Polícia, o Fantasma e o Salvador, não se rogaram ao repto e cerraram fileiras para me acompanhar. Vencido aquele topo, seguiram-se a subida da Encarnação, o empolgante carrossel de S. Domingos, Quintas e a dura subida final para Valongo. Se bem que, dando eu o mote para o ritmo não abrandar, principalmente o Salvador e o Polícia ajudaram a mantê-lo vivo.
À passagem por Ribeira d’Ilhas, o Fantasma começou a ceder ligeiramente à rudeza do relevo. O Salvador, pelo contrário, dava cartas, mas, na Ericeira, perante o meu anúncio de que ia cortar para Mafra, optou então por aguardar pelo grupo restante, talvez na ânsia dos 21% de Montelavar. O Fantasma parecia na dúvida e o Polícia seguiu a minha roda na subida para a rotunda nova.
Felizmente, o vento estava a favor, mas a hora que restava para entrar dentro do horário a casa era uma miragem. Tanto mais que as pernas já começam (tão cedo!) a mostrar alguma fraqueza. Até quase ao Sobreiro continuei à frente, só depois fui rendido. E em boa altura, não só para mim, como para o Fantasma. Porquê? Pois só assim me apercebi que vinha no nosso encalço, lutando desde Pinhal dos Frades para fechar os intermináveis 200 metros perdidos na subida da Ericeira. Esperámos para que reentrasse e ele agradeceu vivamente alguém ter, por fim, olhado para trás. Pudera!
Porém, como ele bem diz, já vinha «apalpado», e à saída de Mafra, antes da subida da Abrunheira, deu-nos liberdade para não esperar, afirmando o seu empenho nas descidas para tentar recolar. Não foi preciso esforçar-se muito. Os escassos metros perdidos na rotunda, recuperou-os com os seus dotes de «falcão» (antes o Polícia, vinha alcunhando o Salvador de Salvodelli, mas aplica-se bem melhor ao Fantasma).
A chegar a Alcainça, o Polícia começou a dar largas à sua frescura. Num ou outro esticão, meteu-me logo a patinar e o Fantasma a esticar na ponta do elástico, até rebentar na subida para a Malveira. Todavia, à chegada à Venda lá estava outra vez, agora sem descidas.
Aí, separamo-nos. O Salvodelli, perdão, o Fantasma, que está em excelente forma, como prova a sua classificação na Maratona de BTT de Mafra, seguiu para Loures e eu e o Polícia para Bucelas. Agradeço-lhe pela companhia, pois foi óptima ajuda, embora, no Cabeço da Rosa, tivesse mais uma vez de refrear o ímpeto para não me deixar... pendurado. Esta expressão pode parecer exagerada, mas, acredite-se, reflecte, acima de tudo, a sua excelente forma. Quanto a mim, só posso desculpar-me da semana aziaga, dos 45 km que já tinha contabilizado à partida de Loures, blá, blá, blá... A verdade é que faltaram pernas! Mas foi um treino muito bom.

«Pior» foi o que ouvi ao chegar a casa, por 18 minutos de atraso. Foi difícil fazer a «dona da pensão» compreender que, apesar do erro de cálculo, tinha dado o litro para atenuar os «prejuízos», como provam os 30 km/h de média entre Livramento e Alverca. Desde a Ericeira, foi um autêntico contra-relógio de 1h15m. Poderia ter sido melhor, é verdade, logo as pernas tivessem... boas!

P.S. Já soube que, no restante grupo, que fez o percurso completo, também houve muita animação. Na Foz do Lizandro e no famigerado muro de Montelavar. A semana promete agitação!

terça-feira, maio 22, 2007

Montejunto: contra ventos e tempestades

(clicar 2x no gráfico para abrir)

