terça-feira, maio 22, 2007

Montejunto: contra ventos e tempestades

(clicar 2x no gráfico para abrir)

Excelente exibição do pelotão Pina Bike em Montejunto! Contra ventos e tempestades (literalmente!), enfrentou-se a dureza da vertente de Vila Verde dos Francos com apreciável empenho e uma dose de competitividade salutar. Lá em cima, um grupo previsível discutiu arduamente pelo «gostinho» de chegar à frente ao alto, após uma tirada muito bem disputada, principalmente a partir do Sobral. Num duelo que acabou por se prefigurar, entre trepadores e roladores, os primeiros, de certo modo, acabaram por levar a melhor, comigo a superiorizar-me por alguns segundos, ao duo Freitas e Jony, com o Carlos do Barro a fechar o quarteto, depois de uma exibição que honrou a «classe» dos trepadores. Mas não sem que os roladores tenham recorrido, durante a etapa, a diversas formas de tentar inverter a sua pretensa inferioridade na subida final, o que serviu para abrilhantar a jornada.
No entanto, antes de fazer a habitual resenha da jornada, reitero, uma vez mais, a prestação global do grupo, que cumpriu o objectivo de subir à cota dos 650 metros, com mais adversários que a próprio desnível do terreno: chuva, vento, frio (fazia 10ºC no alto de Montejunto, que, com a chuva, tornou a descida penosa) e nevoeiro. Clima invernoso, totalmente imprevisto nesta altura do ano, e após alguns dias de intenso Verão. Foram estes, os bravos do pelotão: Abel (respeite-se a hierarquia), João, Salvador, Evaristo, Zé, Polícia, o amigo do Abel e ainda o Zé-Tó – este apesar de não ter concluído, empenhou-se verdadeiramente ao longo do percurso, numa aventura em solitário, contribuindo para o interesse da tirada (ver destaque no final desta crónica).
Quanto aos restantes – refiro-me ao quarteto de que se aguardava maior competitividade –, não foi mais importante a sua participação: eu, o Carlos do Barro, o Freitas e o Jony.
Surpresa do dia (ou talvez não!): havia estratégia montada entre os roladores, Freitas e Jony, para desgastar os que habitualmente estão mais à-vontade na montanha: eu e o Carlos. Primeiro sinal da parceria logo após Bucelas, quando o Freitas forçou o andamento o suficiente para se isolar rapidamente do grupo, que iniciava a subida para o Forte de Alqueidão com cautelas redobradas devido ao vento, e já depois de ter sido alvo de uma chuvada de granizo.
Perante a inércia do pelotão (das principais figuras, principalmente), e apesar de se saber que todo o esforço até ao Sobral é relativo e não directamente rentabilizado devido à habitual (e necessária) neutralização para reagrupamento, considerei que deveria, no mínimo, corresponder à iniciativa do Freitas para não haver desequilíbrios e também contribuir para avivar, desde cedo, a «chama». Neste particular, lamenta-se a falta de correspondência ao repto do Jony e do Carlos, cuja adesão também se impunha, uma vez que eram protagonistas assumidos - e tanto mais que o andamento nunca foi fracturante. A única atenuante para os 7 minutos (!!!) que tivemos de esperar pelo grupo no Alqueidão só (!?) poderá ser o Polícia ter furado.
Quem não esperou foi o ZT, isolado desde o primeiro quilómetro, e de após ter sido alcançado, ainda antes de Arranhó, se ter agarrado à nossa roda, só largando perto do alto, onde seguiu directo e muito bem!
Feito o reparo, a segunda metade do percurso até Montejunto valeu por tudo, até pela intempérie! Mais uma vez fruto da táctica dos roladores (com estes dois tipos juntos, não será fácil resistir-lhes noutro tipo de terreno!), o Jony atacou logo à saída do Sobral, de forma a não permitir qualquer possibilidade de resposta ao pelotão. Fortíssimo e abrindo rapidamente um fosso importante, ainda antes de eu encontrar o melhor ritmo para a iniciar a perseguição. Viu-se logo que o homem ia com ideias preconcebidas, já que o Freitas rapidamente se escondeu no abrigo das rodas.
Nessa altura, o Carlos assumiu os seus objectivos e passou a participar no esforço de perseguição, restringido apenas a nós os dois. Os restantes sabiam que aquela não era a sua «guerra» e agiram correctamente, protegendo-se.
Então, antes do cruzamento para Ribafria, houve outra movimentação: após um topo, o Freitas ataca na cabeça do pelotão com o intuito de se juntar ao «seu» companheiro. Desta vez, soava o alarme: não poderia ter êxito, sob pena de (eu) ver as coisas verdadeiramente complicadas. A resposta foi imediata, de todos os elementos do grupo, com o Salvador em destaque. A ideia era boa, mas naquela situação seria necessário um ataque implacável, com uma eficácia que só muito boas pernas permitem. Não foi o caso, também por «culpa» do pelotão, e assim a iniciativa acabou por ter efeito contrário às pretensões do duo, fazendo com se encurtasse a distância para o fugitivo.
