quarta-feira, junho 07, 2006

Falcões e novatos

O Durão tinha recomendado andamento moderado nos primeiros quilómetros da exigente volta do último domingo, e tivemo-lo. Mas não para todos: o João, logo em Guerreiros, começou a sentir inesperadas dificuldades, deixando-se descair do grupo e «obrigando» a intervenção dos pronto-socorro de serviço.
De novo compacto em Ponte de Lousa, o pelotão deslizou sem sobressaltos até à Venda do Pinheiro, inclusive na sempre exigente subida da Freixeira. A partir daqui, o ritmo animou-se. O vento de feição e a convidativa recta da Malveira fez quebrar, pela primeira vez, a barreira dos 50 km/h. A rolar!
Entretanto, quando o pelotão se preparava para descer para Vila Franca do Rosário chegou a notícia que o Hélder estaria na Venda do Pinheiro e vinha de… BTT! De roda cardada! Rasgaram-se imediatamente alguns sorrisos trocistas, prevendo o desfecho de tamanho sacrilégio em dia de jornada pouco convidativa a atitudes imprudentes – mesmo para que têm força em abundância, como é o seu caso. Felizmente (ou não), a sentença estava traçada. A velocidade com que os falcões se precipitaram na descida absolveu-o ao previsível tratamento de choque a que estaria condenado, lá mais para a frente.
Num ápice, os 50 km/h da Malveira passaram a parecer ridículos e foi proibido facilitar na rápida descida até ao cruzamento do Gradil, para onde o Tárcio estava com vontade de ir (será que começa a estar habituado à estranha atracção pela dor desta malta do Pina Bike!). Lá em baixo, o estreante Paulo Pais estava à nossa – para nos «tratar»! Feitas (rapidamente) as honras da casa, tocou a meter andamento, tanto mais que a presença do Durão à cabeça do grupo no início da subida para a Enxara do Bispo estava mesmo a pedi-lo! Refira-se que Paulo Pais compete, logo está noutro patamar. A sua fisionomia não mente: não há grama de gordura supérflua. Finalmente, o Durão tinha companhia com quem partilhar o seu estado de euforia… competitiva. Quem quisesse que fosse atrás! E não é que foram!
De tal modo, que, quando se abriu a janela ao vento no início do difícil troço entre Enxara e Pero Negro, já todos os Pina Bike estavam nos seus postos. A maioria a arfar, é certo, mas em formação ordenada. De peito feito…
Já a caminho do Alto da Sapataria, as primeiras escaramuças valentes. O Carlos e o Daniel (?) saíram em estilo, e o Miguel foi no seu encalço. Os três ganharam rapidamente avanço e passaram à frente no Prémio de Montanha. Aliás, o objectivo do trio era apenas esse, pois «tiraram» logo a seguir, sendo absorvidos rapidamente pelo pelotão, completamente estirado na esburacada descida do Milharado, já com o Freitas e o «falcão» Fantasma na liderança.
Assim, quando um pequeno grupo, que integrava o Durão e o Paulo Pais, chegou à Póvoa da Galega com alguns segundos de avanço sobre os restantes, reuniam-se as condições para a primeira grande situação de «corrida». Perante o ritmo de competição imposto pelos fugitivos, os perseguidores tiveram que se fazer à vida. Sem grande êxito, diga-se. Rapidamente, vi-me em posição intermédia e a fazer contas à vida. E às distâncias. Cerca de 20 segundos para a frente e a aumentar… e talvez o mesmo tempo para um pequeno grupo que vinha atrás, em que se vislumbram o Carlos e o Pintainho. Supostamente o Miguel também deveria estar, mas depois veio a saber-se que ficara com o Samuel, que passava algumas dificuldades.
No cruzamento de Casais da Serra para a Tesoureira, os fugitivos abrandaram (já era tempo!) e eu reintegrei-me (agora) sem grande esforço. Pouco depois chegavam, um a um, os restantes elementos. Não todos! O Miguel e o Samuel estavam em paradeiro incerto. O grupo deu por essa falta já na estrada do Sobral, a caminho de Arranhó – e o Durão deixou-se ficar! Grandes perdas, pois já se sabia que, com as figuras que pontificavam no pelotão, a «coisa», com certeza, seria interessante lá mais para cima, rumo ao Forte do Alqueidão. Assim, o ritmo foi brando até Arranhó, mas sem sinal dos retardatários, mas a partir daqui aumentei gradualmente o andamento – o suficiente para a maioria dos elementos do grupo ter optado por não segui-lo. O único que, mais tarde, o fez foi Paulo Pais, que, na zona dos ferro-velho, se juntou a mim e passou imediatamente ao comando, impondo um ritmo muitíssimo alto até ao Forte de Alqueidão – média a roçar os 30 km/h e pulsações superiores a 175 –, a que devo dar-me por satisfeito ter conseguido seguir. Sem dúvida, uns bons furos acima do que alguma vez fiz naquele troço da subida.
A partir daqui, o terreno suaviza, primeiro, em descida, rumo ao Sobral e a Arruda dos Vinhos, e depois para o Carregado, onde nos esperava longas rectas até Vila Franca e Alverca. Ao contrário do que se previa, não houve mais ataques ou escaramuças, apesar de o ritmo se manter bem vivo, primeiro graças ao Miguel (40 à hora dos Cadafais até ao Carregado) e depois com um trabalho repartido pelos «nossos» poderosos roladores – com enorme contributo do Samuel, recuperado do mau bocado por que passou na Tesoureira e no Sobral.

