Volta dura, grau de dificuldade elevado, como é tradição na Lagoa Azul (Sintra). Para mais, quando se junta um grupo restrito de «venenosos» ciclistas, como caracterizou o Jony, um dos azarados da jornada.
Questão prévia: o que foi feito do numeroso pelotão que tem marcado presença esta temporada? Ontem, nem sinal. Parece-me que tresmalhou, no rescaldo da Clássica de Évora, quiçá na expectativa de uma refrega das altas velocidades na planície transposta para as vertentes da Serra de Sintra.
Por essa falta de comparência, foi um mini-pelotão que saiu de Loures. Pequeno, mas respeitável. De tal modo, que houve quem prognosticasse, à partida, a não necessidade de neutralizações. À saída das bombas, uma brigada de alverquenses que me incluía (sem beliscar a defesa das cores da Pina Bike), e também ao Capela, Jorge e Carlos Cunha. Daquelas bandas, também o Jony e o Duarte, ao que se juntaram, provenientes de outras paragens, o Freitas, o Rui Torpes e o Filipe Arraiolos. Para completar o triunvirato, o André juntou-se em Guerreiros e celebrou-se a visita do Pedro Aleixo, Master do CC Évora e velho companheiro de clássicas internacionais.
Por isso, não estranhou que o andamento fosse a condizer logo desde as primeiras pendentes de Guerreiros, aquecendo motores para o desnivelado circuito sintrense que se deparava. Em seguida, a subida do Bocal para Sta. Eulália serviu para testar a resistência das mecânicas a regimes mais elevados. A intensidade subiu de patamar, nada de selectivo, mas ao contrário do se esperava o grupo não mostrou a homogeneidade que se previa. O Filipe rapidamente revelou fraquezas devido ao esforço dispendido em treino na véspera, em Montejunto, e fez questão de «libertar» os restantes a partir de Sta. Eulália. Continuaria em solitário, a um ritmo que pudesse controlar. Mas não foi o único. O Torpes parecia ressentir-se de um problema físico num joelho, mas, felizmente, foi apenas algum receio inicial, que não afectou o seu desempenho na tirada.
Durante este impasse criado em torno destes acontecimentos, o Freitas adiantou-se. Mas cá atrás não se perdeu tempo a (re)acelerar. E a fundo, depois de Negrais, com diversos esticões que me surpreenderam mas tiveram o condão de abrir o «caixote», o grupo voltou a reunir-se. Rolava-se a alta velocidade, de forma inconstante e sem permitir distracções.
Todavia, à chegada a Pêro Pinheiro surgiu mais um percalço: o Jony «cai» num buraco e parte um raio. Por isso, vê-se forçado a abdicar – com pena própria, pois afirmava boas sensações. Como parei para me certificar do incidente, quando retomei, do pelotão nem sombras. Parti no seu encalço, com a esperança de que... desse pela nossa falta.
Não foi preciso. À saída de Pêro Pinheiro, terceiro contratempo: furo do Jorge. O grupo parou. O Freitas (não se deve ter apercebido e...) seguiu. Com mais de 10 minutos perdido na substituição da câmara-de-ar, dificilmente o veríamos tão cedo. A não ser que a demorada solidão lhe causasse estranheza e decidisse regressar à formação. Não foi o caso.
O grupo, cada vez mais restrito, retomava a marcha e não demorou a aproximar-se de mais uma dificuldade do percurso: a subida do Lourel para Sintra e S. Pedro Sintra. Meti o passo desde a base, e à passagem pelo quartel de bombeiros o Pedro Aleixo rendeu-me, ainda sem alterações significativas de ritmo.
Em Sintra, depois de se atravessar cuidadosamente a via pedonal, o André pegou no andamento e tornou-o vivo até ao alto. Fê-lo progressivamente até ao limite, já muito perto do final. Ao seu estilo. Os restantes resistiram. De tal modo que não houve necessidade de neutralização, «picando-se» de imediato para a Lagoa Azul.
Aqui, a coisa piou mais fininho. O André entrou a fundo e apenas teve a reacção imediata do Aleixo. Os dois partiram definitivamente. Eu «agarrava-me» às pernas, ainda sem recuperarem de Évora. Foi só a confirmação dos sintomas dos últimos dias. Por isso, tive de meter o passo de gestão, deixando a matilha passar. O Jorge a abrir caminho ao Capela, depois o Torpes a reagir, seguido do Cunha. Apenas o Duarte se manteve na minha roda.
De qualquer modo, com o decorrer da subida fui entrando no ritmo (mediano...) e até ao alto cheguei ao Cunha e ao Jorge e praticamente à roda do Torpes e do Capela. A provar as minhas dificuldades, o tempo de subida foi 45 s mais lento que o que realizei em Setembro de 2009, nesta mesma volta – o meu melhor (6m35s).
