quinta-feira, dezembro 11, 2008

O regresso de Lance Armstrong

Uma das grandes expectativas do ciclismo profissional para 2009, quiçá a maior, é o regresso de Lance Armstrong, após três escassos anos de reforma dourada. O heptavencedor do Tour surpreendeu o Mundo ao anunciar que voltaria a competir, e logo querendo reconquistar o ceptro que já foi seu, e em anos consecutivos, tal a hegemonia face aos adversários.
As questões que se colocam à decisão do norte-americano são diversas: desde logo, a razão do regresso à alta competição, depois de tão esmagadora consagração; a razoabilidade da suas justificações, a principal sustentada em motivos humanitários relacionados com a luta contra o cancro, doença a que sobreviveu antes da senda de êxitos; ou os critérios da sua entrada directa para uma equipa onde milita o seu apontado sucessor, Alberto Contador, desde logo provocando controvérsia sobre a natural incompatibilidade da liderança numa prova tão exigente como o Tour. Para mais, tendo em conta que todas as suas vitórias foram alicerçadas na união inquebrável do colectivo em prol de (um único) chefe-de-fila: ele próprio; a controvérsia que já exigiu aos dois «galos» que esclarecessem publicamente das suas (pretensas) boas intenções e franca colaboração – que, como facilmente se adivinha, são apenas politicamente correctas.
Mas antes de ficarmos a saber se o «novo» velho Lance partilhará ou lutará com o ainda jovem, mas já amplamente coroado Contador (Giro, Tour e Vuelta) o poleiro da Astana no próximo Tour, importa observar se o texano tem condições físicas à medida das suas pretensões. Aqui reside, até ver, a maior incógnita deste estimulante regresso e que poderá determinar, mais pacificamente que se prevê, a hierarquia da equipa. Contudo, em que fundamentos baseará a decisão o actual director da equipa Astana, Johan Bruyneel, que está estreitamente ligado à carreira vitoriosa de Armstrong? Serão as provas da temporada, de preparação para a Volta francesa, barómetro para aferir das aptidões do ciclista americano – que sempre as abordou como meras etapas de um meticuloso programa de afinação da forma? Ou Lance fará o tirocínio de forma no Giro? Ou seja, se der garantias de estar ao nível do seu passado glorioso avança para o Tour como um dos dois líderes prováveis (Contador sê-lo-á sempre...), senão apenas como gregário de luxo, ao lado de Leipheimer e Kloden?
Eis as dúvidas que tornarão o próximo ano especialmente interessante para quem acompanha o ciclismo, e acima de tudo, para quem vê, como eu vejo, no vencedor do Tour o melhor ciclista do Mundo. E para quem tem, como eu tenho, em Armstrong referência máxima além do desportista.
Para já, na minha opinião, pelas informações que vou recolhendo, a sua principal dificuldade na optimização do rendimento residirá em transpor para o exercício do ciclismo a potência que está a tentar criar através de um intensivo trabalho de reforço muscular – porque assim tem de ser dado o carácter imediatista de voltar a ganhar força –, mas que poderá afectar a fundamental relação ideal com o peso. Essa dualidade parece clara nas fotos dos recentes treinos com a equipa Astana, em Tenerife, em que é visível a hipertrofia muscular, mas também a sua influência no aumento da massa corporal – é um Lance muito musculado, com as fibras já surpreendentemente definidas para a altura da época, mas muito mais corpulento que nos velhos tempo. Evidente a quem se lembra bem deles. Como eu...

5 comentários:

Ricardo Costa disse...

Percurso da volta do próximo domingo: Merceana

Loures-Tojal-Bucelas-Arranhó-Forte de Alqueidão-Sobral-Merceana-Alenquer-Carregado-Vila Franca-Alverca-Vialonga-Tojal-Loures

Distância: aprox. 90 km

Anónimo disse...

Caro Ricardo,
Sem dúvida que o regresso de Armstrong veio agitar, e muito, as hostes ciclistas. Basta reparar na quantidade de artigos publicados na imprensa espanhola sempre atenta a tudo o que se passa em redor deste e de outros temas relacionados com este desporto.
Se a bem do desporto o regresso é salutar, na medida em que a vida de um ciclista não se deve resumir apenas à competição e não se deve esgotar ao 1º sinal de debilidade física, já a enorme pressão e suspeita pelo suposto uso recorrente de dopping neste meio tem efeitos muito nefastos (o próximo tour não será transmitido na Alemanha...).
Ainda assim justiça seja feita ao homem que estabeleceu novos limites e referências na prova rainha.
Se o regresso tem como tema central alertar para a luta contra o cancro não seria lógico que o atleta assumisse objectivos tão ambiciosos para a temporada! E o que dizer do equipamento diferente, do tratamento diferenciado no seio da própria equipa?
E se o homem ganhar?
Bom, considerações e alegações à parte, este regresso tem o condão de trazer os media de volta ao ciclismo, que nos últimos tempos, tem sofrido duros revezes, e necessita de melhorar a imagem e atrair mais patrocinadores correndo o risco de se tornar um desporto marginal...
Se para ti Armstrong foi o melhor de todos os tempos para mim este título pertence a Miguel Indurain
pelas características físicas (1,88m para 82 Kg de peso). Ou seja em qualquer circunstância este senhor tinha a capacidade e necessidade de debitar mais potência múscular para ultrapassar as mesmas dificuldades dos adversários!
Depois o seu palmarés é impressionante, Giro e Tour no mesmo ano, 2 vezes consecutivas em 1º lugar, medalha de ouro nos campeonatos do mundo de contra-relógio e nos jogos olímpicos, recordista da hora...
Foi a acompanhar este desportista que fiquei a adorar esta modalidade.
Como curiosidade informo que a bicicleta é o meio de transporte (máquina) mais eficiente do mundo! ou seja para a mesma energia dispendida, comparando com qualquer outro meio de locomoção, de bicicleta chega-se sempre mais longe! Simplesmente fabuloso!
Cumpts,
J. Manso

Anónimo disse...

