quinta-feira, julho 19, 2007

Etapa do Tour 2007

A minha participação na Etapa do Tour 2007 foi... para esquecer. Um chorrilho de acontecimentos azarados deitaram por terra todas as ambições que trazia para a prova – que este ano eram mais elevadas que nunca, e que tanto empenho lhes dediquei ao longo de oito meses. Em vão!
Literalmente deitado por terra, foi como terminei a curta participação. No chão, após queda aparatosa, em condições totalmente imprevistas, numa altura em que me deixava rolar a caminho do local onde iria abandonar a prova, vítima de um estado de debilidade física resultante de uma enfermidade gastrointestinal na noite de véspera. Mal-estar profundo, apatia, vómitos e diarreia – foram estes os sintomas para um diagnóstico que não augurava nada de bom para o esforço que seria exigido algumas horas mais tarde. O pequeno-almoço, que deveria ser robusto, limitou-se a um prato de cereais empurrado. No meu subconsciente já tinha praticamente a sentença ditada: só uma alteração anormal do meu estado de saúde poderia valer-me acabar a prova. Como esperava, tal não aconteceu.
Ainda assim, fiz-me à estrada com essa ténue esperança, mas a pergunta preocupada de um ciclista francês, enquanto esperávamos pela partida, ao observar o meu semblante e o olhar vago, foi mais que uma premonição: «Ça va?». Respondi-lhe, abanando a cabeça, e depois expliquei-lhe o que sucedera. A sua reacção correspondeu aos meus receios.
Da prova, pouco há a registar, a ser a minha luta infrutífera contra o destino anunciado. A falta de energia que se acentuava com os quilómetros e que atingiu o limite após a primeira montanha, o Col de Port, a mais acessível, com cerca de 30 km percorridos. A partir daí, deixei-me arrastar na longa descida até ao primeiro ponto de reabastecimento (70 km), onde nunca cheguei, já que a apenas 2 km desse local onde iria apear-me, fui vítima de uma autêntica tentativa de homicídio, ao ser literalmente abalroado por outro concorrente, depois de uma mudança de trajectória inexplicável. Nessa altura, rolava há muitos quilómetros pelo lado direito da estrada, abrindo espaço, à esquerda, para os grupos que vinha detrás – entre eles, o que integrava o Jony e o Freitas.
O resultado da queda foram escoriações na anca, ombro e braço esquerdos, mas as mazelas dolorosas foram muito mais extensas, principalmente na zona da bacia, costas e pescoço. O destino dessa longa tarde e noite foi... o hospital!
Enfim, que consolo pode valer-me para atenuar a frustração de ver o trabalho árduo de preparação que culminou num estado forma apurada ao «milímetro», como é exigível para cumprir uma prova tão difícil – e esta foi mais uma das edições mais difíceis já realizadas – e alimentar o objectivo que trazia: classificar-me entre os 300 primeiros.

Não pude sequer tentar alcançar essa meta, mas quem praticamente o fez, como todo o mérito, foi o Jony. Enormíssima prestação, ao terminar no 354º lugar entre mais de 6500 participantes e em 152º da sua categoria (8h22m06s), demonstrando os méritos de excelente desportista que lhe são reconhecidos. O segredo para o êxito: grande forma física e uma abordagem criteriosa às dificuldades da prova (relevo e distância), de resto, os dois requisitos principais para um bom desempenho na Etapa do Tour. Para ele, os meus parabéns: confirmou o seu enorme gabarito!
O Freitas teve mais dificuldades em lidar com as agruras da prova e fez mais 50 minutos (1008º, com 9h11m42s), terminando praticamente a par do Jerónimo, de Vendas Novas, (9h11m24s), a realizar o seu melhor ano nestas andanças internacionais.
Por fim, o Nuno Garcia, com uma abordagem muito mais cautelosa, correspondendo ao seu nível de preparação inferior aos demais – menos de metade dos quilómetros de treino dos restantes! -, fez o tempo de 9h45m29s (1600º lugar). Considerando as limitações, com esta classificação, também ele demonstrou que o controlo dos ímpetos e a inteligência (ou a falta de ambos) são fundamentais numa prova como a Etapa do Tour que é, acima de tudo, um desafio à resistência física.

Volta do próximo domingo: Clássica de Santiago dos Velhos

Percurso: Loures-Guerreiros-Lousa-Freixeira-Vale S. Gião-Bucelas-S. Tiago dos Velhos-Lameiro das Antas-N. Sra. da Ajuda (rotunda)-Forte de Alqueidão-Sobral-Arruda-Cadafais-Santana da Carnota-Freiria-Sobral-Forte de Alqueidão-Bucelas-Loures

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