segunda-feira, abril 12, 2010

Clássica de Santa Cruz: a crónica

A Clássica de Santa Cruz – 2010 foi uma interessante jornada de ciclismo, a que apenas faltou mais participação. Foram poucos mas bons (como alguém referiu nos primeiros quilómetros do percurso) em número não superior a onze, mas mais que suficiente para que, com classe e empenho, assegurassem o emprego de todos os condimentos indispensáveis ao bom sabor das clássicas. Foi como o treinador de futebol Quinito dizia, uma manhã «entretida».
Por este motivo, é de todo merecedor a sua apresentação: eu e Freitas (Pina Bike), Jorge (de Alverca), Carlos Gomes, Gil, Vítor Pirilo, André, Paulo Pais, Rocha, Chico e Manso (Ciclismo2640).
Esses temperos começaram a ser adicionados desde a partida de Loures. O andamento não demorou a levantar fervura e a partir do Tojal, sob a liderança do Freitas e do Jorge. Até Bucelas, a média aproximou-se dos 30 km/h e a entrada na longa subida para o Forte de Alqueidão não abrandou o lume. O Jorge assumiu definitivamente a contenda e monopolizou a condução do grupo a bom ritmo e sem dar mostras de pretender colaboração que não fosse à altura do seu desempenho.
Estranhou-se, no seio do mini-pelotão, a abnegação do alverquense numa fase tão madrugadora da tirada, expondo-se a desgaste importante num percurso longo e difícil. Mas pode encontrar-se (e encontra-se...) explicação no excelente momento de forma que o franzino trepador atravessa. O pelotão chegou compacto mas não descansado ao alto do Alqueidão (média de 26 km/h) e «picou» rapidamente para as descidas seguintes: Seramena e Sobral para Dois Portos.
Na transição, um trio ganhou algum avanço: Freitas, Rocha e Chico. Atrás, não se fez impasse, e na velocíssima perseguição houve quem arriscasse demasiado: o Vítor Pirilo esteve perto de uma queda que, segundo o próprio e testemunhas oculares (Gil), poderia ter tido consequências gravosas. Aliás, o protagonista demorou algum tempo a recompor-se do susto e o pelotão, solidário, temporizou à saída de Dois Portos, aguardando pela sua chegada.
A ligação a Torres decorreu sem mais incidentes e ao ritmo mais tranquilo (ainda assim, devido às descidas, a 36,3 km/h) desde o arranque de Loures. Foi esse aparente relaxe que o Freitas aproveitou para se isolar na rampa para rotunda da A8, na aproximação à cidade. Saiu com alguma discrição e total permissividade do pelotão, que já era controlado pelos homens da Ciclismo2640. No entanto, a todos deverá ter surpreendido a facilidade com que «o» Pina Bike ganhou avanço. De tal modo, que à saída de Torres, a caminho de A-dos-Cunhados, começaram a gerar-se dúvidas, na equipa de Mafra, sobre se o fugitivo estaria na rota certa. A confirmação veio pouco depois, na fase final da subida para a estrada para a Lourinhã, quando a tentativa de «caçada» já estava em marcha. O ritmo a que a decorria a perseguição movida pela formação 2640, com breves colaborações do André e do Carlos Gomes, e a aparente falta de contacto com o fugitivo, fazia prova cabal do andamento e do empenho deste. A tal ponto, que entre A-dos-Cunhados e Vimeiro voltaram as dúvidas sobre eventual erro de percurso do escapado. Vide a média entre Torres e o Vimeiro: 37,5 km/h!
Neste ponto, devido ao desgaste que começava ser provocar aos perseguidores, a corajosa iniciativa do Freitas já estava coroada de êxito. E forçou mesmo a equipa de Mafra a expor o seu «joker»: Paulo Pais, que teve de participar no esforço colectivo. O co-equipier de serviço foi quase sempre o Manso «Cancellara», exemplo de disponibilidade e espírito de equipa.
Finalmente, na passagem pela Praia de Sta. Rita, o fugitivo da Pina Bike estava em linha de mira e com naturalidade a perder algum fulgor. Mas também os líderes do pelotão... estavam! E o principal contributo para a precipitação do final da fuga veio do Carlos Gomes, que comandou o grupo, face ao vento, nas longas rectas onduladas junto à costa e depois na variante de Santa Cruz, para que na Silveira (mas só aí!...) se consumasse a longa e difícil perseguição. Muito mais longa e difícil do que a concorrência previa.
No entanto, a intervenção do Freitas não se ficou por aí. Bastaram alguns quilómetros para voltar meter-se noutra aventura, correspondendo ao ataque do Rocha em Casalinhos de Alfaiate. Eu próprio fiquei surpreendido... mas ainda mais agradecido!
Os dois ganharam rapidamente avanço, com o pelotão, uma vez mais, na expectativa. Só que, agora, o terreno mudava definitivamente de figurino: entravam as subidas, e estavam para ficar.
O duo manteve-se sempre à vista e deu para assistir à cedência precoce do Rocha ao passo mais forte do Freitas em S. Pedro da Cadeira. Surpreendeu a escassa resistência face a um parceiro desgastado por longo esforço em solitário. Mas este continuou a sua (segunda) cavalgada, passando, inclusive, destacado a subida da Encarnação, face a um pelotão comandado pelo incansável «Cancellara» e a, agora, a espaços pelo Jorge, que regressava às lides após interregno desde o Alqueidão.
Nas primeiras rampas da Picanceira, finalmente (!!!) o empenho do Manso resultava na segunda absorção do mesmo fugitivo. Só que o cariz da toada estava prestes a alterar-se e não havia tempo para contar cartuchos. O terreno era de selecção e urgia fazê-la o quanto antes, dando seguimento ao extraordinário trabalho do Freitas. Por isso, logo que se estabeleceu a hierarquia da montanha nos primeiros postos, acelerei. Não foi brusca a aceleração, por isso surpreendeu-me a vantagem averbada em poucos metros. O objectivo era, como disse, apalpar terreno e, de preferência, levar (boa) companhia. Mas como a distância alargava, decidi... continuar a insistir.
Às tantas, a meio da subida, verifico que era um grupo muito restrito que fazia a perseguição. Um trio: André, Jorge e Carlos Gomes. Os homens de Mafra não tinham representante. Definitivamente para trás. Alcanço o topo da Barreiralva e faço a ligação à Murgueira e depois ao Gradil sempre a alta intensidade e sem aparente sinal de recuperação efectiva dos perseguidores.
No início da subida final, de Vila Franca do Rosário, ao tentar aperceber-me da situação, fico com a ideia que a vantagem seria suficiente para geri-la até à Malveira. Ilusão de óptica ou... fenómeno! Às primeiras rampas de VFR, o André surgia no meu encalço (vinha só) e até à junção foi breve, consumada no interior da localidade, onde trocámos dois dedos de conversa antes de eu retomar o meu andamento.
Nos metros finais do topo do Vale da Guarda, ele pisa mais duro nos crenques e ganha alguns metros, sem que eu tivesse capacidade para responder à altura. Ganhou cerca de 100 metros na descida e preservou-os, com naturalidade, até ao topo da Malveira. Média final: 32 km/h para 106 km.
O Jorge foi o terceiro a chegar, em defesa das cores da mui nobre cidade de Alverca. E depois, o Carlos Gomes. Os demais acumularam um atraso muito significativo, com os mafrenses a optarem por acudir ao camarada Chico, que há muito tinha ficado em dificuldades devido à discrepância entre o intenso trabalho a que se submeteu e a sua actual condição física. O Vítor Pirilo, o Pedro Fernandes (chegou ao nosso convívio apenas em Santa Cruz) e o Freitas (merecido prémio da combatividade, com um trabalho solidário indiscutivelmente fantástico, que colocou a fasquia bem alta, não me restando alternativa que não fosse dar também o máximo no seu seguimento), ainda chegaram à Malveira antes do levantamento do... controlo de chegada.

