terça-feira, dezembro 09, 2008

Dupla jornada: tempestade e... Ota!

A dupla jornada de fim-de-semana prolongado marcou mesmo o início da minha pré-temporada, embora custando uma homérica molha no domingo. Foram treinos consecutivos, desde sexta-feira, nunca abaixo das 3 horas e com trabalho específico adequado à «reentré».
A volta de domingo, com o grupo, tornou-se complicada devido a condições climatéricas bastante adversas. Chuva incessante, neblina e, acima de tudo, vento forte a acentuarem o grau de esforço num percurso interessante, com cerca de 110 km, com bastante sobe e desce, pelo Sobral, Arruda, Alenquer e regresso novamente pelo Sobral.
A manhã começou logo aziaga. Saí de casa já fora de tempo para nem sequer conseguir interceptar o grupo no Tojal e, por isso, vi-me na contingência de atalhar pelo Cabeço da Rosa. Subida rude, logo a frio! Frio não sentia e valia o tempo estar seco. Ainda... pois mais do que o choque muscular madrugador foi a visão, do lado de lá da serrania, de um autêntico tempo de cão! A intempérie tinha-se abatido sobre o vale de Bucelas e o negrume do céu deixava antever uma jornada molhada e sem perspectivas de haver clemência de S. Pedro.
Ainda tive de fazer alguns quilómetros a aguardar o grupo (ou melhor, do trio Salvador, Freitas e Steven, os únicos que saírem de casa por engano), antes de seguirmos pela longa subida do Alqueidão. E como ela é longa e fatigante quando tocada a vento, principalmente nesta altura do ano em que as forças não abundam.... Os resistentes (ou loucos!) naquela manhã invernosa cumpriram o trajecto tendo como adversário só mesmo factores atmosféricos... e o desnível acumulado que, parecendo que não, foi superior 1200 metros – refiro-me a mim, que tive de fazer dupla ascensão ao Cabeço da Rosa, no início e no final da volta.
O pior estava reservado mesmo para o final, no regresso pela descida do Alqueidão, onde se abateu uma copiosa tempestade, de vento e chuva, daquelas à moda antiga em que não se avança e o batimento cardíaco só sobe ao abordar as curvas com o credo na boca.

No dia seguinte, segunda-feira, feriado, o tempo melhorou significativamente, mas mazelas do dia anterior perduravam no coiro. Com a volta da Ota no programa, perspectivam-se menos subidas, mas mais pedal... e velocidades tradicionalmente elevadas. Desta vez, não foram tanto como se esperava, contando com a presença do Renato Hernandez, cujo andamento triturador não escolhe épocas. Ainda assim, logo nos primeiros quilómetros da Variante de Vialonga ameaçou causar «baixas» no pelotão – mesmo que imprevistas, como a do Freitas, que chegou a desmobilizar ao não ver correspondidos os anseios por um andamento mais conforme às suas pretensões. Talvez não apenas dele, quiçá da maioria em que me incluo, embora não tivesse na disposição de abdicar de um treino de conjunto. Convenhamos que o ritmo não era desencorajador!
Mal ou bem, o grupo acabou por não perder unidades e embora se acusasse algum desconforto em alterações de ritmo – ora se rolava a 30, era acima dos 40 km/h – manteve-se sempre coeso. Foi excepção o topo de Alenquer, em que se forçou bem passo. Sempre o Renato, com alguns a agarrarem-se bem – o Freitas, Capitão e o «outro» Renato (estreante no grupo, utilizando uma bicicleta-relíquia, Reynolds, com várias décadas: lindíssima!) e outros nem tanto – o Pina só perdeu alguns metros, mas tanto eu como o Salvador «patinámos» e cedemos uns 50 metros. Esperou-se pela descida para reentrarmos.
Pareciam abertas as hostilidades para o incontornável Vale do Brejo, mas, estranhamente (ou talvez não!) nada aconteceu. O andamento imposto, ora pelo Renato, ora pelo Freitas (25,5 km/h de média, para um tempo mais de 1 minuto acima do recorde da subida) foi acessível e passou toda a gente. Ficou a ideia que se resistiu à tentação! Deu-me até para sacar um sprint: o primeiro de 2 ou 3 a que me forcei para o «específico».
De resto, o último foi o clássico: em Vila Franca. Agora com o empenho de todos e a vantagem do mais forte: o Freitas. Além da sua superioridade, previsível, destaco o desempenho do Hernandez naquilo que se assemelhou a um vigoroso lançamento do sprint (seria mesmo assim ou quereria fazer o comboio descarrilar?...). Começou por fazer alterações de ritmo ainda antes da rotunda da AE e depois desta esticou, esticou até... «partir», a cerca de 150 metros do final. Tarefa que não me é estranha, em alturas de «outra» disponibilidade física, que agora, de todo, não tenho!
A capacidade de explosão do Freitas, protegido na roda, não seria possível contrariar e, naturalmente, também eu e o Capitão acabámos por beneficiar do esforço (e foi muito bom) do lançador. Os registos não mentem: foi sprint ao nível do «pico» da temporada. Desde da aceleração, depois da rotunda, o comboio não baixou dos 50 km/h, e ainda houve aumento final de ritmo, a cerca de 250 metros, em que ultrapassou os 55 km/h. A ultrapassagem (principalmente a minha e a do Capitão) ao lançador deu-se mais por «esgotamento» deste nos metros finais do que por «explosão» nossa.
Por tudo isso, logo no local rendi, ao digno lançador, Renato, uma merecida vénia pela convincente performance.A média final da volta rondou os 32 km/h, ajudada pelo regresso a favor do vento (Vale do Brejo-Azambuja 36,5 km/h de média; e daí a Alverca 34 km/h).

