segunda-feira, maio 08, 2006

Assalto a Montejunto!

Subimos o nosso Alpe D’Huez! Numa jornada longa e dura, a rondar 140 km e com ascendente acumulado próximo dos 2000 metros, o bem composto pelotão Pina Bike cumpriu o glorioso objectivo de ascender ao ponto mais alto na nossa região (650 metros). De resto, foi um verdadeiro assalto a Montejunto, pois o grupo dividiu-se entre duas das (quatro!) vertentes da serra: Vila Verde dos Francos e Pragança, embora por esta tenha escalado a maioria dos participantes. Apesar de ter havido, entre estes, quem não chegasse ao cume, estão todos de parabéns pelo esforço e abnegação demonstrados!
O trajecto de Loures até à base da(s) subidas(s) não é, de todo, um passeio. Até Bucelas e depois ao Alto de Alqueidão, a seguir por Merceana e Atalaia; e daqui para Vila Verde dos Francos, Vilar e Pragança, houve que vencer os obstáculos do terreno, ainda com a oposição do vento. Na subida do Sobral foi evidente o regime de gestão de esforço do pelotão, por isso com facilidade se poderia ganhar algum avanço. Foi o que aconteceu a quatro elementos: eu, Daniel, Salvador e o Tárcio. O quarteto passou destacado no Alto de Alqueidão, mas à entrada do Sobral juntava-se um grupo que, entretanto, seguia intermédio. Este pelotão, já com razoável número de unidades, desceu para a Merceana e subiu para Atalaia e Vila Verde dos Francos sempre compacto e a ritmo moderado. E só em Vila Verde dos Francos, altura em que o João, o Zé-Tó e o Samuel (creio que não falta ninguém…) iniciaram a subida para Montejunto, se juntaram os perseguidores. A cerca de 18 km até Pragança, o pelotão ficava novamente compacto.
Daqui até ao alto de Montejunto são cerca de 6 km a quase 8% de inclinação média – uma ascensão digna de alta montanha. As primeiras rampas são duras e fizeram a primeira selecção – naturalmente a maior –, isolando, na frente, um quarteto composto por: Nuno Garcia, Freitas, Carlos e eu. O Carlos foi o primeiro a optar por seguir no seu passo, mais tarde (bem mais tarde, mas ainda na fase mais dura da subida) o Freitas também cedeu, seguindo, eu e o Nuno, juntos até muito perto do alto, à última curva, altura em que ele arrancou, de forma perfeitamente irresistível, para o final, deixando-me sem qualquer capacidade de reacção. A diferença entre nós acabou por ser significativa, tendo em conta que faltavam pouco mais de 100 metros. Para dar melhor ideia, foram cerca de 30/40 metros ou 15 a 20 segundos. Grande demonstração de força do Nuno, a provar que está de regresso à boa forma, em vésperas dos Lagos de Covadonga!
O Freitas chegou pouco depois, também ele efectuando uma excelente escalada, mais tarde o Carlos, depois o L-Glutamina e o Pina, e a fechar o grupo de cavaleiros do asfalto que tocaram o céu: o Tárcio (grande aquisição para o grupo!), o Luís e o Fantasma. Sem esquecer o João, o ZT e o Samuel que escolheram ascender por Vila Verde dos Francos. Grandes! Menção honrosa também aos que preferiram ficar na cota do quartel. Enorme jornada de ciclismo!

