segunda-feira, abril 05, 2010

Crónica do Oeste

No rescaldo do Ota-Fátima-Ota, a volta do Oeste foi... dorida. Apenas 48 horas volvidas da exigente e disputada peregrinação de Sexta-Feira Santa, as marcas do esforço ainda permaneciam no corpinho e condicionaram o desempenho nesta tirada saloia, que foi uma espécie de ensaio geral (por alguns sectores do percurso serem comuns) para a Clássica de Santa Cruz, a realizar no próximo domingo.
Pela segunda semana consecutiva, foi pouco numeroso o pelotão que arrancou de Loures, tal como para Sintra, há sete dias, enfrentando logo de início a subida de Guerreiros. Aqui, surpreendeu que um dos «peregrinos» da jornada de antevéspera e das suas principais figuras, o Jony, tivesse chamado a si a condução do grupo com tanto empenho. Em parceria com o André, meteu um «passo» de respeito, acentuando, em mim, os efeitos da insuficiente recuperação. Nem após o topo de Guerreiros o ritmo foi muito confortável, agora com o André a levar até ao alto da subida da Venda, onde, por prevenção, deixei-me descair do grupo. Deste também se atrasou o Filipe, do Infantado. Mas fomos os únicos.
Entre Venda e Malveira, entrou a malta do Ciclismo2640, com o Paulo Pais, o Rocha e o Pedro (Pedrix) a assumirem a representação na ausência do camarada Manso «Cancellara» (1), em estágio, diz-se de hipotermia, na Serra da Estrela.
No início da descida de Vila Franca do Rosário gerou-se imprevista desestabilização, provocada pela chegada, de rompante, do Nuno Garcia, que teve o condão de estimular o Jony à perseguição. Os restantes fizeram-se à vida para não perder de vista o comboio.
Em Barras, felizmente (digo-o...), a cavalgada sofreu uma providencial interrupção: o Filipe fura, inaugurando uma série de três neutralizações com motivo idêntico, que marcaram mais de metade da tirada.
Reparada a primeira roda, ganhou-se velocidade até à subida de Catefica, que não teve a intensidade que se poderia prever pela agitação até aí registada. Apenas o André e o PP se destacaram alguns metros, sob perseguição conduzida... por mim. Bom, fi-la preservando uma alguma margem para o limite imposto pela dor muscular. O fundamental era não forçar para prevenir o empeno, porque o mais difícil do percurso ainda estava para chegar. E nestas ocasiões de debilidade, o homem da marreta espreita.
Na Variante de Torres Vedras, o Rocha ganha ligeiro avanço, consentido pelo grupo. Perante a passividade, ganha vantagem com rapidez e a iniciativa ganha estatuto de fuga à entrada da estrada de Santa Cruz. E mais definitivamente, quando o irmão do André (ainda mais novo que este...) fura. Voltando a furar alguns quilómetro adiante, pouco antes da Coutada.
Após isto, fomos até ao fim sem mais interrupções... por avaria. E como se estava claramente fora do horário, convinha apertar. Mau! Mas menos-mal, porque o vento estava de feição e funcionou como analgésico... de curta duração. Na subida de S. Pedro da Cadeira experimentei para ver até onde chegava o efeito das «agulhas» nas pernas, mas, pouco depois, quando entrou a Encarnação, tive de procurar o meu andamento perante a aceleração vigorosa do grupo conduzido pelo André e o Jony (livra, a este as agulhas não picavam!), que subiam a mais de 30 à hora, com o PP, o Ruben e o Jorge nas suas rodas! De qualquer modo, eu e o Nuno Garcia não perdemos muito tempo para a frente e na descida no interior da Encarnação recolámos sem forçar.
No entanto, não se aguardava que o relaxe se prolongasse com a Picanceira tão próxima. A entrada de cordeiro da dupla de malfeitores do dia (André e Jony) estava longe de ser tranquilizadora. Felizmente, o andamento só começou a animar depois da fase mais inclinada da subida, e não foi com as ganas que temia, acabando por não sentir grandes dificuldades para seguir na retaguarda do grupo, sempre muito espicaçado por iniciativas breves de vários elementos: André, Jorge, Jony, PP... De resto, à chegada ao topo da Barreiralva (rotunda), com o grupo esfrangalhado com as múltiplas acelerações e contra-respostas, ainda tive o ensejo de fechar o espaço aberto pela explosão final do Jony.
À excepção do Pedrix, do Salvador e do irmão «casula» do André, todos se reagruparam nos primeiros metros do troço para a Murgueira, onde se juntaram ainda, vindos de sentido contrário, o Chico, o Runa, o Vasa e o... fugitivo à força: Rocha.
Na Murgueira, a paragem da ordem sem a Coca-Cola sacramental, pois o tempo urgia e convinha, em domingo pascal, continuar sem mais delongas, sob risco de se perder o repasto familiar.
O Gradil passou-se tranquilamente, com o Vasa a impor o ritmo, mas logo nas primeiras inclinações de Vila Franca do Rosário voltou-se a carregar nos crenques. Aqui, houve abordagens díspares. À frente, destacou-se um grupo comandado pelo André e o Chico reunia o Ruben, o Jorge, o Rocha e o Paulo Pais. Este foi o último resistente do andamento muito selectivo do duo e abdicou quando «apanhou» a boleia amigável do «velho» Filipe (Trek). Já antes o Jorge e o Rocha tinham cedido, empenhando-se na perseguição ao grupo da frente, reduzido ao André e ao Ruben depois do Chico ter dado meia-volta no início da rampa do Vale da Guarda.
Bem, eu assistia a isto, a cerca de 200 metros, subindo, uma vez mais, sob gestão das limitações físicas. Mas ganhava terreno para a dupla Jorge-Rocha, que por sua vez estava prestes a alcançar o duo André-Ruben. Mas fê-lo antes de mim. Por isso, quando o quarteto recém-formado abordou a última rampa para a rotunda da AE, na Malveira, ainda estava a algumas dezenas de metros e apenas consegui chegar ao Rocha, quem mais perdeu «elan» na sequência da imparável aceleração final do André.
No «grupetto» que regressou comigo a Alverca pelo eixo Venda/Bucelas/Cabeço da Rosa, e que integrava o Jony, o Salvador, Ruben e Jorge, este ainda me «irritou» ao subir a Romeira (Cabeço da Rosa) em pedaleira grande, sobre os crenques, e ainda com a afronta, face à debilidade dos demais, de forçar discretamente nos últimos 100 metros para «partir» quem lhe fez concorrência. Outro dos peregrinos, a quem as pernas não pesaram. Está em forma! E está aí a Clássica de Santa Cruz!

(1) Não posso deixar de referir a vitória de Fabian Cancellara no Tour de Flandres, por tão categórica. Só pode ter impressionado quem viu, não apenas a forma como fulminou Tom Bonen, seu respeitável companheiro de fuga, mas também pela perfeição entre estética e eficácia da sua «relação» com a bicicleta. A posição (típica de contra-relogista), com o tronco quase sempre alinhado em paralelo ao chão e a pedalada redonda e fluida. Alta velocidade a rolar e o «forcing» irresistível no «muro» de empedrado, no momento certo! Uma inspiração para a Clássica de Santa Cruz...

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