Ontem foi domingo de inesperado ciclismo a alta intensidade, quiçá ainda sob o efeito do Livramento-Óbidos da semana passada. Manhã primaveril de Outono, pelotão numeroso, percurso acessível, cerca de 100 km, plano nos primeiros dois terços e principais dificuldades perto do final. Condições favoráveis a andamento higiénico de fim de temporada. Se bem que isso esteja longe de ser regra neste grupo.
Afinal, a previsível tranquilidade deu em fuga, para mais de «gente» forte, duo imprevisto a exigir perseguição a condizer do pelotão. Ponto de partida: o empedrado de Vila Franca, onde poderia mais ser?! O Freitas a acelerar à frente do grupo, levando o novato André na roda. O pelotão estirou-se. Eu na cauda, a tentar passar o «pavé» com delicadeza... calmamente, mesmo sabendo que estava a arriscar demasiado. Sem surpresa, à saída da cidade tinha cerca de 300 metros de atraso para o pelotão. Iniciei a recuperação paulatinamente – com o sr. Zé na roda. Tentei levá-lo ao grande grupo com menos dano possível. A distância encurtava só muito pouco – mas só estava preocupado que os «tubarões» se apercebessem do meu atraso – sem eu próprio me aperceber que eles já não lá estavam.
Em Castanheira, o sr. Zé «libertou-me» – iria voltar no Carregado para Arruda, poupando-se ao troço de ir e voltar a Azambuja. Só à chegada ao Carregado encostei ao pelotão, e não demorei a perceber que ia nervoso! Por que razão? A resposta foi imediata: faltavam o Freitas e o André. E nem se viam...
O pessoal estava à nora com a perseguição. Eu precisava, primeiro, de recuperar forças. O pelotão não desacelerou e parecia empenhar-se mais na perseguição. Na grande recta de Vila Nova da Rainha, avistámo-los. A recta «toda» de avanço: tirei o tempo: 1.45 minutos. Muito! Estavam a rolar que se fartavam. A perseguição tinha de se organizar melhor e já não havia margem para facilidades. Até a Azambuja, fomos muito bem. Bom revezamento na condução do pelotão, a cerca de 40 km/h, e quando cruzámos com o duo já tínhamos retirado 30 segundos.
Com os fugitivos ali tão perto (do outro lado da estrada, em sentido contrário, mas ao mesmo tempo estavam mais longe do que pareciam) houve laivos de euforia no pelotão – demasiado precoces, na realidade. O trabalho não estava quase feito como poderia fazer crer a ilusão de óptica, e isso ficou provado na 2ª passagem pela recta de Vila Nova da Rainha: a distância praticamente não diminuíra desde Azambuja: 1.10 m.
Mas o mais difícil do terreno estava a chegar, para o pelotão e acima de tudo para os fugitivos, com o acumular da fadiga. Na primeira recta logo a seguir ao Carregado, nova contagem de tempo: surpreendentes 45 segundos. Depois de Cadafais: 30 segundos apenas. O contacto visual facilita os perseguidores e é péssimo para quem está em fuga. Começava agora o terreno ondulado. A coisa estava com boa cara. Logo nas primeiras rampas, a fuga estava controlada. Foi isso que transmiti às tropas, já reduzidas a menos de uma dezena de elementos. À chegada Arruda, havia apenas 200/300 metros – e assim se manteve a distância na recta ascendente em direcção ao Sobral. Havia que agravar o desgaste dos fugitivos, adiando ao máximo a junção. Isso parecia não agradar ao Ruben (grande contributo na perseguição!), que mostrava alguns sinais de impaciência. Procurei tranquilizá-lo. Aqui ou ali, verbalizava alguma fadiga. Momentos que passam! E passaram.
Naquela altura, apenas restavam o Carlos do Barro (boa ajuda nos topos de Arruda) e o brasileiro (limitando-se a aguentar). Pouco antes tinham ficado o Capitão e o Evaristo.
No final da rampa dos semáforos, a fuga foi anulada. Um quarteto formava-se. Tomei o comando sem hesitar, havia que manter a intensidade, pois a subida estava já muito perto. O Ruben correspondeu. O André também. O Freitas parecia abdicar, mas era «táctica»: atacou! Mas o trio respondeu. Entrei na subida à frente, a 36 km/h. Em seguida, novo ataque do Freitas. Novamente com resposta eficaz. E de imediato, contra-resposta excelente do Ruben, a causar estragos. O André perdeu-lhe a roda e «arreou». Eu geri o choque e depois encostei. O Freitas ficou definitivamente. Fomos os dois embora. Até ao alto de A-dos-Arcos, onde ele demonstrou ser mais forte – coroando uma prestação global de muito bom nível. Mereceu-o inteiramente.
Notas de destaque para o esforço dos dois fugitivos: Freitas e André. Capacidade para se destacarem e consolidarem a fuga em terreno plano, onde é tradicionalmente difícil contra o «rolo compressor» que é o pelotão Pina Bike, qual bando de perseguidores esfaimados, numa aventura que durou várias dezenas de quilómetros. O facto de terem claudicado perto do final é perfeitamente justificável, pelo grande desgaste que foram acumulando.
Elogio ao pelotão perseguidor, na sua globalidade, pela entrega ao trabalho e organização acima da média. Nem sempre o mais importante é a colaboração de todos, mas antes o empenho e generosidade.
2 comentários:
Se a isto chamam andamento de fim de época... nem quero imaginar o próximo ano com o pessoal todo em forma!
J. Manso
Conforme pedido do Carlos, aqui ficam algumas médias realizadas durante a volta do passado domingo:
Vila Franca-Carregado (quando estava atrás do pelotão): 35 km/h
Carregado-Azambuja: 39 km/h
Azambuja-Carregado: 40 km/h
Carregado-Cadafais: 40 km/h
Cadafais-Arruda: 35 km/h
Arruda-Pontes de Monfalim: 31 km/h
subida de A-dos-Arcos: 26,4 km/h
andamento do fim de época, pois...
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