A partir da Merceana, chegava a altura de controlar a fuga, aproveitando o terreno mais acidentado do Freixial do Meio e de Atalaia. Forcei o ritmo (com pedaleira pequena, adaptando-me desde logo ao esforço de subida) e sacrifiquei o pelotão, contando, a partir de Atalaia, com nova ajuda preciosa do Carlos. Aliás, foi tão efectiva, que aproveitei para tentar sair da posição de «castigado» que vinha mantendo, deixando abrir alguns metros para o Carlos, mas que o Freitas fechou rapidamente, como era «obrigatório».
No final do topo da Atalaia, o Jony começou a gerir as forças e a vantagem. Cá atrás, o Carlos continuava a trabalhar, mas era notório que a proximidade de Montejunto (invisível num espesso manto de nevoeiro) já recomendava cautela. Tanto mais, que o fugitivo estava (finalmente) controlado, a não mais de 150 metros. No entanto, quando já se perspectivava que o deixássemos entrar à frente na subida, foi com surpresa (e até contra as minhas intenções) que o Evaristo (resistindo muito bem entre a dita elite) passa pela frente, fechando, num ápice, a distância. Fim de fuga! Desde o Sobral até à base de Montejunto a média foi superior a 32 km/h, o que diz bem do excelente desempenho do fugitivo.
Finalmente, a subida: tomei a iniciativa desde as primeiras rampas e fez-se a selecção dos quatro que se previam. Mas eis novo imponderável: pouco antes, da primeira descida, os meus óculos caiem do bolso. Meia volta. Os restantes aguardam, com enorme «fair-play», fazendo-me lembrar (perdoem-me a imodéstia e a comparação impossível) o Armstrong, em Luz Ardiden, depois de ter caído devido a um espectador. A diferença foi que ele chegou ao grupo, que também o aguardava, e passou imediatamente ao ataque. Eu nem por isso...
À entrada do sector das árvores, o Carlos passou para a frente, numa manobra que diz tudo sobre a sua actual capacidade em montanha, ao nível dos melhores do grupo. Naquele terreno e àquela intensidade, poucos ou nenhuns Pina Bike’s (internacionais e neo-internacionais incluídos) têm condições para impor o andamento.
E quando refiro andamento, não é passar uns instantes pela frente ou esboçar mudanças de ritmo: digo, assumir o desgaste, mantendo o ritmo. O Carlos conseguiu-o, e só poderá ser elogiado por isso. Mesmo que, após o quartel tenha cedido. Grande etapa! Além disso, esclareça-se que, ao contrário do que sucedeu nesta mesma volta, em 2006, não existia qualquer parceria tácita entre nós.
Desta vez, foram as incidências da tirada que levaram a que colaborássemos, em prol de objectivos comuns: ambos queríamos chegar à frente ao alto. E tal como todos no grupo, rapidamente verificou que estava formada uma equipa – e muito poderosa! – que se impunha «combater».
Como referi, a parte final da subida, depois do quartel, acabou por fazer a selecção. Depois do Carlos, o Jony cedeu ao desgaste a que submeteu ao longo da tirada, em prol de um objectivo, de que o Freitas seria claramente beneficiário. Mas este não correspondeu, vacilando à entrada dos 500 metros finais. Não foi por falta de empenho, mas há dias assim...
A minha chegada ao alto, porém, não passou sem um verdadeiro susto, digno de uma manhã de nevoeiro. A cerca de 300 metros do final, depois de me certificar que ninguém me seguia (pelo menos, num raio de 20 metros, que era a visibilidade máxima no local), eis que, olhando por debaixo do braço, avisto um vulto vermelho aproximar-se a toda a velocidade. A toda a velocidade, sim! Em sprint, a mais de 10% de inclinação! Nem sequer pensei quem era, mas, se por acaso, tivesse tido mais algumas forças para ter chegado à minha roda e me ultrapassado, mesmo que ligeiramente, admito que teria deitado a toalha ao chão! O alucinado era o Jony, renascido das cinzas, para um raide desmesurado, para logo morrer... Deve ter sido tal o «baque», que acabou ainda por ser ultrapassado pelo Freitas, que vinha em perda nítida.
Quem acabou ao sprint foi o Evaristo, queixando-se que não conhecia a subida (anda muito bem, sem dúvida) e reservou forças, logo seguido pelo João (muito bem) e o Salvador (igualmente).
Quando eu já descia para o quartel, o grande Abel aprestava-se para concluir mais uma exibição exemplar. Como sempre!
O «outsider»

