quarta-feira, setembro 05, 2007

Lagoa Azul: a crónica

A volta do pretérito domingo pode considerar-se já uma clássica do nosso calendário: Sintra, por Lagoa Azul.
Esta edição terá sido a mais competitiva alguma vez realizada, espelho fiel do elevado nível a que chegou o grupo que quase todos os fins-de-semana se reúne em Loures. Já muito se falou do contributo de novos elementos para a ascensão meteórica de uma minoria que actualmente se verifica. Mas não só. Também os veteranos não têm deixado os seus pergaminhos por mãos alheias e reconhecem unanimemente ser fundamental não descurar a preparação física face à vaga de delfins de grande categoria.
Eu posso assumir-me como indicador privilegiado desse «status quo». Para tal, recorro-me do desempenho e indicadores individuais de esforço observados na exigente tirada de domingo para maior exactidão das conclusões que a seguir apresento. Eis alguns pontos que merecem apreciação:
Primeiro: embora eu estando em notória baixa de forma (lá está, por descurar a preparação nas últimas semanas!), tal não impediu que tivesse superado o meu recorde pessoal da subida da Lagoa Azul (24 segundos), do Cabo da Roca (Malveira-Azóia) e da Várzea para Sintra (significativos 47 segundos). As pulsações médias são elucidativas (acima de 180) e as sensações (de sofrimento, na maioria das ocasiões) também. Um fenómeno de superação devido à competitividade, podem dizê-lo. Mas mais relevante para análise é o facto de, à excepção do Cabo da Roca, o esforço não ter sido suficiente para chegar com o primeiro aos ditos pontos quentes! Elucidativo, não?!
Também é verdade que a presença do Rui Scott altera a hierarquia tradicional do pelotão, principalmente em montanha, mas não basta só contar com ele nestes momentos altamente selectivos - outro novato está a fazer abalar o establishment do grupo: o Renato. Impressionante performance na Lagoa Azul, no Cabo da Roca, na Várzea e na fuga encetada, comigo, entre Pêro Pinheiro e Sta. Eulália. Como bem referiu o Nuno Garcia em comentário à volta do Sobral da Abelheira, o peso e a envergadura avantajados não são handicap às suas prestações em subida – até ver, nas mais curtas, mesmo que bastante duras, como são exemplos a Abelheira e a Lagoa Azul. Basta dizer que foi o único que resistiu ao andamento do Rui na Lagoa Azul, perdendo apenas algum (pouco significativo) terreno nos últimos 500 metros.
Nessa subida, fui observador privilegiado do seu desempenho e reconheço ter ficado muitíssimo surpreendido. Surpreendido, de facto, pois não esperava que ele aguentasse o forte ritmo que o Scott impôs desde o início e que não permitiu quaisquer veleidades aos demais. Eu, aliás, limitei-me a atenuar as distâncias (entre 15 a 20 segundos ao longo de toda a subida), sempre em regimes altamente desaconselháveis (cheguei a temer pelo bom desenrolar da volta quando verifiquei que mesmo acima das 185 perdia terreno para o Renato). Pouco mais atrás (sensivelmente a distância igual) o Jony e o Freitas, este a fazer uma ascensão em recuperação depois de uma entrada cautelosa. O Nuno também entrou naqueles 2 km a 7,5% com o grupo da frente, tal como Pintainho, mas rapidamente verificaram que não era andamento que pudessem seguir.
Na descida, devido às curtas distâncias entre os primeiros, juntou-se um quinteto (Scott, Renato, eu, o Jony e o Freitas) na Malveira da Serra, mas apenas durante breves instantes foi possível recuperar o fôlego. De imediato, o Renato tomou as rédeas e impôs andamento forte, a recomendar abrigo aos demais. A subida para o Cabo da Roca, mais suave, favorecia os mais possantes e aí o Freitas demonstrou sempre muito à-vontade em todas as mudanças de velocidade, inclusive quando o Scott imprimiu andamento verdadeiramente selectivo nos últimos quilómetros, fazendo descolar o Jony e o próprio Renato – embora este tenha conseguido reentrar na descida. No sprint final para o cruzamento do Cabo da Roca, ainda tentei a minha sorte, mas fiquei-me pela consolação de ter resistido no trio da frente – pois o Renato voltou a perder alguns metros na aceleração.
Previsivelmente, os restantes demoraram mais tempo que o habitual a chegar ao cruzamento do Cabo da Roca, a partir do qual deixou-se de contar com o Freitas.
Depois da descida do Pé da Serra e de Colares, eis o Nuno Garcia a surpreender o pelotão, adiantando-se com a determinação de quem pretendia chegar isolado a Sintra. O fosso cavou-se rapidamente e finalmente foi o Renato a tomar a iniciativa de comandar a perseguição, inclusive durante grande parte da subida da Várzea, onde apenas resistiam na frente, ele eu e o Scott. Aqui, mais uma demonstração de grande classe do Renato. Andamento fortíssimo, pedalada redonda sem quebras, muito difícil de acompanhar, a não ser na roda. O Nuno lutou até onde lhe foi possível e esteve em muito bom plano. Estou em crer que, não fosse o excelente trabalho do Renato, sem «pedir» auxílio, o fugitivo teria conseguido os seus intentos. Provavelmente, teria guardado forças na Lagoa Azul e aplicou-as com o rigor da sua experiência naquele troço. A anulação da fuga não foi fácil, mas a cerca de 1 km de Sintra, apercebendo-se que não conseguiria fazer vingar a sua iniciativa, o Nuno abdicou... e viu o comboio passar sem esboçar qualquer reacção. Nessa altura, o Scott desferiu o golpe final, ao seu estilo, arrancando decisivamente para chegar isolado à rotunda do empedrado de Sintra. O Renato, apesar de bastante desgastado, ainda procurou fechar o espaço, mas sem êxito. Ainda assim, fez com que eu perdesse a sua roda e alguns metros até chegar ao alto. Mesmo assim, entre os três a diferença não ultrapassou os 20 segundos. Os restantes voltaram a demorar mais que o habitual a chegar.
O prato final da tirada ainda não estava servido. Afinal, eu não poderia ficar conformado com papel secundário em toda a volta, onde me limitei a atenuar «prejuízos»! Assim, depois do Jony ter acelerado muito bem o pelotão na subida à entrada de Pêro Pinheiro, resolvi atacar na rampa estreita no interior da localidade, que liga à estrada de Negrais. Depois, ainda antes de ter conferido a reacção do pelotão (assim não sucedeu), reparei que tinha companhia. Tinha, o Renato, quem mais?
A partir daí, foi uma corrida de gato e de rato com o objectivo de chegarmos isolados a Sta. Eulália. E só não o conseguimos porque o Scott, neste momento, está uns bons furos acima da «concorrência». Ninguém conseguiu resistir ao seu esforço de recuperação - inclusive o Jony e o Nuno Garcia - e alcançou-nos já na recta do Caneira dos Leitões, passando directo para Sta. Eulália. Impressionou a sua capacidade, mesmo num terreno em que não é tão forte. Quanto a mim e ao Renato: morremos na praia!
Após isto, e numa altura em que irei ausentar-me durante algumas semanas (treinos, incluídos) fica adiada, sem prazo previsto, a ocasião em que voltarei a estar em condições óptimas para aferir mais precisamente do «actual estado de coisas».
Entretanto, fico a aguardar com muita expectativa a etapa da Serra da Estrela, no próximo domingo. Conto com a crónica completa!

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