Nota de homenagem especial: a todos os participantes, e em especial aos camaradas da Ciclismo2640 (Manso, PP, Rocha e Chico), pelo contributo nesta jornada espectacular de ciclismo – de resto, assim considerada pela esmagadora maioria dos presentes. É um prazer vê-los «em serviço» e partilhar desses momentos. São grandes!
Elogio extensível à malta da Ciclomix, que desde há muito não faltava a uma chamada para uma clássica. Pelo que sei, por motivos de força maior.

6 comentários:

J. Manso disse...

Caro Ricardo,
Queria em primeiro agradecer a recepção, sempre calorosa, que é apanágio da tua pessoa.
Devemos dar-te os parabéns pela persistência na tentativa de continuares a por na agenda domingos acelerados que normalmente são do agrado de muitos.
Saliento ainda o fantástico desempenho do Freitas que teve, quanto a mim, uma jornada de enorme nível e nos proporcionou a todos com a sua atitude uma bela manhã de ciclismo.
Relembro, ainda e mais uma vez, que esta fórmula tendencialmente afasta muita gente de participar porque há um enorme risco de se ficar apeado... a 80 ou 90 km do final! Nesse sentido a fórmula deveria ser melhorada, mas tu que já levas muitos anos disto saberás o que é melhor e independentemente das escolhas contas com o meu respeito.
Relembro-te, mais uma vez, que não se devia pensar tanto no final e que se deveria aproveitar mais o desenrolar do passeio. Deste modo ganham todos em satisfação e prazer de voltar à carga no próximo domingo.
A esse propósito ficas obrigado a comparecer numa das nossas futuras saídas para verificares se há diferenças nas filosofias das nossas saídas! Este convite é extensível a todos os camaradas que te quiserem acompanhar.

Abraço e até breve

DUROS DO PEDAL disse...

