terça-feira, fevereiro 17, 2009

S. Pedro da Cadeira: a crónica

A tendência já vinha a revelar-se neste início de ano: as voltas domingueiras estão cada vez mais ao jeito de quem gosta de fazer ciclismo – logo haja pernas! - e menos próprias para apreciadores de vertente mais lúdica da bicicleta de estrada. Sem a recomendável contenção, mesmo que mínima, a toada actual deverá continuar a subir de escala com todas as consequências implicadas.
E porquê: desde logo porque o grupo atingiu nível e competitividade sem precedentes; e se antes apenas eram muito poucos os elementos mais assíduos que tinham capacidade de tornar as voltas realmente selectivas, agora há cada vez mais gente, todos os domingos, capaz de o fazer. Não quero dizer que a nova realidade seja negativa; pelo contrário, é boa! – repito: saem a ganhar os que gostam de pegar na bicicleta ao domingo para andar... depressa, por vezes nos limites do esforço e da adrenalina. Mas não convém perder as rédeas da situação. Principalmente quando é bravia. Corre-se o risco de as coisas se tornarem indomáveis, fazendo perigar os pressupostos fundamentais destes encontros semanais. E assim, lá se vão as virtudes!

Esta introdução pode parecer... mais do mesmo. Mas, como se verá, serve de introdução à crónica da volta do último fim-de-semana. Uma espécie de abertura das mentes, para mais fácil interpretação das palavras que se seguem.

A tirada de domingo ficou marcada por uma fuga, duradoura, daquelas que obrigam a perseguir a sério durante vários quilómetros. Os seus autores, três e fortes no terreno que era (Manso «Cancellara», Rocha e Filipe), desaconselhavam relaxe do grupo perseguidor. Mas a verdade é que, às tantas – sem desprimor para o seu esforço –, lá atrás poucos pareceram preocupados. Poucos no início, mas não demorou muito para... nem um!
Explico. A fuga desenhou-se logo a seguir à Murgueira e consolidou-se, num ápice, na descida da Picanceira, onde comecei a mexer-me para controlar a distância no pequeno pelotão perseguidor (com Freitas, André, Hugo, de Negrais e Pina). Ou seja, não demorou muito a reacção. Na abordagem à subida da Encarnação, perante a passividade dos meus companheiros (sem o Pina, que já tinha deitado a carga ao mar em Mafra, ficara para trás) assumi o andamento, metendo o «Tempo». Até aqui, tudo normal...
À chegada ao alto (não faltavam mais de 30 metros), o Freitas sprintou (como sempre, nada de anormal!...) e o André respondeu. (Ok!, não é atitude muito correcta num grupo que devia unir-se e colaborar, mas enfim...). No entanto, eis que surpresa ou talvez não! O Freitas chama pelo André para continuarem a esticar pela descida, manobra que deve ser interpretada como tentativa de me deixar pendurado – a mim e ao Hugo, claro! Não tiveram êxito e tiraram tudo quando os agarramos.
Mas não foi tudo: no seguimento, quando o Hugo passou para frente do grupo e André tomou a liberdade de lhe ir dizer claramente para não o fazer. O rapaz nem deveria estar a perceber as intenções. Neste impasse, ainda antes de S. Pedro da Cadeira, o Freitas salta de esticão. Não foi longe. Ao ver que era o Hugo a fazer a perseguição, revoltou-se. Para mim, acabavam-se as dúvidas! O ambiente era hostil, e partir daí (e agora justificando o motivo da nota introdutória) ficava decidido que a fuga, se só a mim parecia interessar, tinha deixado!
Por isso, quando foi anulada, deveu-se às minhas passagens a fundo nos dois topos duros da estrada da Ventosa, apenas por interesse pessoal e não colectivo. Quando nos juntámos, os fugitivos não faziam a mínima ideia do que estaria a ocorrer. De tal modo, que face ao desentendimento, o «Cancellara» ainda teve ensejo para tentar novamente a sua sorte, embora, naquela altura já ninguém iria a lado algum sem que eu tivesse pernas para ir!
A aproximação a Vila Franca do Rosário abria mais uma «frente» de batalha: a derradeira. Depois dos topos do Turcifal, o Freitas passa para frente e mete o «passo». Com o movimento denunciou que não estava em condições de discutir a subida. Mas trabalhou muito bem até à passagem pela vila, imprimindo um andamento selectivo. O «Cancellara» foi o primeiro a ceder; depois foi o Rocha.
No início da rampa do Vale da Guarda, o Freitas dá-me um sinal amistoso – mostra-me a sua roda e diz que vai levar até ao topo. Mas não tem força. Nesse instante, quando o estou a render, o André ataca (ou simula...), mas cai sobre o guiador.
Assume o Hugo, muito bem, obrigando-nos a reagir. Leva a até ao alto, onde o André volta a tentar sair, novamente em vão. Destacados os três (o Filipe ficara com o Freitas), iniciamos a ligação à rampa final, da Malveira. O André não passa uma vez pela frente. Cerca de 200 metros antes da curva, surge de trás o Freitas, passando directo, mas não podia ir longe. Nunca depois do esforço que fez para recuperar! O efeito foi... de elástico.
O topo foi feito no «prego», a meias entre mim e o Hugo, mas foi o André a «carimbar» no alto.
Após a correria, o descanso. Em amena cavaqueira sobre as incidências, toda a gente concordava que a volta tinha sido... «gira». Principalmente os fugitivos, com motivos para estarem entusiasmados com o esforço despendido na iniciativa, mesmo que não tivesse resultado. De facto, são essas entre muitas outras situações típicas do ciclismo que tornam as voltas «giras».
Estava tudo sanado, a adrenalina baixara, mas da contenda perduram acções que penso só se justificarem num contexto de competição, em que a táctica se pode confundir com matreirice e desportivamente vale tudo, ou quase. A malta está aqui para se divertir, fazer «corridas» sem batedores, por ruas e vielas, meter os «rivais» no vermelho, castigá-los e castigarmos-nos! Mas sempre com desportivismo intocável. Como sempre digo, fazer um pouco de ciclismo sem as exigências das competições oficiais, federadas. Mas não transformemos, estas manhãs de convívio em jornadas em que impera a desconfiança e a falta de solidariedade próprias de corridas com adversários a sério! Cada um que participa nas voltas deve fazer a melhor leitura das ocorrências, guardar forças para os momentos em que se sente melhor ou de acordo com as suas características ou interesses, mas estar num grupo de conhecidos, de início a fim, com matreirice e hostilidade (para mais reincidentes) só contribui para fomentar a suspeição e condená-lo a morte lenta. Aos seus membros, que o prezam, cabe-lhes contribuir para que tal não suceda. Para reflexão!
Consequência imediata: desconfiadas as «comadres», o ambiente está mais que nunca propício a fugas. E o próximo domingo promete, com a alteração da volta que estava prevista (Marginal), devido ao corte do troço do Terreiro do Paço. Fica o novo percurso, que pretendeu manter as características do original. Embora, em minha opinião, mais interessante ainda! A conferir.


