sábado, maio 03, 2014

Crónica do Évora Granfondo Challenge


Segue-se a crónica do Évora Granfondo Challenge, através do meu por vezes turvo olhar...

Procedimento prévio: intromissão «à cara podre» no aglomerado de concorrentes na formação de partida, para ficar o mais próximo possível dos primeiros! Má ação? Admito, mas, agora, analisando friamente a prova, garanto que foi providencial para o meu desempenho, salvaguardando-me de uma recolocação durante os quilómetros iniciais que seria muitíssimo desgastante, tanto mais que é um dos meus piores dramas nestes eventos. E ainda mais neste, em que seria especialmente agravado pela velocidade vertiginosa com que se percorreram os primeiros quilómetros – incluindo os que supostamente foram neutralizados dentro da cidade. A prova cabal do que me refiro foi a dificuldade de outros (relatada pelos próprios) que partiram mais recuados, e que muito melhor do que eu se sabem colocar (o Jony ou Freitas). De resto, o que dizer mais quando os primeiros 50 km foram feitos à média de 45 km/h? Ainda que beneficiando do vento estar a favor – na única parte do percurso em que esteve...

De qualquer modo, até Monsaraz, ao início da curta mas picante subida (1,8 km a 7%), embora tivesse integrado sempre o grande pelotão principal, nunca estive onde gostaria de estar, obrigando-me a suportar algumas mudanças de ritmo (esticões...) habituais na parte mais recuada, que me mantiveram a pulsação elevada (média de 157) ainda assim mais baixa do que a quase «hard core», no Granfondo do Gerês-2013, até à primeira subida (165). Mas, reforço, não foi tão mau como eu temia. Mais: tenho de admitir que, para a minha «nabice»/falta de capacidade, até foi... bom!

No entanto, entrei na primeira subida muito para trás. E na parte em que esta fica mais inclinada, quando os homens da frente começaram a mexer-se, bumba: no elástico! Para ser sincero, nem sequer me recordo bem quando e onde me encontrei! Para avivar a memória, pensei em «descobrir-me» nas fotos oficiais da prova. Vejo e revejo cada «frame» e identifico quase todas as caras conhecidas, mas, de mim, nem a sombra. Com’é?! Onde é que eu parava? Da subida lembrava-me apenas do essencial: que, na fase final, após ter forçado para recuperar, fico com o Jony em ponto de mira e esforcei-me por caçar-lhe a roda antes de começar a descida, pois sabia que seria uma ajuda fundamental nesse terreno – o que consegui, embora à custa de 180 ppm médias! Bom, quanto às fotos, lá me descobri, quase totalmente tapado na imagem, num grupo onde estava o Paulo Pais e o Tiago Martins. Para a frente, todas as minhas referências no pelotão: Rui Torpes, Ricardo Gonçalves, Carlos Cunha, Pedro Capela, Duarte Azenha, Nuno Mendes e o referido Jony.

Como calculei, na roda deste último (creio que nem se apercebeu), picamos vertiginosamente pela curta descida, entrando sem dificuldade no grupo principal, que, aliás, tinha «parado». E assim se manteve, ao ponto de a maioria dos elementos que o integravam no início da subida terem voltado a entrar. Nessa altura também fiquei com a noção que, mesmo efetuando uma subida atabalhoada, no final da descida estava entre os primeiros 20-30. Bom indicador.

No entanto, bastaram três quilómetros de acalmia (a cerca de 30 km/h) para o grupo voltar a engrossar e assim manteve até à Serra da Ossa, a segunda dificuldade da jornada, num longo «passeio», ou quase, interrompido por duas passagens em falsos planos ascendentes, ou pouco mais do que isso, o primeiro ao km 60 (1,3 km a 3%), sem exigir muito anaeróbio (173); e o segundo ao km 70, um pouco mais longo, duro (1,8 km a 4%) e atacado (178), que deve ter «vitimado» alguns que estavam, nesta altura, mais curtos de forças.

Então, quase aos 100 km, a famigerada Serra da Ossa, que, no fundo, é uma subida em duas (ou vice-versa...). A primeira fase, mais suave (2 km a 2,5%), que se passou estranhamente devagar (mas desconfiadamente também...); e a segunda, então já com inclinações de... serra (7%), embora com a mesma curta distância da primeira (2 km). Aqui, sim, os «tubarões» (Gamito, José Silva) imprimiram um andamento voraz à cabeça do grupo, deixando a maioria em dificuldades. Agora, felizmente, estava muito melhor colocado, o que me permitiu gerir o esforço no controlo das rodas-referência: desde logo, Cunha, Capela, Gonçalves e Duarte. O Torpes estava mais fora do alcance, integrado nos primeiros. À média de 182 de pulso, agarrei-me ao grupo certo até ao final da subida (que desconhecia totalmente) e não foi necessário muito da descida para que alcançássemos o que estava imediatamente à frente e, juntos, não demorou nada a apanhar os primeiros. Fizemo-lo muito antes de terminar a descida (de 6 km).

Então, sucedeu o mesmo que em Monsaraz: «paragem» no grupo principal, que já se encontrava reduzido a não mais de 20-25 unidades. De tal modo que, num topo que não distava mais de 2 km depois da descida, voltou a entrar o grosso da coluna, de uns 60 elementos. E que se manteve agrupado até Évora, apesar de mais uma subida ou topo mais exigentes (o mais, em Évoramonte, aos 130 km, com 2 km a 4,6%) que me fizeram disparar o pulso (neste, média de 178). Na aproximação à cidade, as figuras e as respetivas equipas começaram a preparar a chegada, anulando quaisquer tentativas de fuga, num terreno muito acidentado (ondulado), o que também fez crescer a tensão e risco de queda. Pouco ou nada sucedeu de anormal, excetuando um ciclista que embateu de frente num veículo estacionado, felizmente sem gravidade.

Assim, na subida final, em piso empedrado, curta mas íngreme, libertaram-se as feras – como quem diz, os mais interessados na melhor classificação. Apesar de me incluir nestes (embora não sendo... fera! (brinco), devido ao perigo de queda e o piso não ser ao meu jeito, «desliguei» à entrada da muralha, cumprindo o quilómetro que restava com o conforto... possível.

Em resumo, outra fantástica experiência em provas de Granfondo, que felizmente estão para durar em Portugal, graças a organizações competentes que promovem adesões até ao limite das inscrições. Apesar de considerar este tipo de percurso tão plano gerador de uma certa monotonia (para mim, uma vez com capacidade para integrar o grupo principal, mesmo após as subidas mais seletivas, que foram oásis de emoção naquela imensa planície, e sem capacidade de ser me assomar à frente, o meu desempenho limitou-se a prevenir quedas e outros percalços). Venha o Gerês!                      

1 comentário:

Pedro Fernandes disse...

Parabéns pela crónica
Sim quem descolou logo na queda na ponte sofreu para recolar e quem não mais entrou no grupo dos 60 da frente e optou por grupos intermédios continuaram a sofrer por recolar e manter-se em grupos intermédios, aahhhh.
Está tudo muito forte é geral pelo país, estes objetivos de GrandFondos já é um “habitual” na Europa finalmente os portugueses aderiram em força.
Quanto ao Grandfondo não esquecer da novidade 2014 Serra da Estrela dia 19 de Julho.
Boas pedaladas, não esquecer para reduzir peso à bike nada mais fácil --- fechar a boca, experimentem vão ver que poupam também na carteira, aahhhh
Pedro Fernandes (Carregado)

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