segunda-feira, setembro 11, 2006

Serra da Estrela, a acentuada tortura

A Etapa da Serra da Estrela, de 2006, foi uma jornada épica que superou todas as expectativas sobre as elevadíssimas dificuldades que enfrentariam os «aventureiros» que aceitaram o desafio de cumprir o percurso principal, de 124 km e 2600 metros de desnível acumulado. Todavia, a jornada ficou aquém da mobilização que se pretendia como iniciativa pioneira e aliciante, não apenas em número de participantes, como em coordenação, assistindo-se a uma divisão voluntária do elenco por motivos que não se percebem.
A tirada, já se sabia, seria muito mais exigente que as condições do próprio traçado montanhoso e da sua longa distância, porque a estas havia que contabilizar o factor-competitividade, indissociável a todos grupos de praticantes de ciclismo de bom nível. Mas esta perspectiva foi excedida largamente, impondo à etapa o grau de dificuldade correspondente, que, indiscutivelmente, prejudicou o seu normal desenrolar e provocou desgaste acentuadíssimo a todos – friso: a todos! – os participantes do percurso maior (A). A razão foi a abordagem, muito controversa, à «prova», quiçá subestimando as dificuldades inalienáveis, distância e relevo, juntando-lhe uma inquestionável sobrevalorização (mesmo que inconsciente) das capacidades atléticas individuais (e do grupo, por consequência) em prol de um objectivo legítimo: o espírito competitivo. Ou seja, cometeu-se um erro de gestão de esforço que acabou por sair muito caro quando a Serra da Estrela, no final, impôs a sua factura. E que gorda factura!
Todavia, este percalço, que ficou bem marcado no corpo, não retirou brilhantismo à Etapa: percurso lindíssimo e exigente, realizado, na sua maior parte, a uma velocidade elevadíssima. Daí a razão de todos os males. Os números confirmam: após 50 km e de dupla passagem pela Serra da Gardunha, a média horária fixava-se nos 29,5 km/h. O autor de tamanha proeza irresponsável foi um trio (Durão, Miguel e eu), a que se juntou o Armando (Guedes), cliente do Pina (Cannondale Six13) a passar férias na região, que nos encontrou por feliz casualidade após a primeira ascensão da Gardunha, prestes a dar meia-volta na rotunda de Lardosa.
À chegada a Belmonte, com 85 km percorridos, a média já tinha subido para 30 km/h e em Manteigas, antes de iniciar a subida final para a Torre (103 km e já 1400 metros de desnível acumulado), desceu apenas 0,5 km/h (para 29,5 km/h) - uma média, neste tipo de percurso, que está ao nível de uma Clássica Internacional – mas aqui com apenas quatro elementos!
Repartem-se responsabilidades por este andamento vivíssimo, quase suicida por ter sido à custa de um esforço de grande intensidade, principalmente nas subidas secundárias, onde se recomendaria maior contenção. O Durão abriu as hostilidades nas duas passagens pela Gardunha: a primeira logo a abrir a etapa (mau, mau); e a segunda, mais difícil, mas que teve como atenuante o facto de o andamento ter sido mais moderado, graças ao Miguel, que em boa hora parou para urinar. Depois, ainda e sempre o Durão a impor o ritmo na descida para o Fundão, metendo o grupo a 60 km/h nas suas costas.
Mais tarde, a seguir à Covilhã, na subida de Orjais, foi o Miguel a puxar dos galões e a fazer disparar o coração, na subida de Vale Formoso voltou a ser o Durão a endurecer o ritmo. Por fim, a partir de Valhelhas fui eu a entrar ao serviço, que se estendeu à entrada da subida final para Piornos/Torre.
Assim, dificilmente não se assistiria a uma prova por eliminação. Em Valhelhas, com 87 km, o Miguel foi a primeira vítima deste andamento de elite, perdendo irremediavelmente o contacto com o grupo (naquela altura era um quinteto, com a junção de um elemento nativo de Teixoso até Manteigas), acabando por antecipar o final da sua jornada em Piornos.
Depois, o Durão, já a contas com duas arreliadoras avarias na bicicleta (primeiro o guiador descaiu e depois partiu-se um raio no empedrado de Manteigas, pagou toda a sua audácia ao longo do percurso ficando pregado logo nas primeiras rampas duríssimas (Viveiro das Trutas) da subida final e arrastou-se até Piornos, onde encontrou o Armando, que parara para abastecer depois de ter ficado «vazio», tendo ambos cumprido a ligação à Torre juntos. E eu, abandonado à dor, desfazendo-me serra acima, com um par de paragens pelo meio para atenuar a fadiga e a vontade crescente de acabar o sofrimento mesmo ali!
No final: 5h15m de uma enormíssima aventura a repetir em formato mais «racional» e para recordar, neste caso, para não voltar a cometer os mesmos erros «estratégicos». A experiência das participações além-fronteiras deveria ter sido melhor conselheira. E ninguém está ilibado.
Quanto aos restantes companheiros neste desafio serrano, pode-se dizer que foram apenas companheiros de bastidor, pois o contacto na estrada foi incompreensivelmente fugaz ou mesmo inexistente. Resumiu-se ao encontro com o Zé-Tó e o Steven (que fizeram juntos a trajecto desde a Covilhã), pouco antes do cruzamento de Piornos, onde o primeiro parou. O Steven, que ainda me acompanhou nas primeiras centenas de metros da subida, após a Nave de Santo António, seguiu no seu andamento, chegando à Torre aparentemente em boas condições. Aqui já estavam há algum tempo o João e o Salvador, que partiram do Fundão meia-hora antes do previsto. De resto, nem estes duos se cruzaram em todo percurso. Porquê?!