Excelente exibição do pelotão Pina Bike em Montejunto! Contra ventos e tempestades (literalmente!), enfrentou-se a dureza da vertente de Vila Verde dos Francos com apreciável empenho e uma dose de competitividade salutar. Lá em cima, um grupo previsível discutiu arduamente pelo «gostinho» de chegar à frente ao alto, após uma tirada muito bem disputada, principalmente a partir do Sobral. Num duelo que acabou por se prefigurar, entre trepadores e roladores, os primeiros, de certo modo, acabaram por levar a melhor, comigo a superiorizar-me por alguns segundos, ao duo Freitas e Jony, com o Carlos do Barro a fechar o quarteto, depois de uma exibição que honrou a «classe» dos trepadores. Mas não sem que os roladores tenham recorrido, durante a etapa, a diversas formas de tentar inverter a sua pretensa inferioridade na subida final, o que serviu para abrilhantar a jornada.
No entanto, antes de fazer a habitual resenha da jornada, reitero, uma vez mais, a prestação global do grupo, que cumpriu o objectivo de subir à cota dos 650 metros, com mais adversários que a próprio desnível do terreno: chuva, vento, frio (fazia 10ºC no alto de Montejunto, que, com a chuva, tornou a descida penosa) e nevoeiro. Clima invernoso, totalmente imprevisto nesta altura do ano, e após alguns dias de intenso Verão. Foram estes, os bravos do pelotão: Abel (respeite-se a hierarquia), João, Salvador, Evaristo, Zé, Polícia, o amigo do Abel e ainda o Zé-Tó – este apesar de não ter concluído, empenhou-se verdadeiramente ao longo do percurso, numa aventura em solitário, contribuindo para o interesse da tirada (ver destaque no final desta crónica).
Quanto aos restantes – refiro-me ao quarteto de que se aguardava maior competitividade –, não foi mais importante a sua participação: eu, o Carlos do Barro, o Freitas e o Jony.
Surpresa do dia (ou talvez não!): havia estratégia montada entre os roladores, Freitas e Jony, para desgastar os que habitualmente estão mais à-vontade na montanha: eu e o Carlos. Primeiro sinal da parceria logo após Bucelas, quando o Freitas forçou o andamento o suficiente para se isolar rapidamente do grupo, que iniciava a subida para o Forte de Alqueidão com cautelas redobradas devido ao vento, e já depois de ter sido alvo de uma chuvada de granizo.
Perante a inércia do pelotão (das principais figuras, principalmente), e apesar de se saber que todo o esforço até ao Sobral é relativo e não directamente rentabilizado devido à habitual (e necessária) neutralização para reagrupamento, considerei que deveria, no mínimo, corresponder à iniciativa do Freitas para não haver desequilíbrios e também contribuir para avivar, desde cedo, a «chama». Neste particular, lamenta-se a falta de correspondência ao repto do Jony e do Carlos, cuja adesão também se impunha, uma vez que eram protagonistas assumidos - e tanto mais que o andamento nunca foi fracturante. A única atenuante para os 7 minutos (!!!) que tivemos de esperar pelo grupo no Alqueidão só (!?) poderá ser o Polícia ter furado.
Quem não esperou foi o ZT, isolado desde o primeiro quilómetro, e de após ter sido alcançado, ainda antes de Arranhó, se ter agarrado à nossa roda, só largando perto do alto, onde seguiu directo e muito bem!
Feito o reparo, a segunda metade do percurso até Montejunto valeu por tudo, até pela intempérie! Mais uma vez fruto da táctica dos roladores (com estes dois tipos juntos, não será fácil resistir-lhes noutro tipo de terreno!), o Jony atacou logo à saída do Sobral, de forma a não permitir qualquer possibilidade de resposta ao pelotão. Fortíssimo e abrindo rapidamente um fosso importante, ainda antes de eu encontrar o melhor ritmo para a iniciar a perseguição. Viu-se logo que o homem ia com ideias preconcebidas, já que o Freitas rapidamente se escondeu no abrigo das rodas.
Nessa altura, o Carlos assumiu os seus objectivos e passou a participar no esforço de perseguição, restringido apenas a nós os dois. Os restantes sabiam que aquela não era a sua «guerra» e agiram correctamente, protegendo-se.
Então, antes do cruzamento para Ribafria, houve outra movimentação: após um topo, o Freitas ataca na cabeça do pelotão com o intuito de se juntar ao «seu» companheiro. Desta vez, soava o alarme: não poderia ter êxito, sob pena de (eu) ver as coisas verdadeiramente complicadas. A resposta foi imediata, de todos os elementos do grupo, com o Salvador em destaque. A ideia era boa, mas naquela situação seria necessário um ataque implacável, com uma eficácia que só muito boas pernas permitem. Não foi o caso, também por «culpa» do pelotão, e assim a iniciativa acabou por ter efeito contrário às pretensões do duo, fazendo com se encurtasse a distância para o fugitivo.
A partir da Merceana, chegava a altura de controlar a fuga, aproveitando o terreno mais acidentado do Freixial do Meio e de Atalaia. Forcei o ritmo (com pedaleira pequena, adaptando-me desde logo ao esforço de subida) e sacrifiquei o pelotão, contando, a partir de Atalaia, com nova ajuda preciosa do Carlos. Aliás, foi tão efectiva, que aproveitei para tentar sair da posição de «castigado» que vinha mantendo, deixando abrir alguns metros para o Carlos, mas que o Freitas fechou rapidamente, como era «obrigatório».
No final do topo da Atalaia, o Jony começou a gerir as forças e a vantagem. Cá atrás, o Carlos continuava a trabalhar, mas era notório que a proximidade de Montejunto (invisível num espesso manto de nevoeiro) já recomendava cautela. Tanto mais, que o fugitivo estava (finalmente) controlado, a não mais de 150 metros. No entanto, quando já se perspectivava que o deixássemos entrar à frente na subida, foi com surpresa (e até contra as minhas intenções) que o Evaristo (resistindo muito bem entre a dita elite) passa pela frente, fechando, num ápice, a distância. Fim de fuga! Desde o Sobral até à base de Montejunto a média foi superior a 32 km/h, o que diz bem do excelente desempenho do fugitivo.
Finalmente, a subida: tomei a iniciativa desde as primeiras rampas e fez-se a selecção dos quatro que se previam. Mas eis novo imponderável: pouco antes, da primeira descida, os meus óculos caiem do bolso. Meia volta. Os restantes aguardam, com enorme «fair-play», fazendo-me lembrar (perdoem-me a imodéstia e a comparação impossível) o Armstrong, em Luz Ardiden, depois de ter caído devido a um espectador. A diferença foi que ele chegou ao grupo, que também o aguardava, e passou imediatamente ao ataque. Eu nem por isso...
À entrada do sector das árvores, o Carlos passou para a frente, numa manobra que diz tudo sobre a sua actual capacidade em montanha, ao nível dos melhores do grupo. Naquele terreno e àquela intensidade, poucos ou nenhuns Pina Bike’s (internacionais e neo-internacionais incluídos) têm condições para impor o andamento.
E quando refiro andamento, não é passar uns instantes pela frente ou esboçar mudanças de ritmo: digo, assumir o desgaste, mantendo o ritmo. O Carlos conseguiu-o, e só poderá ser elogiado por isso. Mesmo que, após o quartel tenha cedido. Grande etapa! Além disso, esclareça-se que, ao contrário do que sucedeu nesta mesma volta, em 2006, não existia qualquer parceria tácita entre nós.
Desta vez, foram as incidências da tirada que levaram a que colaborássemos, em prol de objectivos comuns: ambos queríamos chegar à frente ao alto. E tal como todos no grupo, rapidamente verificou que estava formada uma equipa – e muito poderosa! – que se impunha «combater».
Como referi, a parte final da subida, depois do quartel, acabou por fazer a selecção. Depois do Carlos, o Jony cedeu ao desgaste a que submeteu ao longo da tirada, em prol de um objectivo, de que o Freitas seria claramente beneficiário. Mas este não correspondeu, vacilando à entrada dos 500 metros finais. Não foi por falta de empenho, mas há dias assim...
A minha chegada ao alto, porém, não passou sem um verdadeiro susto, digno de uma manhã de nevoeiro. A cerca de 300 metros do final, depois de me certificar que ninguém me seguia (pelo menos, num raio de 20 metros, que era a visibilidade máxima no local), eis que, olhando por debaixo do braço, avisto um vulto vermelho aproximar-se a toda a velocidade. A toda a velocidade, sim! Em sprint, a mais de 10% de inclinação! Nem sequer pensei quem era, mas, se por acaso, tivesse tido mais algumas forças para ter chegado à minha roda e me ultrapassado, mesmo que ligeiramente, admito que teria deitado a toalha ao chão! O alucinado era o Jony, renascido das cinzas, para um raide desmesurado, para logo morrer... Deve ter sido tal o «baque», que acabou ainda por ser ultrapassado pelo Freitas, que vinha em perda nítida.
Quem acabou ao sprint foi o Evaristo, queixando-se que não conhecia a subida (anda muito bem, sem dúvida) e reservou forças, logo seguido pelo João (muito bem) e o Salvador (igualmente).
Quando eu já descia para o quartel, o grande Abel aprestava-se para concluir mais uma exibição exemplar. Como sempre!
O «outsider»