Nota: curiosa a coincidência do encontro com outros elementos do grupo (ZT e o sr. Zé, Carlos do Barro e o Samuel) numa das rotundas após a Azambuja. Nem combinado! Foi um momento de frisson, pois, na altura, o nosso trem já vinha acima dos 40 e, como disse o Renato, estava a aquecer. Por isso, a surpresa não deverá ter sido muito animadora para a malta que chegava. Felizmente, o maquinista tirou vapor e assim não houve vítimas...

7 comentários:

Anónimo disse...

Boas Ricardo,

Pelos vistos o pessoal continua a dar-lhe, e ainda bem!
Queria apenas dizer que encontrei o Paulo Pais (eu a subir o gradil em BTT após mais uma incursão à Serra do Socorro e ele a findar um treino de estrada) e queria deixar aqui, a seu pedido, 2 informações:
1) Ele ficou sem o telefone antigo e perdeu os contactos do pessoal. Assim solicita-se aos eventuais interessados que o contactem através de mensagem para que possa recuperar os contactos dos colegas Pinabike.
2) No dia 28/12/2008 vai haver uma concentração de ciclistas na zona da Ota para uma tirada de aproximadamente 70 Km. Se alguém estiver interessado é falar com o Paulo para mais informações.
Segundo informações dele o andamento é livre com a possibilidade de alguns optarem por andamentos calmos de inicio de temporada.
Caso o grupo esteja a pensar em dar lá um salto avisem pois eventualmente eu posso acompanhar. (O Rocha ainda não sabe se pode ir - da maneira que anda de BTT se não estiver tudo com 30 cm de lama não deve sair de casa...)
Abraço
J. Manso

Ricardo Costa disse...

Salvé, camarada Cancellara. Ficam registadas as informações úteis, mas resta saber se a saída organizada pelo pessoal da Ota é de estrada ou BTT.

Abraço e bons treinos

Anónimo disse...

Amigo Ricardo,
Vindo dos lados que vem, a informação, só poderia ser em estrada! A organização não está a cargo do Paulo Pais mas deve ser algo similar ao passeio que ele organizou.
No próximo fim-de-semana por onde é que vai ser a volta?
Eu e o Rocha estamos a pensar em ir ter com o grupo. (Eu, particularmente, estou dividido entre as 2 modalidades, mas depois destas últimas saídas e com os pneus de BTT slicks já ando com vontade de voltar a pedalar certinho...)
Rendo aqui uma justa homenagem ao Rocha que era o homem limpinho do BTT, ao qual só faltava chorar quando via lama, e agora parece um comando altamente treinado pela Farinha! De resto depois de subirmos o Socorro inventou uma súbida cheia de lama só para me ver penar com a bicicleta às costas visto que simplesmente já não consigo ter tracção.
Refiro ainda que o artista anda a treinar cadências certinhas e depois de eu o passar, ainda por cima na vertente que lhe é mais favorável, não resistiu e meteu passo, tardiamente, para me tentar apanhar. Chegou lá em cima com 184 ppm todo furioso mas com um desportivismo a toda a prova.
Em função das condições do terreno conseguimos fazer média de 18,20 Km/h para um total de 72 km sempre a subir e descer com 2 paragens para lavar as bicicletas quando as correntes já ameaçavam partir e os desviadores já nem se viam.
No sábado fizemos 50 km por caminhos escolhidos pelo Rocha e tive vontade de desistir 15 minutos depois de iniciar a volta...
Descobrimos uma rampa com cerca de 25/30% de inclinação (em estrada) que é simplesmente fabulosa. Foi a 1ª vez que encontrei uma súbida em asfalto que mesmo no andamento mais leve inspirasse tanto respeito.
Até breve,
Abraço
J. Manso

Anónimo disse...

