domingo, abril 03, 2011

Clássica de Évora 2011: a crónica

Um ano depois de a Clássica de Évora se ter «nacionalizado» - mercê de pontual integração no Desafio Audax da Federação de Cicloturismo –, o regresso às origens locais trouxe ao evento a confirmação de um estatuto intermédio: regional. Pelos indicadores verificados no domingo passado – mais de sete dezenas de participantes, responsabilidade colectiva pela segurança, velocidade, competitividade, desportivismo -, não parecem restar dúvidas de que a «nossa» Clássica das Clássicas reforçou saudável processo evolutivo, sem «muleta» federativa.

Outra prova da projecção e do interesse crescente desta tradicional jornada primaveril de ciclismo puramente amador, organizada pelo grupo Pina Bike, é a adesão cada vez maior de participantes de elevado nível (sem qualquer desprimor dos menos treinados; trata-se apenas de um indicador), facto que não deixa de ser curioso, tratando-se, indiscutivelmente, de um percurso acessível – em distância e desnível acumulado -, em que as superiores capacidades físicas dos atletas não sobressaem (tanto…) como noutros traçados com relevo mais acidentado e/ou maior quilometragem. A verdade é que, embora havendo protagonistas a destacar entre o extenso grupo que partiu de Loures (sob ameaça de chuva que, felizmente, não se confirmou), cada vez mais «gente que anda bem» adere a esta Clássica que tem vindo, ano após ano, a diluir as diferenças entre participantes. Pela terceira edição consecutiva, o evento teve final em pelotão compacto (cerca de uma vintena de ciclistas), ao sprint.

Antes de passar à habitual crónica, um ponto prévio: em resposta ao repto deixado pelo camarada Carlos Cunha em recente comentário, vou procurar voltar «ao registo antigo», empregando um tom mais opinativo, crítico, quiçá acutilante. Comprometendo-me mais, pois claro! Por isso, aos mais susceptíveis, peço que relevem a importância das minhas afirmações, porque, naturalmente, não passam disso mesmo... A ver.

O arranque da descrição pode, desde já, ser controverso. Creio que não! Tomei a decisão de destacar o «resultado final» da Clássica, sem olhar aos meios. Ou seja, valorizando a vertente competitiva. Por isso, dedico mérito maior ao Freitas (Pina Bike), que teve uma prestação perfeita para os seus assumidos intentos: ser o primeiro a cruzar a «passadeira» de meta, em Évora. Para tal, comportou-se como um verdadeiro sprinter, protegido durante todo o percurso (apesar de envolvido em queda) para surgir nos últimos metros a fazer a dificílima diferença para os demais, aplicando superior velocidade terminal, a sua explosão muscular.

Reforço: conseguiu o objectivo a que se propôs (reforço) e isso é indiscutível. Reforço ainda mais: as Clássicas não têm fins competitivos, mas há entre a elite de participantes quem procure ser o primeiro. Certamente, a maioria dos ciclistas que integravam o grupo principal à chegada ambicionava esse feito, mas sabia que só um poderia atingi-lo. Prova disso, o sprint massivo, concorrido e vigoroso!

Mas a história desta Clássica começou a ser ganhar contornos ainda na ponte de Vila Franca, quando o Hugo Ferro (Carb Boom), depois de passar o incómodo empedrado «dinamitou» o pelotão pela travessia acima. A velocidade a subir roçou os 40 km/h e a embalagem da descida mais de 70 km/h: dá para ter uma ideia! Foi o mote para disparar o ritmo da Clássica: a partir daí, o comboio nunca mais abrandou – e já vinha a cumprir a média muito simpática de 35 km/h...

Quem começou a meter «lenha», não posso precisar (eu estava longe da cabeça do pelotão), mas apercebi-me que por lá passaram alguns elementos da Carb Boom, talvez mais amiúde o Hugo e certamente já o Renato Hernandez, a irresistível locomotiva desta Clássica. Sobre o desempenho deste, todos os elogios não chegam, podendo resumir-se, para quem o conhece, numa frase esclarecedora: foi ao seu melhor estilo (ponto!).

Não sei se foi por alturas da passagem pela recta do Cabo, se um pouco mais à frente, o certo é que ele tomou o comando do imenso grupo e foram poucos os que ousaram (sequer!) partilhá-lo. Foi assim até Montemor! E mesmo depois, só rendido ao cansaço e à dureza dos ataques sucessivos, se viu forçado a baixar a guarda. Até então, rendê-lo foi impossível; ir simplesmente ao seu lado era demasiado castigador! Opção mais coerente: deixá-lo na sua tarefa hercúlea e continuar a rolar, na sua roda, a mais de 40 km/h na planície. Não será exagero considerar que a média final, superior a 39 km/h em 135 km, podia ter sido ele a estabelecê-la… em contra-relógio individual!