Depois de tanto se falar a semana passada, o «outsider» da tirada foi, surpreendentemente, o Zé-Tó, que se isolou logo ao primeiro quilómetro e, não exagerando, deve ter cumprido cerca de 90% do percurso até Montejunto... isolado. Uma atitude corajosa – a roçar o «suicídio» – que poderá ter tido muito a ver com a semana de acesa de comentários neste blog, em que foi um dos principais visados.
Na subida do Sobral, quando foi alcançado por mim e pelo Freitas antes de Arranho, não se fez rogado em seguir-nos até onde considerou, digamos, justificável, provando uma vez mais a sua boa leitura de «corrida» e criteriosa gestão do esforço, e que apenas a falta de treino coloca entrave a prestações de nível superior.
O facto de ter seguido directo no Forte de Alqueidão é plausível e aceitável – já que seria deitar por terra o proveito do desgaste a que se submetera até essa altura. Cenário distinto para mim e para o Freitas, em que impunha claramente aguardar pelos retardatários.
Assim, à saída do Alqueidão, a vantagem do fugitivo ultrapassava os 6 minutos, acabando por ser eliminada entre Atalaia e Vila Verde dos Francos, devido ao andamento forte a partir do ataque do Jony.
Todavia, acabou por lhe faltar a força (e a mesma coragem que tinha revelado até aí), para subir ao alto de Montejunto. Independentemente do tempo que demorasse, deveria tê-lo feito. Aí sim, daria a melhor resposta aos «ataques» (competitivos) que foi alvo na última semana – mesmo que não tenha sido esse o seu objectivo.
Já agora, tomo a liberdade de expressar a minha opinião sobre o assunto, dirigida principalmente ao próprio: camarada, se tens a pretensão e a disponibilidade para atingires patamares de forma que consideras condizentes com a tua capacidade atlética, pois bem, aguarda serenamente por esses dias. Serenamente é, entenda-se, sem querer que a falta de quilómetros sirva de incentivo. Pelo contrário, são precisamente os quilómetros que devem dar esse estímulo.

terça-feira, maio 15, 2007

Oeste sem calmaria...


Ao terceiro fim-de-semana, não houve Veteranos, mas nem por isso se fez calmaria. Aliás, essa toada não entra no léxico dos Pina Bike. No domingo, até existiam algumas «limitações» entre os habituais instigadores de cavalgadas: eu acordei com más sensações – provavelmente devido a mau descanso, no sábado, do treino forte de sexta-feira, em Montejunto, que o vento inclemente só piorou. Enquanto o Freitas e o Jony ressacavam de uma maratona de 200 km realizada na véspera, na lezíria ribatejana.
Assim, quem assumiu o protagonismo foi o Carlos, capitalizando a ascensão de forma, que já demonstrara em Fátima. No primeiro momento de intensidade, a subida para a Venda, meteu andamento de respeito sem pedir licença e foi até ao fim...
E não se ficou por aí: mais tarde entrou destacado na subida de Catefica (saindo, como quis, do grupo que se tinha adiantado desde Vila Franca do Rosário) e só à custa de enorme esforço foi possível alcançá-lo – ainda assim, já mesmo no alto. Foi um dispêndio de forças desaconselhável para quem não estava com os músculos viçosos.
Mas o Carlos fez mais: voltou a tomar o comando em S. Pedro da Cadeira (depois de o Jony ter «metido» bom andamento desde Torres), passou firme na subida da Encarnação, impondo um ritmo que fez selecção muito restritiva no pelotão, e só cedeu nas primeiras rampas da Picanceira.
Então, o Freitas rendeu-o na liderança e parecia, na parte mais dura (inicial) da Picanceira, querer repetir a superior exibição de Março, naquele mesmo local. Todavia, as pernas não eram as «mesmas». Arrisco dizer que não só devido ao cansaço dos 200 km da véspera, mas também pelo desgaste acumulado em Catefica e entre S. Pedro da Cadeira e Encarnação. Porque também o senti no corpinho...
Assim, acabou por sucumbir à minha alteração de ritmo (que nem foi forte) ainda naquela parte da subida, o mesmo sucedendo ao Carlos. Ainda mais estranho foi o facto de a quebra ter sido, naquele momento, bastante acentuada.
Quem resistiu em pleno foi o Jony, a demonstrar maior capacidade de recuperação do esforço da longa tirada da véspera. De resto, não se satisfez em ir na minha roda, e muito bem o fez, expondo-se a igual desgaste. Mas ele não quis que o ritmo continuasse alto e convenceu-me... facilmente. Lá atrás, o Freitas trabalhava arduamente para recuperar, conseguindo-o mesmo antes do topo da Barreiralva, trazendo o Carlos na roda. Quando «entrou», passou imediatamente para a frente (nova manobra estranha nele, mas elogiável). Porém, naquele topo, ambos acusaram o esforço da recolagem e não conseguiram responder à aceleração do Jony, fundamental para provocar nova separação.
Depois disso, parou e eu passei imediatamente para a frente, ganhando ligeira vantagem – com a sua total permissão. Foi necessária a voz de comando do Freitas para que ele não enjeitasse a possibilidade de seguirmos e de, assim, cavarmos mais o fosso. (Mesmo contra si, o Freitas fez o que lhe pareceu certo, e que, mais uma vez, foi de enorme desportivismo) As suas palavras foram bem audíveis: «Vai à roda, vai à roda, já passou o pior, agora não largas mais!». Foi mesmo e ganhou importante estímulo à auto-confiança.
Juntou-se a mim e acabámos por nos revezar na frente para não sermos alcançados até à Murgueira – não sem que os perseguidores tivessem batalhado bastante (pelo vistos, quase exclusivamente o Freitas) para que tal não acontecesse...
De resto, o mérito do Jony não se resumiu à Picanceira. Teve-o, bastante, como referi, na condução do pelotão, contra o vento e a bom ritmo, entre Torres e Ponte do Rol.

