segunda-feira, fevereiro 20, 2006

Ota: a Clássica da chuva

As voltas da Ota estão definitivamente votadas à intempérie. Mês e meio após a manhã de domingo de chuva copiosa em que o Miguel sofreu o acidente, ontem uma borrasca inclemente voltou a abater-se, encharcando até ao osso os corajosos cavaleiros do asfalto que ousaram fazer-se à estrada para a Clássica das Clássicas planas num dia que nasceu incerto. A água aguentou-se pouco tempo no céu, começando a cair ainda o pelotão aquecia em Vialonga, obrigando, desde logo, os que saíram de casa mais precavidos a vestirem os impermeáveis. Os incautos desprotegidos não tinham outra alternativa que torcer para que as tímidas abertas entre nuvens negras perdurassem.
Talvez para tentar, em vão, fugir à ameaça do tempo, o pelotão aumentou o passo à saída de Alverca, com o Freitas à cabeça, causando imediatamente os primeiros cortes no grupo: o Samuel e o Sr. Zé, acompanhados pelo ZT, sempre solidário no apoio ao seu progenitor. Depois de Vila Franca impunha-se aguardar pelos retardatários, que acabaram por reentrar só à entrada do Carregado. Todavia, o processo correu bastante bem, com destaque para a atitude de contenção do pelotão e, acima de tudo, para o esforço dos perseguidores.
Mas S. Pedro não estava em dia de tréguas e carregou impiedosamente com um fortíssimo temporal – não tenho memória de algo assim. Ainda antes de Alenquer, o céu enegreceu, largou sobre nós uma tromba de água puxada a vento. Todos de pantanas, com dificuldade em controlar as montadas na autêntica enxurrada que invadiu a estrada fizemos a subida ao topo da variante nova num banho forçado entre os safanões do vento.
Apesar de tudo, imprimiu-se um ritmo forte, com o Fantasma a dar os primeiros sinais da fase de vitalidade que atravessa. O Abel, ao invés, mostrou que estava em dia de maior debilidade. O Samuel e o Sr. Zé, ainda justos de forma, optaram por dar meia volta.
Alguns quilómetros à frente, a passagem pela estação de serviço da base aérea da Ota avivou a memória do acidente do Miguel a todos os que o presenciaram nesse malfadado dia. A mim, em particular, pensei na diferença abissal de velocidade – muitíssimo inferior agora.
Felizmente, na Ota a chuva parou e permitiu que o troço «da verdade» continuasse a sê-lo. O Fantasma entrou adiantado e antecipou as escaramuças. O Daniel deu o mote na perseguição, a solo, com o Pina a controlar a distância. Chegara a altura de corrigir o posicionamento, com o Freitas sempre atento, e os restantes bem concentrados. Um ou dois quilómetros adiante, o Fantasma foi absorvido e o jogo ficava ainda mais aberto. Previsivelmente, o Freitas apareceu para nos apalpar o pulso - como disse mais tarde o Fantasma - mas também como deixara explícito nos seus comentários da semana. Uma aceleração, depois outra, mas sempre com resposta à altura de quase todo o pelotão, por isso seguia-se sempre um «alívio» e o reunir das tropas. Assim, já em plena subida (2 km a 3%), depois de vários elementos terem tentado a sua sorte, acelerei (também previsivelmente) a cerca de 300 metros, mas sem grandes esperanças de distanciar o Freitas, que, nos últimos instantes, se adiantou facilmente. Destaque para as excelentes prestações do Steven e do Luís (da BTT), mas também do Fantasma.
Daqui até Aveiras e depois rumo a Azambuja rolou-se bem, sem sobressaltos, mas com forte vento frontal, havendo necessidade de um maior revezamento na dianteira, que durou quase até ao Carregado, após o que o pelotão se foi desagregando devido a algumas paragens mais demoradas.
No entanto, ainda foi produtiva a perseguição movida por mim e pelo Freitas ao Steven e ao Fantasma, e os sprints da praxe em Vila Franca e Alverca. No final de 115 km, a lamentar só o temporal. Mas também este parece já ser da praxe nesta Clássica. Felizmente desta vez sem acidentes!

Notas de observador:
1- No dia do acidente do Miguel, o Freitas atacou logo a seguir ao topo de Alenquer e obrigou o grupo a perseguir a alta velocidade (precisamente quando se deu o acidente). Desta vez, o homem deixou explícito nos comentários da semana que iria voltar a tentar fazer «estragos». Ontem, porém, fê-lo mais tarde, já depois da Ota, em plena estrada florestal que conduz ao topo do Vale do Brejo – onde tradicionalmente se medem as forças. Duas acelerações fortes, mas curtas, sem grande convicção de serem suficientes para se distanciar. Tanto mais, que os principais elementos do grupo já tinham mostrado não estarem dispostos a facilitar. Aliás, as iniciativas pareceram mais provações do que outra coisa qualquer. No topo do Vale do Brejo a sua superioridade no sprint é sempre uma mais-valia, por isso não seria coerente desperdiçar energia inutilmente antes. Tudo bem, que na última vez, acabou por ser surpreendido naquele local por mim, mas agora bastava-lhe estar mais atento – tanto mais que eu era ontem o único rival com que se deveria preocupar. Por isso, fez o que bem sabe: entrou na subida na minha roda, esperou pela minha aceleração, respondeu a preceito e depois lançou o seu sprint irresistível – ao qual nem sequer consegui ripostar.

