terça-feira, abril 09, 2013

Clássica de Évora: a crónica


Não foi o maior, mas, sem dúvida, o melhor pelotão que alguma vez esteve na Clássica de Évora. Os números são esclarecedores: os 136,4 km foram percorridos à velocidade média recorde de 39,7 km/h, a irrisória distância da fasquia de 40 km/h que tinha ficado «prometida» desde o jantar de confraternização de fim de ano e fora reiterada na véspera, nas redes sociais, por um dos ciclistas que mais iria contribuir para estabelecer essa marca: o Renato Hernandez. Mas mesmo para ele não seria façanha fácil sem colaboração, e o homem do Infantado teve-a, ao seu melhor nível. Veio de alguns dos mais renomados ases da bicicleta da nossa região, de diferentes paragens e envergando camisolas distintas, que possibilitaram aos demais – em que me incluo - uma experiência de ciclismo única, invulgar – para a maioria inédita – de fazer uma distância tão grande a um ritmo tão «profissional».

A saída de Loures foi desde logo a grande velocidade, cumprindo-se até Alverca a média de 37 km/h, com os elementos fortes do grupo Pina Bike a liderarem: Hernandez, Ricardo Gonçalves, Rui Torpes (elementos «fortes» do Pina Bike), a que se juntou o André (livre da pressão de não ir até ao final...). Até Vila Franca, o andamento não baixou e após o «pavé», a travessia da ponte marcou o primeiro grande momento de intensidade. Tal como na Clássica de Santarém, a ascensão fez-se a roçar os 40 km/h e a descida a mais de 55 km/h, deixando prever uma passagem difícil pela reta do Cabo. Tal não se confirmou, principalmente pela ausência de vento, que foi um dos fatores positivos desta edição – e que também muito terá contribuído para a alta média final.

Em seguida, em campo aberto, pela vasta lezíria do Infantado até Vendas Novas, outros passaram pela frente, disponibilizando os seus préstimos, como o Duarte Salvaterra e o João Aldeano, que iniciava por estas bandas uma exibição de grande nível, bem coadjuvado por alguns companheiros do Ciclismo 2640, como o João Rodrigues. Nos primeiros postos, além da já referida elite do Pina Bike, também estiveram quase sempre o Vítor Mata a Velha (Pássaros), o Filipe Arraiolos e um ou outro elemento do Roda 28.

Em Vendas Novas, depois de ultrapassada a primeira metade do percurso, a média está estava muito próxima dos 40 km/h e com uma evidente particularidade: o pelotão mantinha-se coeso, sem desgaste aparente para quem seguia no seu seio, desde que bem protegido. Mas uma vez entrada a fase mais irregular do traçado, o regime cardíaco, até aí linearmente a valores aeróbios (Vila Franca foi exceção), elevou-se um patamar para corresponder à intensidade que as locomotivas de serviço continuavam a imprimir.

Após mais 30 km neste registo de velocidade de cruzeiro, do tipo TGV, sem especiais oscilações, deparávamo-nos perante a primeira, talvez a maior, dificuldade do trajeto: a subida de Montemor. Os «principais» assomaram-se à dianteira mas não trouxeram nada de novo, apenas a continuidade do ritmo elevado. Sem acelerações brutais, foi a inclinação e a velocidade (30 km/h) que fizeram a dificuldade nesta transição que, como é tradicional, causou inevitáveis baixas no pelotão. Algumas definitivas, outras temporárias, pois houve quem conseguisse reentrar, à custa de muito esforço, mas que os quilómetros subsequentes, com alteração do figurino, agora com um andamento muito mais instável, agravariam ao ponto de quebrar a resistência.

Foi, então, que começaram as mudanças súbitas de ritmo, os ataques, as tentativas que causar uma cissão no já selecionado grupo da frente – não mais de 15/20 unidades. Todavia, todas as iniciativas invariavelmente condenadas ao malogro. Não seriam autorizados aventureirismos. Alguns dos golpes partiram do Pedro Capela, mas também o Torpes, o Aldeano e o Mata a Velha experimentaram, pelo menos uma vez, tomar o pulso aos restantes. A resposta foi sempre à altura.

A cerca de 15 km de Évora, restam duas elevações mais pronunciadas que, quando bem atacadas, elevam o grau de dificuldade, causando mossa a quem vier com energias contadas. Depois de ter vindo sempre protegido – após uma semana de retoma dos treinos, precedida de duas de quase inatividade receava a falta de ritmo e de capacidade para tão altas cavalgadas, o que no conforto do grande grupo não se confirmaram, tendo sido, para mim, apesar do contrassenso com a média alucinante, uma das mais confortáveis edições desta clássica -, decidi finalmente dar o meu contributo à contenda, aumentando o ritmo nesses dois topos consecutivos. No entanto, quando o fiz rapidamente apercebi-me que havia escassez de carburante nos músculos e no penoso final do segundo topo fiquei à mercê das acelerações que surgissem de trás. Dito e feito, perante o forte esticão, previsível que sucedesse, fui ultrapassado por todos, ao ponto de perder a cauda do grupo, onde fiquei, descaído, na companhia do Hernandez (desgastado ou não nos seus dias!) e do Pedro Vieira. Todavia, não esmorecemos e, em colaboração, reentrámos passado um ou dois quilómetros, ainda a tempo de assistir ao sprint final (desde esse topo ao final cumpriu-se 45 km/h de média!) para a chegada, junto do Evorahotel, onde o experiente e explosivo Mário Fernandes (2640) impõe a sua classe ao Rui Torpes e a mais uns poucos que se fizeram ao aceso despique. No final, o coletivo mafrense parecia comemorar, e tinha plenos motivos, tal como todos os outros que partilharam o asfalto desta fantástica clássica primaveril. Para 2014, ultrapassar a fasquia dos 40 km/h!  

Destaque para as presenças, entre o grupo principal, de outros «Pinas»: Evaristo (o «Fraquinho» não facilita e ainda teve forças para lançar o último quilómetro!), Bruno Felizardo (forte e no seu terreno predileto), Gonçalo (que anda a fazer o trabalho de casa) e do António (prova de veterania com fibra).

4 comentários:

Anónimo disse...

Depois de uam subida ao Montejunto nao sabado a ida a Évora acabou por ser mais 1 um excelente treino, pena é que so dorou 3,26h devido ao forte andamento de alguns elementos que tudo fizeram para ultrepassar essa tao anciada barreira dos 40, talvez uma melhor colaboraçao e desponibilidade de alguns elementos que em nada contribuiram o tivessemos conseguido....fica para o ano!!!
PS:Pra quando uma classica LOURES-REGUENGOS??? Sempre dava mais uma horita!!!

Anónimo disse...

Foi uma clássica bastante bonita pena que realmente tenha passado tão rápido , uma manhã de cilismo muito boa é um percurso interessante por não ser perigoso em termos de trãnsito e com paisagens das planicies Alentejanas muito bonitas , uma clássica a continuar , parabéns .

Máriio Fernandes

Anónimo disse...

Quero enaltecer também o trabalho de equipa que foi feito pelos Pinabike assim como os meus colegas do meu grupo eu não mexi uma palha nem trabalhei absolutamente nada apenas me limitei a andar dentro do grupo e disparar nos 500 metros finais tal como tinha sido conversado no seio do grupo ,no entanto tal como disse, respeito sériamente quem dignamente pos a cara ao vento todo o percurso para assim fazer desta uma belíssima clássica!Ab

Mário Fernandes

Paulo Rosa disse...

;)
Grande cronica de uma classica, Bravo.