terça-feira, março 18, 2008

Santarém: a crónica

Ainda com a embalagem das planícies da Super-Clássica de Évora, este fim-de-semana correu-se mais «uma» candidata a igual estatuto. Isto se não o conquistou logo à primeira em que foi disputada à séria!...
Conta-quilómetros a tocar os 160 km – para os que cumpriram o percurso à risca - e desnível altimétrico acumulado que, sem sair do suave carrossel para roladores, chega para fazer corar de inveja a «Bela Alentejana» de há duas semanas.
As condições climatéricas para a prática do ciclismo foram óptimas: tempo seco, fresco e praticamente sem vento. À saída de Loures, pouco depois das oito da matina, o pelotão não era tão numeroso como o de Évora mas estava muito bem composto, a demonstrar que o aumento da exigência imposto por estas voltas grandes demove muito poucos. Pelo contrário, parece cativar cada vez mais participantes.
Agradável surpresa, as presenças do Rui (Scott) Torpes, já em plena forma – a ver pelas classificações cimeiras que vai obtendo no BTT - e do Runa, este ano ausente das competições federadas. Dois elementos cuja integração nos Pina Bike é sempre forte contributo para elevar o nível geral!
Primeiras pedaladas até Vialonga a uma média de 30 km/h, reduzindo, ao mínimo essencial, o habitual período de aquecimento, continuando a ritmo moderado até Vila Franca, onde a passagem pelo empedrado não atingiu os picos de loucura da tirada de Évora. De qualquer modo, os «culpados» do costume tornaram o andamento suficientemente rijo para desagregar o pelotão. Depois, também como é normal, relaxou-se após a ponte. E mais ainda quando o Evaristo furou, a meio do troço da recta do Cabo para Porto Alto.
Devido a este impasse, o pelotão dividiu-se entre os que pararam e os decidiram continuar... ainda que a marcar passo, permitindo que, sem grande esforço, o grupo voltasse a ficar compacto pouco depois de Benavente.
A partir daí, a «marcheta» foi sempre certa até Santarém, fixada confortavelmente acima dos 30 km/h, com cerca de meio pelotão a revezar-se na frente e outro em nítida gestão de esforço para a segunda metade do percurso. As reservas de alguns evidenciavam-se à medida que se aproximava a subida para Santarém. Todavia, aí nada se passou. Ninguém quis mostrar as garras e isso agradou sobremaneira aos que vinham temerosos. À chegada ao centro da cidade, os retardatários não eram muitos e não demoraram. Mesmo assim parou-se para um inédito cafezinho. O regresso seria, naturalmente, diferente.
Durante a neutralização, o Salvador dava sinais de impaciência, denunciando as suas intenções no reatamento da tirada: arriscar a fuga! Antes mesmo da subida de Vale de Santarém já se adiantara ao pelotão. Era a primeira fuga do dia! Pode parecer estranho, mas com essa iniciativa poupou muitas energias. E como? Desde logo, porque não teve que resistir ao andamento imposto durante a referida subida, «partindo» definitivamente o pelotão e seleccionando um sexteto na frente (eu, Freitas, Rui Scott, Runa, Evaristo e um companheiro, de Trek azul, que se estreava nas nossas voltas e que deixou muito boas indicações, que mais tarde referirei). O Freitas abriu as hostilidades quando o terreno inclinou, metendo o «tempo», mas rapidamente «abriu», deixando-me a dianteira, ao que não enjeitei, forçando bastante o ritmo até ao alto - pois já vinha com a ideia de o fazer.
Com isso, após a subida o Salvador não tardou a ficar à vista e muito antes do Cartaxo estava absorvido, passando o grupo a ter oito elementos também com a integração do Capitão, que conseguira reentrar – motivando significativa surpresa! – depois de recuperar das agruras da inclinação de Vale de Santarém e apesar (!!!) do forte andamento que o grupo cimeiro manteve - facto que lançou algumas dúvidas sobre eventuais ajudas externas e... menos correctas! Suspeitas que, no entanto, ficam por provar!
Os quilómetros eram devorados a velocidade vertiginosa. Em breve, estávamos a entrar no Cartaxo. Aí, fiz mais uma mudança forte de andamento. À saída, outra, sempre com os restantes a corresponderem a preceito, mas sempre na roda e sem dar continuidade. A excepção sucedeu neste preciso local, e veio do referido homem da Trek azul. Teve uma demonstração de nível e coragem, passando para a frente com o «comboio» a toda a velocidade.
E não se ficou por aí, repetindo a acção no topo do cruzamento de Aveiras, à chegada a Azambuja, então chamando a si a condução do grupo com ímpeto. Em que eu fiz questão de colaborar, já no segundo topo, mais suave, com nova movimentação (agora com todo o ferro... metido), lançando o grupo – ou o que já parecia restar dele – a 50 km/h em direcção à entrada da localidade. Nessa altura houve-se um grito lá detrás e rapidamente se aliviam os crenques! O Freitas dizia que estava furado. Falso alarme! Por isso, tudo reagrupado novamente.
Até ao Carregado, meteu-se uma velocidade de cruzeiro confortável (a espaços até demasiado), pelo que, a média de 36 km/h registada desde Santarém, pecava por escassa... Nas bombas esperou-se mais de 10 minutos pelo segundo grupo e nada. Decidiu-se continuar... devagarinho. Assim foi até ao sprint de Vila Franca, comparando com a velocidade anterior. Aí, o Freitas fez valer as suas qualidades, mesmo assim superando o Rui Scott muito à justa.
O duelo repetiu-se na rotunda do Cabo de Vialonga, após a subida da cervejeira, depois de eu ter voltado a forçar o andamento até ao alto. De qualquer modo, só a partir deste momento estes dois (mais o Scott) pareciam ter quebrado as amarras da moderação, não deixando cair o ritmo após a sprint, o que levou, desde logo, a estilhaçar definitivamente o grupo e deixando, na frente, apenas quarteto (Scott, Freitas, eu e o Salvador).
O Capitão seguia já distanciado, tentando ainda recuperar – supostamente à custa de mais ajudas «ilegais» agora denunciadas pelo Evaristo que o seguia um pouco mais atrás (indignado, e com razão!). Mais atrasado ainda, e já em nítida «descompressão», vinha o Runa. Perante este empolgante cenário, tive de abandonar a liça e regressar a Alverca (horário «oblige»!...), ficando de fora do que poderia ter sido um «grand finale» em Loures! Por esse motivo, lavro aqui o meu lamento e as também as desculpas aos presentes pela desfeita. Fantástica jornada de ciclismo!