12 comentários:

Anónimo disse...

Tudo ok ricardo.
Repara k faltam nomes de terriolas
no grafico,dai não perceber bem a volta.
É k assim não sei onde fugir ahahah.
Já agora kual é o nome da volta.
Araço.

Ricardo Costa disse...

Não faltam nomes, são pontos de passagem. O fundamental é saber que na estrada da Merceana para Torres, cerca de 1,6 km depois de passar a Carvoeira, se corta à esquerda para São Domingos de Carmões.

Anónimo disse...

Fantástico!
De um "grupo" de 15 ou 20 habituais aos domingos, sobram 5 ou 6 pseudo profissionais.
Já nem na partida da BP se conseguem juntar!
Por que será?
Isto sim Ricardo deveria servir para reflexão.

Abraço e boas pedaladas

Anónimo disse...

Advinha-se o fim do grupo. mas é pena.
De facto já nem a saida da BP é feita em grupo o que é de lamentar. A competitividade é salutar e boa, mas deveria apenas ocorrer em certos pontos e fases da volta de forma a permitir que o gupo pedala-se unido durante uns Km.

Ricardo Costa disse...

Penso sinceramente que essas questões sensíveis deviam ser debatidas abertamente. E a oportunidade de podermos fazê-lo aqui no blog não devia ser desperdiçada.
Para isso, é indispensável que as pessoas se identificassem nos seus comentários, não fazendo sentido formularem, anonimamente, opiniões pertinentes que reflectem interesse e zelo pelos assuntos do grupo.
Nem sequer é difícil identificar quem o faz: são os mais descontentes, que já se posicionaram de forma diferente todos os domingos. É explícita a sua posição, mas se a situação não lhes agrada deveriam fazer algo para tentar mudá-la. Algo que seria a discussão aberta.
Aliás, no mínimo seria considerar/respeitar a maneira como me exponho, sem reservas, ao crivo da crítica todas as semanas nas minhas crónicas.
Aos domingos ninguém é dono da volta - como quando éramos putos, em que o dono da bola é que decidia quem jogava a peladinha de rua -, se houvesse consenso alargado creio que ninguém se oporia a respeitar algumas regras em benefício do colectivo.
Mas pode ser só uma proposta utópica minha!

P.S. Volto a repetir, a tirada do próximo domingo é MUITO BOA!

