quinta-feira, outubro 01, 2009

Infantado: a crónica... possível

Desengane-se a pretensa maioria de opiniões que julgava, ou defendia, ter nos percursos planos mais facilidades – ou então, menos dificuldades que nos trajectos mais montanhosos. A alteração ao mapa de voltas neste último trimestre do ano foi ao encontro de algum descontentamento com as agruras das subidas exigentes nas tiradas dos últimos tempos. Cabia-lhe certa razão, logo mudou-se o figurino das voltas, com a antecipação da topografia típica da época de defeso.
Contudo, a experiência já permitia antever efeitos contrários – ou algo muito parecido. Quanto mais «rolante» é o traçado, maior é a intensidade que se emprega, e durante mais tempo que as próprias voltas com subidas. Ou seja, acabam-se os calvários das ascensões penosamente sofridas, impõem-se os tormentos de longos minutos a alta velocidade planície afora. A volta do Infantado, no domingo transacto, demonstrou-o.
Durante a minha (encurtada) permanência na referida volta, percorrida em sentido inverso ao original (pelo Porto Alto-Campo de Tiro de Alcochete-Infantado), ficou bem patente a «fome» de planura que grassava no nosso pelotão. Os roladores, tão ávidos de engrenar o ferro todo, atiraram-se com voracidade ao asfalto, devorando-o praticamente desde os primeiros quilómetros. De tal maneira, que, à saída do Porto Alto (na primeira passagem) já se contabilizava média horária superior a 35 km/h – precisamente a que se verificou no final dos 115 km, em Loures. Se não foi recorde, andou lá perto!
Pode alegar-se que em grupo que se diz de tão bom nível, aquela média num percurso em que a ponte de Vila Franca ou a recta da Sagres são os principais obstáculos do relevo, não é excepcional proeza. Ou que é marca que não representa dificuldades extraordinárias quando tantos e tão bons músculos carregam a fundo nos pedais. Todavia, se por algum motivo alguém ou um pequeno grupo perde o «comboio», o cenário muda radicalmente. É o cabo dos trabalhos. E posso dizê-lo por experiência própria, em apenas um terço da volta!
De Loures a Alverca, aqueceu-se os motores, de facto, em linha com o que é habitual nos percursos que se iniciam por esta ligação. Ainda assim, a média de 30 km/h à passagem pela «minha terra» revela não ter sido um começo descansado, mas o progressivo acelerar da locomotiva, ansiosa por entrar em velocidade de cruzeiro elevada.
Após Alverca, não demorou nada a que a composição se estendesse pela estrada, desde logo colocando de sobreaviso os que seguiam mais à retaguarda. Houve mesmo quem que não evitasse ficar cortado após o semáforo (vermelho) do Sobralinho, obrigando a trabalhos redobrados para alcançar o pelotão principal. Participei voluntariamente nesse esforço, ajudando ao reagrupamento, já que entraria de folga muito mais cedo. Entre Alverca e Vila Franca, a média (no sector) subia para 35 km/h. Ou seja, a esta velocidade, à parte de pequenos contratempos externos, toda a gente se manteve reunida e sem esforço especial.
O pior foi quando se deparou a famigerada travessia do empedrado, onde, invariavelmente, se aproveita para desferir golpes que possam causar cissões importantes no pelotão. Dão-se, com naturalidade, em consequência de abordagens distintas às características do piso, e à sua selectividade quando é bem «atacado». Há sempre os mais prudentes e os que aproveitam para tentar «cavar» diferenças precisamente por ser um dos escassos pontos nestas voltas em que é possível fazê-lo... sem empenhar grande esforço!
Neste caso, fez o grupo partir-se em três, com o factor agravante de o mais numeroso e que reunia elementos mais fortes neste terreno ter sido o... dianteiro. Nele pontificavam figuras como o Jony, Freitas, André, Carlos Gomes, Capitão, Salvador, Evaristo, Nuno Garcia, Filipe. Em posição intermédia, ficava(m) apenas eu, Duarte, Runa, Steven e o «Gesink» (nome fictício em alusão à sua estatura elevada). Ainda mais para trás, um aglomerado menos numeroso, que incluía, entre outros, o Carlos do Barro e o Gil.
Quem facilitou no empedrado foi... punido! Eu, por culpa própria, como em muitas ocasiões. Outros, como o Duarte e o Runa, creio que por motivo idêntico e também algum cansaço causado por competições na véspera.
