terça-feira, fevereiro 01, 2011

Crónica de Pontével

Tal como eu, haverá quem começa a fartar-se rolar tanto, tantas semanas seguidas? Pois é, sou dos que já estão a transbordar de planícies sem fim, longas rectas e de topos que se passam só com a embalagem. Mas também sei bem que aquilo que menos apreciamos, por vezes é o que nos faz melhor!
São benéficas as voltas planas que contribuem para a criação da base, o endurance, em que deverá assentar todo o trabalho específico para a optimização da forma. Onde melhor se controlam as oscilações de pulso, as desmultiplicações e a cadência de pedalada. E não menos importante: onde se permite atenuar as diferenças entre os participantes, nivelando mais as capacidades inatas de cada um e os momentos de forma díspares, fomentando o colectivismo. Promove-se a noção (real) de que estamos todos a fazer a mesma coisa e a (menos verdadeira) de que somos todos capazes de fazer a mesma coisa...
Esses dois conceitos devem ser tidos em conta, neles residindo o fundamento do progresso, da subida de nível que a maioria dos elementos que compõe o pelotão a cada domingo ambiciona. Há que aproveitar tudo o que de bom as voltas domingueiras poderão dar e tentar reduzir, ao mínimo possível, os inevitáveis malefícios das mesmas.
Por vezes, ir na roda é, só por si, proveitoso; noutras, é uma oportunidade perdida. Por vezes, esforçar-se por impor, ou ajudar a impor, um determinado andamento é um excelente exercício, com frutos óptimos a colher; noutras não passa de um desgaste desnecessário e negativo. As voltas, actualmente, são grandes e demoradas, com tempo e locais para fazer opções. O terreno plano é mais versátil, permite-se a todo o tipo de abordagem. Devemos aproveitá-lo, porque, em breve, a chegada dos traçados em sobe e desce irá colocar condicionantes.
Considerando, como exemplo, as clássicas como objectivos, esclareça-se, desde já, que as primeiras, Santarém e Évora, embora quase totalmente planas, serão suficientemente selectivas para se pensar que a resistência ao andamento do pelotão é o suficiente para cumpri-los. Por isso, a exposição ao desgaste nas voltas domingueiras, desde que realizado com «cabeça», depara-se, daqui em diante, uma condição primordial para se poder estar ao nível de exigência que, certamente, imporá a participação nessas jornadas ditas especiais.
A volta do último domingo ofereceu todas essas possibilidades, apesar do seu normal decurso ter sido afectado por sucessão de furos – anormal, mesmos em época em que as estradas estão sujas de detritos arrastados pelas chuvadas incessantes. Foi assim, principalmente na primeira fase: demorarão os pneus, tal como os músculos, a atingir a temperatura ideal de «funcionamento»?
Mas houve longas fases em andamento de endurance e outras em que a intensidade subiu (ou pode ter subido para muitos) a patamares anaeróbios, naturalmente mais curtas. Sectores interessantes foram as ligações entre Azambuja, Pontével, Aveiras, Vale do Brejo e Ota, e daqui até Vila Franca de Xira, noutro tipo de relevo.
No primeiro, tive oportunidade de integrar o trio (com o Jony e o Jorge) que conduziu a bom ritmo o segundo grupo a recolar, em Pontével, ao que se adiantara na sequência de uma paragem devido a (mais) um furo, na Azambuja. Revezamento impecável, empenhamento, elevado desempenho. E que continuou mesmo depois da reintegração, de novo em pelotão, já a caminho de Aveiras, num traçado com relevo mais rendilhado, e só parando quando se acenderam as primeiras luzes vermelhas nalguns elementos mais fragilizados.
Mais tarde, à saída de Aveiras para o Vale do Brejo, o pelotão partiu-se, à força de um grupo de elite que se formou à frente: André, Jony, Carlos Cunha, Capela, Eurico, Pina. Em toada de perseguição, condicionada pelas limitações do estreante Edgar (saudação muito especial pela presença, esforço e espírito de sacrifício), outro grupo liderado pelos «Pinas»: eu, Freitas, Alex e Gonçalo (que absorveu o trio Capitão, Pacheco e Salvador a meio caminho) conseguiu não perder muito tempo para o primeiro, cumprindo o desígnio de não «largar» o camarada Edgar. À saída da Ota, os homens da frente abrandaram e o pelotão voltou a rolar compacto.
Mas não se descansou demasiado. O andamento estava lançado... e da Ota a Vila Franca estabeleceu-se média superior a 40 km/h. A partir do Carregado, o contributo do André foi... super (raramente baixou dos 43-45) e a cavalgada vertiginosa até ao sprint final, onde o Jony impôs a sua lei!
Lá está, ambos a provar, na prática, a tal diferença entre o que todos estamos a fazer e o que só alguns são capazes de fazer...

3 comentários:

Pedro Fernandes disse...

Conversas de Ciclista, ehhhh

A Escolinha de Ciclismo Alexandre Ruas (2ª época) do Grupo Desportivo dos Casais da Marmeleira (perto do Carregado) detém a sua apresentação formal no pavilhão Desportivo da Câmara Municipal de Alenquer, com todas as crianças devidamente equipadas, presença de representantes da FPC, Presidente da CMAlenquer, Atleta Hernâni Broco, entre outros.
No entanto irá deter a sua primeira actuação ao vivo na Nauticampo, através de uma prova de perícia (divulgação da modalidade) com os seus atletas “Benjamins” (até 8 anos) e Iniciados, --- actuação 02/02/2011 entre 18h-19h com gravação de imagens para apresentação/divulgação da modalidade num canal televisivo português.
De referir que alguns destes(as) atletas encontram-se nos 3 primeiros lugares em termos de aproveitamento escolar, boa, ehhhhh.
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Quanto à crónica, tivemos uma reportagem soft, como a indicar que andar no elásticoooooo é tudo fácil e que os músculos não se acusam e os dentes não rangem, ohhhh meu caro Ricardo quem não tem treinos de “PRO” andar nesta correrias tem muito que se lhe diga, quando se dá um esticão e o velocímetro atinge em plano 48km e os músculos “cantam” é doseeeeesese… como diz o grande humorista Hermano José.
Boa semana para todos
Pedro Fernandes (Carregado)

Anónimo disse...

tenho acompanhado este vosso cantinho e como ele é bem escrito ainda puxa mais para lêr os relatos das vossa voltas e quem sabe um dia ainda me junto a voçes.
Um abraço com pedalada

Anónimo disse...

"Quanto à crónica, tivemos uma reportagem soft, como a indicar que andar no elásticoooooo é tudo fácil e que os músculos não se acusam e os dentes não rangem, ".

Carissmo Pedro Canyon,
por esta razão se inventou a famosa expressão "no fio da navalha".

tens de passar a fazer séries com a "corda na garganta"....

Fica bem.


Ass. Carlos Cunha