quarta-feira, fevereiro 25, 2009

Carmões e Abrigada: crónicas carnavalescas

Tudo a postos para Santarém! É já no próximo domingo, na distância de 155 km, a primeira das grandes clássicas de 2009.
Para muitos que participarão na super-jornada escalabitana, o último fim-de-semana prolongado serviu, na perfeição, de apuramento de forma para enfrentar as dificuldades impostas, principalmente, pela longa distância do percurso, e não tanto pelas dificuldades do relevo. Aliás estas são muito poucas, a maioria a partir de metade do percurso – e logo com a maior de todas: a curta subida para Santarém.
Mas vamos às incidências da quadra carnavalesca. A folia começou, em antecipação, no domingo, com uma volta improvisada, Carmões-2, que se vai repetir lá mais para o final do ano, com percurso bastante interessante. Também mais acidentado na parte final, à imagem do que sucederá no próximo fim-de-semana.
No rescaldo das últimas semanas, houve... peripécias. E começaram a partir de Vila Franca, depois de uma toada moderada que se mantinha desde Loures, a velocidade de cruzeiro que rondou os 30 km/h. No entanto, o «pavé» de Vila Franca, como quase sempre desagregou o pelotão e as coisas nunca mais voltaram a ser totalmente tranquilas. Até Alenquer sucederam-se pequenas picardias sem qualquer sentido e alguns esticões pouco intencionais – exceptuando-se a iniciativa que isolou o trio Freitas/Manso «Cancellara»/Rocha após o Carregado, e que parecia ter possibilidades de «vingar» não fosse o Jony e o Evaristo terem decidido rapidamente... que não!
A anulada a (tentativa) de fuga, rolou-se sem grandes sobressaltos até à Merceana, onde o terreno «ondula» até ao início da subida de Carmões, na Carvoeira. Após alguns adiantamentos sem sucesso (o Rocha e eu chegámos a ganhar alguns metros ao pelotão), o «Cancellara» meteu o «Tempo», obrigando a cerrar fileiras atrás de si, e certamente metendo alguns no «vermelho» na abordagem à subida. Muito bom trabalho, próprio de excelente rolador, e com desapego por poupanças de forças que pudessem fazer-lhe jeito nas inclinações que se avizinhavam.
Aí, foram outros a ditar a lei. Primeiro eu, a impor andamento rijo nas primeiras rampas e o André a atacar, obrigando o Freitas a responder, fechando o espaço em poucos metros. Juntámo-nos novamente só os três, até aos últimos 500 metros, quando os dois aceleraram, entrando ligeiramente destacados na vila. Eu logo a seguir, e o Jony pouco depois, à frente do Rocha.
Superara as expectativas aquele que «teria sido» (porque não foi, como se verá...) apenas o primeiro de vários pontos «quentes» da tirada, que guardava ainda Sapataria e Montachique.
Só que... após a neutralização para reagrupamento, nada mais foi como dantes. Pois só houve paragem para alguns, muito poucos: eu, o Freitas e o Rocha - que na breve companhia do Zé-Tó, do seu pai e do Zé Morais, saímos de Dois Portos quando o grupo da frente já entrava na Feliteira... Logo aí, havia cerca de três minutos de atraso, consequentemente uma recuperação quase impossível, sabendo-se que à frente não haveria contemplações – e mal nós sabíamos que se tinham juntado o Paulo Pais e o João Aldeano.
Mas lá atrás decidira-se, espontaneamente, que também não houveria resignação enquanto restassem forças! E lançou-se a caçada, rapidamente limitada a três (eu, Freitas e Rocha), e ainda antes de Sapataria, só a mim e o Freitas. De Dois Portos ao início da subida (8,3 km) fizemos uma média de 34,5 km/h, em perfeita colaboração. Na subida puxei exclusivamente (25,5 km/h, a 175 bpm), absorvendo logo aí os primeiros dissidentes do grupo da frente (o Vidigueira e o Paulo Ferreira), e após a descida, agora com o Freitas a «abrir», alcançámos um pequeno grupo que incluía o «Cancellara». Este surpreendente encontro indiciava que a subida de Sapataria tinha sido selectiva (mais tarde soube-se que sob responsabilidade do Aldeano!). À saída da Póvoa da Galega avistámos finalmente o pelotão principal, a cerca de 300/400 metros, pela que, na aproximação ao Vale de S. Gião, procurámos gerir forças (e já eram poucas) para não entrar «descompensados» na subida. Nota: Sapataria-Vale S. Gião: 37,3 km/h de média.
O meu parceiro de ocasião revelou que não estava em condições de fazer a perseguição na subida e que se limitaria a ajudar-me, mas respondi-lhe que o objectivo era manter, se possível, até final a união que até ali se tinha revelado tão profícua. Por isso, meti o passo na subida, alcançando ainda antes dos primeiros 500 metros o «grupetto» que se tinha formado pelos elementos que não aguentaram o andamento forte imposto pelo Aldeano. Passámos directo e lançámo-nos à liderança, que entretanto perdeu o Jony e o Filipe ainda antes da passagem por Montachique. Na frente, restavam o Aldeano (sempre a puxar!), o André e o Paulo Pais, este também descaindo, junto ao chafariz, à entrada da derradeira e mais difícil fase da subida.
Entretanto, o Freitas também não aguentara o ritmo da perseguição – pois muito já conseguira, considerando que fizera 180 km na véspera! Nos últimos 100 metros passei o Paulo, chegando a 20/30 metros do duo da frente (23,5 km/h, a 178 bpm). Bom... dadas as circunstâncias.
No rescaldo deste proveitoso teste à capacidade de manter ritmos sempre «no prego», não resta qualquer sentimento de frustração, apenas de indignação pela manobra altamente discutível dos nossos companheiros de estrada em Carmões. Continuo sem perceber qual é o mérito, ou mesmo o sentido, de promover esforços redobrados aos comparsas através de métodos como... «acelera que eles descem bem...!». Enfim, sempre foi assim e sempre assim será... Ratices! Só que, desta vez, só serviram para deixar de «peito cheio»... os gatos!