Notas de observador

Ontem foi dia de curiosa aferição. O Nuno Garcia chegou de longa ausência (pelo menos, intermitente) e ainda sem ter dado mostras de estar em boa forma, teve um excelente desempenho em Montejunto, com a agravante (no meu caso) de me ter deixado «pregado» na fase final da subida, após uma aceleração à «pro». Então, este sucedido pode despoletar a seguinte questão: o que faz um indivíduo com muito menos quilómetros e um programa de treino menos consistente, digamos, estar ao mesmo nível (ou melhor, na situação de ontem) dos que o têm? As respostas podem ser várias, mas procurando ser o mais objectivo possível, creio que existem factores que têm a ver com o «histórico», em que se incluem as suas características atléticas muito bem adaptadas ao exercício específico de subida, o esforço dispendido por ambos ao longo do percurso e, no meu caso pessoal, os condicionantes do normal cumprimento do plano de preparação, que, até prova muito mais evidente de estar errado, não irei alterar um milímetro. Ou seja, ontem ele esteve muito bem, perfeitamente irresistível, e eu igual a mim próprio.
O mérito do Garcia é ainda maior, uma vez que o tempo de subida, no meu caso, foi cerca de 1.30 m (23.07 m) inferior ao anterior melhor registo (realizado já na segunda-feira transacta). Por isso, considero que fiz uma boa subida, dentro do previsto, sendo esta de Pragança, para mim particularmente desconfortável, já que as suas elevadas percentagens não permitem, como tanto «preciso», manter rotação de pedalada alta, que aqui é, em média, 60/65 rpm, quando normalmente, em montanha, ronda 75/80. A prová-lo está o regime cardíaco médio (171): alto não tanto como se tivesse tido… mais força para o elevar a regimes «competitivo» (perto das 180) – o que não foi possível (nem é, para mim) numa subida tão inclinada.
Característica ou defeito? Penso que mais a primeira, embora a força também se optimize através de treino específico, o que é uma questão a rever (embora todos os anos o faça no início da temporada. Mas depois…), não sendo eu propriamente um ciclista leve (73 kg, peso de forma).
Mas há outros factores. Entre eles, a inclusão desta etapa de Montejunto no programa de treino semanal e não como um objecto específico de performance, logo, tendo chegado a domingo com toda a carga de trabalho da semana (e das anteriores) nas pernas. Este ano, só sucedeu o contrário em duas ocasiões: Évora e Fátima.
Mais importante – para mim, é claro! – é que os indicadores de forma são favoráveis para o grande objectivo da temporada: a Etapa do Tour. E são eles: desenvolvimento da capacidade para manter regimes muito próximo do limiar anaeróbio durante longos períodos de tempo – estamos a falar de três subidas de alta montanha, com mais de 1h00 de escalada! – e ainda muito bom endurance de base para vencer mais de 7h30 de bicicleta. E pelos indicadores, parece-me que estou no bom caminho... A ver vamos, dia 10 de Julho!
Nuno, caro amigo, mantém a frontalidade! A primeira «batalha» trava-se já no próximo dia 20, nas rampas da Huesera, mas a maior de todas será nas 21 curvas do Alpe D’Huez.
Grande abraço e muito obrigado pela consideração!

11 comentários:

Anónimo disse...

Dia grande de ciclismo sem dúvida. Subida de Pragança dura, duríssima... exclusiva para malta dura!
Grande aplicação de todos os elementos, assim dá gosto!

Pena a ausência do Miguel, que acabou por dar-se a ver. Estaria a fazer treino específico secreto?

E o Garcia? Vergou os que têm sido dominadores da temporada. Surpreendente mas muito bem! E vão ter de se haver como ele nos Lagos.

Será que o nosso campeão Ricardo vai começar a patinar e perder finalmente o ceptro? Quem o destrona? Garcia confirma-se? Freitas aguentará a montanha? Miguel reencontrará a sua melhor forma? Irei acompanhar com muita expectativa os resultados das provas internacionais.

E onde é que ia o bom do Daniel atrás das motas internacionais no início da subida? O homem é desmiolado ou quê?

Pelos visto, o Carlos esteve algo aquém das minhas perspectivas. Prova que ainda lhe falta progredir muito para poder ombrear com os internacionais.

Quanto a mim, vou continuar... cortante.

Homem do Talho

Ricardo Costa disse...

Salvé gurus da roda cardada! Estive a ler a crónica, da autoria do Pintaínho, sobre a volta da Serra do Socorro e não resisti a dar-lhe os parabéns, em sede própria, pela excelente prosa: divertida e mordaz.
Ainda para ti Pintainho, foi pena que não estivesses presente no último domingo em Montejunto, pois foi uma grande jornada de ciclismo. Mas outras ocasiões certamente não irão faltar. A atracção da montanha é irresistível.

Que tal a Clássica do Sobral da Abelheira, no próximo dia 28. Não sei se conheces a subida, é curta mas acentuada. De resto, a volta não é de «alta montanha» mas tem alguns condimentos bastante picantes. E mais importante: o percurso é excelente do ponto de vista paisagístico. Penso que irias gostar. E será para fazer com moderação... pois os chamados internacionais decerto não estarão lá muito viçosos uma semana depois da refrega asturiana, dos Lagos de Covadonga.

Abraço

Anónimo disse...

Agradeço o elogio. Vindo de um “letrado” para um “numerado”, é sempre de levar em conta.
Também tive pena de não ir a Montejunto. O regresso seria … penoso…
Mas, quando arranjar uma boa desculpa … compreenderás! Eh, eh… Já andavam a afiar o dente…
Se gostaste da crónica … havias de ter ido connosco. Também tenho um “prego” para ti!

Nos vossos giros também há “tempo” para olhar a paisagem?

Abraço

Ricardo Costa disse...