Será que essa subida é para os lados da Carvoeira ( Sra do Ó )

Cumps
mgomes

Anónimo disse...

Caro Manuel,
A súbida dá acesso aos geradores eólicos perto do Funchal (entre a Malveira e Stª Eulália do lado Dt.º) A súbida da Sr.ª do Ó (perto da minha casa) digamos que é um doce ao pé desta...
Refira-se que a Sr.ª do Arquitecto (possivelmente referia-se a esta pela proximidade...) também não é pêra doce, ainda para mais sendo em terra batida com alguma gravilha solta.
Quando quiser dar lá um salto diga. Vale bem o esforço!
Cumprimentos,
J. Manso

Anónimo disse...

Ricardo,
Queria perguntar-te o que consideras "trabalho específico adequado à «reentré»."
Abraço,
J. Manso

Ricardo Costa disse...

Quanto a subidas, elas há para todos os gostos, bem sei! O meu vai mais a relação distância/inclinação média, do que para as elevadas percentagens. Digo isto, para subidas asfaltadas, claro!, por das outras conheço poucas e, tenho a noção, que para o nível esforço contribuem outros factores que não só a força nas canetas. Refiro-me à técnica, fundamental no BTT.
Sobre subidas asfaltadas, teria muito gosto em debater, não fosse eu um fervoroso apaixonado das montanhas (por subi-las), e das quais me orgulho de ter vasto portfólio.
Todas são merecedoras de registo: das clássicas subidas da nossa região (Ribas, Mata, Ereira, etc.), passando pela «nossa» montanha (Montejunto), até à maior de Portugal Continental (Estrela). Ou algumas das mais míticas, em França e Espanha.

Já agora, Manso, saber se essa volta da Ota é a «tal» que no ano passado subiu Montejunto pelo Avenal?

Em relação, à tua pergunta sobre trabalho específico de «reentré» refiro-me ao que se deve fazer sobre base (a maior parte do tempo de treino) a intensidade de endurance baixo, privilegiando a rotação (80 a 100 rpm), a que se junta, em saídas separadas, séries de força (4-5x5 min. em subida a 45-50 rpm) ou sprints curtos (ora «puros» ora partindo de uma velocidade mínima com desmultiplicações pesadas) ou períodos (2/3 séries de maior duração, de 30/40 min) com andamentos acima do normal (para o relevo), a 60-70 rpm.
Isto até final do mês. No próximo começarei a introduzir trabalho de VO2 máximo, com séries muito curtas (6-8x30s a 90% da frequência máxima: atenção que esta deve ser a que tiraste no início desta fase e a que alcanças em treino, e não a máxima que sabes que já atingiste!; com 30 s de recuperação). Ao longo de Janeiro e em Fevereiro, essas séries serão cada vez maiores (1 mn até aos 3 min no final de Fevereiro - atenção, não mais longas, porque se pretende várias séries sempre em regime sub-máximo, e a fadiga muscular acumula-se impedindo de continuar atingir a frequência cardíaca recomendada).
A partir de Março, então, começa o trabalho específico de montanha (para desenvolver esta capacidade) e séries longas no limiar anaeróbio (que se deve ser capaz de manter durante muito tempo para aguentar os «poderosos» nas nossas voltas). Nesta fase, sim, a coisa endurece! Não conta apenas ter boa condição física, mas também muito o factor psicológico. Isto quer dizer, por exemplo, subir 5/6 vezes Ribas ou a Mata (a fundo) num treino de 4/5 horas; ou depois ter subido uma primera vez Montejunto pensar em fazê-lo mais 2ou 3 vezes.

Isto pode parecer muito pretensioso, quase profissional, mas acredita ao dizer-te, com total sinceridade, que é o mínimo exigível a um ciclista amador do meu nível e a mesma disponilidade de tempo, para atingir uma boa «performance» na Etapa do Tour ou no Quebraossos.

Mais: é incomparável o rendimento em provas com esse grau elevadíssimo de dificuldade montanhosa entre ciclistas com diferenças de preparação física, como os que cumprem este programa, e os que não - mesmo com nível superior à media do nosso grupo.