A volta do último domingo
foi a demonstração de como se pode rolar durante dezenas de quilómetros a muito
bom ritmo, sem o stress das correrias desenfreadas e promovendo ainda «situações»
interessantes de ciclismo, como fuga e perseguição. Tudo isto, apenas na
primeira metade do percurso e em cenário aprazível: a longa ligação entre
Loures e o Estoril, pela zona ribeirinha de Lisboa e a belíssima Marginal.
No entanto, a «situação» «deu-se»
de uma forma que considero casual (não premeditada) Explico: logo nos primeiros
quilómetros após a saída de Loures, em Ponte de Frielas, já havia um elemento
adiantado ao enorme pelotão. O Ricardo Gonçalves, com andamento acima dos
restantes, pôs-se em fuga, creio, sem realmente querer. Simplesmente, foi... Porque
ninguém no grande grupo pareceu importar-se, contrariando o que é habitual, com
o terreno plano, em que «situações» destas nem sequer se concretizam. A maioria
morre à partida, por falta de «autorização» de um impulsivo e pouco paciente pelotão.
E eis a virtude. Pelo facto
de o grande grupo tê-la permitido não acelerando imediatamente ao mesmo ritmo,
preferindo manter-se tranquilo (talvez a fase inicial da época tenha tido a sua
influência), a um andamento que possibilitava não perder demasiado tempo para o
homem da frente, experimentou-se a referida «situação», em que foi demonstrado,
cabalmente, a capacidade de uma coluna, bem organizada e com músculos fortes e
disponíveis, para gerir e anular (com mais ou menos dificuldade) qualquer
iniciativa, mesmo de um ciclista de nível, exímio rolador, como o Ricky
Gonçalves -, que, a bem da verdade, não estaria na dianteira preocupado para aí
manter-se a todo o custo.
Cá atrás, o lote era
extenso e igualmente capaz de, num esforço concertado, alcançar o fugitivo,
embora, também no pelotão, não parecesse haver especial interesse no fugitivo
que, amiúde, era avistado a cerca de 300-400 metros, sempre em boa pedalada,
por vezes, a perder-se de vista, às tantas, também da memória...
No comando do pelotão
poucos mas empreendedores. Entre os mais assíduos, salvo alguma omissão: Jony,
Freitas, Nuno Mendes e eu.
Foi preciso uma mudança
imprevista e, por sinal, bastante forte de ritmo no grupo, após o cruzamento da
Cruz das Oliveiras até perto de Carcavelos, imprimida pelo Jorge (acima dos 45
km/h nesse troço), para relembrarmo-nos que existia alguém escapado. Num ápice,
passou a estar a não mais de 100 metros. A partir de então, até ao Estoril, onde
o cenário e o terreno mudariam, não voltou a ganhar vantagem, e sim, agora
parecia estar a ser controlado e até a haver um esforço para a sua anulação.
A partir do Estoril,
mudança de perfil, alteração de figurino. Desde o início da longa ascensão
(mais um falso plano) até à rotunda de Ranholas, adaptaram-se os andamentos:
foram ou ficaram os que puderam ou quiseram. Em número inferior a dez. De
início, a parte mais inclinada, todos a seguir (ainda) o Ricardo Gonçalves, que
se manteve incólume, impávido e sereno após ter sido alcançado pelo pelotão.
Até ao alto, com ritmo
vivo, não demasiado intenso, mas ainda assim castigador, tal como a oposição do
vento, o comboio perdeu cerca de metade das suas peças, depois de tanto eu,
como o Bruno e o Ricardo Afonso (que forma!) terem passado pela frente. Em S.
Pedro de Sintra, além destes, apenas o André (com mais de 200 km e a Arrábida
nas pernas na véspera). Após a descida para Sintra, paragem retemperadora para
café.
No reatamento, outra
toada, mais incaracterística, com menos elementos, vento frontal e um andamento
um pouco de sacrifício. Do tipo de deixar andar até ao fim...
Volta que valeu
essencialmente até Sintra e acima de tudo pelas ilações a retirar do
comportamento do pelotão perante um elemento em fuga (mesmo que sem querer), e
o seu poder aglutinador em terreno plano, mesmo perante um fugitivo de bom nível.
Para ponderar em futuras ocasiões, em prol de benefícios diversos.
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