quarta-feira, setembro 15, 2010

A-dos-Loucos: a crónica

Quero a Serra! Antes a Serra, que esta tortura da volta de A-dos-Loucos, vergado a uma horda de verdugos impiedosos que não se pouparam a esforços para me sovar no final de uma semana inteira de descanso... passivo. O regresso menos recomendado de sete dias de inactividade, após a Clássica da Serra da Estrela.
No entanto, os primeiros maus tratos, eu próprio me infligi, devido a uma saída tardia de casa que me forçou a aquecimento em contra-relógio, massacrando os músculos presos, adormecidos pelo longo ócio.
À chegada à rotunda do Infantado fico surpreendido com a coluna numerosa que se aproxima, quando àquela hora grande parte dos elementos mais fiéis do grupo estariam a caminho de Reguengos, estes, sim, em legítimo contra-relógio. Mais impressionado fiquei ao reparar que à cabeça do pelotão sobressaiam o Samuel e o Polícia em amena cavaqueira. E o Carlos do Barro logo atrás. Dou meia-volta e integro-me, encontrando-me lado-a-lado com o Steven, que não demora a fazer luz sobre as minha dúvidas: «Os teus ainda ficaram nas bombas! A malta vai para Sto. Estêvão». Agora, sim, tudo mais... habitual. A única imprecisão foi o facto de também os «meus» já ali estarem. Nem sabia quais e quantos, mas quando os caminhos dos dois grupos separaram, no Tojal, apercebi-me que não eram muitos mais que os dedos de uma mão.
Até Bucelas, o ritmo foi moderado, a cargo do Renato Hernandez, permitiu colocar a conversa em dia, ainda sobre as incidências da Clássica da Serra, com o Carlos Gomes, Jorge e o Pedro como intervenientes. Entretanto, o Mário também se mostrou, e então comecei a fazer contas de cabeça. Que rica companhia! Se estes bons companheiros estivessem «virados», seria o cabo dos trabalhos. Não demorei muito a ter essa confirmação.
A partir do Freixial, o Renato apertou e logo, muito! Começámos a andar como loucos, na rampa da Chamboeira acima dos 30 km/h. Tudo agarrado à sua roda. A locomotiva está de regresso! Num ligeiro «descanso» da subida relaxei, deixando abrir um ou dois metros, e para o Forno do Coelho fiquei a vê-los. Passaram todos os que já sabia estarem ali, e olhei para trás para descobrir alguém com que partilhar o resto da subida. Em vão. Não havia mais ninguém!
Às tantas, o Jorge e o Pedro, em extraordinária forma (ai os erros da Serra!), meteram uma abaixo e ninguém os seguiu, incluindo o Hernandez. O Mário optou por descair para me rebocar. Uma mota! Na Venda estávamos todos reunidos.
Na ligação ao Milharado manteve-se a intensidade, com o Hernandez sempre a imprimir o andamento e grupo a esforçar-se por manter a unidade. Após a Póvoa da Galega, pouco antes de reentrar no percurso em sentido inverso, o próprio lançou a seguinte laracha: «viemos dar esta voltinha para aquecer, hem». Pois...
Nesta toada, num ápice chegámos a Bucelas e preparámo-nos para enfrentar o Cabeço da Rosa, pela Romeira. Ritmo crescente, a terminar no limite. O Hernandez a dominar. Agora parecia ser o Mário em dificuldades. Retribui-lhe a ajuda da Chamboeira, mas disse para não me apoquentar, que só precisava de... «embalar». Talvez a subida fosse demasiado curta para o ritmo demasiado alto. Na sua terra, o Jorge «ordena» uma paragem por... necessidade. E no reatamento, em voz baixa reconhece a «disponibilidade» do Renato, para ele, desconhecida. Até agora.
Enfim, A-dos-Loucos. Primeiro ponto a favor da minha causa própria contra o empeno: a maioria parecia desconhecer a subida. Aos primeiros metros, o Renato exteriorizou a surpresa: «Onde é que estava escondida esta beldade?».
Numa atitude que o Carlos Gomes define como «até queimar o sangue», passei a imprimir o ritmo do grupo na fase inicial, a mais dura da ascensão. Fi-lo como pude, sempre em crenques, porque as pernas não suportavam que pedalasse sentado. Conduzi até a pendente aliviar e até à primeira mudança de velocidade. Esta veio do Contador de Alverca e foi esmagadora. Ninguém a suportou, até final. Os restantes subiram com ligeiras distâncias, e uma enorme surpresa: o Pedro entre as feras! Na cauda, eu e o Gomes, a tentar minimizar os prejuízos. Ainda assim, no alto a nossa desvantagem não era... demasiada.
Ah, com isto esqueci-me (por simpatia) de mencionar que, entre Alverca e Alhandra, se juntou a nós o Pedro Fernandes. Os cumprimentos foram breves, tal como o convívio, e só no final da subida se deu pela sua falta. Afinal, não demorou muito.
De A-dos-Loucos saltou-se para Mata, colocada especialmente neste final de percurso só para... estragar. Para meter nojo. E se a subida dos Loucos foi às apalpadelas, esta, por ser bem conhecida, foi atacada quase desde o início. Ainda assim, o grupo manteve-se compacto até ao primeiro descanso, altura em que o Gomes denuncia intenções: «Já estou despachadinho». E abre. Eu não demorei muito mais a seguir-lhe o exemplo, durei apenas até à curva cotovelo, quando o Hernandez esticou.
No entanto, este acabou por ser vítima da sua afoiteza. Em resposta, o Mário arranca imparável e tanto o Jorge como o Pedro (mais uma vez excelente!) seguem-no. Entre todos, distâncias de cerca 15 a 20 metros – mas lá na frente alguma coisa estava para acontecer. O Jorge passa à contra-ofensiva e dobra o Mário. E o Pedro mantém-se em progressão. Para trás fica definitivamente o Hernandez, depois estou eu e a seguir o Gomes, que encontrou o seu ritmo. Finalmente, o Pedro Fernandes.
O pequeno Contador de Alverca ainda explodiu para os metros finais, num registo de subida que rondou os 11m30s – ou seja, a «top». Está rijo, o homem!
E este domingo há Montejunto, por Pragança, com a sua famosa rampa dos 15%. Até lá conto estar melhor. Pelo menos, que a lástima deste final de semana.

