segunda-feira, dezembro 22, 2008

A-dos-Arcos... já aqueceu!

A volta do último domingo, para Azambuja e A-dos-Arcos, decorreu sob o signo do bom tempo. Finalmente, após as borrascas dos pretéritos fim-de-semanas, o sol brilhou durante toda a manhã. Notou-se no tamanho do pelotão e na disposição das suas gentes.

Até Azambuja, rolou-se tranquilamente, mas a partir daí o figurino da tirada mudou. O Cancellara (de regresso às lides, tal como o Rocha. Saúdam-se) e o Ruben (bem aparecido!) decidiram fazer um «mano-a-mano» na condução do pelotão, levando-o aos 40 km/h. Deixou-se de ouvir vozes, só respirações ofegantes. Pior ficaram, quando o Duarte (bem haja, companheiro, já em boa forma e a simpatia de sempre!), em Vila Nova da Rainha, desferiu um bom golpe, destacando-se cerca de 30/40 metros perante a contemplação do grupo, ainda entregue àqueles dois trabalhadores de serviço - e que partilharam dificuldades em manter a perseguição. Então, o Freitas decide saltar, juntando-se ao Duarte. Mas teve efeito de contágio aos demais, que, em bloco, fecharam rapidamente a distância.

Descansou-se, mas pouco. Entre o Carregado e Arruda, o andamento voltou a avivar-se, e quem o impôs foram o Salvador e o Capitão, num excelente trabalho em terreno difícil. Repito, o andamento foi muito bom, suficiente para meter o pelotão em sentido. Naturalmente, na subida de A-dos-Arcos, ambos acusaram o esforço e fizeram-na em ritmo de passeio. Mas o esforço já estava feito, e com nível.

Na subida de A-dos-Arcos, ao início, o andamento foi moderado, mas depois do cruzamento de S. Quintino, o Ruben começou a «tirar», estirando o grupo. A partir daí, foi uma prova de eliminação, que se tornou ainda mais selectiva quando o Freitas rendeu o jovem trepador, mantendo o ritmo elevado. E já foi com um grupo reduzido a 5 unidades (Freitas, André, Ruben, Duarte e eu), que surgiu a alteração de ritmo decisiva... quando o Duarte ataca a 1 km da povoação obrigando os restantes a responderem. Desde logo, foi demais para mim, que vinha muito justo... há muito tempo! Na passagem por A-dos-Arcos o Duarte e o Ruben também cederam, deixando ao Freitas (numa forma já bem apreciável, ou terá sido impressão minha?...) e ao André a discussão da subida. Fizeram-no ao sprint, abrindo cerca de 30 metros para o Duarte e o Ruben, e estes cerca de 50 para mim. O Jony (de regresso aos treinos após forte carraspana) chegou um pouco mais tarde, e não muito depois um grupo que incluia o Pina (muito bem!), o Carlos do Barro e o Rocha.

O tempo de subida em A-dos-Arcos foi de 13.03 m (o meu), ou seja, 1 minuto superior ao que eu tinha realizado no dia 26 de Outubro, na última vez que o grupo por lá tinha passado (na volta em que o Freitas e o André andaram fugidos). Àquele tempo, deve descontar-se aproximadamente 30 segundos para calcular o tempo dos primeiros a chegarem ao alto (curiosamente, os dois fugitivos «caçados» naquele dia). Cerca de 30 segundos é uma diferença ainda significativa para este tipo de subida, mas deve ressalvar-se o facto de os momentos da temporada serem díspares, tal com as voltas terem decorrido em condições também completamente distintas. De qualquer modo, creio que, no domingo, a segunda metade da subida foi muito boa, mais rápida que a de Outubro. O início é que foi mais lento.

Na descida para Bucelas, andou-se outra vez bastante depressa, na peugada do Jony e do Salvador, que se tinham adiantado. Mas a estas incidências já não assisti... por ter perdido o comboio ainda este embalava.