Pintainho, nem mais apropósito a tua pergunta sobre se as nossas voltas (também) davam para ver a paisagem.
Ainda hoje, em treino na companhia do Freitas, dizia-lhe que tinha considerado com muita piada à tua crónica, mas que só poderia ser tão pormenorizada se a observação tivesse sido efectuada a velocidade muito baixa e/ou com paragens frequentes...
O que, com os calmeirões do Pina Bike, é praticamente impossível, a não ser que as subidas tenham mais de 5 km e inclinação superior a 8%! Mas sempre dá para olhar ao que passa... de revés!

Anónimo disse...

iso é quando a vista ainda não stá tão turva ou toldada pelo esforço que por vezes já nem a estrada se ve quanto mais as coisas que se passam ao nosso redor,mas há algumas voltas em que ainda dá para ver de relance os traços da estrada,tal é a velocidade a que nos deslocamos. mais oportunidades hão-de existir para que os elementos da roda grossa se juntem a nós para que possamos desfrutar mais uma vez da sua companhia, como há uns meses atras.
pela parte que me toca já fiz uma incursão ao terreno do "inimigo", pelo que tentei andar no trilho com uma montada que não era muito ao meu jeito, talvez por isso e pela falta de habilidade\hábito de andar fora da estrada tenha experimentado a relva 2\3 vezes seguidas, pelos vistos são ossos do ofício mesmo para os mais experientes.por isso meus amigos considerem-se desde já convidados a aparecer numa das nossas voltas (a que mais vos agradar e ou corresponder melhor ás vossas caracteristicas).
avolta do próximo domingo é a das lezirias que passo a descrever:
-saida de loures ás 08.45
-alverca
-vila franca
-porto alto
-esq.para samora correia
-benavente
-ponte de pedra á esq. para a estrada do campo
-estalagem do gado bravo á dir.para vila franca
-á esq. para alhandra
-alverca
-em frente para sacavém
-á dir. para a apelação
-frielas
-ponte de frielas
-á dir. para loures(bp) pelo infantado
vai ser uma volta em que os roladores mais possantes do nosso grupo, e são muitos, irão certamente por um andamento bastante animado.
espera-se por isso que muitos elementos compareçam no domingo.
então até lá, bons treinos
ABRAÇO GRANDE DO AMIGO DURÃO

Anónimo disse...

Domingo sempre a rolar será a derradeira afinação para os Lagos de Covadonga, não é Durão?

Depois segue a semana do descanso e da ansiedade. Será que estás preparado para a estreia em provas internacionais?

Homem do Talho

Anónimo disse...

agora já não há afinação possivel até aos lagos ,talvez tentar perder um pouquinho de peso extra e pouco mais se pode fazer.
esta semana e a outra vai ser só meter kms e passear a bicicleta mas nada de exageros(é só mesmo com o peso dos sapatos). no domingo brinca-se um bocado e depois é rezar para que a deslocação não seja em vão" não vai ser quase de certeza"
por isso meu cortante amigo devo dizer-te que de ansiedade nada com a certeza porém que a coisa tem que ser encarada com muita cabecinha para não ficar pendurado na última subida.
DURÃO

Anónimo disse...

Por falar em olhar para a paisagem... vocês sabem de que cor são as ovelhas no cimo do Tourmalet? Ou de quando a neve fica preta? Ou de quando, em casa, tentamos renconstituir a volta e não nos lembramos de alguns troços?
Pois é! Ás vezes o esforço é tanto que tudo é diferente.

A propósito... no cimo do Tourmalet as ovelhas não são brancas!

Gregório Limão

Ricardo Costa disse...

Gregório, nem mais! Há experiencias dificeis de transmitir por palavras, mas as que encontraste reflectem perfeitamente o que, afinal, é também a essencia do ciclismo, que tanto apreciamos.
A propósito, também no magnífico cenário natural dos Lagos de Covadonga, as vacas adoptam um estranho comportamento: invadem pachorrentamente a estrada, mesmo perante a proximidade de automóveis, e só de lá saiem quando... querem! Portanto, mesmo para uma bicicleta, a alternativa mais segura é o slalom.
E o que dizer do silencio sepulcral que se faz na rampa da Huesera? Aí a paisage que arrebatada é a está logo adiante, do outro lado da encosta, talvez uns 10 andares acima! Psicologicamente arrebatadora, sem dúvida!

Ricardo Costa disse...

A não perder o «Especial Lagos de Covadonga 2006», a partir de amanhã, diariamente, até à próxima quarta-feira (véspera da viagem para Espanha).
Tudo sobre a primeira Clássica Internacional do ano...

Anónimo disse...

Chegou-me ao ouvido que ALGUNS «internacionais» querem fazer uma voltinha descansada no domingo, mas ALGUNS «nacionais» não parecem dispostos a fazer-lhes a vontade. Será verdade??

Homem do Talho