3 comentários:

Felizardo disse...

Eh eh... essa malta não te dá descanso. Boa crónica, para não variar. Proporcionou-me umas boas gargalhadas.

Abraço e boa Abrigada no Domingo.

Pedro Fernandes disse...

Tentativa de seguir, à vista…, os “ProTour”:

No “gruppeto” apenas Pedro Fernandes
Pois é extraordinária volta com boa camaradagem à mistura.
Fui à morte (saí atrasado de casa – Carregado) e quando cheguei a Bucelas os “Protour” já tinham passado e eu já off. Mantive-me a aguardar a sua passagem na zona e lá vinham eles (Alverca-Ahandra), bom dia, bom dia e upsss roda com ele, uufffff não descola Pedro, não descola…
Bom, na subida A-dos-Loucos elástico tão apertado, tão apertado que, claro, partiu…uppss
A camaradagem veio ao de cima quando o Ricardo e o companheiro da “Mota” (e todos a esperar) deram meia-volta no término da subida e ajudaram-me no final da subida, como é bom uma boa roda, ehhh.
Depois foi o “elas…” na subida da Arruda dos Vinhos” primeiro fui “à morte, como sempre, nos limites dos limites” depois o Carlos Gomes com a sua enorme cordialidade e palavra de incentivo “vamos Pedro” e o Pedro roda com ele, mas só dificuldades, a roda era muito boa mas a minha preparação não ajudava, procurava força anímica onde não existia, sofrer e mais sofrer, bemm.. na camisola do Carlos Gomes dizia… Relaxxx… e no meu rádio (que vinha ouvir boa musica) entretanto mudou para outra estação passando a ouvir a missa dominical --- nada a ajudar!...
Olhava e aonde está o “grupeto” (claro não havia) nada apenas eu e mais eu, era agradável existir!... para subir nas calmas (como os Prooos do final da classificação geral,ehhh).
No final mais uma vez o grande companheiro da “Mota”, fantástico, mais uma roda e finalmente a subida feita.
Fantástico, amigos não aderentes, temos de nos juntar aos bons, e sermos muitos, só assim é que contornamos os grandes desafios, como tudo na vida, descolar faz parte de uma boa prática desportiva, é salutar.

Pedro Fernandes (Carregado)

Anónimo disse...

Foi muito boa esta voltinha. Estou a subir um pouquinho melhor mas a rolar pior. É o que dá a falta de treino e descanso e alimentação em condições. Eu faço estragos mas tenho especial prazer em ajudar, quer seja a dar a minha roda nas zonas planas, em perseguições ou a voltar para trás no topo da subida para trazer quem ficou para trás.
É da maneira que treino um pouquinho mais e o pessoal não refila ;)