segunda-feira, março 08, 2010

Santiago dos Velhos: a crónica

Foram precisamente 53 os minutos contabilizados em subida, na volta de Santiago do Velhos, este domingo. Quase todos foram intensos, a valerem a quebra de alguns recordes (pessoais) de subida e a reflectirem o bom nível do andamento nas ascensões, que fizeram deste percurso o mais exigente desde o início da temporada.
Para bom ritmo em subida, bons executantes neste tipo de terreno. Mas não foram só estes, que têm qualidades de trepadores, os únicos protagonistas da jornada que teve 1500 metros de desnível (positivo) acumulado – alguns roladores não se intimidaram e exibiram-se na sua «praia».
O traçado empinou logo desde os primeiros quilómetros, a seguir a Loures, onde nos aguardava a primeira dificuldade do dia: o alto de Guerreiros. Como se recomendava, foi subida que se ultrapassou com maior moderação. Do Barro ao topo, o Freitas e o Vítor Pirilo comandaram um pelotão com cerca de uma dezenas de unidades – que viria a duplicar na Venda do Pinheiro com a entrada dos mafrenses do Ciclismo2640, integrando respeitáveis figuras, como o Paulo Pais, o Dário (reencontro aplaudido), o Manso «Cancellara», o Rocha e as revelações Marco Silva e Jonas, e talvez mais um ou outro elemento.
Estes não chegaram a tempo de integrar o grupo proveniente de Loures na subida da Freixeira (Venda), que foi transposta já «em cima» do limiar anaeróbio, mas numa toada certa, sem repelões e num tempo bastante satisfatório (4m07s). Ainda assim cerca de 30 segundos superior ao melhor.
No alto, o primeiro furo – Capitão – a obrigar a demorada paragem.
No reatamento, desceu-se a caminho de Bucelas, com o pelotão a reagrupar-se só na Chamboeira. À entrada de Bucelas, com a subida de Santiago dos Velhos em ponto de mira, eis novo furo: o Hugo Maçã. Resultado: mais um impasse, e nem por isso mais breve que o primeiro.
A maioria aguardou pela reparação, e foi em pelotão compacto que se abordou a longa ascensão ao Lameiro das Antas, a mais difícil da jornada. O andamento vivo marcou logo os primeiros metros, com o Manso impô-lo ante uma coluna que se enfileirou. De qualquer modo, não foi suficiente para que à cabeça do grupo se gerasse alguma desordem, deixando a sensação de haver desconhecedores da subida, principalmente da sua extensão. Foi o que se confirmou após o primeiro quilómetro mais inclinado. No entanto, o esclarecimento dos conhecedores não refreou os ímpetos aos mais afoitos – principalmente ao estreante com o equipamento da RBikes, que ensaiou algumas acelerações, que desencadearam prontas reacções. Nesta altura, a dureza já estabelecia a primeira selecção no grupo.
Com o acumular dos quilómetros, destacou-se na frente um pequeno grupo, que integrava (salvo erro por omissão involuntária), eu, Dario, Carlos Cunha, Jorge (Alverca), Carlos Gomes, Hugo Maçã, Filipe Arraiolos e o Gil. Com destaque para o trabalho partilhado entre o Dario, Cunha, Gomes e o Arraiolos, o grupo manteve-se reunido até ao cume, realizando a subida em tempo recorde: 21m57s (30 segundos mais rápido que o anterior, datado de 4/2/2008). Mas os demais não demoraram a chegar – inclusive os que adoptaram um passo mais económico.
Após tranquila transição para Arranhó, deparou-se a fase final da subida ao Forte do Alqueidão. O Cancellara voltou a marcar o andamento – muito bom, diga-se! Coadjuvado pelo seu amigo Rocha, prepararam terreno para a aceleração do Dario no último quilómetro, mas com resposta eficaz, grosso modo, da maioria dos elementos que passaram na frente no Lameiro das Antas.