4 comentários:

Anónimo disse...

De volta a estar na companhia no grupo nesta ''étapa'', folgo saber que o espirito saudável de competição predomina com todas as suas virtudes e desvirtudes. Obrigado pela companhia mais uma vez e continuem.

Cumprimentos

Henrique Santos


P.S- Freitas, aqui a 10kg falamos, hehe :P

Anónimo disse...

Amanhã vai haver volta?

Anónimo disse...

Espirito saudavel de competição????
Apanham boleias para recolarem e chanam a isso saudavel competição...
A isso chama-se desrespeito pelo esforço dos outros!

Anónimo disse...

Olá vivas,

Nem sei por onde começar. Já ouvia falar das famosas clássicas de Loures, testemunhadas pelo respeitoso Abel. Resolvi aceitar o seu convite e ainda hoje agradeço-lhe e alargo a todos vós um sentido obrigado pela bela manhã de ciclismo. Há muito que sentia saudades de bom e verdadeiro espírito "ciclístico". Realço aquilo que mais adorei. O espirito de entendimento, enaltecido pela simpatia que imediatamente identifiquei nas primeiras pedaladas. Um grupo coeso, aprazível, no qual me senti integrado.
A leitura fluída e agradável, das linhas deste blog, mais parecem uma pauta escrita da mais bela musica, fazendo justiça ao belo português, que leio apenas em escassos blogs.

Bendito o furo, pois tinha acabado de puxar demorando alguns segundos a ganhar coragem (e fôlego) para me colocar em crenques, embalando a Trek Azul.

Feliciano Vasa
O homem da Trek Azul.