No final, entre Tojal e Alverca, o Ruben foi, uma vez mais, boa companhia na partilha de um empeno. Mas que mais importa são os benefícios deste treino de conjunto com mais de 4 horas.

Aos elementos que sentiram mais dificuldades na parte final, nomeadamente, em A-dos-Arcos, principalmente a alguns que já tinham vindo a trabalhar durante a volta, digo para não retirarem ilações precipitadas desse momento de menor rendimento. É perfeitamente natural e previsível nesta altura da época. A-dos-Arcos pode ter sido, para muitos, a primeira subida da pré-temporada de saídas em grupo, e uma prestação menos boa não traz nada de preocupante.
Dou o exemplo do Salvador e do Capitão, que trabalharam muitíssimo bem no carrossel de Cadafais/Arruda, cumprindo componente importante dos seus treinos. Não se precipitem a mudar a programa de progressão por vós estabelecido em função de não terem sido capazes de acompanhar alguns elementos da sua igualha. A paciência faz parte da base para a óptima forma.

terça-feira, dezembro 16, 2008

Que tempo de cão!

Tem sido, provavelmente, o pior início de temporada dos últimos anos, em termos climatéricos. Não tenho memória de um final de ano com tanta chuva (principalmente ao domingo), acompanhada de frio gélido e vento forte.
Foi este o cenário, como se sabe, também no último fim-de-semana. Resultado: meia dúzia de gatos pingados a enfrentar a intempérie, e com mais de metade – em que me incluo - a encurtar o percurso. No meu caso pessoal, o mau estar foi agravado por não ter levado protecções para os pés, que ficaram enregelados, com a água, após o primeiro aguaceiro.
Mais: a acompanhar o desconforto juntava-se a debilidade causada por sinais de constipação – dores no corpo e apatia. Mesmo assim, não se perdeu tudo, e ainda deu para duas horas e pouco. Entretanto, acabou-se a chuva, mas o frio e o vento forte ainda perduram - principalmente este...

quinta-feira, dezembro 11, 2008

O regresso de Lance Armstrong

Uma das grandes expectativas do ciclismo profissional para 2009, quiçá a maior, é o regresso de Lance Armstrong, após três escassos anos de reforma dourada. O heptavencedor do Tour surpreendeu o Mundo ao anunciar que voltaria a competir, e logo querendo reconquistar o ceptro que já foi seu, e em anos consecutivos, tal a hegemonia face aos adversários.
As questões que se colocam à decisão do norte-americano são diversas: desde logo, a razão do regresso à alta competição, depois de tão esmagadora consagração; a razoabilidade da suas justificações, a principal sustentada em motivos humanitários relacionados com a luta contra o cancro, doença a que sobreviveu antes da senda de êxitos; ou os critérios da sua entrada directa para uma equipa onde milita o seu apontado sucessor, Alberto Contador, desde logo provocando controvérsia sobre a natural incompatibilidade da liderança numa prova tão exigente como o Tour. Para mais, tendo em conta que todas as suas vitórias foram alicerçadas na união inquebrável do colectivo em prol de (um único) chefe-de-fila: ele próprio; a controvérsia que já exigiu aos dois «galos» que esclarecessem publicamente das suas (pretensas) boas intenções e franca colaboração – que, como facilmente se adivinha, são apenas politicamente correctas.
Mas antes de ficarmos a saber se o «novo» velho Lance partilhará ou lutará com o ainda jovem, mas já amplamente coroado Contador (Giro, Tour e Vuelta) o poleiro da Astana no próximo Tour, importa observar se o texano tem condições físicas à medida das suas pretensões. Aqui reside, até ver, a maior incógnita deste estimulante regresso e que poderá determinar, mais pacificamente que se prevê, a hierarquia da equipa. Contudo, em que fundamentos baseará a decisão o actual director da equipa Astana, Johan Bruyneel, que está estreitamente ligado à carreira vitoriosa de Armstrong? Serão as provas da temporada, de preparação para a Volta francesa, barómetro para aferir das aptidões do ciclista americano – que sempre as abordou como meras etapas de um meticuloso programa de afinação da forma? Ou Lance fará o tirocínio de forma no Giro? Ou seja, se der garantias de estar ao nível do seu passado glorioso avança para o Tour como um dos dois líderes prováveis (Contador sê-lo-á sempre...), senão apenas como gregário de luxo, ao lado de Leipheimer e Kloden?
Eis as dúvidas que tornarão o próximo ano especialmente interessante para quem acompanha o ciclismo, e acima de tudo, para quem vê, como eu vejo, no vencedor do Tour o melhor ciclista do Mundo. E para quem tem, como eu tenho, em Armstrong referência máxima além do desportista.
Para já, na minha opinião, pelas informações que vou recolhendo, a sua principal dificuldade na optimização do rendimento residirá em transpor para o exercício do ciclismo a potência que está a tentar criar através de um intensivo trabalho de reforço muscular – porque assim tem de ser dado o carácter imediatista de voltar a ganhar força –, mas que poderá afectar a fundamental relação ideal com o peso. Essa dualidade parece clara nas fotos dos recentes treinos com a equipa Astana, em Tenerife, em que é visível a hipertrofia muscular, mas também a sua influência no aumento da massa corporal – é um Lance muito musculado, com as fibras já surpreendentemente definidas para a altura da época, mas muito mais corpulento que nos velhos tempo. Evidente a quem se lembra bem deles. Como eu...

