A volta da Ota é, sem dúvida, uma das jornadas com mais tradição do nosso calendário. Tradição criada por histórias de duras batalhas e infelizmente também de acidentes, alguns graves. No passado domingo, a tradição voltou a cumprir-se na íntegra.
Comecemos pelo pior: os acidentes, que quando são graves ganham maior relevância que as guerras de bicicletas. A data de ontem, 11 de Janeiro, remete para quase coincidência com a manhã chuvosa de 15 de Janeiro de 2006, em que o Miguel Marcelino, também no decurso da mesma volta, colidiu com um automóvel que se atravessou à frente, custando-lhe uma fractura óssea. Já lá vão 3 anos!
Desta vez, não havia chuva, o piso estava sequíssimo mas o acidente voltou a dar-se com outros intervenientes e consequências felizmente não tão graves. Em vez de uma condutora imprudente, foi um cão irrequieto que se soltara. Algures, entre as duas Aveiras, o animal saltou da berma para a estrada, enfrentando o pelotão que seguia a bom ritmo (cerca de 35 km/h). Daí resultou aparatosa queda do Salvador, do Samuel e de um terceiro elemento, estreante (triatlo). O primeiro foi o que mais sofreu: ombro direito muito maltratado (felizmente, após passagem pelo hospital, afastou-se a possibilidade de fracturas) e o quadro da System Six partido – para a sucata! O Samuel ficou com pequenas escoriações, a mais importante junto ao olho esquerdo; enquanto a sua bicicleta saiu da carambola apenas com uma manete entortada. O terceiro, o estreante, escapou ileso.
Responsabilidades? Em princípio serão assumidas pelo dono do cão, que se aprestou rapidamente a dirigir-se ao local do acidente e garantiu ter seguro do animal, um pastor alemão de porte invejável. Tudo isto perante a relutância da GNR em elaborar o fundamental registo da ocorrência em auto. A ver vamos quando a conta do prejuízo chegar...
Descrita a parte da história acidentada, vamos à do ciclismo! E houve muito, antes e depois do que se passou. Primeiro, ainda muito antes da passagem sempre aguerrida pelo Vale do Brejo, com a divisão do pelotão em dois grupos perseguidores ao par de fugitivos, ligeiramente destacados: Salvador e Capitão. Então, o grupo da frente, liderado pelo Jony, obrigou o que seguia atrás (que incluía eu, o Freitas e o Manso, entre outros) a esforços redobrados para o alcançar; o que só sucedeu após Vila Franca.
Fugitivos apanhados e pelotão novamente compacto até ao inevitável Vale do Brejo. Antes, o Hugo já tinha mexido o andamento a partir de Cheganças e voltou a fazê-lo após a Ota, ganhando alguma vantagem levando na roda o Freitas e o Jony – situação perigosa! No pelotão, tive de reagir para fechar rapidamente o espaço antes que pudesse haver colaboração à frente.
Parecia estar lançada a correria na aproximação à subida, mas não havia quem assumisse... Até que o Salvador o fez! E muitíssimo bem. Conduziu em boa parte da subida antes de ser rendido, também de forma excelente, pelo Samuel - curiosamente os dois infortunados do dia!
Mas depois de o Samuel «esgotar», voltou-se à toada de expectativa. Perante isso, decidi acelerar nos últimos 400 metros, desencadeando muito boa reacção do Jony, Freitas e Hugo, todos com explosividade superior à minha.
Pouco depois dava-se o acidente. Mas depois do aparato, quem esperava moderação enganou-se. Tudo devido a uma saída espaçada em grupos do local fatídico. Naquele em que me incluía (com o Steven, o estreante, o Samuel e o Filipe) pensou-se que liderávamos a caravana. Mas não, já havia um grupo bem composto a rolar à frente! Por isso, sem saber deslizámos até a Azambuja, a aguardar pelos que pensávamos ser todos os restantes. Mas eram só a última parte deles (Freitas, Hugo, Manso, Rocha, entre outros).
Quando passaram por nós, vinham afogueados. De tal maneira, que abriram desde logo uma distância que nos fez suar as estopinhas para a eliminar – só em Casal Pinheiro. E mesmo quando, no grupo, deram pela nossa presença, o andamento não caiu. Aliás, pareciam estar com outras preocupações, que não a perspectiva (que eu tinha erradamente) de querer continuar a fugir de grupos mais atrasados. Cumpriram-se 40 km/h de média entre Azambuja e o Carregado; e 39 km/h até Vila Franca! Grande trabalho, principalmente do Hugo, que está a andar muitíssimo!