3 comentários:

Ricardo Costa disse...

Caro Pedro Fonseca. Todos os domingos damos uma voltas porreiras, que denominamos de Clássicas, pela nossa vasta e diversificada região. O encontro é invarialvemente no posto de absstecimento da BP, em Loures (junto às rotundas da A8) e a hora varia consoante a época do ano (hora de Verão: 8h30 e de Inverno: 9h00) ou a distância/duração das Clássicas. A concentração é cerca de 15 minutos mais cedo, tempo que aproveitamos para elevar os níveis de cafeína!
O próximo domingo não fugirá à regra, e lá estaremos às 8h15, para uma Clássica com muito carisma no nosso grupo, a de Sintra, com passagem pela Lagoa Azul, que tem um grau de dificuldade mais elevado que as maioria das demais.
Endereço-lhe desde já o convite para se juntar a nós, pois teremos muito gosto em acolhê-lo.
De resto, quando se referiu aos «esticões», penso que estava a falar das tiradas de longa distância ou com índice de dificuldade maior, como a da Serra da Estrela, realizada no último fim-de-semana. Pois bem, além desta, nesta categoria de Clássicas (as Super) também organizamos a de Évora e a de Fátima. Todavia, são voltas especiais que implicam deslocação e apoio logístico e, como tal, estão mais espaçadas no calendário da temporada. Para consultá-lo, este está afixado em permanência na loja do Pina Bike, ou então também poderá ficar a par de todas as antevisões (volta, percurso e descrição do mesmo) através deste blog.
Espero ter esclarecido as suas dúvidas, caso contrário não se coiba de voltar a colocá-las. Entretanto ficamos a aguardar pela sua presença no domingo, em Loures.

Um abraço

Ricardo Costa disse...

Atenção:

A Clássica de Sintra do próximo domingo tem uma ligeira alteração ao percurso. Assim, na Malveira da Serra vira-se à esquerda em direcção a Cascais e na rotunda de Birre (do Mc Donald's) à direita para o parque de campismo e para Areia, fazendo a ligação ao Guincho, onde se inicia a subida para a Malveira. Recorde-se que antes, a partir da malveira seguia-se para cima, em direcção ao Cabo da Roca/Azóia.
Além disso, o regresso a Loures será pelo mesmo trajecto da ida, ou seja, por Pêro Pinheiro e Negrais.
A partida de Loures é às 8h30.

Anónimo disse...

Olá pessoal,
Ainda n havia estado aqui no blog pq tenho estado "entubado", a recuperar...ahahah!
+ 1 bela jornada de Ciclismo! Pena q n tenham estado + amigos nesta "volta do grito"...(ai tanta dôr).
De facto deviamos ter estado + tempo na estrada. Ainda n tive oportunidade de conversar c ninguém mas tb acho q o 1º dueto devia ter esperado pelo 2º, aliás, passar na Covilhã sabendo q estávamos à espera e n terem dito nada n ajudou e qd liguei e percebi q levavam 5Km. à frente ainda tive a ilusão de q íamos "entrar"! Afinal, ambos os duetos pertencem "à divisão Nacional", logo desenvolvem velocidades de cruzeiro semelhantes, ou seja, só haveria junção c mt boa "vontade" do 1º dueto (atrasando-se) ou do 2º (andando ao "prego")!!! Isso n aconteceu e só nas fontes vimos ao longe a passar pelo "Covão da À-metada" o 1º dueto q já ía "partido"...
Aqui já eu estava em "perda".
Pois é, desta é q eu n estava à espera! "1 empeno de fome dos antigos". Arrepios, tremuras/tonturas e como se n bastasse tb n conseguia comer, aliás, n consegui comer em toda a tirada o q me acabou por colocar fora da "corrida"...
Cheguei ao cruzamento de Manteigas p a Torre e prudentemente coloquei o pé no chão. Ainda assim n impediu q tivesse passado pelo q passei nas horas após... Acho q nem faz mal estes avisos de vez em qd p termos noção de q n somos nenhuns campeões! Fica a lição.
Penso q tb aprendemos q se quisermos "ir juntos" temos de ter outra estratégia, ou seja, pensar 1 percurso + curto p os Internacionais, assim haveria hipotese de algum Nacional acompanhar. O ritmo tb terá de ser revisto se nos quisermos manter juntos durante algum tempo. Qd se chegar à Serra já se sabe, mete-se 1 "abaixo" e cá vai disto.
Ainda assim foi mt divertido e temos de repetir. É 1 local único, q tem 1 magia especial...
Steven: 1ab pela companhia e 1 pedido de desculpa por o corpo me ter traído e te ter "deixado" no momento + importante do dia, mas eu nem p aguadeiro dava naquele momento...

1ab e boas pedaladas,
ZT