terça-feira, dezembro 09, 2008

Dupla jornada: tempestade e... Ota!

A dupla jornada de fim-de-semana prolongado marcou mesmo o início da minha pré-temporada, embora custando uma homérica molha no domingo. Foram treinos consecutivos, desde sexta-feira, nunca abaixo das 3 horas e com trabalho específico adequado à «reentré».
A volta de domingo, com o grupo, tornou-se complicada devido a condições climatéricas bastante adversas. Chuva incessante, neblina e, acima de tudo, vento forte a acentuarem o grau de esforço num percurso interessante, com cerca de 110 km, com bastante sobe e desce, pelo Sobral, Arruda, Alenquer e regresso novamente pelo Sobral.
A manhã começou logo aziaga. Saí de casa já fora de tempo para nem sequer conseguir interceptar o grupo no Tojal e, por isso, vi-me na contingência de atalhar pelo Cabeço da Rosa. Subida rude, logo a frio! Frio não sentia e valia o tempo estar seco. Ainda... pois mais do que o choque muscular madrugador foi a visão, do lado de lá da serrania, de um autêntico tempo de cão! A intempérie tinha-se abatido sobre o vale de Bucelas e o negrume do céu deixava antever uma jornada molhada e sem perspectivas de haver clemência de S. Pedro.
Ainda tive de fazer alguns quilómetros a aguardar o grupo (ou melhor, do trio Salvador, Freitas e Steven, os únicos que saírem de casa por engano), antes de seguirmos pela longa subida do Alqueidão. E como ela é longa e fatigante quando tocada a vento, principalmente nesta altura do ano em que as forças não abundam.... Os resistentes (ou loucos!) naquela manhã invernosa cumpriram o trajecto tendo como adversário só mesmo factores atmosféricos... e o desnível acumulado que, parecendo que não, foi superior 1200 metros – refiro-me a mim, que tive de fazer dupla ascensão ao Cabeço da Rosa, no início e no final da volta.
O pior estava reservado mesmo para o final, no regresso pela descida do Alqueidão, onde se abateu uma copiosa tempestade, de vento e chuva, daquelas à moda antiga em que não se avança e o batimento cardíaco só sobe ao abordar as curvas com o credo na boca.