Depois de tanto se falar a semana passada, o «outsider» da tirada foi, surpreendentemente, o Zé-Tó, que se isolou logo ao primeiro quilómetro e, não exagerando, deve ter cumprido cerca de 90% do percurso até Montejunto... isolado. Uma atitude corajosa – a roçar o «suicídio» – que poderá ter tido muito a ver com a semana de acesa de comentários neste blog, em que foi um dos principais visados.
Na subida do Sobral, quando foi alcançado por mim e pelo Freitas antes de Arranho, não se fez rogado em seguir-nos até onde considerou, digamos, justificável, provando uma vez mais a sua boa leitura de «corrida» e criteriosa gestão do esforço, e que apenas a falta de treino coloca entrave a prestações de nível superior.
O facto de ter seguido directo no Forte de Alqueidão é plausível e aceitável – já que seria deitar por terra o proveito do desgaste a que se submetera até essa altura. Cenário distinto para mim e para o Freitas, em que impunha claramente aguardar pelos retardatários.
Assim, à saída do Alqueidão, a vantagem do fugitivo ultrapassava os 6 minutos, acabando por ser eliminada entre Atalaia e Vila Verde dos Francos, devido ao andamento forte a partir do ataque do Jony.
Todavia, acabou por lhe faltar a força (e a mesma coragem que tinha revelado até aí), para subir ao alto de Montejunto. Independentemente do tempo que demorasse, deveria tê-lo feito. Aí sim, daria a melhor resposta aos «ataques» (competitivos) que foi alvo na última semana – mesmo que não tenha sido esse o seu objectivo.
Já agora, tomo a liberdade de expressar a minha opinião sobre o assunto, dirigida principalmente ao próprio: camarada, se tens a pretensão e a disponibilidade para atingires patamares de forma que consideras condizentes com a tua capacidade atlética, pois bem, aguarda serenamente por esses dias. Serenamente é, entenda-se, sem querer que a falta de quilómetros sirva de incentivo. Pelo contrário, são precisamente os quilómetros que devem dar esse estímulo.

11 comentários:

Anónimo disse...

Pela descrição, grande jornada!
Espero para o próximo ano poder disfrutar do "passeio".
Mafra foi "PODEROSO" e o tempo para BTT (fresco) até ajudou!
Pena o meu estimado amigo IVARISTO não se ter inscrito a tempo!
Objectivo de baixar das 6h30m amplamente superado!!!
Um PINA BIKE nos 50 primeiros com a fasquia bastante mais elevada para 2008!!!


6h10m49s - 45º da geral

http://www.cm-mafra.pt/desporto/classificacao/Classificacao_Volta_2007_100_kms.pdf

17 de Junho há mais nos 50 KM de RAID AOS TRILHOS DA NOSSA COSTA

Inscrições em
http://www.cm-mafra.pt/desporto/139.asp

Não há como a vida do CAMPO!!!

AB

Anónimo disse...

o fenómeno Armstrong não esperou no forte de Alqueidão - arrancou 15 min antes da hora!!!!!!!! não fez a tirada pensávamos que era um fenómeno, mas afinal é o pirilampo.

Anónimo disse...

Fantasma, grande classificação, 45º lugar. Quantos atletas eram??45???

Anónimo disse...

amigo fantasma continua assim com esse espirito guerreiro que te é caracteristico, para o próximo ano quero ver essa classificação lá para o vigésimo lugar com 5.30h.
para isso só tens que treinar um "bocadinho" mais e cerrar os dentes com força.
(mais ou menos como fazes no sprint em vila franca)
eheheheh,é só uma picardiazinha.
abraço a todos
DURÃO

Anónimo disse...