Para mim estava assumido que quem tivesse ficado para trás, não recuperaria. Mas a verdade é que os únicos que estavam (ou ficavam realmente), eram os que iam pigando do nosso grupo...
Depois de Vila Franca - estranhamente sem que o Freitas se fizesse ao sprint! -, o andamento baixou... Por isso, estava decidido a terminar (o treino) com algumas acelerações nos topos: os dois de Alhandra e o do Sobralinho. Quando me fiz ao primeiro, o Freitas parecia preferir tranquilidade: «Onde é que vais, pá? Tá sossegado...», disse-me. Mas após o segundo, junto à Secil, gritou-me aos ouvidos para manter o andamento alto. Contei-lhe as minhas intenções e que não tinha força para continuar àquela velocidade. Mas ele insistiu: «Vá lá, os outros estão mesmo aí à frente!». Surpreendido com a novidade, até tive dificuldade em compreendê-la. Mas rapidamente me apercebi de que, enfim, os que faltavam estavam para a frente e não para trás, entre eles, o Jony, o Pina, o Capitão e o André, que não tinha feito a primeira parte da volta.
Então, entreguei-me ao esforço e mantive-me, a todo o custo, a 40 km/h para fechar o espaço já na rotunda da Pifertubos, antes de Alverca. Fazia-se luz! Mas não paz... Restava a subida da Central de Cervejas, que, com o Vale do Brejo, constituem os dois únicos pontos de selecção, por relevo, desta volta quase sempre plana. Assumi o comando e fi-la em progressão, carregando cada vez mais nos pedais à medida em que ascendia. Rebentei à chegada ao pequeno descanso, quando senti uma mão nas costas, a auxiliar-me: a do Jony. Apenas ele e um elemento da equipa de Negrais seguiram o ritmo, e os dois disputaram o sprint na rotunda do Cabo de Vialonga.
Rápidas melhoras do Salvador
7 comentários:
As melhoras do vosso colega.
Já agora o que se passou com a GNR, recusaram elaborar o Auto ?
Cumps
mg
Oi Miguel. Não sei bem qual foi a razão dos GNR, porque não estava a ouvi-los, mas quem estava deu a entender que poderiam querer «poupar» o dono do cão, certamente por serem conhecidos. Só pode... Só os ouvi dizer que fazer o auto era criar mais burocracia, só podiam estar na treta. O auto é fundamental para a resolução do caso, não?!
Desejo as melhoras aos acidentados que voltem rapidamente ás pedaladas. Segundo informação do Pina o seguro do dono do cão vai assumir todos os prejuízos.
Filipe
Conselho de amigo, em situações destas o auto das autoridades é essencial,porque as seguradoras depois negam-se a pagar.
Se eventualmente os agentes se recusassem a elaborar o auto, uns de vós ficavam no local enquanto outros iam ao posto apresentar queixa dos agentes.
Cumps
mg
as melhoras salvador!! espero k voltes o mais depressa as "corridas" domingueiras do grupo
abrço
andre costa
Os agentes da GNR não queriam fazer o auto apenas porque lhes ia dar trabalho! De resto, depois de um dos agentes se referir com algum desdém a uma colisão entre um cão e um ciclista achei por bem acabar a minha conversa com eles.
Atitude de mau profissional!
Refira-se a presença constante do proprietário (e a sua seriedade) que sempre se prontificou a assumir os prejuízos caso o seguro não o fizesse.
Do mal o menos...
Refira-se que, apesar de a época só estar a começar, as marcações entre o pessoal até fazem impressão...
J. Manso
Boa tarde, camarada «Cancellara». Primeiro que tudo, fico satisfeito pelo teu regresso às lides domingueiras. Dizes estar surpreendido com as «marcações» nesta fase da temporada. Sim, também concordo. Nesta altura, em que é óbvio que toda a gente ainda está longe da boa forma (ou existem patamares bem distintos de acordo com os objectivos ou com a ausência deles) deveria haver uma atitude mais descomplexada na abordagem às voltas, não haver tanto receio de ser surpreendido, digamos, com as calças na mão. Mas quando se juntam muitos «galos» a disputa acende-se, e quando o andamento é forte, então não há volta a dar, a «marcação» impõem-se.
Mas, friso, concordo contigo sobre a precocidade do comportamento...
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