A «Concentração Ciclista Livramento-Óbidos-Livramento» de 2009, organizada pelo camarada Paulo Pais – melhor, a cada ano que passa... – realizou-se em inédito sistema de contra-relógio por equipas, na distância de 102,3 km. O evento contou com cerca de quatro dezenas de participantes, divididos por seis formações, com as mais rápidas a aproximarem-se bastante da média de 40 km/h – o que diz bem do nível e competitividade dos desempenhos.
O grupo Pina Bike foi representado por sete elementos – Pina, Zé-Tó, Salvador, Zé Henrique, Pedro, Ricardo, Freitas – que cumpriram o percurso (tempo do terceiro elemento) em 2h49m38s, à média de 36,3 km/h, o quarto melhor registo. Mais importante que o resultado foi a invulgar experiência, a tão «altas rotações», e o salutar companheirismo.
Na manhã surpreendentemente fresca de domingo no Livramento, a nossa equipa foi a quarta a arrancar para a estrada e desde os primeiros quilómetros procurou-se andamento que permitisse esbater ao máximo as diferenças de capacidade que inegavelmente existiam no septeto. No entanto, mesmo com especial contenção, cedo o Zé Henrique revelou dificuldades em seguir os restantes – acabando, por opção própria, continuar no seu ritmo.
Estava-se, então, a menos de meio caminho de Óbidos, com o grupo a empenhar-se na ascensão para Outeiro da Cabeça. Íamos bem, com dinâmica e coordenação. Na longa descida para o Bombarral alcançámos a equipa de Salvaterra (com quatro ciclistas de «competição», entre eles, Vítor Faria, Henrique Janota, João Portela e Márcio Correia), que mantinham andamento longe das exigências de um contra-relógio... mesmo este, a «brincar». Daí a dobragem. Quando passámos, juntaram-se mas mantiveram a retaguarda, respeitando as «regras».
Entre o Bombarral e Óbidos, eis que chega, de trás, a equipa do Tutti-Fruti (tanta fruta...), formada, como se percebe, por miscelânea de elementos oriundos de várias proveniências, e que compunham um colectivo muito forte, com ambições. A saber: Runa, André, Carlos Gomes (que traição imperdoável!), Filipe Arraiolos e Hugo Maçã. Fora a última equipa a arrancar, seis minutos depois da nossa e logo ali demonstravam estar a efectuar um primeiro sector muito rápido, a roçar a média de 40 km/h! Pelo caminho, já tinham varrido a equipa Motorreis, angariando alguns elementos para o trabalho. E trabalharam bem! Foi uma ajuda que não e pode desvalorizar.
Pouco depois, alcançávamos os Ciclomoina. Tinham sido os primeiros a arrancar do Livramento. O seu andamento era claramente abaixo da média, mas a sua simpatia, camaradagem e união muito, muito acima. Inquebráveis!
Regresso
Na inversão de marcha, em Óbidos, aglomeravam-se três conjuntos. Se o Salvaterra tinha deixado a nós a tarefa de liderança quando foi alcançado, agora fazíamos (nós e eles) o mesmo em relação aos Tutti-Fruti – que estavam a jogar claramente para o melhor tempo. Mal sabiam eles quanto...
Neste ponto, a média da nossa equipa fixava-se em 37 km/h, correspondente ao tempo de 1h23m. Desde logo bem melhor que as melhores perspectivas, considerando o objectivo estabelecido à partida: terminar abaixo das 3h00.
Nos primeiros quilómetros da ligação de regresso, os Tutti-Fruti assumiam o comando do pelotão, com a maioria dos seus elementos, e ainda com a preciosa «aliança» do Motorreis. Continuaram a trabalhar, não se intimidando com o elevado número de respeitosas «boleias» que transportavam nas suas rodas.
O segundo sector foi, deste modo, tudo menos um contra-relógio para quatro equipas, mas uma amálgama que, como se antevia, não poderia deixar, até final, imaculada a tarefa dos Tutti-Fruti. Por várias ocasiões, a partir do Bombarral houve interferências alheias (mais que tentativas de desestabilização), entre as quais, a mais significativa foi a fuga de Vítor Faria antes do Outeiro da Cabeça, que se manteve durante alguns quilómetros a cerca de 200/300 metros de distância do pelotão. Creio que sempre controlado.
Começava, como se previa, a desenhar-se um figurino de corrida. Os Tutti-Fruti continuaram empenhados na sua causa e reconheçamos-lhes muito mérito. Mesmo com o acumular da distância e consequente fadiga de alguns dos seus elementos, nunca deixaram a que o andamento baixasse, embora insuficiente para ambicionar a média horária da primeira metade do percurso e, por muito poucos segundos, o melhor registo final.
Apesar de beneficiar do auxílio do Motorreis e, de a partir de Torres, do empertigamento do pelotão em jeito de corrida, a verdade que André, Carlos Gomes, Runa e companhia andaram muito bem.
Importa, ainda, ressalvar em abono do mérito dos Tutti que, entre Bombarral e Torres, o trabalho lhes esteve exclusivamente entregue, sem ajuda (no pelotão sobrava gente com capacidade para tal...) que melhoraria sem dúvida o seu registo final. E nessa altura nem os Motorreis lhes valiam, entrados na reserva.