2- Há alguns meses «rivais» na estrada e em comentários viperinos neste blog, o Fantasma e o L-Glutamina demonstram agora partilhar de grande forma. Os seus companheiros de equipa na altura (o Pina e o ZT, respectivamente) têm neles duas boas referências. O Fantasma é um rolador de excepção, um «castigador» nato, que não se cansa de meter ferro sempre à procura de causar desgastes; e o L-Glutamina é um caso de sucesso como resultado da frequência e do método de treino, sendo capaz de estar uns furos acima do seu «concorrente» quando o terreno empina. Provou-o na semana passada, em Vila Franca do Rosário e ontem no Vale do Brejo. Curiosamente, ontem, entre o Carregado e Vila Franca acabaram por juntar esforços numa fuga que me obrigou e ao Freitas a aplicada perseguição.

3- Definitivamente, para mim, o volume e a carga de treino semanais já tem repercussões ao domingo. À longa distância dos treinos têm-se-lhes juntado muito trabalho de endurance médio/alto, com picos de grande intensidade – como foi o da última sexta-feira, na companhia do Freitas, num sobe-e-desde de apreciável dureza e com muito vento à mistura. E os domingos nunca são para descansar. A prová-lo está a pulsação média igual à do referido treino: 142 bpm. Estamos a três meses dos Lagos de Covadonga e aproxima-se um novo ciclo de treino – um pouco mais específico.

9 comentários:

Anónimo disse...

olá amigos, gostava antes de mais de saudar a todos os que no passado domingo se aventuraram contra a verdadeira intemperie que se abateu sobre nós(é preciso ter coração e uma força de vontade inabalavél). agora sobre o desempenho aqui do amigo DURÃO tenho a dizer em minha defesa que no troço mais selectivo (aberto a escaramuças) da volta não poderia ter feito muito mais porque o vento estava deveras inclemente mas principalmente por causa de um pelotão que cada vez mais se torna insuperável,especialmente neste tipo de voltas rolantes. por tudo isto acho que se justifica plenamente o facto de ter optado por jogar com a única "arma" que me era favorável nessa altura.
no próximo domingo temos que enfrentar mais uma clássica de grande kilometragem, esperemos que sem vento nem chuva,contribuindo por isso para o engrossar das fileiras e para o melhor entrosamento do nosso grupo que vai ser bem necessário para as clássicas de évora e fátima que se avizinham,assim como para todas as outras.
estamos quase em março e aproxima-se a altura de maior sacrificio para mim, o treino de subida.
tentarei melhorar também a esse nível.
um abraço grande
JACKIE DURÃO

Anónimo disse...

Grande Miguel! Agora "é só"... recuperar a forma!...
Cá estamos para te ajudar e domingo contamos contigo!
Quanto à volta da OTA, esqecendo a intempérie, para além das prestações do costume por parte dos "PRÓS" Freitas e Ricardo, bem como do bom nível da generalidade do grupo, permitam-me destacar a excelente prestação e o excelente momento de forma, do cada vez mais "todo o terreno" L-Glutamina! Os PRÓS que se preparem pois se a rolar o homem já "se bate", a subir vão ter que o aturar!!!...
AB a todos e...
até Domingo!

PS: COMPANHEIRO E AMIGO Nuno Garcia
Isso de andar a treinar específico às escondidas para depois "escovar o pessoal", não está certo!!!...
Cá para mim queres "lixar" os "MAUZINHOS", transferindo-te da equipa dos "MAUS" para a dos "MAU MAUS"...
HEHEHE
AB

Anónimo disse...

Bravo Miguel, tás aqui tás lá!
1 dica, aparece ao Domingo porque há sempre alguém que não faz a volta toda e terás companhia no caso de quereres voltar para trás.
Da volta tenho 2 momentos a "destacar":
1- agradecer ao Durão e ao Ricardo por me terem facilitado em muito a vida já que com o atraso do meu Pai e do Samuel eu vinha a fazer meio fundo há algum tempo e a ajuda deles foi preciosa para chegar de novo à roda do grupo.
2- a paragem do Pina antes do "Campera" que ditou o abandono dele/nosso por parte do Grupo, eu e o Pacheco esperámos e estava também o Daniel(eu não sabia), junto do Pina!
É sempre divertido voltar sózinho ou com mais 2/3 teimosos que insistem em andar a solo!!!
Ou será que foi o resto do Grupo que meteu 1 abaixo???
Ou será que esta carapuça vai servir a "alguém"...???
Ou será que já se esqueceram da maior das discussões das últimas semanas deste espaço???
Estás a ver Miguel, como eu disse, tens sempre companhia no regresso, seja ele qual/onde/como for...!!!

1ab e boas pedaladas,
ZT

Anónimo disse...