J. Manso disse...

Nem tanto ao mar nem tanto à terra!

A volta do último domingo, a mim, serviu-me para aferir das posturas do pessoal e para me divertir! Sem este último condimento sou o 1º a procurar novas paragens visto que não tenho nem tempo nem apetências para competir.
Depois de 2 semanas ausente e sem tocar na bicicleta (a não ser 50 minutos na sexta-feira) e principalmente sem fumar (ainda ando a trepar paredes para tentar largar o vício...) saí de Mafra em toada calma até à Malveira para me encontrar com o Rocha. Depois de reunidos seguimos ao encontro do resto do grupo em direcção a Loures.
Na zona de Lousa encontrámos a 1ª parte do pelotão e um pouco mais tarde invertemos o sentido de marcha depois de intersectarmos o resto do grupo.
Até Alcainça a toada foi calma, tendo eu saído na dianteira na súbida da Carvoeira. Como ninguém me acompanhou resolvi esperar pelo grupo porque não me sentia à vontade para iniciar uma fuga em solitário.
Na súbida para a Murgueira o Rocha mete passo e resolvi dar alguns metros ao grupo da frente para ver como paravam as modas...
No final da pequena súbida e com uma distância de 50 m entre os grupos não houve abrandamento! Pelo contrário verificou-se uma pequena aceleração...
Resolvi acelerar para juntar os grupos e neste intervalo o Capitão que vinha com algumas dificuldades ficou para trás. Ainda que me tenha posteriormente dito que ainda berrou para o pessoal abrandar um pouco, eu não me apercebi de tal e naquilo que contribuí para a sua quebra peço desculpa.
Enquanto nos aproximávamos verifiquei que o Freitas e o André resolveram ficar ligeiramente para trás possivelmente à espera do Ricardo...
Neste intervalo há um pequeno grupo que se destaca na frente com uma ligeira vantagem.
Entre as irritantes discussões entre o Freitas e o puto resolvi meter passo!
Apanhei o Rocha e o Filife que não se fizeram rogados em me acompanharem ficando o Hugo.
Na descida ganhámos uma boa vantagem, de tal modo que na súbida para a Encarnação não fomos apanhados.
A partir daqui o objectivo era o de fazermos vender cara a caçada dos perseguidores tendo logo referido aos meus colegas de fuga que dificilmente haveria um bom trabalho em equipa dos "caçadores".
A cereja no topo do bolo foi observar a cara dos trepadores quando nos alcançaram...
A partir daqui era objectivo meu tentar sair ainda mais uma vez, mas depois da súbida do Turcifal feita na frente com o Hugo constatei que não estávamos todos na mesma volta e enquanto houver um patinho para puxar ficam os outros todos contentes para carimbarem no final...
Depois na última súbida da "corrida" assim que a pendente ficou desfavorável meti o meu passo... lentinho para recuperar do ritmo demasiado anaeróbico da quase totalidade do percurso feito até então.
Ainda deu para ir até Ponte de Lousa e voltar para Mafra num total de 120 Km.
Contrariando as más linguas, na zona da Malveira todo o pessoal agrupou, quer fossem do 1º ou do 2º grupo. A mim parece-me uma boa solução mas se houver algum iluminado com uma fórmula melhor que se chegue à frente...
Como comentário à descrição do Ricardo quero apenas referir que há pessoas que só vai às voltas para carimbar A ou B. O resto não interessa nem que levem 1 hora de atraso.
Nesse sentido será muito interessante que o pessoal vá diversificando nas fugas para se aferirem intenções... (Se calhar havia algumas surpresas!)

Ricardo Costa disse...

Saídas para andar de bicicleta aos sábados para mim são excepções. Mas em virtude desta semana ter tido mais dias de «descanso» que o previsto, sairei amanhã para a estrada cedinho.
Como é fim-de-semana de Carnaval, se alguém quiser companhia «apite».

Abraço e bons treinos

J. Manso disse...

Ricardo,
Não é que não tenha vontade, mas os compromissos familiares obrigam-me a outras voltas!
Bom passeio e até domingo
Abraço

Anónimo disse...

já podias ter dito,
é k assim escusava de ter combinado.
Sabes com kem?
Com a DHL das 08:00 há 13:00.
Boa volta,até domingo.
Rocha.

Ricardo Costa disse...

Tem de haver quem dê assistência à família e quem trabalhe, para ver se isto anda para a frente! Mas já vi desculpas piores para se estar «fresquinho» no domingo. A volta não é para menos...

Abraços

Anónimo disse...

amanhã ás 8,30 na BP

Anónimo disse...

Já vi vários grupos interessantes acabarem por haver malta que confunde passeios cicloturísticos com competição pura e dura. Pensem nisso ou no vosso caso também vai ser uma questão de tempo.