Mas agora o Paulo Pais não se deixou atrasar e contra-atacou no início da descida para o Sobral. Destacou-se cerca de 200 metros, sempre controlado pelo pelotão, que o reabsorveu antes da neutralização junto à Praça de Touros.
Do Sobral desceu-se calmamente para Arruda, e nesta mesma toada daí para os Cadafais, onde se iniciou a que seria, pela posição no percurso, a principal a subida do dia: Santana da Carnota. Na ligação Sobral-Cadafais voltaram a assumir-se os roladores: Cancellara e Capitão com as rédeas do pelotão.
Mas logo que se entrou na subida - um longo plano ascendente de 8 km que leva à fase fina, com 3 km a cerca de 5% - «mexi» para aumentar a intensidade. No que fui correspondido pelo Filipe Arraiolos e, numa segunda vaga, pelo Cancellara, que procurou, sem êxito, que o grupo serenasse para reassumir o controlo. Por isso, deixou precocemente o serviço, reservando-se para momento mais propício, qual rolador por excelência. E subiu tranquilamente na companhia de um «igual», o Capitão.
À frente o andamento não abrandava. Nem um segundo de descanso! Principalmente, após a intromissão do Marco Silva na frente. Foi ele que nos lançou na parte final da subida, após Santana da Carnota, onde os níveis cardíacos galgaram mais um patamar. E foi, então, que começou a haver movimentações: Carlos Cunha, Carlos Gomes, Hugo Maçã... Mas parecia estar toda a gente muito agarrada, quais peças de Lego. Mesmo à entrada dos derradeiros 500 metros e quando era visível que as forças começavam a escassear. Resistiram, no alto: eu, o Maçã, o Arraiolos e o Carlos Cunha, com o Gomes a ceder apenas alguns metros, e o Dario e o tenaz Marco mais alguns.
Culminou-se, assim, 11 km de intensa subida, com os oito primeiros a serem cumpridos à média de 32 km/h, e últimos três (a subida propriamente dita) a 27,5 km/h, a estes correspondendo novo tempo recorde: 6m37s (contra 7m40s em 5/10/2006). Ritmo cardíaco médio: 170 no primeiro sector; 179 no segundo. Pois... cerca de 7 minutos a rondar os 180 não deixa propriamente saudades! Eis o custo de ter imposto o andamento nos últimos 300/400 metros, e só assim sendo possível que algumas peças do Lego se desmontassem...
Na ligação ao Sobral, ainda mais um furo (do Salvador) a fazer mais um compasso de espera, antes de abordar a subida final, para o Alqueidão (vertente norte). Aqui, uma vez mais, o ritmo foi intenso. O Cancellara pautou a entrada ao seu estilo. A sua atitude e a disponibilidade são esmagadoras. Para mim, tem uma das melhores rodas, subidas pouco acentuadas incluídas, se lhe permitirem meter o passo, ideal para «levar» mas que não poucas vezes é mal aproveitado, mesmos pelos «seus mais chegados».
Agora estendeu a passadeira vermelha ao Dário, que, todavia, não tardou a dispensá-la, imprimindo um passo bem mais forte e aumentando-o progressivamente. Desde logo, selectivo! Mas houve quem estivesse com capacidade de meter ainda mais alto, como o imparável Marco Silva, que apenas não contou com os efeitos retardadores do tradicional vento de cara e do piso rugoso do quilómetro final. Assim, expôs-se à ofensiva do furtivo Carlos Cunha, que o rendeu, parecia que definitivamente, mas acabou por ter a minha parceria para concluir a ascensão.
Além destes que nomeei, ainda o Filipe Arraiolos e o Maçã concluíram a subida no grupo da frente, ambos rubricando excelentes desempenhos nesta volta – a demonstrar bom estado de forma. E o primeiro com o «must» de ter sido mais abnegado trabalhador. Tempo de subida: 6m06s, muito perto do melhor tempo continua: 5m45s.
Na descida para Bucelas, rápida mas sem «stress», a terminar o rol de furos, o meu, devido a uma pedra. A retardar o final desta proveitosa manhã de ciclismo, que superou as 5 horas e os 140 km.

