Comparado com a longa planura da Clássica de Évora, ainda bem presente na memória colectiva, o percurso de 80 km do Gradil pareceu de alta montanha em versão compacta. Tratou-se, enfim, do regresso ao terreno acidentado e às subidas, tão aguardado por trepadores e outros tais, impondo as primeiras dificuldades aos puros roladores.
A subida para o Forte de Alqueidão, pela sua suavidade, não costuma vincar grandes diferenças, mas quando a nortada é forte, como neste domingo, a boa condição física e também o peso dos músculos assumem especial preponderância sobre os mais debilitados. Foram esses argumentos que o quarteto que se manteve compacto até ao sprint final utilizou para fazer face ao vento contrário sem penalizar o andamento, que nunca foi baixo desde a Bemposta. As despesas maiores fi-las eu, a espaços ajudado pelo Nuno Garcia, que acelerou muito bem nos últimos metros, ainda que contando com a resposta eficaz do Salvador.
Logo atrás, cheguei eu e o Freitas, este a permanecer no abrigo durante toda a subida mas a abdicar da sua maior arma nestas ocasiões: o sprint. Seguiram-se o Polícia – de regresso às lides domingueiras depois do reaparecimento em Évora após longa ausência –, o Zé Morais e o Filipe. Surpreendentemente, só muito mais tarde surgiu o Capitão com o pequeno-almoço às voltas, pouco adiantado ao Grande Abel, em aconselhável gestão de esforço.
Depois de descer para o Sobral e daí para a Feliteira, sempre com precaução devido ao piso ainda molhado das borrascas matinais, já a caminho de Pêro Negro o Freitas saiu da sombra e decidiu meter andamento à seria. Primeiro progressivamente, ganhando alguns metros ao grupo – entretanto «fechados» pelo Garcia – e depois, com bastante mais peso nos crenques, a levar o velocímetro a oscilar entre 35 e 40 km/h até Pêro Negro. Neste caso, foi demonstração de boa forma. Para mim, em particular, ainda com o «ácido» do Alqueidão nas pernas, nalgumas partes cheguei sentir algum...desconforto.
Em Pêro Negro, descansou-se por instantes, disso se aproveitando o Capitão para iniciar a fuga do dia, à qual se juntou o Salvador, ainda antes de Enxara dos Cavaleiros. Cedo se verificou que a aventura era para durar. O pelotão manteve-se na expectativa, mas preferi não relaxar... demasiado. Daí o mérito dos fugitivos na conquista árdua de vantagem, que não demorou a passar de 30 segundos para cerca de 1 minuto já depois da Tourinha – distância com que entraram na dupla ascensão do Gradil (2+3 km). Ainda assim, desde logo pelos meus cálculos, curta para vingar até ao alto da Murgueira. Para mais, enquanto o trio perseguidor iniciava a verdadeira «caçada», liderado pelo Freitas (eu e o Nuno Garcia presentes), na frente a dupla cedo se desfazia, com o Capitão a não aguentar o ritmo do seu companheiro.
No últimos 500 metros da primeira subida, quando substitui o Freitas no comando da perseguição, o Capitão já estava à vista. E após a rápida descida e ainda antes da subida final, viu o trio passar... directo. O Salvador não seguia muito adiante (cerca de 200 metros) mas resistiu estoicamente até ao gancho, à entrada do segundo km da subida, também não resistindo ao andamento do trio, que só se desfez na parte final, primeiro quando acelerei, e depois, na última recta, quando o Freitas sprintou, sem oposição.
Apesar de não ter conseguido o seu objectivo, o Salvador merece elogio pelo esforço desenvolvido em solitário e a óptima subida, mesmo depois de ser ultrapassado, chegando ao Prémio de Montanha da Murgueira pouco depois do Nuno. Ao invés, o Capitão vinha a fazer cócegas aos pedais subida acima, muito diferente do Polícia e do Zé Morais, cujo ritmo de pedalada era sinónimo de (algum) à-vontade.
Os momentos de intensidade não pararam por aí. Como é habitual, a «picante» rampa para a rotunda da Abrunheira e a aproximação à Malveira provocaram forte ardor. Aproveitei-os para continuar a impor ritmo forte, mesmo começando a sentir o acumular da fadiga, numa altura em que já contabilizava mais de 100 km – num total de 142 km ou 5h15.
Nem por isso, o meu regresso a casa foi descansado. Na companhia do «fresquinho» Carlos do Barro, que se juntou ao grupo já na Malveira, com apenas 1h00 de selim, tive de puxar (e bem!) por mim nas subidas para não lhe perder a roda, e não o evitando nas partes finais de Lousa a alto de Montachique, e mais tarde, do Cabeço da Rosa. Apesar da diferença abismal de energia dispendida por ambos naquela altura, devo destacar as boas indicações que deixou, principalmente, muito bom ritmo de pedalada em subida – não fosse ele um assumido trepador!
No grupo que seguiu para Loures, não faltou ainda a tradicional escaramuça do topo de Guerreiros (de Ponte de Lousa).
Nota: no próximo domingo, dia 16, realiza-se a Clássica de Santarém, com mais de 150 km, e cujo percurso é inverso ao habitual: a ida será pelo Porto Alto e Benavente; e o regresso pelo Cartaxo e Azambuja. No decurso desta semana serão fornecidas outras informações sobre a tirada, que promete ser interessante e um óptimo teste de longa distância, quiçá a pensar em Fátima (que este ano também terá percurso inédito, mais longo e exigente). Entretanto, fica desde já estabelecida a hora de partida das bombas da BP, em Loures: 8h00.
4 comentários:
Algumas indicações sobre a Clássica de Santárem, do próximo domingo.
Hora de concentração nas bombas da BP de Loures: 7h45
Hora de partida (em direcção ao Tojal): 8h00
Percurso: em Vila Franca seguir em direcção ao Porto Alto e Benavente. Após Santarém, em direcção ao Vale de Santarém e Cartaxo.
Sugere-se, desde já, que seja respeitada uma neutralização em Santarém para reagrupamento. Aliás, como sempre sucedeu em edições anteriores desta volta, uma vez que coincide com a inversão de marcha de regresso e praticamente com a metade do percurso, além de ser precedido pela subida de entrada na cidade, que poderá causar diferenças entre o pelotão.
A partir de Santarém, como até aí chegar, o andamento é livre!
Bons treinos
Esclarecimento sobre neutrlização em Santarém:
Devido às caraterísticas do percurso e do próprio evento em si, se à chegada a Santarém se registar uma fuga duradoura (iniciada há vários quilómetros e consolidada), o(s) seu(s) elemento(s) não estão «forçados» a respeitar a habitual neutralização, que se sugere, para reagrupamento no centro da cidade (após a subida)- essa tarefa deve ser da responsabilidade do pelotão perseguidor, que deve saber atenuar eventuais diferenças no seu seio.
Bom desempenho para todos
Que palhaçada...passeios de "cicloturistas" que dizem que não são "cicloturistas", com regras de andamentos, com relatos tendenciosos como na ultima tirada de Evora, onde se relata a luta entre duas formações que não existem, pelo menos do lado de uma das pseudo equipas não ouve trabalho de grupo algum! Querem corridas? A epoca de estrada já começou!!!!!!
Quem quiser ter uma noção do que se passou na cauda do pelotão na Clássica de Évora, onde “brilharam” os “aguadeiros”, pode ver aqui: http://opintainho.blogspot.com/2008/03/vora-que-miragem-ou-o-estoiro-do.html
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