No dia seguinte, segunda-feira, feriado, o tempo melhorou significativamente, mas mazelas do dia anterior perduravam no coiro. Com a volta da Ota no programa, perspectivam-se menos subidas, mas mais pedal... e velocidades tradicionalmente elevadas. Desta vez, não foram tanto como se esperava, contando com a presença do Renato Hernandez, cujo andamento triturador não escolhe épocas. Ainda assim, logo nos primeiros quilómetros da Variante de Vialonga ameaçou causar «baixas» no pelotão – mesmo que imprevistas, como a do Freitas, que chegou a desmobilizar ao não ver correspondidos os anseios por um andamento mais conforme às suas pretensões. Talvez não apenas dele, quiçá da maioria em que me incluo, embora não tivesse na disposição de abdicar de um treino de conjunto. Convenhamos que o ritmo não era desencorajador!
Mal ou bem, o grupo acabou por não perder unidades e embora se acusasse algum desconforto em alterações de ritmo – ora se rolava a 30, era acima dos 40 km/h – manteve-se sempre coeso. Foi excepção o topo de Alenquer, em que se forçou bem passo. Sempre o Renato, com alguns a agarrarem-se bem – o Freitas, Capitão e o «outro» Renato (estreante no grupo, utilizando uma bicicleta-relíquia, Reynolds, com várias décadas: lindíssima!) e outros nem tanto – o Pina só perdeu alguns metros, mas tanto eu como o Salvador «patinámos» e cedemos uns 50 metros. Esperou-se pela descida para reentrarmos.
Pareciam abertas as hostilidades para o incontornável Vale do Brejo, mas, estranhamente (ou talvez não!) nada aconteceu. O andamento imposto, ora pelo Renato, ora pelo Freitas (25,5 km/h de média, para um tempo mais de 1 minuto acima do recorde da subida) foi acessível e passou toda a gente. Ficou a ideia que se resistiu à tentação! Deu-me até para sacar um sprint: o primeiro de 2 ou 3 a que me forcei para o «específico».
De resto, o último foi o clássico: em Vila Franca. Agora com o empenho de todos e a vantagem do mais forte: o Freitas. Além da sua superioridade, previsível, destaco o desempenho do Hernandez naquilo que se assemelhou a um vigoroso lançamento do sprint (seria mesmo assim ou quereria fazer o comboio descarrilar?...). Começou por fazer alterações de ritmo ainda antes da rotunda da AE e depois desta esticou, esticou até... «partir», a cerca de 150 metros do final. Tarefa que não me é estranha, em alturas de «outra» disponibilidade física, que agora, de todo, não tenho!
A capacidade de explosão do Freitas, protegido na roda, não seria possível contrariar e, naturalmente, também eu e o Capitão acabámos por beneficiar do esforço (e foi muito bom) do lançador. Os registos não mentem: foi sprint ao nível do «pico» da temporada. Desde da aceleração, depois da rotunda, o comboio não baixou dos 50 km/h, e ainda houve aumento final de ritmo, a cerca de 250 metros, em que ultrapassou os 55 km/h. A ultrapassagem (principalmente a minha e a do Capitão) ao lançador deu-se mais por «esgotamento» deste nos metros finais do que por «explosão» nossa.
Por tudo isso, logo no local rendi, ao digno lançador, Renato, uma merecida vénia pela convincente performance.A média final da volta rondou os 32 km/h, ajudada pelo regresso a favor do vento (Vale do Brejo-Azambuja 36,5 km/h de média; e daí a Alverca 34 km/h).

Nota: curiosa a coincidência do encontro com outros elementos do grupo (ZT e o sr. Zé, Carlos do Barro e o Samuel) numa das rotundas após a Azambuja. Nem combinado! Foi um momento de frisson, pois, na altura, o nosso trem já vinha acima dos 40 e, como disse o Renato, estava a aquecer. Por isso, a surpresa não deverá ter sido muito animadora para a malta que chegava. Felizmente, o maquinista tirou vapor e assim não houve vítimas...