Oi pessoal do asfalto,
tenho aqui umas dúvidas para as quais a pesquisa de informação está um pouco complicada. Espero que aqui os especialistas na matéria me possam fornecer algumas informações/opiniões.

Quais as vantagens e/ou inconvenientes da montagem de rodas/pneus 700 versus 650, numa bicicleta de estrada? Algum de vós usa rodas/pneus 650 nos vossos giros? Nos pelotões nacional e internacional é costume alguns ciclistas optarem pelos 650?

Pelo que já pesquisei, a relação de peso torna os 650 ligeiramente mais vantajosos. As relações das mudanças da cassete são ligeiramente mais "leves" com uma roda/pneu 650, devido ao seu menor diâmetro.

Desculpem lá a maçada,
Obrigado

Ricardo Costa disse...

Oi Pintaínho. Receio não poder ajudar-te. O Pina deve saber responder a essa questão.
Já agora, estás a pensar investir numa bicicleta de estrada ou apenas numas rodas finas para a tua BTT.
Estou a pensar em organizar uma Super-Volta a Sintra num dos sábados de Março, com muitas subidas, bem ao teu gosto. Queres alinhar?

Anónimo disse...

Olá pessoal, venho por este meio desafiar JACKIE DURÃO, ou outro qualquer operacional estradita, a tentar cheirar a minha roda na próxima clássica que se realiza no próximo domingo.
OK estava só a brincar, queria aproveitar já que estou neste glogger para pedir ao master Ricardo Costa que me envie se faz favor o programa para o polar, o meu e-mail e daniel.pedro@oniduo.pt
Obrigado

Anónimo disse...

Tenho de investir mesmo numa de estrada, que a que tenho já mete dó. Mas, vou ter em conta a relação preço/qualidade, dando maior relevância ao primeiro. Já pesquisei bastante e sei o que quero. Contudo, tenho a tal dúvida: para a minha estatura (1,67 mt / 60 Kg), o quadro 51 que pretendo tem rodas 650. E não sei bem que contingências isso me traz na estrada. Ando a ler uns artigos de uns brazucas malucos, mas ainda não estou elucidado. Como sei que no vosso grupo rolam uns ex-ciclistas e que todos vós andam bem informados, tinha esperança que me dessem uma ajudinha.
Essa da volta a Sintra é difícil de renunciar. Mas depende de vários factores, incluindo o meu estado de forma (não quero atrasar ninguém). Mas que é tentador … lá isso é!
Já dei uma mirada nas vossas clássicas, lá no Pina. Devias por isso aqui no blog para consulta mais pormenorizada. Na minha opinião, devias imprimir a altimetria numa escala mais “realista”. Os gráficos deveriam ser mais “compridos” e menos “altos”, pois da maneira que estão os giros parecem muito mais acidentados do que são! Quando vi, no Pina, uma volta onde pedalavam lá prós lados da Malveira, até me parecia que haveria por ali algures um Anglirú ou um Zoncolan!! Dá uma vista de olhos nisso.
Para os adeptos dos desafios impossíveis deixo aqui umas notas: vejam a altimetria das seguintes etapas: Giro – ascende o Mortirolo; Giro – ascende o Monte Bondone; Vuelta – ascende Ancares por Pan do Zarco. Já passei por Ancares … nem vos digo nada …

Ricardo Costa disse...

Tens razão Pintaínho sobre os gráficos. Mas foi o programa que pude arranjar. De qualquer modo, servem apenas como referência, pois a maioria dos elementos do grupo conhece quase todos os percursos das Clássicas. Os pontos de passagem são, neste caso, mais importantes.
Em relação à Super-Volta a Sintra, a ideia ainda não está amadurecida (entenda-se difundida), mas penso que conseguiremos juntar um pequeno grupo - provavelmente os «internacionais», o Freitas e mais um ou outro -, pois em véspera de Clássica poucos mais elementos do pelotão domingueiro estarão na disposição de fazer uma tirada desgastante. Mas contamos contigo. O percurso e a distância são aliciantes.
E para um desses dias Montejunto também estará no cardápio. No meu caso, a partir da próxima sexta-feira todas as semanas terei uma Super-Volta «a solo». São duas ou três que vão alternando semana-a-semana, e os respectivos trajectos já estão definidos, que é para ter indicações da evolução.
Sexta-feira é um dia complicado, mas quem quiser fazer-me companhia é só dizer.

Anónimo disse...

olá pessoal,
tentarei naõ desiludir o amigo daniel, vamos ver se lhe consigo aguentar a roda, o que naõ é nada fácil nas voltas a rolar, mas não vamos esquecer a coisa mais importante de todas que é sem dúvida alguma a acumulução dos kms.
isto vai tornar-se mais evidente a partir do cruzamento do infantado (estrada de coruche com a de pegões). tornar-se-á penoso se por ventura (ou desventura) o nosso maior inimigo "vento" se virar contra nós. por tudo isto amigo daniel aconselho-te (assim como a todos nós) a ter algum comedimento na fase inicial, ainda mais porque na terça-feira voltaremos á carga com mais 130 kms"volta da valada a pedido do relojoeiro".
um abraço a todos
JACKIE DURÃO