Refira-se que, à frente e a andar muitíssimo bem sem qualquer interferência de terceiros, estava a equipa TGV do Oeste. Farto elenco de luxo, com nove «poderosos»: Jony, Duarte, Mário Fernandes, Marco Almeida, João Rodrigues, Xico Aniceto, Vasa, Rocha e Manso «Cancellara». Foram com naturalidade os mais rápidos. Por escassa margem, mas com toda a justiça, nem que seja pelo simples facto de terem trabalhado sempre a «a solo».
«Ajuda» final
Regressando ao pelotão, à passagem por Torres, com Vítor Faria já reintegrado, finalmente os Frutti contaram com ajuda importante: da Pina Bike. Nem mais, e não é puxar a brasa à nossa sardinha... Nos topos da variante nova, tanto eu como o Freitas, passámos pela frente, ajudando, principalmente, o André, que se assumia como o elemento mais activo daquela equipa – ou o que acusava menos o cansaço.
Na subida para Catefica, partilhámos o esforço... forçando ao ponto de fraccionar o grupo. Infelizmente, com más consequências! Entre os Pinas, necessitava-se que, além de mim e do Freitas, pelo menos um terceiro elemento (para fechar o tempo de grupo) conseguisse resistir entre os homens da frente. O Pedro parecia reunir boas condições, mas acabou literalmente por «rebentar», chegando ao Livramento em claras dificuldades, e com atraso. Os restantes (ZT, Salvador e Pina) também perderam o comboio à saída de Torres.
Por este desfecho adverso, assumo a minha responsabilidade no contributo que dei para aumentar o andamento, tornando-o impossível para os nossos. FIZ MAL, com prejuízo da nossa equipa, e aos meus companheiros apresento sinceras DESCULPAS!
Após Catefica, a intensidade não baixou mais. Com a minha participação, reforço. Manteve-se na descida do Carvalhal e nos topos do Turcifal, onde voltei a carregar nos pedais à frente do grupo.
No final do primeiro, contudo, fiquei surpreendido ao sentir as pernas vacilarem – pois vinha a sentir-me bem. Hesitei, mas acabei por melhorar... rapidamente. Ajudou-me o facto de, ao contrário do que esperava, o pequeno grupo que sobrava necessitar de respirar. De tal modo, que me permitiu defender-me no segundo topo das acelerações do Salvaterra, até aí sem consequências. Porém...
O golpe decisivo sucedeu logo a seguir à Freixofeira. Há um primeiro ataque do Márcio Correia, a que respondi, levando o grupo na roda. Fechei o espaço e passei a impor o andamento, até que, pouco depois, o Vítor Faria acelerou, sem que ninguém fosse capaz de lhe agarrar a roda. O Freitas ainda tentou... mas sem êxito. Curioso que, nesse preciso momento e ainda com 2/3 km e o «muro» do Livramento para transpor, o recém fugitivo (Faria) celebrou imediatamente, como se soubesse que não perderia a vantagem até final. Ou estaria a zombar. A coisa parecia terminada, mas eu estava disposto a dar-lhe luta.
Cerrei os dentes e passei à perseguição, ficando em posição intermédia. No entanto, apercebi-me rapidamente que, sozinho, era tarefa impossível!
O grupo, entretanto, juntava esforços e partia ao nosso encalço, absorvendo-me à entrada do Livramento, pouco antes da derradeira subida. Nessa altura, há outro elemento do Salvaterra, João Portela, que acelera deixando todos para trás, ao ponto de se juntar ao seu companheiro antes da meta, no Livramento.
Logo a seguir, o André, o Runa e o Hugo Maçã e eu chegávamos à frente dos demais. Os Tutti-Frutti fechavam desde logo com excelente tempo: 1h40m39s (38,3 km/h). Mas ainda não sabiam que tinham ficado a escassos 18 segundos dos TGV do Oeste – uma ninharia após mais de 100 km de pedal.
Apesar de (eu) ter realizado 2h45 (regresso em 1h21, a 37,4 km/h), o nosso terceiro homem (entre o trio ZT, Salvador e Pina) demorou mais de 4 minutos. Logo, os Salvaterra, que tinham perdido três minutos no Bombarral, acabaram por dar a volta nos últimos quilómetros e ficar em vantagem - que talvez não tivesse chegado para nos superar se eu indirectamente não (os) tivesse ajudado a... cavar.
Conforta-me, todavia, tenha sido superior a satisfação, unânime, no nosso grupo, por tão empolgante desempenho, a velocidades pouco domingueiras, partilha e total entrega ao esforço – que foram extraordinários no trajecto de ida para Óbidos. Quando demonstrámos ser EQUIPA!
P.S. Recomendo «ver» o contra-relógio do TGV do Oeste pelos «olhos» do camarada Vasa, no seu blog. Com especial dedicatória aos Pinas!
Classificação (102,3 km):
1º TGV do Oeste: 2h40m21s
2º Tuti-Frutti: 2h40m38s (+18s)
3º Salvaterra: 2h47m06s (+6m45s)
4º Pina Bike: 2h49m38s (+9m17s)
5º Motorreis: 3h06m13s (+25m52s)
6º Ciclomoinas: 3h12m12s (+31m51s)
Média do vencedor: 38,3 km/h
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