segunda-feira, outubro 08, 2007

Bons momentos na Carnota

Alguém acreditava que a volta de domingo, para a Carnota, serviria para «limpar o ácido» das jornadas exigentes do feriado de sexta-feira? Logo nas primeiras rampas do Sobral, o Freitas meteu passo acima do moderado, forçando os restantes a optarem entre (tentar) seguir ou abdicar para um andamento mais higiénico.
O Grande Abel, um dos heróis da Ericeira, foi no engodo da sua habitual abnegação e rapidamente pagou a factura. O Jony fez-lhe companhia e ajudou-o a recolocar-se quando o pelotão decidiu esperar. Mas o comedimento foi «sol de pouca dura». O Freitas voltou a carregar nos pedais e, nessa altura, fez-se a selecção definitiva. Seguiram-no o Salvador, o Fantasma e eu. As despesas foram da sua exclusividade até ao alto, e no ferro-velho de Arranho o grupo perdeu o primeiro elemento: o Fantasma, cujo esforço de dois dias antes pesou na sua condição física durante a volta.
Com o aproximar do cume do Alqueidão, o Freitas castigou mais ainda. Eu, como o Salvador, largámos pouco antes do «descanso» do cruzamento de A-dos-Arcos. Ele definitivamente e eu, por instantes, com a intenção de manter a distância para não sacrificar os músculos, tentando depois recuperar na rampa final. Consegui só o primeiro objectivo – porque o homem da frente não estava para dar tréguas! E deu a primeira prova do dia da sua excelente forma.
A descida do Sobral para Arruda foi rápida, como habitualmente, motivado pelo perfil do traçado. A suave inclinação e os vários relevos dão «ganas» de acelerar o comboio. Quem o fez primeiro, fá-lo quase sempre bem! E quem? O Grande Abel, pois claro! Depois foi rendido, acabando o Jony por meter velocidade de cruzeiro elevada até Arruda.
Daí para os Cadafais, não houve grande história. O grupo ainda chegou a partir-se na descida, com o Fantasma a liderar na dianteira, mas lá de trás os mais fortes não demoraram a fechar o espaço. Não me apetecia nada e fui o último a juntar-me!
Nos Cadafais, o Jony deixou-nos, seguindo para o Carregado. O Fantasma só resistiu à tentação de fazer precisamente o mesmo, porque não pôde defraudar a voz do «exemplo»: do Grande Abel. De qualquer modo, ambos (e também o Luís) subiram a ritmo bastante moderado.
No início da Carnota, procurei meter um passo confortável, mas o Freitas estava com ideias fixas. Rapidamente saltou para patamares de intensidade altos. Eu e o Salvador aceitámos o repto e fomos até aguentar. Não muito mais além! O ritmo não era fácil e, às tantas, o Salvador deu-me sinal, oferecendo-me a roda do Freitas, que preferi rejeitar, preferindo dar-lhe algum espaço naquela fase. Foi um erro, para quem teria a ideia de repetir a «estratégia» do Sobral: subir ao meu ritmo, deixando-o entregue a si próprio, e depois na fase mais inclinada da subida (últimos 3 km, após Santana), tentar fechar a distância. Impossível para mim! Até lá, rolou-se, em perseguição, a alta velocidade, mas sem que o líder cedesse um metro sequer. Na minha roda, muito bem o Salvador. Pena que não pudesse ajudar-me. Mas já fez muito, acredite-se!
Quando entrou a subida propriamente dita estávamos, à custa de muito esforço, a cerca de 10/15 segundos do Freitas. Distância recuperável se, à frente, houvesse uma quebra, mesmo que ligeira. Só que não houve! Pelo contrário, a distância aumentou paulatinamente e no alto foi quase o... dobro. Excelente forma a do Freitas! Arrisco mesmo dizer que está no ponto mais alto de toda a temporada – incluindo a altura da Etapa do Tour. E estamos em Outubro!
O Salvador largou a minha roda apenas no último 1 km da subida, e aguentou com grande mérito, demonstrando também estar numa das suas melhores fases da época.
A partir daqui, moderou-se muito mais a força de pedalada. Mesmo com nova passagem pelo Alqueidão, não houve mais movimentações hostis. E o sprint para o alto só aconteceu porque o Salvador «picou» o Freitas na subida, que não quis dar o flanco depois de dizer que ficaria com o Abel. O sprint correu-me bem e fiquei com a improvável sensação que poderia ter dado luta séria ao Freitas se tivesse conseguido meter a pedaleira grande durante a aceleração. Sprintei em 36x12!
Mas a confirmação veio pouco depois, à chegada a Bucelas, depois de uma descida fantástica, com toda a gente a passar pela frente. Só que, de forma pouco habitual nele, o Freitas ficou na frente à saída da Bemposta. Por um instante, tive o impulso de antecipar a aceleração, quando o ritmo baixou, mas ele estava muito atento e respondeu de imediato. Entretanto, aliviei (embora ainda nem sequer tivesse embalado) mas ele decidiu arrancar ainda antes da última curva. O Fantasma agarrou-lhe a roda e eu a dele. Nos últimos 200 metros, senti que estava em condições de discutir o sprint e ainda tive de adiar a aceleração porque houve algumas mudanças de trajectória. Com o sprint lançado a 55 km/h, fiquei lado a lado com o Freitas e adiantei-me no final ao conseguir aguentar um pouco mais o esforço, dando por mim numa posição muito pouco ortodoxa em cima da bicicleta – «quase» sentado no guiador!
Compreensivelmente, rejubilei com o feito! Perdoem-me os meus companheiros pela comemoração efusiva, mas a sensação foi óptima. Como deverá ser, quando conseguimos superar-nos... e aos colegas – para mais em «especialidades» em que não somos tão fortes.
Por tudo isso, incluindo os bons momentos de ciclismo no Sobral e Carnota, foi uma volta muito interessante...

