quarta-feira, fevereiro 08, 2012

A crónica da Volta do Arroz Doce

Ainda bem que o nosso camarada Paulo Pais faz jus ao nome da volta que promove no início de temporada, servindo aos participantes uma deliciosa sobremesa de arroz do doce no final de uma refeição fortemente condimentada, por vezes até indigesta. Refiro-me à toada da jornada saloia, ao seu pesado andamento, principalmente a partir da segunda metade do percurso que liga a Caneira ao Bombarral (ponto de inversão do sentido de marcha), com regresso ao ponto inicial. Ou seja, as hostilidades (no bom sentido do termo) que se seguiram à saída do Bombarral, onde se cumpriu uma paragem para tomar café, e que só contribuiu para estimular para a cavalgada após uma primeira parte do trajecto em que se respeitou escrupulosamente uma velocidade de cruzeiro acessível. A média de 32 km/h em terreno favorável, apesar do vento moderado, demonstra-o.
O que há para contar, e muito, aconteceu após o reatamento. E foi um deleite para quem gosta de praticar ciclismo a um nível mais elevado, que não deprecia e até aproveita o ensejo de integrar um grupo com um punhado de bons desportistas em atmosfera de companheirismo e competitividade saudável. Mas, acima de tudo, apenas ao alcance de quem se aplica nos treinos. De facto, só mesmo a esses!
O primeiro momento do dia foi o andamento fantástico que o João Aldeano imprimiu desde a saída do Bombarral, pela estrada ondulada campestre de Pêro Moniz e Vilar. Uma exibição de gala até à base da ascensão do Sarge, durante 24 km, à extraordinária média de pouco menos de 40 km/h! O pelotão com cerca de 40 unidades enfileirou-se na sua poderosa roda, procurando manter o maior número de peças, o que, naturalmente, foi uma tarefa hercúlea. Impossível, corrija-se. Inevitável, sem dúvida...
Quando se entrou na subida do Sarge, suave a propiciar altas velocidades, a locomotiva Aldeano abrandou, como que a retemperar forças (não é de ferro...) e deu o protagonismo a outros. Que não se fizeram rogados, diga-se. Eu fui o primeiro a impor o andamento, não deixando cair a intensidade da longa ligação, com uma passo certo. Depois, foram vários a renderem-me, já numa toada mais irregular, com mudanças de ritmo bruscas, ataques e contra-ataques a sucederem com o avanço na ascensão, que provocaram desde logo profunda e definitiva seleção no pelotão.
Um esticão final do Filipe Arraiolos, muito ativo nesta fase, resultou na fuga de quatro elementos – além dele, os jovens André e João Silva, e o João Rodrigues (Carboom), que e destacaram nos últimos metros da ascensão, lançando-se a todo o gás pela descida em direção a Torres Vedras.
Surpreendido e incapaz de seguir o quarteto, integrei-me num trio de perseguidores, com o Estrangeiro e Mário Fernandes, este a juntar-se mais tarde, antes da passagem pelas rotundas de acesso à A8, quase no final da descida. Com estes dois insuperáveis parceiros, fui numa boleia privilegiada, a altíssima rotação, no encalço dos fugitivos. Que sufoco! Para trás, o fosso cavou-se irremediavelmente. Perante o ímpeto fortíssimo dos meus parceiros, não tive outra possibilidade se não manter-me nas suas rodas, resistindo.
O quarteto da frente, entretanto, perdia o João Rodrigues na variante de Torres e passava a trio, com total equilíbrio de forças - isto se também houvesse naquele algum elemento que, tal como eu, não colaborasse. De qualquer forma, algo começava a jogar a nosso favor: na rampa final da variante observámos o início das hostilidades na frente, com o André a querer deixar os companheiros para trás – ou a massacrá-los... Mas teve resposta a contendo, embora repetisse a dose na subida para Catefica. Então deixou de haver condições de cooperação, e cada vez mais próximos, nós agradecemos...
Por isso, com o impressionante trabalho do Mário nas subidas e do Estrangeiro (com a sua «cabra») nas parte mais planas e a descer, aproximamo-nos bastante dos fugitivos, a ponto de, à entrada do acidentado troço final, entre Catefica, Casal de Barbas e Caneira, estarem em linha de mira. Nesta fase, planeava colaborar finalmente no esforço da perseguição, previsivelmente quando as forças dos seus companheiros começassem a escassear com o agravar do sobe e desce. Mas, numa viragem mais apertada, perdi-lhes a roda e deixei a abrir cerca de 30 metros, enquanto também os dois se desagregavam, com o Estrangeiro a destacar-se e o Mário a entrar em perda. Foi pena, porque recuperei bem e, num primeiro momento, alcancei o Mário e dei-lhe a minha roda, e depois, até ao ponto mais alto, juntámo-nos aos homens da frente, que, entretanto tinham deixado escapar o João Silva, que arrancara decidido para o final – apesar de, antes, ter tomado uma direção errada e perdido o rumo!
Depois, enfim, o merecido arroz doce. E que bem que soube! A repetir... a dose.       