Notas de observador

Sobre as estreias dos dois novatos, diga-se que da «intromissão» do Paulo Pais já está quase tudo dito e sabido, não estivéssemos na presença de um homem da competição, logo de nível inequivocamente superior. Senhor de andamento muito forte (bem acima do recomendado), provou que tem «capacidade» para, sempre que quiser, juntar-se aos gloriosos do Pina Bike. Teremos muito prazer em voltar a descarregá-lo.
Já em relação ao Pintainho, oriundo do universo das rodas cardadas, cuja presença era há muito aguardada com expectativa, esteve muito discreto enquanto durou… E foi pouco, uma vez que deu a volta ao cavalo no Forte do Alqueidão (aos 60 km de 110 km), depois de ter abanado com alguns achaques violentos e talvez adivinhando as agruras que o esperavam nas longas descidas e na planura que se seguiam.
De qualquer modo, ao voltar para trás (mesmo acabando, sem querer, por se integrar no lote dos mariquinhas, que referi na antevisão da volta), deve ter tido, finalmente, tempo para comer qualquer coisa, já que foram muitas as suas queixas por nem sequer conseguir ir aos bolsos devido aos ritmos dos falcões nas descidas. Mesmo assim, esperava-se mais também nas subidas, afinal o seu terreno predilecto. No Sobral (salvo erro!), parece que ainda tentou seguir a roda do Paulo Pais quando este acelerou para me «caçar» e acabou por pagar a factura. Fica a experiência... e o conhecimento de como se deve comer em cima de uma bicicleta de rodas finas.

Pena para as ausências do Durão e do Miguel no Sobral – de Arranhó ao Forte de Alqueidão. Garanto que foi uma experiência verdadeiramente positiva. Única. A repetir.

Finalmente – e mais uma vez –, rasgados elogios ao comportamento do grupo, que está muito forte e motivado

4 comentários:

Anónimo disse...

Boas Companheiros!