Mas houve quem não estivesse pelos ajustes. Quem? O João Aldeano, pois claro!, presença destacada na edição de 2011. Antes do Infantado, lança um ataque e ganha cerca de 200 metros. Mas só: o Renato não lhe permitiu mais liberdade. Houve quem discordasse, que devia tê-lo deixado ganhar terreno, criar a ilusão da fuga para o desgastar. Afinal, era um dos homens fortes, dos mais «perigosos». Não foi isso que aconteceu. Nem mesmo quando o Duarte (com as cores Pina Bike – dá para repetir!?) se juntou a ele, saltando bem nas barbas do pelotão. Não era para todos. Coisas de Masters…

Durante cerca de 5 quilómetros, o duo não teve mais de 300 metros de avanço do pelotão, sempre à vista (e como isso é importante para quem persegue...). O Renato foi tendo ajuda, principalmente do Hugo (Carb Boom), mas pertenceu-lhe sempre as maiores despesas. Até que a fuga foi anulada... coincidindo com a grande queda da jornada que envolveu meia dúzia de ciclistas, numa rotunda escorregadia, felizmente sem consequências graves. Apesar de algumas escoriações, todos os acidentados puderam retomar.

Montemor

Pelotão novamente compacto e a impressão geral que não havia possibilidades de escapar enquanto o Renato tivesse força (aquela toda...). Foi assim, mesmo depois de Pegões e a entrada em terreno mais ondulado (o vento favorável também foi seu bom aliado), prosseguindo até à famigerada subida de Montemor – por que todos esperavam...

Andamento rijo imposto pelo Aldeano e pelo Renato, mas suficientemente acessível aos mais fortes. Muitos! Creio que havia «espaço» para experimentar ataques, mas ninguém tomou a iniciativa. Certamente, estaria condenada ao malogro. O «Mata a Velha» ainda passou no alto com cerca de cinco metros de vantagem, sem grande esforço para o próprio e com total permissão do pelotão. Não seria ali, a 30 km de Évora, que as principais figuras iriam jogar os seus trunfos.

Mas também não foi muito mais adiante... Num dos topos à saída da cidade o Aldeano arranca, forte, decidido a fazer estragos. Quiçá a provocar um corte decisivo no grupo. Quebrava-se, finalmente, a ordem imposta pelo Renato, que partir daí sentiu muito mais dificuldades para manter o controlo das operações (entenda-se, a impor o ritmo). E não foi por não ter tentado… O protagonismo que exacerbou durante 100 km faltou-lhe nos derradeiros e decisivos 30. Com toda a naturalidade. Não é um reparo, muito menos crítica, apenas o desejo de saber se aquela força colossal, que parece inesgotável, teria capacidade de «triturar» a concorrência. Noutro tipo de terreno, estou convencido que sim. Talvez, já numa próxima Clássica…

Voltando à estrada: respondi, de pronto, à iniciativa do Aldeano e cheguei à sua roda nalgumas centenas de metros a grande intensidade. Uff… Mas, tal como eu, chegou a reboque todo o pelotão – ou o que já dele restava... Com isso, o Master abdicou, mas não voltou ao conforto do grupo, estava empenhado em desgastar, desgastar... e meteu o ponteiro muito acima dos 40, por vezes, 50... e tal! O Tiago Silva e o seu compadre Dario cooperaram. O primeiro estava a confirmar excelente prestação na segunda parte do percurso e o Dario o seu muito momento de forma.

E eis que, num dos topos mais extensos, houve uma movimentação estranha, casual, que deixou à frente do pelotão uma mancha amarela e negra: os Duros (Hélder e Francisco) e os Ciclomix (Hugo Arraiolos e Feijão). A situação foi bem aproveitada por ambas as formações, que lançaram pouco depois ataque forte, por intermédio do Hélder e do Feijão. Ao que o Francisco procurou juntar-se, com muito esforço e em vão (refira-se que estes dois Duros estiveram mais discretos que na Clássica de Santarém, pelos vistos porque iriam regressar a Loures de… bicicleta, mas acima de tudo pelo «factor» Renato-Aldeano).

Esta iniciativa também foi sol de pouca dura. Eu voltei a assumir as despesas à frente do pelotão, agora levando o Freitas na minha roda. A partir desta altura não podia haver descuidos, nem espaço aos mais fortes. De qualquer modo, quem fechou os últimos metros foi o Tiago Silva, igualmente a rebocar uma coluna que se formara atrás de si.

Até final, foi só… guiar, nada mais havia a fazer para tentar escapar ao grande grupo lançado a velocidade «pornográfica». A média entre Montemor e Évora foi de 43,2 km/h!, para um registo total de 39,4 km/h. Digno de provas de elite.

