Na sequência de discussões, nos últimos tempos, com diversos interlocutores sobre as problemáticas do funcionamento dos grupos, a volta de ontem foi prova cabal da convicção que defendo sobre a imprevisibilidade e a quase impossibilidade de controlo dos factores que influenciam o decurso das tiradas. Tantas vezes causa de acesa polémica, a cada concentração semanal em Loures. Nesta volta de Santo Estevão, em pleno mês de Novembro, ficou demonstrado quão expostas estão as voltas ao (forte...) contributo de «outsiders» no pleno das suas capacidades e cheios de ímpeto.
Sobre este tema, faço ponto prévio: como membro do grupo Pina Bike considero muito positiva a sua abertura ao exterior, que se tem traduzido em inequívoca e crescente «atracção» a novos participantes, menos assíduos e oriundos de vários «quadrantes». Apesar de todas as críticas e má fama que o grupo é alvo. Essa abertura a não residentes deveria ser factor de satisfação, motivação adicional para os «insiders» do grupo (para mim é...), nem que seja pela simples «preferência» que merecemos desses visitantes, alguns, com o tempo, a tornarem-se mais frequentes e até membros de «pleno direito». Em minha opinião, a afluência deve-se a uma razão: a popularidade do nosso grupo, que contra ventos e tempestades não pára de aumentar. E os «insiders» deverão ter como privilégio e dele procurar beneficiar. Tal como os ditos forasteiros, sem dúvida.
Tudo isto, a propósito de ontem ter tido as visitas ilustres do Rui Torpes e do Capela e «sus muchaxos» (camaradas). Creio que ambos dispensam apresentações. O primeiro é um velho conhecido que aparece esporadicamente durante a temporada, marcando sempre a sua presença com simpatia e elevado nível de desempenho. Afinal, é uma «figura» da competição. O segundo, mais recente entre nós, talvez para muitos ainda desconhecido, deixou cartel no início da temporada, com marca preponderante no Roteiro dos Muros, na Super-Trepadores e na Clássica de Évora.
Ambos são excelentes atletas, com estilos diferentes e, pelos vistos, momentos de forma igualmente díspares. O Torpes é mais discreto, sobressai no «momento certo» e actualmente está em início de preparação. Por isso, a sua participação na volta de ontem limitou-se a ser... simpaticamente discreta. Ao invés, o Capela é uma locomotiva, gosta de mandar no pelotão, impor o ritmo (geralmente elevado) e é extremamente duradouro – ao estilo do Renato Hernandez. As suas exibições naquelas três jornadas ficaram na retina de todos, principalmente, em Évora. É assim que se revela quando está em forma (como agora) – ou muito perto dela. Apareceu no domingo a evidenciá-la, marcando indelevelmente o desenrolar da volta para Santo Estevão, num percurso, como se sabe, praticamente plano. Sem picardias ou esticões que pudessem ser hostis, impôs um ritmo elevado (o seu) nas longas rectas da lezírias, elevando a intensidade do esforço de um pelotão que não se surpreendeu. Apenas sofreu...
Ou seja, voltou a haver o tal factor exterior, imprevisível, a influenciar o desenrolar de uma tirada que deveria ter tido intensidade muito mais moderada, em consonância com a época. Repito: não é uma crítica, apenas a constatação de como é dificílimo harmonizar pretensões individuais e colectivas. Ou como ninguém ousará querer que os domingos em grupo sejam treinos «à sua maneira»... Ontem, quem pensaria ou pretendia ter sessão de endurance saiu defraudado. Quem está em fase inicial de preparação com as limitações inerentes, não teve a manhã mais proveitosa. E sofreu...
Principalmente, na fase final do trajecto, desde o Infantado, na Recta do Cabo até Vila Franca, com a agravante do vento forte soprar «de cara», quando o andamento extravasou os limites do recomendável, atingindo os do... suportável. Mas não foi por influência exclusiva do Capela (que fez as despesas da condução do pelotão, a ritmo vivo, durante mais de 80% da volta!), mas também do Carlos Gomes, que continua em excelente momento de forma e não se sabe onde (o patamar) irá parar...
Felizmente (para mim), que a intensidade não foi sempre elevada. De início e até Benavente foi pouco mais que moderada, e só passou a regimes proibitivos a partir dos topos de Santo Estevão, ganhando especial dinâmica, como referido, nos quilómetros que antecederam a recta do Cabo. Aí rolou-se quase sempre acima dos 40 km/h, com auxílio do vento, contudo, quando mudámos de direcção (e de posição face ao vento) rolar a 35 km/h não significou menos dificuldade. Pelo contrário.
Na aproximação a Vila Franca, perante a persistência dos líderes (ainda e quase sempre o Capela e o Gomes) as dificuldades para a maioria dos restantes eram evidentes. Eu rolei durante muito tempo em total desconforto na roda do Capela e quando chegaram as primeiras inclinações, na ponte Marechal Carmona, acentuaram-se as diferenças que já se percebiam em grupo compacto. Depois de tudo, o Capela ainda teve forças para disputar o topo com o Jony – logo com ele, sempre fortíssimo em aceleração, e então mais resguardado.
A partir de Vila Franca, o ritmo foi mais brando e acessível, mas os empenos estavam lá... E havia gente maltratada que ficara para trás. Em final de manhã esforçada, uma calórica Coca-Cola acompanhada de amena cavaqueira com o Jony, numa esplanada de Alverca, foram retemperadores quanto baste. No curto e tranquilo regresso a casa, já quase tinha esquecido as agruras da manhã. Mas hoje, ao levantar-me da cama, as dores de pernas e costas relembraram-me.
P.S. Um abraço ao Capela (muito visado nesta crónica mas sem sombra de crítica, esclareça-se) e ao seu camarada Mota, que há muito não revejo. Os dois (e todos os «muchaxos» da minha terra, que, como se vê, gostam à brava do ferro) são sempre bem-vindos nas iniciativas do nosso grupo e estão desde já convidados para as edições de 2010 do Roteiro dos Muros, Super-Trepadores e das Clássicas (datas a marcar).
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