1 comentário:

Ricardo Costa disse...

Hoje de manhã, vagueando pela variante de Vialonga, cruzei-me com o Sr. Zé e o Carlos do Barro. Aproveitando oportuna companhia em saída de recuperação activa, dei a volta e juntei-me aos dois, em amena cavaqueira, a caminho de Alverca e daí para Arruda, onde fiz inversão de marcha de regresso a casa. Ambos seguiram para o Sobral e Alqueidão.
Assim se passou uma horinha de treino quase sem dar por isso, mesmo a calhar para o objectivo do treino de hoje.
De qualquer modo, foi curioso aperceber-me do receio do Sr. Zé com a minha presença persistente. Não passavam mais de 5 minutos que não desse a entender que o seu ritmo era baixo, que me recomendasse a ficar por ali, na variante; porque era o melhor terreno para rolar, descomprimir; que eles iam subir devagarinho, etc, etc..
Eu fiz-me de despercebido, por respeito, mas só a meio da subida de A-dos-Melros começou a acreditar que eu estava ali para andar devagar, quase sempre esforço. Mais: que eu também era capaz de ANDAR DEVAGAR!(Curiosamente, enquanto isso, o Carlos aproveitava para fazer umas séries!)
Às tantas, o bom do Sr. Zé, desabafou finalmente: «Isto é uma ocasião rara, em que consigo andar com o Ricardo. Só quando ele vem para limpar o ácido...»
Daí partiu-se para uma esclarecedora troca de opiniões sobre os pressupostos de algumas saídas de conjunto a meio da semana em relação às voltas de domingo. E deu para entender a que ponto algumas pessoas estão «escaldadas» com alguns desses treinos...
Por isso, o «pavor» do Sr. Zé quando me viu!
Convenhamos que, ao decidir, juntar-me ao duo, jamais me passaria pela cabeça desrespeitar o tipo de saída e as condições físicas dos demais. Noutra ocasião, se a componente do meu treino fosse específica, teria ficado pelo cumprimento e então seguido viagem.

Respeituosa homenagem ao principal visado neste comentário, o Sr. Zé!

Abraço