quarta-feira, novembro 11, 2009

Chuva, furo na roda e... nas pernas

O último fim-de-semana, tinha decidido que marcaria o regresso paulatino à actividade física, uma espécie de preparação para melhor entrar na pré-temporada. Na verdade, não era mais que o reconhecimento que não poderia continuar a fazer corpo mole durante mais tempo, sob pena de amargurar todos os domingos para aguentar os andamentos dos resistentes que nunca param - ou não caem tanto como eu.
Como não tenho disponibilidade para uma abordagem do tipo profissional à dita pré-temporada (caminhadas, ginásio, corrida, natação...), o meu único recurso é voltar à bicicleta quanto antes, uma horinha na estrada ou em cima dos rolos, intercalando-a com sessões de electro-estimulação muscular (Compex). Suficiente!
Mas este regime era para arrancar depois do fim-de-semana. Porque durante, cumpri dupla jornada de treino (sábado e domingo) com a fadiga que daí se adivinha ter resultado. No sábado, com o grupo habitual da rotunda dos Caniços, rolámos na lezíria – eu menos porque tinha limitações horárias, mas os restantes cumpriram a volta de St. Estevão. Andou-se bem, em regimes adequados à época, mas, no regresso, a sós, desde Benavente, sob efeito do vento, os cerca de 90 km que contabilizava em Alverca já pesavam a quem está no início... do início.
De qualquer modo, foi uma bela manhã e um treino produtivo, que permitiu voltar à célebre estrada da lezíria (Benavente-Estalagem do Gabo Bravo, na recta do Cabo), cenário a fazer lembrar as clássicas do Norte da Europa. Infelizmente, um troço de 200 metros permanece, há anos, em muito mau estado, passando ao lado da última campanha eleitoral para as autárquicas. Não deve interessar a muitos, digo eu!
As marcas de sábado – já sabia – perdurariam no domingo na volta de grupo. Para mais, ao realizar-se sob intempérie de aguaceiros e vento. Por isso, arranquei a caminho de Loures consciente que havia limites que não poderia/deveria ultrapassar durante a tirada, sob risco de acabar em fortíssimo «empeno». Quando fosse hora de deixar-me «descair», fá-lo-ia sem reservas. Nada de ímpeto!
O percurso não era o mais amigável. Embora – diz-me a experiência – que os mais amargos «no papel» muitas vezes se tornam os mais doces. Este não era muito, nem pouco: mas sim em sobe e desce longo e suave, que certamente não permitiria chegar a casa descansado.
A subida para o Forte do Alqueidão confirmou as expectativas. O andamento não foi alto, apenas moderado face ao vento.... forte. Os elementos mais em forma nesta altura do ano tomaram as rédeas, porque, por vontade da maioria em que me incluía, teria sido muito mais demorada a ascensão. Entre aqueles, o Carlos Gomes (ainda...), o Carlos Cunha (até agora Bianchi Pantani ou Azul, e que descobrimos ter sido vizinhos até há cerca de um ano), o Freitas (na fase inicial, depois mais resguardado, por certo também a acusar os 130 km da véspera), o Evaristo e o Nuno Garcia (cada vez mais activos) e o Manso «Cancellara», que felicitei pelo regresso ao nosso convívio, no prelúdio de uma amena cavaqueira que durou até Arranhó. Aí, também ele foi dar o seu contributo à frente.
Atingi o Alqueidão poupando, ao máximo, as energias e os músculos. Ainda assim, a economia teria sido mais profícua com «un pontito menos» (como diria «Perico» Delgado) no andamento. Muito faltava a percorrer e convinha alimentar-me desde já, porque nesta fase os «timings» chegam mais cedo e menos intervalados.
Na descida para Arruda, furei, obrigando a uma paragem sob chuva e algum frio. Mais, para quem tinha arriscado o calçonito num dia destes, como o papá Garcia, cheio de hormonas maternais do leite que pirateia à filha. E para o trabalho que deu o meu pneu de 11 anos, que fez a vida negra aos desmontas e a chacota do «Cancellara», que fez as honras de chamar a si a tarefa de reparação. A propósito: interrogo-me sobre o motivo de serem raras as ocasiões, quando furo em grupo, ser eu a fazer a operação – como é normal e lógico. Será que os meus camaradas percebem, no meu semblante de desconsolo, que a última coisa para que tenho algum jeito é para trocar rodas? E que nesta situação, o Manso ficou sensível ao risco de a filha do Garcia ficar órfã de pai, e meteu mãos à obra ao vê-lo a não aguentar o bater dos dentes? Mas também será por um pouco de meu comodismo, confesso.
Sobre esta e outras incidências da volta, reporto para a crónica do Manso no Voltas ao Oeste.
Em Arruda, houve abandonos encorajados pela incontinência das nuvens. Menos mas mais molhados, até Carregado/Alenquer, o perfil da estrada ajudou, no meu caso, a disfarçar o cansaço. Todavia, a caminho da Merceana, quando os mais duradouros nesta longa temporada decidiram carregar (um pouco) mais nos crenques, fiquei imediatamente descompensado. Ainda assim, muito aquém do que esperaria, uma vez que, definitivamente, não era dia de correrias para ninguém.
Curiosamente, o Freitas comungou das minhas (más) sensações e deu voz aos seus condicionalismos físicos, oferecendo-me a sua tenra roda na longa subida de regresso ao Sobral. Aí destacou-se, com naturalidade, um pequeno grupo (Manso, Garcia, Evaristo, Salvador), que terá contemporizado quando nos sentiu em dificuldades. Estavam por sua conta, à vontade para seguir no ritmo que mais lhes convinha, mas foram amigos... De qualquer modo, não vi ninguém com inequívoca disponibilidade para continuar forçar o ritmo.
No meu caso, mais do que dificuldades, foi a necessária adequação da velocidade às limitações. Assim, não foi duro chegar, integrado no grupo, ao Sobral e depois ao Alqueidão, claro está, beneficiando sempre a parcimónia/compreensão deste. Pela qual agradeci!
No final, foram 116 km e mais de 4h00 de pedal. Num daqueles treinos esforçados, em má forma, sob chuva e vento que, como disse o «Cancellara», valem por dois!

1 comentário:

J. Manso disse...

Ricardo,
Queria aproveitar para cumprimentar e agradecer a vossa companhia após longa ausência da minha parte.

Quanto aos furos lembra-te que também fazem parte de uma saudável vida desportista...

Abraço