segunda-feira, março 12, 2007

Évora contra o vento...

A edição 2007 da Clássica de Évora foi a mais rijamente disputada dos últimos anos. O traçado, que atravessa o baixo Ribatejo até ao alto Alentejo é talhado à medida de roladores fortes e possantes e a distância longa (140 km) não permite contemplações aos menos bem preparados.
O perfil altimétrico do percurso é bastante curioso. Ao contrário do que se poderia supor, vai subindo gradualmente de Vila Franca a Évora, com alguns picos mais acentuados antes e depois de Montemor-o-Novo, nos últimos 30 km, tornando o final da tirada mais selectivo, tanto mais que, nessa altura, o cansaço se vai acumulando. Depois, como diz a velha máxima ciclista, «as dificuldades também se ditam pelo andamento», embora não tenha sido por esse motivo que ontem foram bem acentuadas. Houve mais um adversário adicional: o vento.
Primeiro facto a reter: pedalada viva desde a partida, esclarecendo sobre o cariz especial e mais exigente destas super-clássicas. Rolou-se a boa velocidade em direcção a Vila Franca, cumprindo-se, logo aí, média superior a 30 km/h.
Logo se viu que não era dia para relaxe. E não tardaram as escaramuças. No final da Recta do Cabo o Fantasma parou para «tirar peso» e o Freitas lançou ataque inesperado. Poderá apontar-se falta de «fair play», sem dúvida, mas a vítima de agora foi outrora muitas vezes carrasco. Adiante...
De qualquer modo, mais do que apanhar o Fantasma com os calções na mão, a acção surpreendeu por ter sido tão madrugadora e teve o ensejo fracturar o pelotão, isolando um grupo de cinco unidades, que contava, entre outros, com o Salvador e o Isidoro. Objectivo óbvio de quem tomou a iniciativa (o Freitas) era óbvio: causar desgaste lá atrás. O andamento dos fugitivos começou por ser bastante bom, permitindo-lhes ganhar vantagem de algumas centenas de metros, mas o pelotão não tardou a reagir e graças ao trabalho de três a quatro unidades a fuga foi anulada após 6-7 km, ainda muito antes do cruzamento de Pegões.
Nesta altura, já o vento forte se fazia sentir e com os passar dos quilómetros aumentava contenção no seio do pelotão, mesmo contra a vontade de alguns elementos mais afoitos, que revelaram sempre clara vontade de manter o ritmo. A insistência acentuou, previsivelmente, a sua fadiga na parte final, por isso alguns «estoiros» foram ainda mais estrondosos.
A espaços houve pequenos grupos que se isolaram, como o que se formou após o cruzamento de Pegões, liderado pelo Salvador (um dos mais activos, como sempre), cuja aventura terminou à passagem por Vendas Novas, após fabuloso trabalho, «a solo», do possante camarada (estreante) da Cannondale preta, ao bom estilo... espanhol. Aliás, o seu desempenho durante a tirada merece rasgados elogios, tal a sua disponibilidade (e enorme capacidade) para rolar contra o vento. Mesmo que acabasse por pagar esse voluntarismo a partir de Montemor.
Eis o local da primeira grande selecção. O principal causador: o Freitas, como se esperava, ele que mais interesse demonstrara desde o início do percurso. Resultado: após a subida restavam apenas cinco elementos na frente: Freitas, Jony, Nuno Garcia, eu e o Fantasma. Este último, acabava de recuperar de algumas dezenas de metros de atraso durante a fase mais inclinada e cumpria, desde já, grande parte do que seria o seu objectivo: passar Montemor no grupo da frente. De resto, ele próprio, na altura, num desabafo facilmente inteligível, não conteve a satisfação. Tinha motivos...
Mas rapidamente começou a sentir dificuldades. No primeiro topo à saída de Montemor, depois de o Freitas ter aliviado o passo, fui eu a acelerar com ímpeto, restringindo a liderança a apenas quatro.
No entanto, o vento e a falta de colaboração no quarteto refrearam o andamento, possibilitando ao que restava do pelotão reentrar após alguns quilómetros de intensa perseguição, mas ainda a cerca de 15 km de Évora. Ou seja, ainda muito cedo!
Depois de mais um ataque, e outro, e da tomada de iniciativa definitiva da minha parte, a selecção voltou a fazer-se, mas agora com o Fantasma, o João e o Isidoro dando mostras de estóica resistência. Todavia, o esforço, o vento e o topo mais longo daquele último sector «vitimara» os dois últimos e até o Nuno Garcia, mantendo-se ainda o Fantasma – que acabou por «morrer na praia», precisamente no último topo antes da descida final para Évora (derradeiros 5 km). Obra do Freitas, com «killer instinct» de se lhe tirar o chapéu. Apercebendo-se das dificuldades do Fantasma na cauda do grupo tomou a imediatamente a iniciativa à cabeça, forçando o andamento ao limite. Aliás, como ainda não o tinha feito! E não mais o fez.... Assim, o elástico esticou e partiu definitivamente. Desgraçadamente para o Fantasma, digo eu!
A partir daí, o trio da frente «picou» em direcção ao final a mais de 45 km/h. Uma vez isolado, para o perseguidor tornava-se impossível a tarefa de recuperar. E em menos de 5 km perdeu, sem surpresa, cerca de 3 minutos. Curiosamente, os mesmos que em 2006... mas desde Montemor!
O Jony acabou por ser mais forte no sprint final, superiorizando-se com grande classe ao Freitas, que perde, até ver, a sua longa hegemonia neste tipo de «práticas».
Não muito depois do derrotado Fantasma, chegaram o João e o Isidoro, e logo a seguir o Zé, todos eles senhores de excelentes prestações. O pelotão chegou a conta-gotas...