Amigo J.Manso, respeitando a tua opinião o melhor de sempre foi Eddy Merchx.

Ricardo Costa disse...

São pontos de vista...
Também, para mim, Miguel Indurain foi o ídolo da descoberta do ciclismo, da supremacia da máquina humana, da força e da classe. Mas o mais completo e hegemónico foi Lance Armstrong (vou-me resumir aos ciclismas nossos contemporâneos, porque, de Mercx, só posso falar do inigualável palmarés. As imagens que ficam na retina, nada!
Indurain, frente aos seus maiores adversários (e foram só Bugno e Chiapucci, porque os demais foram apenas oponentes facilmente superáveis, casos de Zulle ou Rominger), impunha-se nos contra-relógios, onde era sistemático ganhar com mais de 3 minutos de vantagem, e depois defendia-se na montanha. Com grande classe, é certo (o facto de subir sempre sentado, até para responder aos ataques, era esmagador!), mas nunca (ou quase) foi ciclisma de ataque na montanha, onde, apesar da sua potência muscular (+500 W em esforços prolongados), tinha sempre o handicap do peso, que não lhe permitir ser explosivo.
Armstrong era (ou é) a mistura perfeita entre rolador (contra-rologista) e trepador (do melhor), espécie de «cokctail» Induráin/Pantani.
E os seus adversários - parecendo que não, dada a sua superioridades avassaladora - foram sempre superiores aos de Induráin, casos de Ullrich, Basso, Beloki, principalmente o primeiro, considerado, discutivelmente, mais apto fisicamente (máquina humana) e com classe superior ao norte-americano.
Mas, concordo, Armstrong é mais que um ciclista fenomenal: é um sobrevivente, um produto explorado e explorador de recursos mediático e impressionante gerador de dinheiro.

Anónimo disse...

Bom dia,
Ora bem ciclismo também é isto! Paixão pelos nossos favoritos com algum "clubismo" à mistura, ainda que ao contrário do futebol não seja faccioso.
Relativamente a Merchx confesso que não tenho memória nem das suas performances nem do seu estilo ainda que reconheça que é uma referência incontornável no ciclismo.
No que concerne a Armstrong tenho uma opinião curiosa... - o homem antes de padecer da doença que lhe sacrificou um testículo era um ciclista de bom nível (Não há maus ciclistas no pelotão do Tour!) e após recobro aparece com menos peso e com a mesma massa muscular!? Ou seja graças ao cancro conseguiu melhorar a relação peso/potência com a agravante de ter menor produção de testosterona que em última análise é a responsável pela definição de massa muscular no organismo...
Refiro ainda que a nivel de controlo anti-dopping este atleta nunca ultrapassou os limites legais em função das suas condicionantes especificas (não são obrigatoriamente os mesmos limites de um atleta "normal")...
Ou seja caso não existisse esta eterna suspeita não confirmada acerca das performances do atleta não teria pejo em assumir que álem de um fora-de-série Armstrong seria o melhor ciclista de todos os tempos, assim há sempre um resíduo de dúvida nada salutar para este desporto. No sentido de esclarecer esta dúvida, e assumindo que o controle sobre o atleta será o maior de sempre, penso que se ganhar alguma das grandes provas do ano vai conseguir calar as críticas e "limpar" o cadastro... bem vistas as coisas Armstrong só tem a ganhar com o regresso - se perder é pela idade e ninguém o pode diminuir e se ganhar confirma aquilo que muitos lhe admiram.
Miguel Indurain tinha uma outra caractrística que me leva a nutrir uma especial admiração. Era um homem pesado! Naturalmente tinha tudo para não ser um suprasumo na medida em que deveria perder na montanha todos os segundos amealhados nos contra-relógios e chegar aonde ele chegou só está ao alcance de alguém muitíssimo especial. Não penso que seja por falta de adversários à altura ainda que reconheça que teve uma conjuntura muito especial que lhe permitiu maior notoriedade. Neste sentido refiro que o alemão Ullrich seria um natural vencedor de vários Tours não fosse o caso de nos anos em que correu haver uma concorrência anormalmente forte, mesmo para os parâmetros já de si elevados do ciclismo contemporâneo.
Outro ciclista pelo qual nutro muita simpatia é o Cancellara (curiosamente tem a minha alcunha... - escolheu bem o malandro!)que em termos de potência muscular também é fabuloso com a contrariedade de que nos temnpos que decorrem isso por si só não chegar...
Ou seja no meu ponto de vista, e talvez porque a minha fisionomia é próxima destes, prefiro ciclistas grandes, com massas elevadas visto que do ponto de vista da performance humana conseguem, anormalmente, andar em domínios que supostamente não lhes estariam reservados.
Gostaria de salientar, ainda, que qualquer um deles, (das nossas preferências), são atletas fabulosos que têm o condão de nos inspirar respeito pelos seus feitos, que à sua maneira elevaram o esforço humano a uma escala reservada apenas aos eleitos com que a genética humana muito de vez em quando nos presenteia.
Todo e qualquer e desporto tem como base principal o treino mas estes senhores pelas suas características inatas, é como se começassem uns metros (km's) à frente...
Cumprimentos,
J. Manso