Na aproximação à chegada, o sprint foi antecipado – ainda a cerca de 500/600 metros do final, motivado pela necessidade de resposta a uma última cartada do Aldeano, sorrateiro junto à berma. Ganhou preciosos 10/15 metros sobre a cabeça do pelotão e parecia conseguir resistir à perseguição.

Disse quem o conhece das lides da competição, que é uma movimentação habitual do João que, por vezes, surpreende toda a gente, obrigando a um sprint menos clássico. Como neste caso, que quase resultava não fosse o derradeiro golpe de força do Freitas, explosivo e muito mais defendido ao longo de toda a jornada, e lançado a grande velocidade pelo seus «co-equipiers», com destaque para o Rui Torpes. São assim os finalizadores natos.

ATENÇÃO: No próximo domingo, Clássica de Santa Cruz (espectacular em 2010!!).

Partida de Loures: 8h00

Mais informações nos próximos dias

11 comentários:

Anónimo disse...

Boas,
Quem esteve presente sabe que o mérito da média estabelecida coube a três homens e não a apenas um. O grupo foi rebocado pelo Renato, Tiago e Aldeano, a crónica dá ideia ter sido apenas um o que está longe de corresponder á verdade. Por exemplo, a aproximação a Montemor e a subida a esta localidade foi toda efectuada por outro que não o Renato, as fotos dos Duros revelam outro na perseguição ao fugitivo, enfim... o seu a seu dono.
Abraço

Francisco disse...

Boa noite Ricardo,

Desde já desculpem ter ido na roda quase todo o percurso, mas como tinha de voltar a pedalar e para acabar, subir o "nosso" Montemor não podia me por em aventuras, como gosto de fazer, a puxar na frente.

Só um reparo, o Duro do Pedal que chamas "Hélder" é "Esteves".

Um grande obrigado pela vossa companhia até Evora, que espero que seja compartinhada por muitas outras vezes.

Quanto à vossa clássica de Santa Cruz não vai dar para participar pois vou fazer a Ultra Maratona de Serpa em BTT.

Um grande abraço,

Francisco Gonçalves

Anónimo disse...

Foi pena não ver os Pina Bike na frente, pois sendo uma clássica deles, só lhes ficava bem...

Anónimo disse...

Boa noite,
Pois eu acho que a parte mais importante deste domingo foi o almoço. Considero que o convívio é a parte mais importante destes tipo de eventos, logo o almoço deveria ser relatado. Por isso cá vai, adorei as entradas (belos queijos, sopa (com beldroegas) estava divinal, a carninha uma delicia, o tinto então nem se fala. Passou-se um belo momento de alegre cavaqueira entre todos os que alinharam neste dia de a dar ao pedal promovido pelo grupo Pina Bike, no regresso os efeitos do tinto fizeram-se sentir com as pestanas a querer fechar…

Boas pedaladas, sem stress...

Ricardo BH disse...

Ñ ter a camisola vestida ñ quer dizer que ñ o seja Pina Bike!Podiamos ter mais lá frente? Podiamos sim, mas O trabalho de equipa assim ñ o permitiu.Comentário de anónimo que ñ sabe?

Paulo Rosa disse...

Boa cronica do evento os meus parabéns a todos e um abraço ao Pina.

Anónimo disse...

Boas
Não esquecer que a queda foi praticamente toda da equipa do
Pina bike isso condicionou muito. Resposta ao comentário do
SRº anónimo .

Alex silva

DUROS DO PEDAL disse...

Boas!!!
Parabéns a todos os participantes na clássica.
O mais importante foi o divertimento e toda aquela moldura Humana que decorou aqueles asfaltos.
Cada um fez a prova que lhe convinha.
Só puxa quem quer e certamente receberá os ``louros´´ nos comentários.
Estes para mim são Heróis.
Abraço a todos.
TO MONTEIRO
(DUROS DO PEDAL)

Anónimo disse...

Não puxa quem quer, puxa quem pode!
E este evento não creio que fosse uma prova, se pensam assim tenho pena, provas estão sob alçada da FPC e sujeitas a regras e policiamento.
Quanto á queda condicionar, deve ser para rir não? Antes da queda quem ditava leis eram exactamente os mesmos que as ditaram depois, o grupo esperou pelos que caíram.
Disfrutem estes eventos como convívios e não como competição!
MG

Anónimo disse...

Para além da clássica Pinabike, domingo vamos ter a mítica clássica Paris-Roubaix a não perder.

Duarte Salvaterra disse...

ao (anonimo) ke disse, passo a citar:Foi pena não ver os Pina Bike na frente, pois sendo uma clássica deles, só lhes ficava bem...

3 de Abril de 2011 21:37

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