terça-feira, setembro 08, 2009

Clássica da Serra da Estrela: a crónica


A montanha não pariu um rato... mas um pelotão fortemente empenhado em tentar «vencê-la». A maior e a mais alta de todas do nosso Portugal Continental. Conseguiu-o plenamente, ao atingir o seu cume, a 1993 metros de altitude, sem excepção entre os seus ciclistas e mesmo que tenha, como é inevitável, reclamado as suas vítimas – do esforço extremo em conquistá-la.
A Clássica da Serra da Estrela 2009, do último domingo, teve como palco de ascensão à mítica Torre a vertente da Covilhã, a mais tradicional e a mais exigente das três que se elevam desde o seu sopé. Ao todo, mais de 25 km, de 500 a quase 2000 metros acima do nível médio das águas do mar, divididos em duas porções: 21 km de subida principal, desde a Praça do Município daquela cidade; antecedidos de 4 km, logo a partir do nó da EN18, à entrada da urbe.
Esforço titânico, a maioria de duração superior a 1h30, para vencer as inclinações da estrada, a 6,5% de média e muitas passagens constantes a rondarem 10%. Sem dúvida, a subida mais difícil do nosso território continental – verdadeiro «col» de Categoria Especial.
Condições primordiais para o ataque à Torre: boas pernas, óptima «caixa»! Terá sido com a convicção de as ter, e sem falhas naquela manhã, que o nosso grupo se fez ao caminho para a serra, desde o Fundão – local de partida já habitual, junto ao Hotel Alambique. Os primeiros 12 km foram percorridos a ritmo bastante moderado, servindo de aquecimento muscular, todavia prescindível devido à amena temperatura matinal (22 ºC), a adivinhar dia de calor. E foi, mas sempre aquece muito mais quando há que escalar à Torre!
Ao traçado original, acrescentaram-se 14 km, a contar do acesso da EN18 à Covilhã, com meia-volta aos 7 km e regresso pelo trajecto inverso, antes de iniciar a grande subida, quando se totalizassem 25 km. Desta forma, pretendia-se preparar melhor e mais convenientemente o corpo para o esforço extenso e intenso da subida.
Todavia, alguns participantes decidiram não cumprir a referida extensão do percurso, cortando directamente para a Covilhã. Previsível ou nem tanto... Ainda pudessem considerar-se amplamente «preparados», é pouco compreensível que o tivessem feito a despeito do programa unanimemente pré-estabelecido e – ainda mais importante... - dos demais companheiros, que o respeitaram na íntegra e sem o calculismo de suposta poupança de energias que lhes garantisse só assim lá chegarem acima! Afinal, foram apenas 14 km ou 30 minutos, em andamento que nunca chegou sequer a impedir a amena cavaqueira!
Questiona-se a opção, nem que seja pelo facto não querer ficar «aquém» na clássica anual de maior prestígio e referência. Porque os «outros», os totalistas, mesmo os que chegaram depois (alguns muito...) foram sem dúvida mais «além»...
Enfim, a subida, a doce tortura. Nas incidências que pude presenciar ou conhecer, o destaque principal vai para o extraordinário desempenho do João Aldeano e do André, que protagonizaram uma subida fantástica e (para mim) até surpreendente. Não só pelo facto de terem «disparado» literalmente desde a entrada na Covilhã, destacando-se clara e definitivamente dos demais, mas também pelo excelente tempo de subida e respectiva média horária registados. Segundo eles, em redor de 1h07, mais de 18 km/h (contagem oficial a partir da Praça do Município).
As suas prestações posicionaram-se a um nível muito superior, não apenas à média mas ao seus mais directos «perseguidores», lote em que me incluo e ao Guedes, presença-surpresa, muito mais que o seu bom desempenho. Aos nossos tempos (o meu e o do Guedes, separados por apenas dois minutos), os dois primeiros retiraram cerca de 8 e 10 minutos, respectivamente – uma «eternidade» mesmo numa subida tão longa. Aliás, o duo da frente acrescentou ainda a particularidade, rara em alta montanha com grupos tão heterogéneos, de se ter mantido sempre junto, do início ao fim.
Atrás destes inalcançáveis, o equilíbrio de forças foi bastante menos evidente. Houve-o, em grande parte, entre mim e o Guedes, que subimos quase sempre a par ou muito próximos, separados por escassos segundos, só nos últimos quilómetros aumentando a diferença. Fomos os resistentes de um quinteto que se formou à saída Covilhã, e que incluía o Freitas, o Paulo Pais e o Mário Fernandes. Nessa altura, o Freitas impôs o andamento, e fê-lo até pouco antes do Parque de Campismo – contudo quase precisamente no momento em que entrou em perda. O Mário Fernandes terá cedido pouco antes ou pouco depois.
A partir daí, passei a assumir a condução do trio (com o Guedes e o Paulo Pais) mas a entrada nas fortes inclinações da Varanda dos Carqueijais reduziu-o a duo, após cedência do PP. Permaneceu, então, comigo apenas o Guedes, que veio a perder algumas dezenas de metros no Sanatório, para recuperá-los pouco depois da entrada no planalto das Penhas e de os revertido rapidamente em vantagem em fase em que passei mal – felizmente, momentânea.
Na passagem pelas Penhas, quando a inclinação voltou a aumentar, regressaram as boas sensações – e melhores que nunca! Após a descida de Piornos recuperei em cerca de 1 km a desvantagem de 30 segundos que acumulara para o Guedes no planalto, passando directo... rumo ao alto – onde terminei com 1h15m24s (16 km/h), pulverizando a minha melhor marca (1h20m) apenas três meses depois de ter caído num «poço» de rendimento sem precedentes («overtraining») e o sem treino específico para esta prova. Afinal, o prémio justo por 179 pulsações ao minuto, e o objectivo pessoal cumprido!
A vantagem (minha e a do Guedes), na Torre, para os restantes elementos do nosso grupo na Covilhã era praticamente a mesma que a dos dois primeiros para nós: o Freitas entretanto chegava, um minuto antes do Paulo Pais, após terem permanecido a par durante parte da subida.
A «escada» da hierarquia da Clássica da Serra da Estrela 2009 teve patamares muito espaçados! Noutro abaixo, o Nuno Garcia «entrou» com o Welder, que, em estreia nestas andanças, reconheceu no final os benefícios da vantajosa companhia de um homem de montanha como o papá-Garcia – naturalmente ainda distante dos seus tempos áureos. Bom, Nuno, para o ano é que é! Teremos um tempo ainda mais difícil para bater que 1h20m de 2005!
O Salvador, que também cumpriu o percurso na íntegra, mostrava a sua fibra, terminando em solitário, enquanto o seu conterrâneo Pina (igualmente com o trajecto completo) preferiu dividir tarefas com o duo Steven e Capitão, que alcançou durante a subida, culminando, juntos, os esforços partilhados. Os restantes, entre estes, João do Brinco, Samuel, Evaristo, Filipe, entre totalistas e os que atalharam..., todos concluíram a extensa ascensão, concretizando os seus objectivos.

