Não são «corridas», nem
sequer as coisas menos positivas destas que fazem a fama, apreciada por uns,
criticada por outros, das saídas domingueiras do grupo Pina Bike... Creio que é
outra coisa muito simples, que está no limiar da competitividade, ou melhor, da
intensidade exacerbada com que se desenrolam as voltas domingueiras,
especialmente as de início de temporada, em terreno plano, como as das últimas
semanas. Chamemos-lhe atração pela velocidade. E a grande «culpada» é, por
estranho que pareça, a nossa amada bicicleta, essa máquina extraordinária que
eleva aos píncaros a adrenalina pelo fascínio de a meter a andar o mais
depressa que as nossas forças possam. Quando se reúne um grupo numeroso, em que
parte dos seus elementos tem uma boa condição física e o relevo do percurso e
os fatores climatéricos são favoráveis não há como deter essa atração por meter
a máquina a rolar o mais depressa possível. Até que as pernas fraquejem.
Por isso, é tão evidente a
ansiedade que reveste os primeiros quilómetros de cada volta (nas Clássicas
compreende-se), pela expectativa de saber quando e onde começa – e preparar-se
para – a cavalgada. Porque quando esta arranca, dificilmente refreia. Nos
últimos tempos, só à força de um «coffee break»! Assim, explicam-se as médias
horárias acima dos 35 km/h, algumas dignas de competição em segmentos longos, a
rondarem os 40 km/h. Intensidade elevada a muito elevada para quem tem
capacidade para imprimir andamentos e o mesmo para quem tem menos capacidade. Só
os «capacitados» que se resguardam passam melhor – ou mais ou menos bem... Momentos
de moderação são raros ou nenhuns, ressalvando que, por vezes, baixar 2-3 km/h
permite-os. Porque, nessas alturas, a atração é mais forte, impõe-se nos mais
fortes, e seduz os outros...
Em suma, a atração pela
velocidade é irresistível, inevitável. Para os «responsáveis» - quem geralmente
imprime esses ritmos terminais, a maioria corredores ou outros ciclistas com
objetivos competitivos – junta-se aquela aos pressupostos pessoais de treino,
de que as saídas de grupo são apenas uma dos seus diversos componentes (para
testar o nível de forma, simular abordagem aos ritmos de competição, etc.).
Já para os que se limitam
a seguir nas suas rodas, é a vertigem de atingir performances de outro modo
inalcançáveis, o gosto de estar entre «os melhores, os mais poderosos» - e
ainda mais gostoso quando outros da sua igualha não o conseguem. Aqui,
indiscutível competitividade saudável. É por este motivo que estes últimos têm a
mesma atração pela velocidade como os primeiros e não raras vezes são os seus
principais instigadores. Aqui, também nada de mal.
Pior é para os outros que,
por fatores vários, não aguentam a atração e mais do que o sofrimento – afinal,
uma condição do desporto e ainda mais no ciclismo, ao que nenhum dos outros
referidos intervenientes do grupo escapa – para tentarem aguentar-se no
convívio dos demais, é o amargo de boca de, por mais que se esforcem (alguns
muitas vezes além dos limites) não o conseguem.
Através da
compatibilização desta diversidade muitas vezes incompatível regem-se os grupos
domingueiros como o nosso. Mas que apesar das imperfeições, das situações menos
simpáticas que ocorrem, geradoras de lamentos e de críticas continuam a crescer
alavancados por um entusiasmo crescente ao redor da tal máquina extraordinária.
Pela atração de a meter à maior velocidade que for possível, quer com
contributo próprio ou de outrem. Importa é desfrutar dela e do que «fazer»
ciclismo proporciona.
E o segredo para a tal
atração? Não há nenhum! Não há como resisti-la, apenas enfrentá-la. Tudo depende
da capacidade física de cada desportista, desenvolvida através do treino. Por
isso, quanto mais atração, mais necessidade de treinar, e quanto mais se treina,
maior é a atração. Após a preenchida temporada de 2013 – Voltas, Clássicas,
Granfondos -, a motivação está ao rubro para a que se avizinha, creio que a um
nível sem paralelo desde que este grupo é... grupo. O «calendário» de 2014
ainda agora entrou mas está prestes a entrar noutro registo, em que a atração
pela velocidade, devendo ser tão ou mais intensa como até aqui, sê-lo-á, sem
dúvida, a ritmos diferentes.