Quanto ao Carlos, apenas um aviso à navegação: cuidado com ele, no próximo domingo, em Montejunto!
À saída da Murgueira, o Fantasma foi porta-voz da vontade do grupo e pediu tréguas até casa... e respeitou-se.

Os restantes provaram também muito boa condição física: o Fantasma tem tudo para fazer uma óptima prestação na Maratona de Mafra; tal como o Steven, que continua no bom caminho. O Polícia, o João, o Salvador e o Zé-Tó (que chegou no terceiro grupo à Murgueira, com o Fantasma e o Steven) idem.

Igual a si próprio: o grande Abel, obviamente! Aliás, ontem voltou a ser exemplo citado: desta vez, para justificar porque é que o Zé e o Carlos não tiveram motivos plausíveis para, na passada semana, terem encurtado caminho depois de Carmões, com receio da «companhia». O Abel esteve sempre presente! Renunciar é palavra que não conhece!
P.S: No gráfico (clicar em cima duas vezes para aumentar), o último «pico» é o Cabeço da Rosa (pela Quinta da Romeira), e não o regresso a Loures.

sábado, maio 12, 2007

«Bico de obra» chamado Etapa do Tour 2007



Cá está, o perfil da Etapa do Tour 2007, no próximo dia 16 de Julho. Eis o que nos aguarda, no coração dos Pirenéus, são quase 200 km e 5 contagens de montanha:

Km 27 - Col de Port: 11,4 km à 5,3% (2º categoria)
Km 98 - Col de Portet d’Aspet: 5,7 km à 6,9% (2ª categoria)
Km 114 - Col de Menté: 7 km à 8,1% (1ª categoria)
Km 159 - Port de Balès: 19,2 km à 6,2% (categoria especial)
Km 184 - Col de Peyresourde: 9,7 km à 7,8% (1ª categoria)

Só estas cinco subidas contabilizam 4000 metros de ascendente acumulado; fora o resto da etapa.

O maior «bico de obra» é, sem dúvida, o inédito Port de Balés, que além de 19 km de subida a 6%, inclui respeitáveis 10 km a 8,5%. Em traços gerais, será fazer 10 km como os últimos 1,5 km de Montejunto, entre o quartel e o alto... já com 140 km nas pernas. Mas não é tudo: para terminar, restam 10 km a 7,8%. Perdão, antes de terminar, porque passando este verdadeiro tormento, é tudo a descer até à chegada. Simpático, não!

Quem tem dúvidas de que será a mais dura «Etapa do Tour» de sempre?! E ainda tenho memória de 1998, da minha epopeia de 200 km e 11 horas, nos Alpes, entre o Croix de Fer, Telegraphe, Galibier e Les Deux Alpes.

Por tudo isso, quer desde já saudar os companheiros que, tal como eu, participarão nesta aventura: «batidos» nestas andanças, o Miguel Marcelino e Nuno Garcia; além dos estreantes Freitas e Jony, cuja aplicação ao longo deste ano na preparação deste objectivo, tenho testemunhado com bastante apreço. Acreditem que a sensação de cruzar a meta recompensa o esforço e o sacrifício.

A propósito, recordo as palavras de um antigo camarada destas lides internacionais, Joaquim Afoito, de Alcanede, que, na Etapa do Tour de 2001, em plena descida do Tourmalet, onde a temperatura era negativa - o que dá para avaliar a sensação térmica de descer o Col a 60 km/h - acabou por não resistir à dor e pôs o pé no chão decidido a desistir. Naquela altura, faltavam cerca de 20 km para o final, dos quais 16 da famosa subida de Luz Ardiden. Então, num assomo de coragem, que já não acreditava ter, pensou: «oh Afoito, depois de não sei quantos mil km e mais de 300 horas de treino, agora que te falta uma mísera horinha para concretizares o teu sonho de ciclista e vais desistir?(sic)» Voltou a montar a bicicleta, enfrentou o frio gelado e passou mal na última subida (onde curiosamente a temperatura era amena, porque a alta montanha é imprevisível!) para, no final, receber o prémio mais saboroso: o abraço orgulhoso da família!

quinta-feira, maio 10, 2007

Roteiro dos Muros (perdão, do Inferno!)



Na passada sexta-feira, fiz finalmente um dos percursos a que me propus há algum tempo, e que tinha apelidado, na altura, de Roteiro dos Muros. Lembras-te Pintainho!? Consiste numa tirada que inclui a passagem pela maioria das mais curtas e duras subidas das nossas proximidades, espécie de Liége-Bastogne-Liége destas bandas. No final, fiquei com a ideia que o nome deveria ser alterado para mais apropriado Roteiro do Inferno, não somente pela dificuldade da distância e do relevo, como, acima de tudo, pelo desafio anímico de realizar a «aventura» sozinho... e conclui-la!
14 Muros

Ao todo, são 14 «muros», que se vão descontando à medida que vão sendo ultrapassados, como os sectores de pavé do Paris-Roubaix. Esta é uma forma de colocar à prova a resistência psicológica face ao acumular da fadiga e às dificuldades que ainda restam.
A tirada iniciou-se em Alverca, em direcção ao Tojal e Bucelas (para aquecer bem!), tomando a subida para o Forte de Alqueidão. Chegado ao cruzamento da Tesoureira, começa o tormento: sai-se da estrada à direita, para a Serra da Alrota. As primeiras rampas são dantescas. No total, 1,1 km a 9,4%. Logo a abrir, é necessário evitar cometer excessos para não hipotecar as chances de terminar a volta, controlando muito bem o ímpeto. Este foi outro dos desafios da tirada: a ideia sempre presente que, num eventual momento de fraqueza, não deveria dar a volta ao cavalo e abdicar.
A descida tem piso muito irregular, mas chega-se rapidamente a Bucelas, onde está a segunda dificuldade: a subida às antenas. Mais suave que a primeira, servindo de bálsamo ao desconforto provocado pela percentagens elevadas daquela. Depois de chegar ao alto, porém, há pouco tempo de descanso. Aliás, continua a subir-se, antes de descer realmente antes de atacar a terceira «dose»: S. Tiago dos Velhos. Muito semelhante à anterior.

