domingo, fevereiro 12, 2006

Clássica de S. Pedro da Cadeira: a crónica

Primeiro destaque à partida: a presença do Miguel, que fez saber que a sua recuperação da fractura da clavícula sofrida há precisamente um mês está a evoluir positivamente e que mais cedo do que se previa voltará à «competição».
Segundo destaque também à partida: a primeira foto de família do grupo Pina Bike de 2006. O L-Glutamina trouxe a digital e a «matilha» posou, de peito inchado, para o boneco que em breve ilustrará a página principal deste blog.
Outros instantâneos ainda foram recolhidos ao longo da volta, o que obrigou a um esforço adicional do «bate-chapas» de serviço. Por esse motivo, para ele quaisquer atrasos nos pontos-chave da etapa, em condições normais improváveis, estão perfeitamente justificados.
A propósito, também devido e esse facto saímos de Loures com alguma demora, mas sem pressas durante os primeiros quilómetros. O percurso assim o aconselhava. Uma semana depois das loucas correrias nas lezírias, o pelotão surgiu mais sereno e organizado, enfrentando a longa subida até à Venda do Pinheiro com tranquilidade. De resto, só a maior inclinação dos últimos 1,3 km fraccionaram o grupo – e não tanto como habitualmente.
Daí a Mafra, a toada morna manteve-se, agitada apenas pela «intromissão» — foi mais intercepção — de um numeroso pelotão à passagem por Alcainça. A inesperada companhia desconcentrou-nos apenas, porque à saída de Mafra já o «comboio» Pina Bike se impunha à cabeça. Após a convivência breve, os intrusos tomaram a direcção Ericeira e nós seguimos o sobe-e-desde rumo à Murgueira (alto do Gradil).
O primeiro achaque foi dado pelo Freitas no topo da Barreiralva, a que respondeu com prontidão o Carlos. Mas não foram longe. O primeiro, apesar da sua boa forma, já se sabe que não é muito dado a trabalho intensivo com carácter de exclusividade e à falta de colaboração a tentativa de fuga não passou disso mesmo.
Depois da longa descida da Picanceira, quando o grupo se reuniu no sopé da Encarnação pairava alguma desconfiança para a subida. Fogo de palha, pois o ritmo foi sempre muito controlado e mais uma vez, como sucedera na Venda, só a maior inclinação do último km e o endurecimento do passo, pelo Freitas, fez os roladores cederem algum terreno. Ficou mais uma vez bem evidente que a moderação iria prevalecer o mais tempo possível.
O troço de ligação entre S.P. Cadeira e a EN8, de 11 km, com dois topos «aguçados», manteve a harmonia, e depois da entrada na estrada principal continuou-se a deslizar a regimes de endurance.
O pacto de não agressão durou até ao Vale da Guarda, já em plena subida de Vila Franca do Rosário. Chegara a hora de desbaratar energia, de baixar abruptamente o nível dos depósitos de glicogénio. Primeiro, acelerei progressivamente no falso plano e depois «explodi» na última rampa antes da rotunda da A8/Malveira. Fui ao limite das minhas forças mas faltou-me… 30 metros, onde o Freitas sacou os seus galões. Os restantes bravos chegaram a conta-gotas mas sem perderem muito tempo.

Notas de observador:

1- A Clássica de S. Pedro da Cadeira, classificada no Circuito como de Dificuldade Elevada, demonstrou mais uma vez que, com moderação no andamento, é possível manter o grupo coeso e assim tornar a prova mais interessante para todos. Para mim, inclusive, pareceu-me que a abordagem foi, a grandes espaços, até excessivamente cautelosa, não fosse o diabo tecê-las. Houve alguns (talvez demasiados) momentos «mortos», em que apenas se rolou com o peso dos sapatos, mas outros, como a aceleração do Freitas em Barreiralva com pronta resposta do Carlos, e depois do pelotão, são exemplo de que se pode fazer ciclismo entre nós sem causar «estragos irreparáveis».

2- Definitivamente, os roladores não estavam em terreno de eleição. Todavia, o ritmo quase sempre moderado ajudou-os a atenuar as dificuldades. Por exemplo, o Fantasma, ainda a rentabilizar a excelente prestação na Valada, e em clara subida de forma, conseguiu sempre gerir o «handicap» quando o terreno empinou e sempre que este suavizava, lá voltava a ameaçar com mais assombrações. Mas sempre contidas, é verdade. Para a semana, na Ota, voltará a estar como peixe na água. Aliás, tal como o Daniel.