Notas de observador:

O Fantasma esteve à beira do «estrelato» mas, como referi, «morreu na praia». Por falta de escassos metros, esgar de esforço ou rasgo de superação, sucumbiu à aceleração venenosa do Freitas no último topo do percurso, onde após ter resistido a todas as dificuldades, perdeu o comboio da frente e a possibilidade de cumprir um objectivo que estava perfeitamente ao seu alcance - pelo terreno favorável e a sua boa forma sem precedentes (pelo menos desde que o conheço). A concretizar esse objectivo, seria motivo de justificados elogios e enorme regozijo para ele próprio. Mas por que não o alcançou, para mais daquela maneira fatalista, fica-lhe sabor amargo na boca. Contrariando também os meus prognósticos, depois de tanto os defender durante a última semana (e ainda continuo com a mesma opinião...). Todavia, este episódio deve servir-lhe de incentivo a continuar a capitalizar, nos próximos domingos, o seu enorme momento e se possível continuar a evoluir. Aliás, porque deve contar sempre com opositores de lâmina bem afiada.

Por falar em expectativas goradas: houve duas ou três, e bem grandes, algumas sem surpresa, outras com enorme perplexidade.

Pelo contrário, o Jony cumpriu o que dele se esperava. No seu terreno de eleição (até ver, pois agora irá começar o trabalho específico para a alta montanha e capacidade não lhe falta para progredir neste terreno, em que, aliás, deverá apostar tendo em vista os seus objectivos da temporada). Geriu com alguma reserva o seu esforço durante a maior parte do percurso, sempre muito atento às movimentações e não se demitiu de «responsabilidades» quando houve necessidade de perseguir o grupo madrugador em fuga. A partir de Montemor fez o obrigatório: não perder terreno para mim ou para o Freitas. Nem que, para tal, raramente tivesse sobressaído. No final, viu coroada de êxito a sua abnegação, vergando-me, e principalmente ao «especialista» Freitas, com curto mas poderoso sprint. Foi bonito de ver...

Quanto a mim, missão cumprida. Impossível chegar isolado e ainda menos ter aspirações no sprint com aquela companhia. Por isso, contento-me com as boas sensações, acima de tudo por que as pernas permitiram, no momento em que, depois de Montemor, decidi expor-me ao «desgaste», assumindo o andamento contra o vento, e inclusive experimentar algumas mudanças de velocidade. Ou seja, bem dentro das expectativas pessoais e provando que, até à data, o treino está a ter bons resultados.

Próximo grande encontro da «matilha»: Fátima. Terreno mais acidentado, com a particularidade de o final ser bastante mais selectivo. Até lá, há cerca de mês e meio (28 de Abril) para afinar agulhas. Os roladores puros e os que têm aversão às subidas vão estar em desvantagem. Mas muita água irá rolar entretanto... Para a semana, há Gradil!

8 comentários:

Anónimo disse...

todo se esperava e estava previsto
o que não estava era os mais frotes se escondencem para se mostrem no final tenham vergonha

Anónimo disse...

Pois é, e há outros que se mostram demais no início e no final escondem-se. Para falar convém antes aprender a andar de bicicleta.

Ricardo Costa disse...

Os restantes camaradas receberam hoje a grande notícia: a confirmação da inscrição na Etapa do Tour

João Santos (Jony): nº 4613
Luís Freitas: nº 4616
Nuno Garcia: nº 4618
Miguel Marcelino: nº 4619

Agora é «meterem-se à estrada» até ao dia 16 de Julho

Ricardo Costa disse...

Considero que o encadeamento de duas subidas do Gradil (no próximo domingo passaremos lá) é muito semelhante ao troço Batalha-Fátima. Talvez, a primeira subida (Gradil) seja ligeiramente mais inclinada que a de Fátima, e a segunda (para a Murgueira) menos dura. Mas o tipo de terreno é muito parecido.
Arrisco mesmo que se trata do local ideal para preparar aquele sector fundamental da clássica do próximo mês. Para o treino (simulação) ser verdadeiramente completo, deve-se continuar, a fundo, durante mais 5-7 km depois de chegar ao alto. Tanto para o lado de Mafra (para a Ericeira) como para outro, de Barreiralva.

É só uma dica!

Anónimo disse...

Ricardo, qual é o percurso da volta de Domingo?

Ricardo Costa disse...

O percurso da volta de domingo é o seguinte:
Loures-Tojal-Bucelas-Forte de Alqueidão-Sobral-Feliteira (pela descida a seguir à rotunda do campo de futebol)-Pêro Negro-Enxara do Bispo-Gradil-Murgueira-Paz-Mafra-Malveira-Venda-Lousa-Loures

Distância: 77 km

A folha com a descrição e perfil está na loja do Pina e em tudo semelhante à do ano passado:

Ricardo Costa disse...

O percurso da volta de domingo é o seguinte:
Loures-Tojal-Bucelas-Forte de Alqueidão-Sobral-Feliteira (pela descida a seguir à rotunda do campo de futebol)-Pêro Negro-Enxara do Bispo-Gradil-Murgueira-Paz-Mafra-Malveira-Venda-Lousa-Loures

Distância: 77 km

A folha com a descrição e perfil está na loja do Pina e em tudo semelhante à do ano passado:

Anónimo disse...

Oi rapaz,
já tenho os dados do Avenal... Mas, acho que não vais gostar...

Pintainho