quarta-feira, janeiro 26, 2011

Crónica de Manique

A cada semana, um «puntito más», como dizem os nossos vizinhos espanhóis quando a palavra de ordem é baixar um carreto para aumentar o andamento! Sem surpresas, enquadra-se perfeitamente no avançar do calendário de voltas domingueiras. A cada semana que passa, o nível sobe um furo mais, correspondendo ao apuro de forma dos participantes e à sua presença em maior número.
Assim foi, no passado domingo, para Manique do Intendente, num percurso com quase 130 km que inclui algumas passagens mais exigentes, e que teve como factores adversos, a baixa temperatura e o vento forte, este a soprar de Norte, de cara na primeira metade do trajecto.
Perante o figurino do trajecto e o cenário meteorológico que se opunha ao esforço dos participantes na volta, seria de supor que o grande pelotão, e em especial, os homens mais fortes com capacidade para elevar o andamento ao grau de selectividade, moderassem os esforços e os ímpetos na fase inicial, quando avançar, acima dos 35 km/h, contra o vento era para todos era uma tarefa castigadora. Deveria aguardar-se, então, pelo longo regresso, em terreno e condições climatéricas mais favoráveis, para meter o ponteiro novamente acima dos 40 km/h em ritmo de cruzeiro, como, de resto, sucedera nas semanas anteriores, com esmagadora participação e sem aparente desgaste para a maioria.
No entanto, tal não veio a suceder. Logo em Alverca acelerou-se bastante, numa cavalgada desenfreada, sem sequer pingo de razoabilidade. O grupo, que era grande, esticou e desde logo se partiu. Para os que ficaram atrás, a recuperação era uma tarefa demasiado dificultosa face ao vento. Por isso, ainda ali, tão cedo, perderam-se peças. Demasiadas...
Como se não bastasse, a correria não teve interrupções até Vila Franca, e aqui, no fatídico empedrado, ainda aumentou para sacrifício de mais alguns elementos e esforço desmedido para todos. Mais uma vez, numa acção sem lógica.
Recorde-se a fase da época e o teor destas primeiras voltas, longas e rolantes, a potenciar a coesão colectiva. Já se viu sinais de inadequada e precoce competitividade.
De qualquer modo, aos que a protagonizam não dirijo a mínima crítica. São livres de o fazer – tal como a sua presença no seio do grupo é sempre bem-vinda. E porque são uma escassa minoria, creio que a responsabilidade maior pertence aos demais, que vão quase sempre ao engodo das rodas, mesmo as mais picantes. Até que as forças durem... Se o andamento é elevado, se há acelerações bruscas ou forcings na frente, se faltam tantos quilómetros para o final, porque não deixá-los ir, organizando, atrás, a perseguição, de uma forma mais ordenada? O verdadeiro espírito de pelotão.
Há um limite (que, pelo vistos, é complicado de se aperceber) entre (querer) andar a alta velocidade, de estar entre os escassos homens da frente (por vezes, apenas um ou dois que abdicam após algumas centenas de metros), e ter precisamente as mesmas sensações, mas partindo de trás, em grupo, de forma mais organizada, cooprante, lúcida, prudente e, ainda, a mais adequada à economia de energias em fases madrugadoras das voltas. Creio que este exemplo serviu para se confundir este tipo de voltas com o que se pretende para as Clássicas – e nestas, desde que sem desmazelo e preservando sempre a segurança, é claro! Não são corridas!
Felizmente, a partir de Alenquer, a toada normalizou, e não foi preciso que o andamento tivesse sido claramente inferior, mas porque o colectivo serenou, também devido aos sinais vermelhos que as baterias começavam a dar com tanto esticão. E também por se estava na iminência do carrossel da Espinheira e de Manique e Maçussa.
A estes factos não terá sido alheio o consentimento da fuga do André e do Capela (este muito mais activo que nas voltas anteriores em que participou) à passagem pelo cruzamento da Abrigada. Também não está descartada a hipótese de as restantes figuras destacadas do pelotão se tivessem relaxado e quando se aperceberam... já era tarde para recuperações, de todo desaconselháveis nas pendentes batidas a vento da Espinheira. Aliás, quem as tentou não teve sucesso.
Nesta passagem, a condução do pelotão esteve entregue ao Freitas e ao Ricardo (BH), que imprimiram um ritmo moderado, sem grande desgaste e com praticamente todos os resistentes do pelotão a suportarem. Não foi suficiente para controlar visualmente a distância para os fugitivos, é certo, mas estes também não estariam fora do alcance – apesar das suas reconhecidas capacidades. A ligação Alcoentre-Manique-Maçussa vislumbrava-se, assim, prometedora – aqui, sim, palco privilegiado para experimentar forças.
Contudo, no pelotão (que restava após a Espinheira) decidiu-se por um impasse para aguardar por alguns elementos retardatários. Retraiu-se o andamento de tal modo que houve quem aproveitasse para satisfazer necessidades fisiológicas. E o próprio reatamento foi muito breve – pelo menos para os que decidiram acompanhar o Freitas na sua paragem no restaurante da rotunda de Alcoentre. Resultado: no já reduzido pelotão, restaram ainda menos...
Acabou por ser em grupos muito restritos que se fez as passagens pelas rampas de Manique e Maçussa, e o restante percurso até final. E tanto nas subidas, como, depois, na extensa ligação plana, imprimiu-se ritmos elevados. Agora sim, em momento apropriado...
Nas vertentes mais íngremes, o Jorge revelou-se o mais forte, mas tanto eu, o Cunha e um pouco mais atrás o Freitas, à força de músculos maiores e mais pesados (não é difícil considerando o pequeno gabarito do Contador de Arcena), pudemos recuperar no falso plano ascendente que restava até ao ponto mais elevado, na rotunda.
Mais tarde, de Cruz do Campo a Azambuja, com relevo e vento favoráveis, a média subiu muitíssimo, como seria previsível. Neste sector, mais de 39 km/h, para subir a 43 km/h de Azambuja ao Carregado (sempre em revezamento) e voltar aos 39 km/h até Vila Franca, onde se disputou mais um clássico sprint lançado, com o Freitas e o Ricardo (BH) em destaque.