3- Ao invés, os trepadores, mesmo sem «alta montanha», puderam dar um ar da sua graça. Foi o caso do Carlos, que esteve sempre activo – pareceu-me que estava em dia que querer fazer alguma coisa… séria – e realizou uma boa subida de Vila Franca do Rosário. Todavia, deixou bem claro que não estava para prestar grande auxílio ao Freitas naquela tentativa de fuga em Barreiralva. Estará escaldado?

4- Por falar no homem, notou-se que o Freitas teve de refrear amiúde o ímpeto forte que tem revelado nos últimos tempos, mas não faltaram provas da sua excelente forma. Na subida de Vila Franca do Rosário foi claro na sua aposta: ir na minha roda até ao sprint final. E ganhou-a! Todavia, foi como nos velhos tempos, mesmo que agora os tempos sejam outros. Não é verdade, meu caro?!

4 comentários:

Anónimo disse...

Olá a todos,
Acho que a melhor qualificação da jornada de ontem é que foi divertida, para mal dos que não foram...!!!
De facto a comparência do Miguel à partida foi reconfortante para os que estavam na BP.
Também concordo que as fotos foram 1 bom elixir.
Em relação a esta Clássica, permite-me Ricardo a minha discordância em relação à opinião de que a mesma terá sido “morna”. Entendo que o teu maior apuro físico te transmita essa sensação mas julgo não ter sido essa a sensação dos demais e tomemos como exemplo o Nuno que não seguiu os da frente no final, ou seja, mesmo que tenha andado no dia anterior e tivesse sido por isso penalizado se a volta fosse “calma” ele estaria “lá” no final!
Penso que a subida da Freixeira não foi feita tão suavemente para o Pelotão, porque embora a fazer companhia ao meu Pai as pulsações não foram propriamente baixas.
O mesmo aconteceu em Alcainça mas aí entendo que devido a vir a recuperar do atraso tenha sido penalizado por isso.
De seguida, o topo para a Murgueira também não foi para mim nada fácil porque continuava a tentar apanhar o Grupo que, diga-se, me pareceu gentilmente esperar (produziram efeitos os sucessivos puxões de orelhas durante a semana passada!).
A descida da Picanceira também não permitiu regimes baixos já que foi feita a muito boa velocidade e não dava para deixar de pedalar.
O troço de ligação até à Nacional embora não tenha sido ao máximo provocou o seu desgaste.
Foi interessante ver que o Grupo teve condições para seguir coeso até quase ao final, ou seja, nas últimas dificuldades houve “liberdade” para “se meter 1 abaixo” e cada um sentir o tal fiozinho que o Fantasma tanto gosta!
Eu não fui capaz de seguir na frente mas tenho 1 bom alibi, como sabemos há coisas que não se enquadram com a prática do ciclismo, ou seja, na noite anterior eu cheguei a casa às 3:30am e eram quase 4:00’ quando me deitei! O resultado foi aquela sensação de ardor que fez com que para mim esta Clássica mantive-se a conotação de Grau de Dificuldade Elevada.
Fantasma, está de facto em boa forma porque seguia o andamento nos topos e por vontade dele o ritmo nos planos e a descer nunca teria descido...o Homem sente-se bem!
Carlos, pareceu de facto com vontade de fazer mais mas sem ir no engodo de se colocar em situações difíceis, entenda-se, em que tivesse de ser apenas ele a trabalhar!
Os restantes estiveram regulares mas quero deixar 1 nota em relação ao Relojoeiro. Não sendo as subidas o seu forte, acho que é de referir a imensa progressão que ele tem feito neste terreno!

1ab e boas pedaladas,
ZT

Anónimo disse...

São ótimas e muito úteis as descrições no teu blog. Eu já tentei fazer semalhante no meu, até incluí mapas, mas nunca de forma tão detalhada!

Anónimo disse...

Miguel,
Lembro-me de ter pensado o mesmo alguns dias depois de o meu pai me dar a minha primeira bicicleta.

1 abraço e volta depressa.

L-Glutamina - Over and Out

Ricardo Costa disse...

Para justificar quando me refiro ao andamento «morno» na Clássica de domingo está o facto de, há poucas semanas, num treino de endurance ter feito o percurso Loures-S.P. da Cadeira-Venda do Pinheiro em apenas mais 3 minutos.
Os sectores mais rápidos foram, como se esperava, entre a Murgueira e o início da subida da Encarnação - a longa descida e o topo da Barreiralva onde houve uma aceleração do Freitas e do Carlos - (menos 3.30 minutos) e a subida de Vila Franca do Rosário (menos 2 minutos). No conjunto, 5.30 min. ali ganhos contra 2.00 min. perdidos no restante. Ou seja, confirma-se que o andamento foi, na generalidade, ainda mais moderado que no meu treino de endurance.
Mas isso não quer dizer que tenha sido monótono. A fórmula resultou bem e deve continuar!