Ricardo,
A minha única ambição é gozar a vida nas suas + diversas facetas. Em relação a 1 delas q é o Ciclismo, apenas tento tirar o máximo prazer de andar de bicicleta tendo em conta as minhas limitações de treino.

Em relação à tirada, após a "fuga" fiz a minha subida, ou seja, fui até ao cruzamento antes de virar p as antenas na mt boa companhia do camarada Evaristo.
N fiz o Km final pq a "fuga" foi longa e havia o percurso de regresso a fazer...ou seja, as minhas limitações obrigam a gerir a gasolina p o regresso.

Como os comentários patetas q têm sido feitos n serão de ninguém q tenha chegado à minha frente (pq isso n faz o mínimo sentido devido à enorme diferença de treino), o papagaio q teima em pairar neste blog só tem 1 coisa a fazer:
Treinar mais...q é como quem diz: "baixar a bola"!!!Aaaaaaahhhhhhhhhh!!!!!!!!!

Ricardo, actualmente, apenas me divirto a "incomodar" alguns dos + treinados q eu como por exemplo aqui o "anónimo", q concerteza deve levar "aqui e ali", umas "tareias" do "pina Bike" com menos Kms do Grupo (sim, Eu) e de outros como Eu, e vem p aqui descarregar as frustações!
Mas tudo bem, sp aprendi a rir com quem nos faz rir...!

Qt ao q interessa, parabéns ao Fantasma pelo fantástico tempo em Mafra (tá mesmo em forma!!!) e parabéns ao Steven pela corajosa prestação após tantos incidentes...

Já agora, qual a próxima volta?

1ab,
ZT

Anónimo disse...

No fundo, como se diz, a montanha pariu um rato! O Ricardo confirmou que é o mais forte, e que em montanha a sério não tem rival (onde é que páras Nuno Garcia?!), apesar dos esforços dos sprinters e do próprio Carlos, que apesar dos enormes progressos ainda não tem o craquejo suficiente para aguentar aos momentos que fazem as «pequenas-grandes» diferenças. Mas é com muita pena minha, porque é a minha aposta, pois gosto muito do seu estilo de trepador. Talvez com mais experiência um dia consiga lá chegar.
Já em relação ao João, está a subir de forma e poderá mesmo atingir o nível do Freitas, que já teve bem melhor esta temporada e parece estar a ressentir-se numa fase em que deveria estar a aprimorar a forma, para a tal ida à França (Etape du Tour)
O Ricardo, esse, já mais batido na preparação dessas provas muito duras, parece saber qual é o bom caminho a seguir.
Quando é que há mais... sangue????!!!!

Homem do Talho

Anónimo disse...

Mais uma para o dossier " Doping: o longo suicídio do ciclismo"

http://ultimahora.publico.clix.pt/noticia.aspx?id=1294977&idCanal=undefined

Já tenho dificuldade em arranjar argumentos para defender a modalidade.

nmg

Ricardo Costa disse...

Hoje foi a vez do Bjarne Riis. «O senhor 60%», como era conhecido no meio do ciclismo, reconheceu que ganhou o Tour 96 dopado com EPO. Que surpresa!
Mais: diz que se sente digno dessa vitória e se quiserem podem ir lá a casa buscar a camisola amarela (que está fechada num caixote), que prefere ficar com as recordações...
Serão boas ou más, não se sabe?
Qualquer dia fazem fila para o confessionário!

ler notícia em: http://podium.publico.pt/shownews.asp?id=1295070&idCanal=1133

Ricardo Costa disse...

Errei: Ele diz «que não se sente digno da vitória no Tour 96». Assim é que está correcto.

Anónimo disse...

E Domingo, há volta?

Ricardo Costa disse...

A volta de domingo é a da Ericeira-2. Na minha opinião, é uma das mais interessantes e belas do calendário.

Percurso: Loures-Tojal-Bucelas-Freixial-Vale S. Gião-Venda-Malveira-Vale da Guarda-Vila Franca Rosário-Barras-Livramento-Freiria-Encarnação-Casais de S. Lourenço-Ribamar-Ericeira-Foz do Lizandro-Pobral-Montelavar-Pêro Pinheiro-Negrais-Ponte de Lousa-Loures

Distância: 95 km