Da volta de domingo
último, Valada (Muge), destaque-se o andamento tranquilo, abaixo dos 30 km/h de
média, entre Loures e Alhandra, a subida a partir daqui para muito perto dos 40
km/h (39 km/h) até Muge (durante 42 km), com diversos elementos a passarem pela
frente, nunca deixando o andamento cair. E estimulando-o por vezes... Só por
uma única ocasião, houve quem tivesse permissão para se adiantar ao pelotão –
um quarteto após Marinhais, ainda que nunca mais de 50 metros... – mas rapidamente
se levantaram vozes no grande grupo para «cortar-lhe as vazas»! Nomeadamente, o
Capitão, que não se coibiu de meter o peito ao vento, para iniciar a perseguição.
No regresso, após a
passagem pela ponte de ferro e a pausa para café em Valada, apenas breves
minutos de moderação (até Cruz do Campo), após o que se voltou a acelerar. O
Jony deu o mote, ao que correspondeu o Capela, que demonstrou porque é que
chegou com cerca de 10 minutos de atraso a Valada: esteve a guardar forças para
a segunda metade! O Renato Ferreira foi um dos poucos que se juntou a estes até
Vila Franca, onde a média, desde Cruz do Campo, se fixava nos 40 km/h!!
No tradicional sprint, o
Jony não teve concorrência no pelotão, bem lançado pelo Freitas, que depois de
não ter parado em Valada, passou a integrar o grupo pouco antes do Carregado, e
voltou a mostrar serviço no topo da subida da Sagres, depois de eu ter imprimido
um ritmo mais forte a partir de meio daquela. Além de mim e do Freitas, presença
destacada neste local, na dianteira, a do Zé-Tó, a mostrar pedal para continuar
a forçar pela Variante de Vialonga.
6 comentários:
BRILHANTE...
Ricardo, fotografia perfeita da corrida bem como das emocoes mas o cenario vai alterar-se rapidamente c a entrada em cena das etapas + rampeadas (verdadeiras, digo/sinto eu). So pode ser "bluff" eu "sobrar" ate ao fim...pelo q nas proximas tiradas vira ao de cima a verdade, entenda-se, do treino (ou da falta dele). Ainda assim o gozo e de facto mt...seja a rolar ou a subir pelo q so ha 1 coisa a fazer, meter 1 abaixo e...boas pedaladas p todos.
Grd ab,
ZT
Bom depois da nota introdutória de elevado componente literário, parabéns pela prosa.
Confesso que é verdade, pertenço ao grupo:
“Já para os que se limitam a seguir nas suas rodas, é a vertigem de atingir performances de outro modo inalcançáveis, o gosto de estar entre «os melhores, os mais poderosos ”
Sim, porque 1 hora de bike custa dinheiro deixa-se de trabalhar, aahhhh e se ficarmos ao nível dos poderosos (para mim) perde o interesse porque deixa-se de sofrer, ahhh.
Sim é uma adrenalina constante até aparecerem as ditas caibras ou a pulsação ser tão elevada que passa para o estado de apneia – tipo chegada a Vila Franca de Xira.
Parabéns por manteres esta organização “de borla e sem interesse comercial” a melhor deste pais.
Pedro Fernandes (Carregado)
(meus caros este espaço é público e chama-se “conversas de ciclista” se deres a tua opinião aqui é como teres conversado com todos nós)
Boas pedaladas
Não deveria ser eu a dizer isto, mas fica aqui o sentimento pessoal que conviria ser extensível a todos os participantes nas voltas domingueiras do nosso grupo: retribuo os vossos elogios com outro, o de participarem neste espaço de discussão que deveria ser um verdadeiro fórum sobre as nossas atividades ciclísticas. Elogios que são sempre incentivos à minha motivação. Se é que esta me falte! ;)
P.S. Para quem não saiba, existe um Grupo Restrito no Facebook Chama-se tão-somente «Ciclismo». Para aderir é só mandar o pedido.(tem reserva de admissão... :P)
Meus caros companheiros do pedal
Não aguento…
Na continuação deste magnifico texto ver:
http://unidosdacadencia.blogs.sapo.pt/29093.html#cutid1
Título "Carisma" datado de 06ABR2011
Urge falarmos bem uns dos outros.
A diferença dos grandes homens é quem consegue gerir consensos em detrimento de quem se preocupa só em gerir conflitos.
Pode ser em qualquer “língua” mas efetuar boas leituras também faz bem à saúde, aaaHhh
Pedro Fernandes (Carregado)
Pedro Fernandes, sempre a surpreender!
«Eduardo Chozas», uma das minhas primeiras «internacionalizações».
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