Arrasador
Depois, à esquerda para Contradinha, ligação veloz por aquela impressionante depressão da estrada com carrossel a 11%, e logo as primeiras rampas da N. Sra. Da Ajuda, que culminam em duríssimas passagens acima dos 12% e expostas ao vento. Arrasadoras!
Logo a seguir, quase sem descanso, volta-se a subir para a Louriceira de Cima (cruzamento), agora muito mais docemente.
À esquerda para a longa descida até Monfalim e novamente à esquerda para A-dos-Arcos. Segue-se um falso plano ascendente, cerca de 1 km, até ao cruzamento à direita para Santo Quintino e... que visão aterradora, aquelas rampas! Duríssimas. Sem dúvida, um dos muros mais difíceis, o sexto. 1,4 km acima dos 9% obrigam a gastar aí muitas energias, sensivelmente a meio do percurso mas e ainda nem sequer com metade das dificuldades superadas.
E a seguinte não se faz esperar, basta atravessar a estrada nacional em direcção a Casais de Santo Quintino e depara-se a terrível rampa do circuito de motocrosse.
A oitava é descoberta minha, há algum tempo: Galegos. Ao passar por Sapataria, volta-se à esquerda para o interior da localidade e rapidamente a estrada começa a empinar. Curta mas picante, levando-nos ao alto do Milharado, onde se desce para Póvoa da Galega e para a próxima barreira.
Na verdade é dois-em-uma, a subida da Charneca, com início escaldante, planalto para refrescar e final abrasador.
Inferno da Choutaria

Depois deste, nove muros contabilizados e quase 70 km nas pernas, mas com a perfeita consciência que o pior estava para vir. Descida longa da Venda do Pinheiro para Ponte de Lousa, direita e eis a entrada no «Inferno» da Choutaria (que nome tão apropriado!). Já conhecia o gosto da suas rampas, nomeadamente a inenarrável passagem a – ajuda-me Pintainho! - mais de 20%, mas desta vez soube-me muitíssimo mais a fel. Foram metros de grande sofrimento... E depois de superados não há muito tempo para respirar, uma vez que mal termina a subida, tudo o resta é um pequeno cabeço, antes de se entrar imediatamente na ascensão seguinte, para Montemuro. Felizmente, branda.
Nesta altura não há como disfarçar o desgaste muscular após a Choutaria, e já se entra em nova dificuldade. Bem dura, por sinal. Subida lindíssima para o Alto da Urzeira (Asseiceira Pequena), onde apenas o asfalto rugoso e os quase 7% de inclinação média destoam do esplendor da paisagem. Nesta altura, com apenas três muros para galgar, é preciso reservar forças.
«Le grand finale»
Desce-se, depois, em muito mau piso, para a Venda do Pinheiro e de novo a caminho de Lousa, para o pré-final: Salemas. Outra famosa pelas suas rampas, incluindo 1,4 km a 8,5%. Entrei de sendeiro, mas com o término quase à vista saí de... leão. Resultado: tirei alguns segundos ao meu melhor tempo na subida, o que foi bom indicador depois de mais de 90 km e 13 muros! Pior já foi a ligação ao Alto do Andrade – mas nunca é boa, seja das Salemas ou de Malha Pão. Venha o Diabo e escolha!
Descida por Montachique e eis «le grand finale»: Ribas, pelo Centro Hípico. Poderia tê-la atacado em força, mas preferi a apoteose para não acabar entrevado sobre o guiador depois do circuito de manutenção. Assim, acabei com um sorriso nos lábios e não com a língua nos raios! Creio que o mereci!
Tal como era escusado ter de regressar a casa de bicicleta... e pela Quinta Romeira.
Roteiros dos Muros (perdão... do Inferno!)
À atenção de trepadores inveterados e, principalmente, do Pintainho. Vale a pena!
25,7 km – Serra da Alrota (1,1 km a 9,4%)
30,7 km – Alto de Bucelas (1 km a 6,2%)
34,5 km – S. Tiago dos Velhos (1 km a 6,4%)
38,5 km – N. Sra. Ajuda (0,9 km a 9%)
40,2 km – Louriceira de Cima (1,2 km a 3,6 km)
49,1 km – Santo Quintino (1,4 km a 9,2 km)
54,4, km – Casais de S. Quintino (1 km a 7,8%)
59,9 km – Galegos (0,8 km a 7,7%)
67,3 km – Charneca (0,6 km a 7,5% e 0,4 km a 8,7%)
77,7 km – Choutaria (1,5 km a 8,5%)
79,2 km – Montemuro (1,5 km a 2,8%)
82,7 km – Alto da Urzeira (1,4 km a 6,7%)
91,3 km – Salemas (1,4 km a 8,5%)99,3 km – Ribas (do Picadeiro) (2,5 km a 4,3%)

segunda-feira, maio 07, 2007

Alta intensidade - a repetir!

