segunda-feira, outubro 16, 2006

A Ajuda divina

Quando o Durão acelerou na subida de Frielas, fraccionando o pelotão em dois grupos, cheguei a temer pelo bom desenrolar da volta de ontem – a exigente Clássica da Sra. da Ajuda. Felizmente, os meus receios não se confirmaram, e a etapa veio a superar as melhores expectativas, assistindo-se a alguns desempenhos de verdadeiros campeões…
Assim, ainda no rescaldo das chagas provocadas pela fuga «mal-entendida» da Clássica de Torres, a tal escaramuça não augurava nada de bom. A partir do momento em que, no cruzamento de Unhos, tanto o João, o ZT e o Abel descolaram do grupo principal; e eu, o Steven e o Carlos ficámos em posição intermédia, mas ainda a tempo de recuperar, a melhor decisão era reunir as tropas e, acima de tudo, motivá-las para o muito que faltava percorrer – o que nem sempre é fácil! De resto, porque se sabia que o primeiro grupo, além de numeroso e muito forte – a ver: Durão, Nando, João Santos, Fantasma, Salvador, Pedro e o Luís –, não iria «parar»… antes da Mata.
Depois do sexteto estar a postos, metemos a velocidade de cruzeiro a partir de Sacavém, sempre com preocupação para não causar desgastes excessivos e, por outro lado, não perder demasiado tempo para os homens da frente. Por isso, em Alverca, antes de iniciar a subida de A-do-Melros, era geral a sensação que o trabalho tinha sido bem feito. O grupo principal estava a menos de um minuto e sabia-se que lá, mais do que a inclinação (porque é baixa) dos próximos 7 km seria a falta de entendimento e as acelerações, que iriam fazer as primeiras vítimas. Ei-las, inclusive mais cedo que esperava: o Nando (penso que mais voluntariamente) e o Luís. Depois, o Pedro (já na descida para Arruda) e finalmente o Fantasma (só à entrada da subida da Mata porque o grupo «alivou» para deixar o Nando reentrar depois de parar para recuperar do chão uma barra energética). Lá à frente, os mais fortes aceleraram e praticamente só eles resistiram: o Durão, o João Santos e o Salvador – este mais uma vez, a passar a si próprio uma factura que veio a pagar bem.
No início da Mata, os meus companheiros de fuga «libertaram-me» para tentar alcançar os últimos fugitivos. Tarefa complicada, tendo em conta o atraso (cerca de 1 minuto) e, entre eles, estar o Durão. Acelerei e avistei o trio antes do 1º gancho (estavam no andar de cima, nesta altura a não mais de 40 segundos). O Durão viu-me e atacou, deixando o Salvador pregado. A partir daqui iniciava-se a verdadeira perseguição. O João Santos resistiu até já depois da passagem pela Mata e alcancei-o no 2ª gancho, onde já não tinha ilusões quanto a apanhar o Durão, que chegou ao alto com uma vantagem de 20 segundos. Tempo de subida: 12m14s, apenas mais 2 s que o meu melhor de sempre. Média de pulsação: 180!
Os restantes foram chegando, a maioria aos pares, e só se teve de esperar mais tempo pelo Abel e o Steven.
Após a Mata deslizou-se na descida para S. Tiago dos Velhos e rapidamente nos deparámos com o «muro» da Sra. da Ajuda. O Nando abriu as hostilidades, provando a sua subida de forma, mas eu fechei o espaço, levando o Durão na roda. Mais uma vez, o grupo teve uma excelente prestação, voltando a reunir-se a caminho da Tesoureira.
Aqui, já com o peso da distância e acima de tudo das subidas, o fraccionou-se definitivamente, quando o Nando acelerou na descida, ficando na frente o eu, Nando, Fantasma, Durão, João Santos, ZT e o João, que se adiantou em direcção a Casais da Serra, terminando, de vez, com a já fraca vontade do Fantasma e do ZT em subir Ribas. Até o próprio ficou tentado a seguir para Bucelas, mas acabou por completar o percurso.
Chegava então, a último ponto quente da jornada. A uma média de 20 km/h e 177 pulsações/minuto, quebrei (pelos menos 2 segundos que me faltaram na Mata) a minha melhor marca pessoal, que durava há 3 anos: 9m55s. O Durão chegou 35 s depois, também ele a fazer uma óptima subida. Depois o João Santos, e juntos o Nando e o João. O Carlos e o Salvador, que tinham «evitado» a Sra. da Ajuda, também chegaram ao alto de Ribas. Mas o «melhor» também estava a chegar: o Abel. Já não encontro nada de novo para elogiar os exemplos de coragem com que este homem nos esmaga todos os domingos!