Para a semana, a volta é a do Gradil, já uma clássica e este ano com ligeiro prolongamento inédito no percurso – e com tradicional ponto alto na fantástica dupla ascensão Gradil/Murgeira.

6 comentários:

Dario Teixeira disse...

Muitos parabéns Ricardo. Tens uma excelente memória visual. Acho que não te esqueceste de nada. Queria também agradecer-te e ao Filipe por me terem feito passar, por 3 ou 4 vezes, as 180 de Fc. Esse era um dos meus objectivos. Também os meus parceiros se portaram exemplarmente, principalmente o Manso que me possibilitou algum protagonismo na 1a parte do percurso e ao Marco na 2a. Peço desculpa mas na descida para Bucelas não percebi que tinhas furado. Para finalizar gostaria de aqui deixar uma frase acerca da companhia que encontrei nesta volta:
"Nenhum indício melhor se pode ter a respeito de um homem do que a companhia que frequenta: o que tem companheiros decentes e honestos adquire, merecidamente, bom nome, porque é impossível que não tenha alguma semelhança com eles".
(Adam Parfrey)

Abraços
Dario

Ricardo Costa disse...

Caro Dario. Agradeço o cumprimento e retribuo. Mas reforço. A volta de domingo foi, de forma unânime, considerada por alguns dos participantes mais assíduos – em que me incluo – como uma das que melhor decorreram dos últimos tempos, organizadas pelo nosso grupo. E para tal, digo-o sem contenção, vocês (todo o grupo que entrou na Venda do Pinheiro) tiveram um contributo não apenas importante, como decisivo.
Cavalgadas à parte (que foram altas, como provam os cardios e os cronos), o respeito escrupuloso por todos os participantes (nas neutralizações e nos furos, que foram vários e demorados e sem desertores relevantes) foi um exemplo do que se pretende implementar todos os domingos. O resultado foi, como disse, do agrado geral – como tive oportunidade de constatar hoje na junto do Pina.
A vossa «disciplina» colectiva, espírito de camaradagem e sã competitividade, sem complexos em assumi-la, ficou aliás bem patente numa situação em que foste protagonista. Nem deves ter-te apercebido, mas a tua atitude, por trás de simples palavras, ficou-me na retina. Passo a explicar (e quiçá a recordar-te...): no alto do Alqueidão, logo que o Paulo Pais atacou no início da descida, isolando-se perante o pelotão que relaxava do ritmo intenso da subida, face ao impasse na perseguição e como estavas muito perto da cabeço do grupo principal, deixaste escapar a seguinte afirmação, meio tímida: «Ele é dos meus, não vou perseguir». Disseste-o com um sorriso de descomprometimento nos lábios, para percebermos que não estavas a levar aquilo «a sério», como numa corrida em que seria estratégia aceitável. Eu não disse nada, mas não seria necessário, naturalmente. Mas a forma como relativizaste a situação, justificando a tua retracção antecipando eventuais julgamentos (para que ninguém pudesse levar a mal), foi sintomática do teu carácter, da forma de estares no desporto e – arrisco – na vida.
São esses exemplos que precisamos todos os domingos. Para que as «nossas» corridas sejam um divertimento sem pudor, em que todos participam.
Este elogio é extensível aos camaradas do Ciclomix (como bom exemplo de grupo) que, além do excelente comportamento que lhes é habitual, desgraçadamente estão em nítido crescendo de forma! Se já era difícil vergá-los, assim... Bom, preciso de treinar mais, é o que é!

Abraço

Anónimo disse...

Amigo Ricardo muitas vezes tenho elogiado o teu excelente trabalho literário e as tuas capacidades escriturárias, mas desta vez e ao ler a crónica, ritual que sempre faço ansiosamente, não pude deixar de me rir um pouco.É que não consigo entneder como é que tu me conseguistes ver na subida com o Ilustre Freitas, pois a essa ora eu estava na caminha(como o outro, o Fortes).Ainda assim fiquei satisfeito pois provavelmente tenho algumas capacidades que desconhecia, capacidades essas de omnipresença,pois não é para todos isto de conseguir estar em dois lugares ao mesmo tempo.Ah,ah,ah! Brincadeira á parte e daqui envio um abraço para todos os leitores e companheiros de estrada, e para ti.
Até á próxima.Boas pedaladas.Um abraço.
Vitor Pirilo Fialho

Pedro Fernandes disse...

Parabéns a todos

A forma na participação desportiva é entusiasmante e salutar.
Eu vim do Carregado, subi Arruda (a pensar que estava atrasado) a dar tudo e desci as Lameiras (deu para aperceber que a subida ia ser dura) e encontrei-me com o grupo em Bucelas a aguardar a resolução de um furo -- é agradável esta forma de actuar.

O reagrupamento em picos intermédios é agradável para quem anda muito e para quem vem atrasado dá a possibilidade de agrupar e engrossar novamente o grupo.

O comportamento foi agradável, assim, permite o aumento do grupo aos domingos.

Quanto à minha pessoa limito-me a "apanhar" esta roda e aquela, "agora não dai"...,ai uihhh, uff, o treino é pouco ou nenhum, apenas aproveita-se para combater a pressão da cctividade profissional.

Parabéns ao Ricardo, e aos demais, por manter esta iniciativa viva.

Pedro Fernandes do Carregado (camisola FPC).

Ricardo Costa disse...

Vítor, desculpa lá o lapso, foi por mera simpatia. Não sei como é que te fui «buscar» à caminha, mas fiquei com a ideia que eras mesmo tu! E como és um leitor sempre muito atento e participativo (tanto no elogio como na crítica) não quis arriscar a omitir a tua presença naquele contributo que pelos visto alguém (que não sei quem foi) deu para o andamento do pelotão naquela fase inicial da volta. Brinco!

Fica, então, o pedido de desculpas

Abraço

Anónimo disse...

Ricardo quem ia na frente com o Freitas era um rapaz que não sei o nome mas vinha com o Vidigueira e costuma usar um lindo equipamento do Glorioso SLB!!!
Filipe Nunes