Quem diria que apenas uma semana depois de Fátima, de regresso às voltas domingueiras, num percurso pouco selectivo, se repetiriam as altas intensidades dos últimos quilómetros da muitíssimo bem disputada Super-Clássica do último fim-de-semana?! Contra todas as expectativas (pelo menos as minhas, que, pela madrugada, cumpri o aquecimento habitual, desta vez ligeiramente mais intenso para acumular o maior número de quilómetros possível: 30 km antes do arranque oficial, para um total de 145 km), a tirada, que tinha na subida para o Forte de Alqueidão e S. Domingos de Carmões os únicos «pontos quentes», ainda antes de arrancar já tinha cariz especial. À saída de Loures, a expressão do Freitas, que já sabia da participação de três reconhecidos Veteranos – Paulo Pais, Luís Runa e Rui Rodrigues – dava o mote: «Isto hoje vai ser um bocadinho... complicado!» E foi... Mas também foi bastante divertido e permitiu nova oportunidade, sempre enriquecedora, dos nossos se «misturarem» com o pessoal forte da competição, muito mais rodado. O resultado, creio, superou as perspectivas mais optimistas. Para todos!

Os momentos altos

A subida para o Sobral, tal como em dia normal, não poderia passar sem escaramuça. O Runa espicaçou uma e outra vez a toada moderada com que se pedalava à passagem por Arranho, levando o Rui Rodrigues a tomar definitivamente as rédeas do pelotão, imprimindo um andamento rijo que obrigou o pelotão (ou o que dele restava...) a cerrar fileiras na sua roda. Grande trabalho, contra o vento!
Assim durou até ao ligeiro «descanso» do cruzamento de A-dos-Arcos, mas chegara a hora de tomar o pulso ao grupo restrito (Rui, Paulo, Runa, Freitas, Jony e ainda o «nosso» Carlos). Saí de trás, em força, e no final da subida só o Freitas e o Jony não se deixaram surpreender. Todavia, creio que lhes faltou dar continuidade... até às casas. Talvez seja a força do hábito!
Reunido o grupo, no Sobral, descemos rapidamente para Dois Portos, e à entrada da estrada da Boligueira o Freitas, ligeiramente adiantado, tenta surpreender, mas o Rui Rodrigues tinha outras ideias e não lhe permitiu grande liberdade. Ideias bem claras, por sinal. Desde logo, imprimiu um ritmo altíssimo, a roçar os 40 km/h, obrigando mais uma vez o pelotão a esticar-se. Até ao início da subida de Carmões (1,7 km a 4,6% de inclinação média) não largou o comando, esclarecendo, logo aí, sobre o seu enorme potencial. O possante ciclista do Viveiros de S. Lourenço ainda fez os primeiros metros da subida, mas o seu fantástico trabalho terminou aí, tendo sido rendido pelo Paulo Pais, em grande estilo, a meter-me imediatamente no «red line». Mas por desconhecimento da subida (conforme afirmou no final), cometeu um erro de cálculo, transcendeu os limites e pagou a factura.
Nessa altura, o Freitas tomou a iniciativa e parecia não querer deixar cair o andamento. Porém, àquela velocidade a tarefa não era fácil e também ele perdeu chama. Olhei de relance para o Polar, que marcava 180. Com as pernas boas, ainda tinha uma reserva entre 8 a 10 pulsações a explorar, que, claro está, em esforço continuado, não poderá exceder 20-30 segundos, mas embora parecendo curta e pouco significativa pode fazer toda a diferença. Restava-me, então, aproveitar a embalagem, e numa aceleração muito semelhante à do Forte do Alqueidão, saí vigorosamente para os últimos 300/400 metros. Desta vez, a reacção dos outros foi mais tardia e só através do Luís Runa, que acabou por fechar o espaço. Para aquele momento de ciclismo, uma só palavra: extraordinário!
Daí para frente o terreno tornou-se muito menos acidentado e não se perspectivava que o ritmo abrandasse. De Merceana a Alenquer raramente se baixou os 40 km/h e na ligação Carregado-Vila Franca apenas uma diferença: acabou em sprint fortíssimo, em que o Jony, superiormente lançado pelo Freitas, demonstrou que as suas capacidades de velocista vão muito além do âmbito do grupo Pina Bike. Porém, não sem que eu – pouco dado a estes finais abrasadores – a partir de Castanheira tenha tentado rentabilizar ao máximo o meu modesto 50x12, ensaiando um par de acelerações à frente do pelotão, sem êxito. De resto, quanto ao sprint, deu apenas para constatar, à distância, que no limiar dos 60 km/h não há bonés que resistam na cabeça! Neste caso, na do Rui Rodrigues.

Classe!

Já agora, aproveito para fazer o reconhecimento cabal, à dimensão de humilde ciclómano, do desempenho do Rui Rodrigues, que, demonstrou – como se disso necessitasse! – o seu enorme potencial, que lhe permitiu consagrar-se a nível europeu. Todos os nossos três convivas deixaram bem vincadas que são atletas muito bem treinados (o Paulinho sabe como causar desgastes e é um camaradão; e o Runa é osso duro de roer), mas permitam-me destacar a exibição do Rui, a transbordar de classe. Impressionante a força como conduziu o pelotão para o Alqueidão e, acima de tudo, na ligação de Dois Portos à subida de Carmões. Poderoso, duradouro e 100% disponível: daquele tipo que eu mais aprecio! Uma referência para quem quer progredir.

Os nossos, em grande!

Mas os elogios são extensíveis e com inteira justiça, à prestação dos elementos do nosso grupo, nomeadamente os que tiveram (porque não coragem!) de cumprir o percurso na íntegra. Foram eles, o Fantasma (companheiro, talvez um dia quando perderes a aversão a tudo o que é mais inclinado que um topo inofensivo possas descobrir novos horizontes. Apreciável a tua fibra e espírito de combatividade. Pode parecer simples, mas ficou-me retina o despeito pelo sofrimento que se anunciava, quando te juntaste, sem hesitar, ao nosso grupo, que passava directo em Arranhó); o Polícia (a subir paulatinamente, poderá, em breve, vir a tornar-se caso sério) e o João (curto ou não de treino, a verdade é que foi até dar... e eu bem vi que foi muito!).
Além destes, o Steven, que deu mostras de subida de forma – e no dia seguinte a um treino de 120 km. Tive oportunidade de o felicitar pelo desempenho à frente do pelotão entre o Carregado e Vila Franca. Nem todos se podem dar a esse manifesto!
Aliás, o grupo restrito que se formou, à frente, à saída de Vila Franca e durou até Loures (Fantasma, João, Steven, Polícia, eu; e partir de Alverca também o Carlos e o Zé), no qual eu fui contribuinte praticamente passivo, teve um desempenho de grande nível.