No próximo domingo, as características do percurso não se alteram muito, com primazia para a planície, embora, como nesta volta de Manique, já polvilhada com algumas passagens mais exigentes. O trajeto, resumido, passa por Alverca-Vila Franca-Carregado-Azambuja-Cruz do Campo-Pontével-Aveiras de Cima-Vale do Brejo-Ota-Alenquer-Carregado-Alverca-Sacavém-Apelação-Frielas-Loures.

5 comentários:

Gonçalo disse...

muito bem feita a descrição da volta com todos os deyalhes mais importantes
gonçalo

Anónimo disse...

Olá a todos
foi com pesar que constatei que a forma...foi-se. Assim que a malta acelerou, depois de alverca, fiquei logo para trás tendo inclusivamente dificuldade para acompanhar o grupeto onde me inseria, tendo melhorado um pouco do meio para a frente e já me sentindo um pouco mais comodo no final.Pena o frio que se fez sentir e o vento.
Um abraço e até domingo

pedro (kuota)

Anónimo disse...

Temos que arranjas entre todos um carro ou um autocarro
para auxiliar os que ficam para trás com dificuldades .
Estão a ficar cada fez mais pessoal.
O que acham?
Alex.

Pedro Fernandes disse...

Simplesmente Brilhante, Ricardo

Eu sou suspeito, é o meu jornal desportivo, de eleição, ehhh, parabéns Ricardo

Sim, foi mais uma volta entusiasmante.

Para os que se esqueceram::::::: não se esqueçam de levar capacete, não era nada agradável existir uma queda e alguém ficar muito mal por causa da falta de capacete – tinha eu os meus 20 aninhos e faleceu o grande Joaquim Agostinho, eihhh malta, cruzes, cruzes.

Embora doente, vamos lá ver se consigo recuperar até domingo

Pedro Fernandes (Carregado)

Nota: Não esquecer que na vossa declaração de IRS de 2010 há a possibilidade de gerir parte do Orçamento de Estado, escolha uma instituição para que parte do seu IRS entregue ao Estado, seja revertido a favor dessa Instituição. Exemplo: Federação Portuguesa de Ciclismo NIPC = 500110379

Gonçalo disse...

desta vez a malta portou-se bem grande volta.
para os curiosos

http://www.gpsies.com/map.do?fileId=dxdirzidnmdscdfn
gonçalo