Notas de observador:

Elogio a atitude e a excelente prestação de todos os participantes neste difícil percurso. Todavia, destaco, por esta ordem, os que completaram a distância e que, além disso, estiveram no grupo perseguidor – assim (além de mim) refiro-me ao João e ao incontornável Abel. Mas volto a sublinhar que todos, sem excepção, estivemos em GRANDE! Mais: faço uma vénia a todos os que, por motivos vários, não têm o nível de preparação dos chamados «internacionais», pelo desempenho que têm em voltas como esta. Assumo, sem faltas modéstias, que não seria capaz de tanto.

Todavia, a aceleração do Durão em Frielas, que provocou a divisão do grupo merece reparo. Ou seja, mesmo tendo marcado negativamente o desenrolar da tirada – desta vez! –, volto a frisar que não devem os mais fortes participar em iniciativas deste género, tão madrugadoras e em etapas com índice de dificuldade elevado, e muito menos serem estes a promovê-las, como foi o caso.

As despesas da perseguição ao grupo que se destacou em Unhos não foram bem distribuídas, mas nestas situações a gestão é muito mais importante. Ou seja, num grupo heterogéneo como aquele devem ser os mais aptos a tomar as rédeas e a despender o esforço maior, voluntariamente e sem esperar ajudas dos menos fortes. Naquela situação, eu e o Carlos, embora todos tivessem dado, mesmo que apenas as espaços curtos, o seu contributo. Mas sinceramente, não se deviam sentir obrigados. Deviam, sim, motivar-se e motivarem os outros.

Na óptica do comentário anterior, penso que a melhor abordagem a todas às clássicas domingueiras é pensar no percurso como um todo, e não apenas numa parte. Com isto quero dizer que não é recomendável entrar em esforços prolongados de alta intensidade (e são estes que acabam com a resistência) na primeira fase da volta para depois pagar copiosamente essa factura e ter de encurtar caminho ou não completar o percurso previsto. A estratégia faz parte deste e todos os desportos e para se evoluir em cada um é saber utilizá-la em proveito próprio. E para isso é preciso ter cabecinha!

Em relação ao ponto anterior, este domingo vi bons e maus exemplos. Não contando que o pior de todos foi dado pelos mais fortes (Durão), pelos motivos já referidos, destaco entre os «bons», o do Nando e do Luís, que se deixaram descair em A-dos-Melros quando viram que o ritmo não era adequado; entre os «assim-assim», o Fantasma e o Pedro (este com a desculpa da inexperiência), que devem ser insistido em resistir ao ritmo do Durão o mais tempo possível. O primeiro acabou com mais uma «facadinha» ao percurso, passando ao largo de Ribas, e o Pedro, que actualmente deve ter como prioridade poupar toda a energia possível, que é o primeiro ensinamento para evoluir como pretende. E finalmente, entre os «maus», sem dúvida o Salvador, que foi «até dar» com o João Santos e o Durão, na Mata, só cedendo ao previsível ataque do Durão. Então, já o mal estava feito! Depois, como as forças já eram escassas, vieram as fintas ao percurso e ao próprio grupo… O mérito maior não é andar na frente enquanto se puder, mas é chegar ao fim, mesmo que se tenha de andar «incógnito» a volta inteira!

Esta excelente etapa marcou definitivamente o meu final de temporada. Não cessarei a actividade – altamente desaconselhável! – para não deixar cair demasiado a forma, mas acabaram os esforços muito intensos, como os deste domingo na Mata e em Ribas. Estarei sempre pronto para colaborar em qualquer iniciativa do pelotão, mas, nos próximos meses, baixarei a «atitude competitiva» para o nível mínimo. Depois de baixado o volume e as cargas de treino a partir da Etapa da Serra da Estrela, e apesar de ter ganho 2 kg em relação ao peso de forma, concluo a longa e fatigante temporada 2006 curiosamente a sentir-me muitíssimo bem – os tempos naquelas subidas provam-no. Vou continuar a passear durante a semana pelos «picotos» que tenho descoberto por aí, e começar a pensar em 2007.

No próximo domingo, temos uma missão de honra: acompanhar o Nando durante os primeiros quilómetros para Fátima. O objectivo é ajudar o nosso camarada até Alcoentre, após o que daremos meia-volta de regresso, deixando-o entregas às suas forças – ficará bem, sem dúvida! Por isso, a hora de partida de Loures foi antecipada para as 8h00. Com isto, a volta terá cerca de 100 km. Bons treinos!

8 comentários:

Anónimo disse...

Duas observações apenas:

1 - Em Frielas, no início da ascenção para UNHOS foi o Salvador o 1º a endurecer o ritmo, logo seguido pelo Durão e depois pelos restantes que viriam a formar o grupo"fugitivo".

2 - Verdadeiramente FANTÁSTICO o espírito de sacrifício do ABEL!!!

AB e até Sábado em Grândola para + 100 de BTT

Anónimo disse...