Treino em Montejunto na sexta-feira

Para a semana há mais! Não sem antes uma dura (que se espera proveitosa) sexta-feira a deslizar pelas encostas de Montejunto, na companhia do Jony sprintoso. Já agora, registei o que ele disse logo após a subida de Carmões. Disse que tinha ficado com a sensação que não tinha dado tudo. Ora bem, caro amigo, isso, vindo de ti, não se diz, evita-se! Abração e vem com a força toda.

sexta-feira, maio 04, 2007

Perfil da Clássica de Fátima



Eis o perfil do percurso da Super-Clássica de Fátima (para ampliar clicar sobre o gráfico)

53, km: topo da Espinheira

78 km: Alto da Serra

115 km: Batalha

118 km: final 1º subida

123 km: final 2º subida

As barras horizontais coloridas não têm a ver com a altitude, mas sim com os meus patamares cardíacos. O respectiva gráfico não está incluido, por motivos óbvios ;)

quarta-feira, maio 02, 2007

Fátima: êxito total!

A edição de 2007 da Super-Clássica de Fátima foi um enormíssimo êxito! O reconhecimento dos 17 ciclistas que cumpriram os 130 km de Loures à cidade «Santa» de Portugal revelou-se unânime: provavelmente a melhor de todos os tempos e sem dúvida a mais animada e bem disputada de sempre!
Entusiasmo e empenho são os classificativos que melhor definem o ambiente e a atitude do pelotão durante a tirada, nem por um único momento beliscados pela atmosfera de competitividade sem precedentes. Pelo contrário, terá sido importante factor de estímulo e garantidamente de responsabilidade adicional. Em suma: desempenho sem mácula, com contributo de todos em prol do colectivo, livre de restrições ou subterfúgios, e com entrega dedicada ao esforço que exige o ciclismo praticado por aficionados. Quando é assim, melhor é impossível...

A história

Após vinte e poucos quilómetros sem história, a primeira nota relevante foi a chegada a Vila Franca. O pelotão rolava compacto e com ritmo moderado, ligeiramente acima dos 30 km/h, quando é abalroado por um grupo estranho ao serviço, que participava no Lisboa-Alcanena (prova por equipas que se disputou também no domingo). Episódios destes, claro, trazem sempre desestabilização. Para mais, quando o Salvador, ao seu estilo, não se fez rogado a meter-se entre seara alheia. Os restantes ainda vacilaram com a ousadia, mas (felizmente) não perderam a compostura. Assim, o nosso homem seguiu à boleia e ganhou significativo avanço – que durou até ao Carregado, onde os trajectos (para Fátima e Alcanena) se separavam. A sua vantagem nunca foi significativa e uma vez sozinho optou (e bem) por abdicar, sendo reabsorvido no topo da variante de Alenquer.
A partir daí, entrou-se na longa fase de sobe e desde entre a Ota e o Alto da Serra, já depois de Rio Maior. Na passagem pelos topos da Espinheira, o Paulo Pais fez a sua primeira aparição à frente do pelotão e, tanto aí, endurecendo o ritmo, como na ligação à rotunda de Alcoentre, onde meteu o comboio a 50 km/h durante quase 1 km, aconteceram os primeiros momentos de maior intensidade do dia. O grupo agarrou-se sem vacilar e progrediu compacto até à subida do Alto da Serra (2 km), a próxima dificuldade.

A fuga

Tal como em 2006, impus o meu andamento desde a base da subida e ganhei facilmente vantagem sobre o pelotão (que aparentemente consentiu-a). Durante algum tempo tive a companhia do Henrique (poderoso rolador do Bicigal Team, que se fez representar por três elementos, entre eles o infalível Abel, que tinha a espinhosa missão de ajudar o patrão que, para mais, se apresentou sem treinar!), mas antes do final da subida já era o Salvador o único que me acompanhava.
Uma vez na frente, ligeiramente destacados do pelotão, impunha-se decidirmos rapidamente o que fazer: insistir na fuga e tentar ampliá-la, ou renunciar. Quando a decisão se inclinava mais para a renúncia, eis que, a nós, se junta o Fantasma, baralhando as contas. Formado o trio, tratei de me inteirar, repetidas vezes, do posicionamento e intenções do pelotão – que parecia estar na surpreendente disposição de «me» permitir (alguma) liberdade. Estranhei a passividade, à luz do conhecimento dos hábitos do grupo, e pressupus que seria a liderança mais experiente do Paulo Pais a refrear os ímpetos, controlando-nos à distância. Ainda assim, nunca fiz grande fé na fuga, pelo que os meus companheiros não me devem penalizar mas agradecer, apesar do Fantasma (mais que o Salvador) ter dado a entender que estaria disposto a levá-la por diante.
Porém, o pelotão ajudou a resolver o impasse, anulando a fuga pouco depois, através de uma reacção a choque, que, inclusive, provocou alguma convulsão interna. Digo que o pelotão foi «amigo», porque reconheçamos que, a mantermo-nos em fuga, mesmo sem a consolidar e muito menos chegar a ter condições para vingar, forçaria a um esforço adicional da nossa parte, que certamente se pagaria mais tarde. Neste caso, os decisores no pelotão terão pecado por menor clarividência.
Assim, desfeita a breve separação, o longo planalto da Estrada Nacional 1 até cerca de 5 km da Batalha não deu em nada – a não ser um furo do Fantasma, que forçou a refrear o andamento durante alguns quilómetros.