5 comentários:

Pedro Fernandes disse...

Passei a ser fã da Volta do Arroz Doce.

Pois, após sair do Carregado com 1º grau de temperatura ambiente, com destino a Caneira Velha (sei lá onde seria Caneira Velha) com um aquecimento muito gradual em virtude do frio, lá tive de acelerar “à morte” até Caneira Velha (concentração 08h45m), felizmente a partida ainda não se tinha efetuado, quando cheguei… já algo mal tratado do esforço despendido para chegar a horas, eehhh, e provavelmente algum problema de saúde a surgir.

Efetivamente na primeira grande aceleração do grupo na 1ª fase para o Bombarral ainda me animou, mas o corpo já não respondia e tive de ceder, fazendo pareceria com um companheiro num elevado mutuo entendimento até ao Bombarral, bonito.

Após a paragem no Bombarral, como o Ricardo mencionou foi algo extraordinário, uma locomotiva de 40 unidades a bombar a passar nos sobes e desces a um velocidade de cruzeiro de loucos, comentava um companheiro “bolas se estes gajos estão a andar em Fevereiro assim, quando chegar ao Verão …”.
À passagem da rotunda para Vila Verde disse adeus ao pelotão em virtude do corpo estar dorido, sensação de gripe, que apresentou os seus sintomas a seguir ao duche, após almoço cama, eehhh, anda a tenho para não ser invejoso, aaahhhh.

Paulo Pais as minhas desculpas por não poder provar o teu Arroz Doce, em virtude de ser um digno apreciador de tão nobre degustação.
Parabéns pela iniciativa, e do ponto de vista Turístico foi uma forma de conhecer a subida do Furadouro e, claro Caneira Velha, aahhh

Boas Pedaladas
AHHH

Não esquecer que devemos andar na frente, também na vertente profissional, no Top Ten my Friend, It´s the duty of all of us to be always ahead in our professions, and seize and always learn, learn, learn, lifelong.

Pedro Fernandes (Carregado)

35 ainda vai ! disse...

É engraçado em tão longa e acalorada narrativa não haver uma unica nota relativa ao vento quase ciclonico de norte que se fez sentir neste domingo.
Assim tb a minha "avó" faz média de 40...

Anónimo disse...

Olá pessoal , parabéns pela tua crónica Ricardo , está muito bem elaborada e relata o que efectivamente se passou ao longo da clássica do PP , da minha parte senti muito sofrimento causado pela minha paragem de treinar ,pois é a bike não perdoa e a factura aparece logo , e tambem obrigado pelo teu apoio na parte final, tambem de salientar que o vento do Bombarral para o Sarge não achei que estivesse a favor ,antes pelo contrario ,eu passei lá pela frente e vi bem a dificuldade em pedalar ,mas na roda é claro que não se nota tanto , abraços a todos.

Ricardo Costa disse...

A crónica acima (a última deste bloco) é da autoria de Mário Fernandes, que, além de ser uma excelente pessoa, tem a vantagem de ser um óptimo desportista - enorme capacidade e «fair play», em resumo, classe!
Por isso, com ele ter partilhado o esforço naquele memorável troço entre o Sarge e a Caneira foi um privilégio, a repetir, sempre!

Os meus cumprimentos.

Anónimo disse...

He he Ricardo obrigado pelo teu comentário ,para que saibas partilho exactamente da mesma opinião em relação a ti , pois pois nesse domingo o que sofremos até á caneira só nós sabemos ,vai ficar para as recordações ,já temos uma em comum hehe ,olha se fossem mais uns kilómetros chegava todo empenado hehe.
Peço desculpa realmente no post anterior esqueci-me de me identificar ,coisa que detesto ,obrigado Ricardo.
Abraço a todos e boas pedaladas .
Mário fernandes