Menções honrosas: para o Luís Novo e Luís Boleto, estreantes entre nós, que apesar de menos «rodados» que a maioria dos participantes deram muito boa conta do recado; e especialmente para o Zé Henriques, «the last but not least». Foi certamente o guerreiro menos forte de todos os que se apresentaram, mas não se fez rogado a enfrentar a batalha na sua versão mais dura e íntegra. Levou o «seu» tempo a travá-la, mas venceu-a tão bem ou melhor que todos os outros! É «o» exemplo que destaco.

1 comentário:

Anónimo disse...

Olá pessoal

Tal como ás vezes venho aqui falar de coisas que na MINHA OPINIÃO não são correctas dentro do grupo do mesmo modo quero comentar que adorei esta clássica da serra da estrela acho que foi muito bonito tanto em aventura e paisagem como em respeitar as neutralizações assim sim , deu gosto treinar em grupo ,parabéns ao Ricardo e restante pessoal.
Os tempos do João e do André são tempos canhão e não são fáceis de bater pois fizeram uma excelente subida em harmonia com a subida de estado de forma que o João tem vindo a denotar , e o André é leve , novo e sobe bem , eu rapei bastante e foi-me difícil encontrar o meu ritmo adequado para uma subida daquela extensão pois vou ter de trabalhar ainda bastante.
Tu Ricardo não estas mal e tens vindo a recuperar do overtraining.

Fiquem bem , boas pedaladas.

Mário Fernandes