O inesperado

Chegava, então, a hora da verdade. A história começa com uma situação inesperada: quando o pelotão se deixava rolar para a Batalha, o Salvador acelerou ligeiramente, ganhando rapidamente vantagem perante total permissividade – aliás, pareceu encorajado pelo Freitas, o que, por instantes, fez-me desconfiar. O Henrique foi o único a manifestar incredibilidade, questionando o próprio Freitas sobre a situação, mas este mostrou-lhe rapidamente o... caminho.
Todavia, quem se pôs nele (ao caminho, entenda-se) foi o Fantasma, cuja «concorrência» estava a ganhar vantagem e urgia impedi-la de entrar à sua frente na subida final. A protecção da carrinha de apoio da Bicigal ajudou aos seus intentos e a formar novo duo na frente.
A reacção do Fantasma suscitou outra com a igual pretensão (agora, de não o deixar fugir), mas muito menos previsível: a do Carlos do Barro. Primeiro, ensaiando manobra clara que demover o pelotão da letargia, mas, face ao insucesso, lançando-se na peugada do duo que (sabe-se lá porquê?) considerou fazer perigar as suas aspirações.
Mas nem assim o pelotão se mexeu e, deste modo, permitiu a um dos melhores trepadores do grupo ganhar vantagem importante, de forma casual, e com consequências mal calculadas. Os galos, já com a cabeça na briga da subida, nem sequer se aperceberam do risco que terão corrido – como mais tarde se confirmou.

A subida

Finalmente, a subida. Salvador e Fantasma abordam-na com 150/200 metros de vantagem sobre o Carlos, e este com a mesma distância para o pelotão, que rapidamente passou a grupo restrito na abordagem das primeiras rampas.
Para mim, a mesma receita do ano anterior: atacar desde o início. A primeira parte da subida para fazer a selecção e a segunda para lançar a cartada final. A selecção fez-se, sem surpresas, com Freitas, Paulo Pais, Jony e o Rui Scott a integrarem o lote.
Sempre com os fugitivos à vista, não tardámos a observar que o Carlos passava, directo, pelo duo Salvador/Fantasma, e que este, também pouco demorou a ser ultrapassado pelo grupo principal. Até ao final da primeira subida (2,5 km a 4,5%), mantive-me à frente e no ritmo escolhido, «picando» para a curta descida já a afiar o gume para a parte mais difícil da ascensão (2,3 km, a 6,5 km).
Na abordagem, o Paulo toma a iniciativa, dando mostras de querer impor (e de se expor a) forte desgaste. Com isso, em apenas 200 metros fechou-se os 50 de avanço do Carlos no início desta derradeira subida. No entanto, o Paulo começou a «mastigar» e desde logo deixou de ser ritmo que me interessava, rendo-o imediatamente no comando, agora ainda mais em força e sem baixar até ao topo.
Todavia, a média de 20 km/h durante 2,3 km a 6,5% de inclinação não chegou para me livrar da concorrência – excepção ao Jony, que cedeu pouco depois do início do meu segundo turno. O Carlos também cedeu alguns metros, mas veio a recuperar muito bem após a subida, reintegrando-se no quarteto, que assim passou a quinteto. E mais tarde, com novo fôlego, não se coibiu de tentar surpreender, obrigando a reacção do grupo.

Os «ses»

Abre-se assim ponto de discussão: que teria acontecido se tivesse acreditado mais na sua inesperada vantagem?! Será que conseguiria passar a subida ainda à frente? E se assim fosse, aguentaria a liderança até final? Não seria fácil, mas longe de ser impossível. Não passam de «ses». E o mais importante foi ter-se revelado finalmente (!!!) entre as «trutas», cotando-se, por isso, como um dos principais heróis do dia.
Para o pelotão ficam dissipadas as dúvidas: não pode repetir a oferta. Quanto ao próprio, não pode deixar de confirmar o estatuto adquirido (ou então para que servirá tanto suor derramado no asfalto durante a semana?) e dar continuidade a mais esta bela exibição, a fazer recordar a façanha de Montejunto (2006) e a esquecer definitivamente o fracasso de Évora (2007)

O final

Voltando à história da tirada, uma vez ultrapassado o terreno mais selectivo sem fazer a diferença, esfumavam-se praticamente as minhas ambições. De qualquer modo, enquanto restassem forças havia que não desistir. Oportunidades muito poucas, e ainda restaram menos quando no único falso plano ascendente que poderia servir aos meus intentos, o Paulo meteu um passo que não me permitiu mudar de velocidade. Tentei uma última vez, já sobre o viaduto da auto-estrada (a menos de 500 metros do final), numa manobra que acabou por definir o ordenamento final.
O Rui, muito oportuno e calculista, aproveitou a minha aceleração e saltou para a frente, levando na sua roda o Freitas, também não menos calculista desde a Batalha. Ambos abriram ligeira vantagem (30 metros) que mantiveram até ao final. Entre eles, porém, foi empate técnico!
O Freitas confirmou ser «outro» ciclista em 2007. No ano passado ficou quase no início da segunda subida (praticamente onde agora o Jony ficou), mas apesar dos enormíssimos progressos, em resultado de uma preparação conduzida para objectivos tão ambiciosos como a Etapa do Tour, ainda lhe falta «um bocadinho assim» para ter capacidade de ser ele a impor a pressão em terreno selectivo – aliás, que nem sequer era o caso deste final para Fátima, adequando-se muito mais a ciclistas fortes e explosivos.
Como sabe disso, a sua ambição é proporcional à subida de forma, sendo peremptório ao admitir que não ficará satisfeito enquanto não atingir patamares superiores. Diga-se que é uma pretensão inteiramente legítima, já que tem todas as condições físicas e anímicas para alcançá-la.
Por seu turno, o Rui Scott confirmou os seus créditos de «outsider», protegendo-se na subida e terminando com estocada na hora certa. Curiosamente, ele e o Freitas foram os únicos do quinteto principal que não passaram pela frente desde a Batalha, confirmando que o ciclismo é um desporto... completo!

Êxito colectivo

O Carlos e o Paulo Pais chegaram poucos de segundos depois mim, mas pelo Jony esperou-se alguns minutos. Seguiu-se o Polícia, rubricando também excelente subida após ultrapassar o duo Salvador/Fantasma, que não se desfez até final beneficiando de preciosa ajuda do Zé «Roubaix», outro autor de prestação muito elogiada. Os demais concluíram a tirada com enorme galhardia. A saber: João, o trio Bicigal (Abel, Henrique e respectivo Patrão), Steven, Carlos da Piedade e o Evaristo.

Fátima 2007 deixa saudades!