A história é simples, mas intensa! Começa a desenhar-se ainda no empedrado e ganha formas definitivas quando, à saída destes, se avista o pelotão principal na segunda viragem à direita para ponte. Ia já a grande velocidade. A partir daí, ainda procurei encurtar a distância, acelerando sobre a ponte, sentindo-me acompanhado. Calculei quem seria.
A meio da travessia alcançámos o Steven, entretanto «descaído» do grupo da frente, mas à entrada da recta do Cabo, a nossa desvantagem para este era significativa: cerca de 200 metros. Afigura-se muito difícil de anular, se à frente não se aliviassem os pedais... Sem surpresas, foi o sucedeu.
A partir daí, adivinha-se: começou a corrida de gato e rato, com desfecho previsível: o rato, com o seu maior tamanho e força, esmagaria sempre o gato, franzino e durante muito tempo pouco solidário consigo próprio. Refiro-me à fundamental entreajuda, que só se iniciou praticamente a meio da recta! Não é uma queixa, porque assumi as despesas desde o começo sem solicitar ajuda e procurando empenhar-me ao máximo das minhas capacidades. Mas a perseguição só poderia ter hipóteses de se concretizar (embora remotas nas condições que descrevi) em profícua colaboração no quinteto (e que houve no grupo da frente, mesmo com uma elite de «poderosos» em maioria).
Assim, a distância entre grupos foi aumentando progressivamente até ao Porto Alto – mas de forma menos acentuada que o seria expectável e sem o mínimo sintoma de abandono da perseguição. Mais: como disse, a partir de certo ponto da longa recta, iniciou-se a cooperação (exceptuando do Runa...) e o esforço tornou-se mais brando e o desempenho mais eficaz.
De qualquer modo, a junção só foi possível devido à desaceleração significativa do pelotão, a partir do Porto Alto. A rolar a 45-50 km/h, em cerca de 1 km «fechámos» 300-400 metros de desvantagem. Vila Franca (final do empedrado)-Porto Alto: média de 40 km/h. Acumulada: os tais 35 km/h.
Quando voltei para trás (não sem antes cumprimentar os parceiros de grupo que comigo se tinham empenhado fortemente), iniciei desde logo a fase de descompressão de uma volta-treino que acabou por incluir uma «série» mais intensa e longa que o previsto. Pouco depois, cruzei-me o grupo que seguia ainda mais recuado, naquela altura a algumas centenas de metros do pelotão, mas que certamente o alcançou rapidamente com este em compasso de espera. O Carlos do Barro vinha à cabeça, secundado, entre outros, pelo Gil – que também foi apanhado desprevenido sobre o «pavé» de Vila Franca.
O que «perdi», segundo rezam as crónicas, foi um complemento animado, a espaços igualmente intenso como a primeira parte do percurso e até com várias picardias que, neste tipo de terreno, não trazem grandes benefícios individuais ou prejuízos colectivos. Sempre abrem mais o caixote!
Em suma, ficou mais uma vez reforçada a toada impetuosa destas jornadas planas, demonstrando que, a 20 km/h, em subida muitos «ficam»; mas a 40 km/h, a rolar, quase todos «vão»...
Para a semana, mantém-se o cenário da planície ribatejana, com a tradicional volta da Ota, acrescida de uma passagem por Sacavém (por Frielas-Unhos) no início. Ver percurso detalhado em baixo.
Nota: por escassos minutos não nos juntávamos aos Duros do Pedal, que tiveram a gentileza de interromper, por instantes, a sua cavalgada do Algueirão ao Cartaxo para nos cumprimentar à passagem por Loures. Pelos vistos, quem fez de «cicerone» foi o camarada Carlos Gomes, com quem a reputação do nosso grupo está (e estará) bem defendida. Quanto aos Duros, o encontro aguardado ficará para futura ocasião, quiçá já na próxima segunda-feira, durante o Cascais-Fátima.


2 comentários:

Luis Martinho disse...

Olá se 2ª feira vão a Fátima pode ser que nos encontremos. O grupo de Cascais já não vai mas nós vamos saír de Tires ás 8 da manhã.
Um bom passeio para vocês.
Luis Martinho (Pássaros de Tires)

Hugo"Maça" disse...

Olá a todos os elementos do grupo pinabike!
Pelo que tenho tido oportunidade de ler estao bem e outros menos bem, mas o mais importante é andar!
Agora que voltei às pedaladas, depois de umas boas férias como nao poderia deixar de ser, assim que tiver oportunidade irei pedalar convosco!
Cascais-Fátima?
Será que podias publicar mais imformaçoes acerca deste dia Ricardo?
Obrigado!
Muitas e boas pedaladas a todos!
Abraços!

Hugo"Maça"