Os dois franzinos trepadores (André e Aleixo) mantiveram-se juntos e em ganho e só na descida para a Malveira, aliviaram. O Aleixo mais que o André. Por isso, a junção geral só se deu no início da subida para o Cabo da Roca.
Aqui, o andamento não abrandou. Subiu-se à média de 24 km/h com o grupo compacto, apesar de algumas picardias. Creio que estas (picardias), que aconteceram amiúde, foram o único aspecto negativo da volta, em vez de se promover a colaboração. Seria uma boa oportunidade considerando o equilíbrio de forças: e assim aumentava-se a velocidade média e atenuavam-se mais os desgastes.
Na longa descida para Colares, passei para a frente e depois no falso plano ascendente até Galamares continuei a fazer as despesas, com os restantes na retaguarda. O Cunha assumiu a cerca de 1 km do início da subida para Sintra, antes de deixar o serviço ao André. Mais uma vez ele...
Nova abordagem como gosta: começar «piano» e terminar «no grito». E sem abdicar da dianteira. Desta vez, o grupo não resistiu coeso. Até cerca de 500 metros do alto, só eu, o Torpes e o Aleixo. O Capela entretanto descaiu ligeiramente e agarrou a minha roda quando, também eu, não suportei o desconforto muscular e abri para o trio. No topo, chegámos com cerca de 50 metros de atraso. Os restantes não demoraram muito mais – mas sem evitar a neutralização.
O meu caso, foi melhor desempenho comparativamente ao da Lagoa Azul. O tempo de subida apenas 11 segundos mais lento (7m19s, a 25,6 km/h) que o meu melhor tempo – efectuando igualmente na já referida data.
No trajecto de regresso a Loures, de costas virada à serra, notas de destaque para o confirmado ascendente de forma do Jorge – que tão bem trabalhou para o Capela, faltando, na minha opinião, melhor correspondência. Mas a concorrência era muito séria...
À chegada a Negrais/Sta. Eulália, ainda o André a impor o ritmo, tal como no topo de Guerreiros para não variar. Neste, por curiosidade, passámos pelo (solitário) Freitas. Não deu tempo para... comunicar!
Em Loures, a média, descontando as «piscinas» em esperas, rondava os 31,5 km/h: 90 km com quase 1600 metros de desnível acumulado, o que reflecte o bom andamento.
Na ligação, em descompressão, a Alverca (o grupo que restou era, na maioria, de lá ou perto), o André ainda me convenceu a subir o Cabeço da Rosa. Na conversa, prometeu. Foi mesmo! Ainda desci/subi a Romeira antes de fechar a loja com 4h50m.
Agora o objectivo é recuperar completamente para a próxima sexta-feira, dia do Ota-Fátima-Ota (168 km). Mas a ver pelo culminar da semana que passou, e o «tratamento» neste domingo, não vai ser tarefa fácil...
2 comentários:
Foi de facto um treino duro. Duro não só pelo desnível mas também pela forma dura como foram abordadas as várias dificuldades. daqueles treinos imperdíveis que nos ajudam a progredir e quase impossíveis de recriar em treino a solo. Foi boa a forma como o grupo abordou o percurso. Soube-se esperar quando necessário e andar a fundo quando os vários elementos assim o solicitavam. Da minha parte tive pena de não estar um pouco melhor mas senti-me bem - melhor do que estava à espera. Confesso no entanto que fiquei de rastos, tanto que hoje nem andei. Ou terá sido da chuva??? (foi da chuva com certeza!).
sexta-feira vai certamente ser um grande treino. mal posso esperar.
Olá a todos
Vamos analisar a frase do cronista Ricardo, cito:
"Questão prévia: o que foi feito do numeroso pelotão que tem marcado presença esta temporada? Ontem, nem sinal.(…)"
Não é o meu caso, não estive presente porque na véspera do vosso passeio a Évora, apanhei uma dor de costas, daquelas sem nos podermos mexer, só com injecção ultra muscular Voltaren e Relmus, e mais medicação (comprimidos da mesma substância durante 3 dias) é que consegui andar, o que foi? ninguém sabe, acontece?!.. disse o médico.
Bom, pegando da deixa do Ricardo, este domingo fui dar uma volta calma e encontrei um grupo do PinaBike, são eles, dizia alguém no meu reduzido grupo do Carregado, era efectivamente "atletas" do PinaBike só que permanecia a desorientação..., falta de liderança/organização interpretávamos nós, pois é, continuo a pensar que a brilhante organização/planeamento anual do excelente cronista Ricardo poderia adaptar-se aos grupos que andam menos, formando unidades de ritmos homogéneos o que traduziria um desafio interessantíssimo para os próprios, como desportistas.
Lanço o repto/desafio
Encontramo-nos na Ota-Fátima-Ota, 168Km, este é que será um verdadeiro desafio Audax?!...
Pedro Fernandes (Carregado)
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