Parabens aos visinhos PINAS por mais uma CLÁSSICA.
Vêjo que continuam a carregar no pedal como gostam, pois 32kmh nesse percurso um pouco sinuoso é muito bom para não profissionais como todos nós.
O mais importante não são as ``taças´´ vazias e sim a moldura humana que este desporto junta todos os Domingos. Mas todos nós gostávamos de marcar um golito não???
Venha de lá o TROIA SAGRES PRIMAVERIL !
Aquele abraço!!!
TO MONTEIRO

J. Manso disse...

Ricardo,
Queria acrescentar o seguinte:
O meu comentário anterior tem como único objectivo o de trazer mais gente para as saídas domingueiras, reforçando que o mais importante não é chegar na frente mas sim participar. Considero que há pessoas que não aparecem porque têm receios de descolar e ficar para trás.
Saliento que esta critica é muito mais dirigida a "um domingo qualquer" do que à clássica em que houve sem dúvida um excelente bem-estar e onde ninguém teve conduta antidesportiva - pelo contrário!
Em resposta ao camarada Tó Monteiro digo que obviamente todos gostamos de chegar bem e de preferência bem lá na frente. Treinamos a condição física durante a semana com o intuito de estarmos bem ao domingo e se tivermos hipótese deixamos até o amigo para trás naquela súbida...
Mas a competitividade em demasia normalmente vem com mais defeitos do que virtudes.
Cumprimentos a todos

Pedro Fernandes disse...

Pegando na deixa de Ricardo Costa

“(…) Falta de participação(…)”, pois é meus caros vamos a saltar da cama mais cedo e efectuar estes percursos pré-definidos são simplesmente extraordinários.

Pois é, meus caros amigos do Pedal que decidiram outra volta que não esta, não sabem o que perderam foi mais um “passeio” espectacular.
No que me toca, mais uma vez, desloquei-me de bike do Carregado no encontro do grupo com chegada ao sobral na hora indicada no notebook do Ricardo (hora de passagem 08h58m), fui andando um pouco e ….. vinha o grupo a descer para o Sobral com uma velocidade digna de registo.
Assim, voltei rapidamente na tentativa de efectuar a devida colagem avistava-os na paisagem ao chegar ao Sobral viro à direita (e sei lá porquê…) enganei-me olho novamente para o notebook, pois foi viste-os ir…
Então resignado lá faço o percurso isolado (olhando sempre para o trajecto traçado), bem, dificuldade, mais dificuldade, lá passa um grupo que me diz eles vão ai, lá me entusiasmo, algum vento, ohhh como era bommmm uma roda…, ou um grupo com um andamento homogéneo.
Ao chegar a Santa Cruz qual é o meu espanto ai estão eles, passo pelo grupo todo “rotoooo…” e o Ricardo comenta a minha presença confrontando com o ar de espanto dos companheiros, pensamento existente … bem este chama-se é Pedro e não Sebastião vindo das trevas, como é possível aparecer aqui ????.... pois é meus caros, não tomei nada (definitivamente prefiro produtos naturais) definitivamente enganei-me no percurso e não passei por Santa Rita --- está esclarecido ehhhhhhh.

No entanto estava com um desgaste muito grande (este não é o meu ritmo) ainda consegui andar alguns quilómetros mas no ataque na Picadeira desloquei perdendo o contacto.

Depois efectuei duas paragens com os dois elementos da GNP e foi rolar até Loures e depois Carregado, sofrer e mais sofrer.

Um bem haja para todos

Vamos incentivar a malta com outros ritmos a efectuar o mesmo percurso, aos ritmos que pretendem, o desporto organizado tem um sentir diferente. O segredo deste desporto é determos o conhecimento da nossa capacidade (física, psicológica, se ando de bike de semana ou não, etc….) e depois dosear o esforço e chegar bem para o almoço de domingo com a família.

Continuação de boa semana

Pedro (Carregado)

Ricardo Costa disse...

Caro, Cancellara. O convite é irrecusável. Não por dever de simpatia, mas porque, sinceramente, a identificação com a vossa «filosofia» é plena. Por tudo o que tenho vindo a preconizar ao longos dos últimos anos, não seria de outra maneira. Cada vez mais...
Logo, traça um percurso à minha altura e contarás comigo (brinco)!
Nota: só no domingo, dia 25, estarei indisponível.

Pedro, o teu repto, por mais sensato e correcto, está muito longe de atingir o objectivo proposto. Parece que cada vez mais. Infelizmente...
A tua paixão pela prática do ciclismo é contagiante e para mim um exemplo.

Venham mais como tu!

Abraço

Ricardo Costa disse...

Desculpa-me, camarada Tó, pelo esquecimento... Obrigado pela referência. Certamente, viste-me na variante de Vialonga quando lideravas a tuas tropas para o corajoso Loures-Fátima-Loures. Pena que a clássica tenha coincidido, porque contávamos convosco. Aliás, estão sempre convidados a comparecer.
Também vocês são um exemplo!