Eu já tenho tomado café ao Domingo com o "Salvador" mas nunca andei de bike c ele ao fds...!!!
Alguém me consegue explicar essa forma de andar???
Quero dizer q tb n entendo q a corrida comece qd ainda n se tem nem 5Km. percorridos!!!
Tb gostava q me explicassem pq é q "alguns" n permitem o reagrupamento nos pontos de "referência" e continuam a andar sem olhar p trás...
Penso q a atitude n tá a ser a melhor e é algo a rever por cada 1 de nós.

1ab e boas pedaladas,
ZT

Anónimo disse...

Amigo ricardo - concordo ctg em parte da volta do domingo ms só a até ao topo da mata...kuando lá cheguei com o carlos eu virei para a ajuda e o carlos seguiu para santiago e tu voltaste para trás .
Só estavas tu no cruzamento , eu até tinha perguntado ao durão como é k era no topo: se esprávamos, e ela disse k sim.
mas não tava lá o durão nem o joão, pensei k tivessem seguido - voltei para trás e fui atrás do carlos, passei por ele e seguimos, subimos a ajuda , a tesoureira , sempre em linha de vista um com o outro.
kuando cheguei ao topo, vi k o durão não tava, portanto n houve fintas como tu afirmas.
Disseste que fiquei pregado, é normal ja alguma vez fui com vocês? nao! vou como posso ate ao topo , mas quando o piso é a nosso favor acelarando, começa logo alguem a dizer esta muito alto no proximo topo, ja se esqueceram dos camelos .
Passei o ano atrás de todos na companhia do GRANDE ABEL, muitas vezes a chegar sozinho e nao ver ninguem no final .
algumas vezes o amigo durao ate me chegou a empurrar... agora comcecei a andar um bocadinho mais, ja sou o mau da festa .
Como nao tanho capacidade para os acompanharem e nao fazer vocês esperarem.


Agradeço o convivio de todos
Obrigado

Anónimo disse...

Ultimo comentário escrito: salvador

Anónimo disse...

Pois é Salvador, ainda não reparaste que é sempre para os mesmos?
Não te chateies com isso e continua a aparecer!

O Lingua nos Raios

Anónimo disse...

És bom? És! O «além de mim» é divinal!!!

Ricardo Costa disse...

Caro Salvador. Para evitar situações como essa, que vos induziu em erro no alto da Mata, é que insistiremos em estabelecer paragens para reagrupamento no final dos chamados «pontos quentes», que serão anunciadas na antevisão de cada volta.
Este domingo estava tudo acertado para que isso acontecesse, tendo sido anunciado neste blog que o grupo esperaria por TODA A GENTE na Mata e em Ribas (salvo alguém que tivesse algum condicionalismo de horário, etc.) Para quem não tem possibilidade/disponibilidade de o consultar antes das voltas, convém perguntar antes de começar as voltas, nas bombas da BP.
Creio que esta é a melhor forma de coordenar melhor as saídas de domingo, e acima de tudo reforçar a confiança entre todos os participantes, pois assim já não haverá razões para «pensar» que outros devem ter continuado e assim também se meterem ao caminho, como neste caso, sozinhos.
Quanto a seres o «mau da fita»... não concordo, nem creio que haja razões para pensares desse modo. Vou repetir o que escrevi na crónica da volta e já tive oportunidade de dizer ao Durão. São os mais «fortes» (no caso desta volta, eu e o Durão) que devem contribuir para não haver cortes prematuros no pelotão, mantendo a velocidade de cruzeiro que todos possam suportar. Atenção que todos os elementos devem ter bem presente que «esta» velocidade de cruzeiro tem de ser compatível com o nível médio do grupo, e deverá ser mantida até à entrada dos chamados «pontos quentes». Mas toda a gente está livre de ir ao ritmo que quiser. Se aceleraste em Frielas, todos poderiam ter ido, menos o Durão... e eu. Tal como seria natural, foi ele quem mais contribuiu para manter a fuga, principalmente quando meteu um passo rijo em A-do-Barriga. Até lá causou desgastes em todos os que estavem no grupo de trás e obrigou os detrás ao mesmo esforço na perseguição - que, todavia, penso que foi gerida o melhor possível. Depois na Mata, tudo bem, ele fez o que devia, no local indicado!
As voltas têm ritmo livre e não faz sentido alterá-las, mas se os que quiserem entrar em fuga nos primeiros quilómetros ou antes dos «pontos quentes» não contassem com a ajuda (ou a presença) dos mais «fortes», provavelmente não haveria tantas queixas, e motivos para os ditos «nacionais» enfiarem a carapuça de «camelos». Faço-me entender?

Abraço

Anónimo disse...

Vencedor da Classica da Sra. da Ajuda,
(para mim) o GRANDE ABEL, de todos os restantes o comportamento era já o esperado, até o meu.......

Um abraço e muito treino para todos,
Pedro Fonseca