Apenas umas palavrinhas de apoio e solidadriedade...para saudar efusivamente o aparecimento (em grande) do "PARDALITO" da roda cardada, na volta domingueira das LOCOMOTIVAS DA ESTRADA!!!...
Definitivamente, o alpista que o alimenta terá que ser revisto na sua composição, recebendo um suplemento vitamínico, pois, o "pobresito" parou de bater as asitas entre os 50 e os 60 Km, com o músculo cardíaco em vias de lhe saltar pela boca!
Mais:
Foi em plena subida para o Sobral (seu terreno favorito), que com os olhos raiados de sangue e três fiosinhos vermelhos a escorrer-lhe da boca e dos ouvidos, respectivamente, o coraçãozinho da pobre ave começou a falhar entrando definitivamente em colapso!
Bem vindo,caro amigo, à realidade daquilo que é hoje o "CREMATÓRIO" do Pina BIKE!
Quem se distrai...arrisca-se a ficar na valeta a pensar num plano de treinos mais adequado às actuais exigências.
Nada que com esforço, dedicação e assiduidade domingueira...não se consiga ultrapassar...
Qualquer um dos nossos internacionais, amavelmente e para AMIGOS, cede um dos seus planos de treinos, bem como, os respectivos suplementos vitamínicos...

Grande abraço, caro amigo, com a promessa de brevemente aparecer no "trilho"...para proporcionar a adequada vingança!...

PS: escusado será dizer, que depois do referido colapso...,não mais se viu nem ouviu o magnifico CHILREAR de tão "PODEROSA" ave!...

Anónimo disse...

Olá a todos,
Fastasma, quem lê o teu comentário recorda que não aparecendo ao Domingo "perde o comboio"...wuero ver quando eu aparecer o que acontece...pelos forma como o Ricardo fez o comentário dá bem para sentir o "calor"...
Este fsd tb não vou estar, vou fazer o Triatlo de Oeiras.

Miguel, boa sorte e bom gozo de 1 dia "cheio de ciclismo"...

1ab e boas pedaladas,
ZT

(P.S.- N treinem mt...ahahah).

Ricardo Costa disse...

Treino muito produtivo hoje em Sintra. 145 km e muita montanha, a pensar no Col d'Izoard e companhia. Aliás, na etapa de hoje do Dauphiné Libéré deu para ver o que nos espera dia 10 de Julho. Tanto da subida, que é longíssima e dura, como também da descida para Briançon, que, à expecção dos primeiros 2/3 km, não é técnica, permitindo velocidades bastante elevadas. Todavia, quando chegarmos a Briançon (105 km), ainda faltarão mais de 80 km: o Lautaret e, claro, o tão aguardado Alpe d'Huez.

Já agora, a uma semana do Quebrantahuesos, faço votos para que o Miguel e o Nuno tenham uma boa prestação na difícil prova, a raínha das clássicas cicloturistas espanholas. Uma boa oportunidade de afinar os motores para a Etapa do Tour.

Ainda por cá, é com agrado que observo os homens-fortes do Pina Bike a treinarem afincadamente. Ontem (quinta-feira), em frente à loja do Pina, encontro um dos mais assíduos e empenhados elementos. Estava prestes a terminar uma sessão de trabalho específico em subida, com passagem pelo Cabeço da Rosa e muito mais... Pelo semblante, nota-se que tinha sido proveitosa. Trata-se de um «poderoso» que está determinado, e bem, a trepar ao nível dos melhores. Os progressos são já evidentes. Para continuar!

Entretanto, o Durão está no estaleiro. Tomou (perdão, comeu) alguma estragada na quinta-feira e foi de charola para o hospital. Depois dos crises dierreicas dos últimos tempos, só faltava uma intoxicação alimentar! Rápidas melhoras, bravo!

Anónimo disse...

Pois foi, amigo Fantasma! Não gostei lá muito daquela “subida” para o Sobral. Não arranjam nenhuma mais inclinada (quando apareceres de cardo mostro-te…)? Na verdade, não devia ter ido na conversa daquele “esticadinho” para encabeçar a perseguição ao fugitivo…
Hilariante mesmo é confundirem-me com o “monstruoso” … Daniel!! Eh, eh…
Bom… vendo bem … até há algumas semelhanças … como a altura … a cor dos pêlos do peito …
Pronto… estou convencido! Até começo a desconfiar que nos tratamos de clones, tais as semelhanças físicas!
E por falar no meu “clone”: por onde andaste rapaz? Tinhas dito que me farias companhia! Peguei-te alguma coisa?
Quanto ao percurso, foi muito engraçado, mas a partir do Sobral não havia “nada” que me “motivasse”…