Na terça-feira de Carnaval, o destino foi a Abrigada! E logo nos primeiros quilómetros se verificou que não eram exclusivas minhas as mazelas de domingo. Felizmente, estava lá o Renato, que após ter rendido o Freitas na condução do grupo pouco depois de Alverca, nunca mais a largou. Ao seu estilo, mas não propriamente. Muito mais moderado. Por isso, a volta foi pouco mais que um passeio tranquilo até Atalaia.
Aí tudo se alterou. O Renato esticou, a sério, pelo topo acima, dispersando o pelotão, que se debateu por não perder a roda. Nada que, para alguns, não se resolvesse com mais ou menos empenho, só que teve uma consequência inultrapassável: esgotou as já escassas reservas do «Grande» Abel. A decisão que, como eu, entre outros, o Freitas e o Hugo, tomaram – a melhor, sem dúvida – foi ajudá-lo naquele exigente regresso ao seio do grupo, em que é elemento exemplar de coragem, abnegação e humanidade sem limites. Para mim, o que até aí tinha sido, como disse, uma voltinha higiénica, tornou-se um dos treinos de força mais produtivos dos últimos tempos – embora com algum sacrifício dos lombares. Além de todos os que colaboraram em seu auxílio dedico, em particular ao Abel, homenagem pelo enorme esforço dispendido – do qual fui testemunha privilegiada, como se percebe, ombro a ombro. Simplesmente fantástico!
Apesar das pernas não estarem óptimas, não posso deixar de reconhecer a oportunidade perdida de ter estado lá à frente, especialmente (sem desprimor dos demais) pela presença do Renato: rodar com os bons fornece sempre indicações úteis. Com certeza, haverá muitas mais ocasiões nos próximos tempos.
Mas a volta não tinha terminado. No Alqueidão, o pelotão voltou a reunir-se e a descida para Bucelas: alucinante! O grupo: Renato, Jony, Freitas, Capitão, «Cancellara», Rocha, Evaristo, os dois Hugos de Negrais, o Pina e eu. A média: 51 km/h em 11 km, com sprint final a mais de 60 km/h, em que Jony impôs a sua lei – vendo-o disparar, como há muito tempo não via. E o acidente tão perto de acontecer, quando o Hugo e o «Cancellara» se tocaram àquela velocidade. Arrepiante!

Para a semana, Santarém!
Atenção: partida antecipada para as 8h00, na BP de Loures.

P.S. Meu lamento, para a queda do Samuel e do Vidigueira, na Atalaia, felizmente sem consequências físicas para ambos.

3 comentários:

Anónimo disse...

Quando da queda do Samuel,alguém parou para verificar se estava tudo bem?

Anónimo disse...

Falei com o Samuel no fim da volta e ele estava naturalmente aborrecido por ter caído. O pior mesmo foi o causador não ter parado e o selim ter ficado fora do lugar e ninguém ter uma chave para ajudar o homem...
Para não falar do Salvador que também foi ao tapete...

Ricardo Costa disse...

Permita-me corrigir, mas a queda do Samuel (e do Vidigueira) aconteceu alguns metros atrás de mim e asseguro que toda ou quase toda a gente que estava no local parou para certificar-se do estado dos intervenientes.
Todavia, não posso garantir que... todos pararam, muito menos o «causador», que desconheço por não ter visto como o incidente sucedeu.