quinta-feira, maio 10, 2007

Roteiro dos Muros (perdão, do Inferno!)



Na passada sexta-feira, fiz finalmente um dos percursos a que me propus há algum tempo, e que tinha apelidado, na altura, de Roteiro dos Muros. Lembras-te Pintainho!? Consiste numa tirada que inclui a passagem pela maioria das mais curtas e duras subidas das nossas proximidades, espécie de Liége-Bastogne-Liége destas bandas. No final, fiquei com a ideia que o nome deveria ser alterado para mais apropriado Roteiro do Inferno, não somente pela dificuldade da distância e do relevo, como, acima de tudo, pelo desafio anímico de realizar a «aventura» sozinho... e conclui-la!
14 Muros

Ao todo, são 14 «muros», que se vão descontando à medida que vão sendo ultrapassados, como os sectores de pavé do Paris-Roubaix. Esta é uma forma de colocar à prova a resistência psicológica face ao acumular da fadiga e às dificuldades que ainda restam.
A tirada iniciou-se em Alverca, em direcção ao Tojal e Bucelas (para aquecer bem!), tomando a subida para o Forte de Alqueidão. Chegado ao cruzamento da Tesoureira, começa o tormento: sai-se da estrada à direita, para a Serra da Alrota. As primeiras rampas são dantescas. No total, 1,1 km a 9,4%. Logo a abrir, é necessário evitar cometer excessos para não hipotecar as chances de terminar a volta, controlando muito bem o ímpeto. Este foi outro dos desafios da tirada: a ideia sempre presente que, num eventual momento de fraqueza, não deveria dar a volta ao cavalo e abdicar.
A descida tem piso muito irregular, mas chega-se rapidamente a Bucelas, onde está a segunda dificuldade: a subida às antenas. Mais suave que a primeira, servindo de bálsamo ao desconforto provocado pela percentagens elevadas daquela. Depois de chegar ao alto, porém, há pouco tempo de descanso. Aliás, continua a subir-se, antes de descer realmente antes de atacar a terceira «dose»: S. Tiago dos Velhos. Muito semelhante à anterior.

Arrasador
Depois, à esquerda para Contradinha, ligação veloz por aquela impressionante depressão da estrada com carrossel a 11%, e logo as primeiras rampas da N. Sra. Da Ajuda, que culminam em duríssimas passagens acima dos 12% e expostas ao vento. Arrasadoras!
Logo a seguir, quase sem descanso, volta-se a subir para a Louriceira de Cima (cruzamento), agora muito mais docemente.
À esquerda para a longa descida até Monfalim e novamente à esquerda para A-dos-Arcos. Segue-se um falso plano ascendente, cerca de 1 km, até ao cruzamento à direita para Santo Quintino e... que visão aterradora, aquelas rampas! Duríssimas. Sem dúvida, um dos muros mais difíceis, o sexto. 1,4 km acima dos 9% obrigam a gastar aí muitas energias, sensivelmente a meio do percurso mas e ainda nem sequer com metade das dificuldades superadas.
E a seguinte não se faz esperar, basta atravessar a estrada nacional em direcção a Casais de Santo Quintino e depara-se a terrível rampa do circuito de motocrosse.
A oitava é descoberta minha, há algum tempo: Galegos. Ao passar por Sapataria, volta-se à esquerda para o interior da localidade e rapidamente a estrada começa a empinar. Curta mas picante, levando-nos ao alto do Milharado, onde se desce para Póvoa da Galega e para a próxima barreira.
Na verdade é dois-em-uma, a subida da Charneca, com início escaldante, planalto para refrescar e final abrasador.
Inferno da Choutaria

Depois deste, nove muros contabilizados e quase 70 km nas pernas, mas com a perfeita consciência que o pior estava para vir. Descida longa da Venda do Pinheiro para Ponte de Lousa, direita e eis a entrada no «Inferno» da Choutaria (que nome tão apropriado!). Já conhecia o gosto da suas rampas, nomeadamente a inenarrável passagem a – ajuda-me Pintainho! - mais de 20%, mas desta vez soube-me muitíssimo mais a fel. Foram metros de grande sofrimento... E depois de superados não há muito tempo para respirar, uma vez que mal termina a subida, tudo o resta é um pequeno cabeço, antes de se entrar imediatamente na ascensão seguinte, para Montemuro. Felizmente, branda.
Nesta altura não há como disfarçar o desgaste muscular após a Choutaria, e já se entra em nova dificuldade. Bem dura, por sinal. Subida lindíssima para o Alto da Urzeira (Asseiceira Pequena), onde apenas o asfalto rugoso e os quase 7% de inclinação média destoam do esplendor da paisagem. Nesta altura, com apenas três muros para galgar, é preciso reservar forças.
«Le grand finale»
Desce-se, depois, em muito mau piso, para a Venda do Pinheiro e de novo a caminho de Lousa, para o pré-final: Salemas. Outra famosa pelas suas rampas, incluindo 1,4 km a 8,5%. Entrei de sendeiro, mas com o término quase à vista saí de... leão. Resultado: tirei alguns segundos ao meu melhor tempo na subida, o que foi bom indicador depois de mais de 90 km e 13 muros! Pior já foi a ligação ao Alto do Andrade – mas nunca é boa, seja das Salemas ou de Malha Pão. Venha o Diabo e escolha!
Descida por Montachique e eis «le grand finale»: Ribas, pelo Centro Hípico. Poderia tê-la atacado em força, mas preferi a apoteose para não acabar entrevado sobre o guiador depois do circuito de manutenção. Assim, acabei com um sorriso nos lábios e não com a língua nos raios! Creio que o mereci!
Tal como era escusado ter de regressar a casa de bicicleta... e pela Quinta Romeira.
Roteiros dos Muros (perdão... do Inferno!)
À atenção de trepadores inveterados e, principalmente, do Pintainho. Vale a pena!
25,7 km – Serra da Alrota (1,1 km a 9,4%)
30,7 km – Alto de Bucelas (1 km a 6,2%)
34,5 km – S. Tiago dos Velhos (1 km a 6,4%)
38,5 km – N. Sra. Ajuda (0,9 km a 9%)
40,2 km – Louriceira de Cima (1,2 km a 3,6 km)
49,1 km – Santo Quintino (1,4 km a 9,2 km)
54,4, km – Casais de S. Quintino (1 km a 7,8%)
59,9 km – Galegos (0,8 km a 7,7%)
67,3 km – Charneca (0,6 km a 7,5% e 0,4 km a 8,7%)
77,7 km – Choutaria (1,5 km a 8,5%)
79,2 km – Montemuro (1,5 km a 2,8%)
82,7 km – Alto da Urzeira (1,4 km a 6,7%)
91,3 km – Salemas (1,4 km a 8,5%)99,3 km – Ribas (do Picadeiro) (2,5 km a 4,3%)

7 comentários:

Anónimo disse...

Que pena não ter sido convidado para te fazer companhia!...
Quando a cabeça não tem juízo,...os outros é que pagam!
AB

pintainho disse...

Bela voltinha esta…
Devias ter mais cuidado, pois subidas como a da Choutaria não são para gente fraquinha… Ainda te pode dar uma coisa má!! :-)

Conheço quase todas essas rampas, embora não conte algumas delas como cumes (Montemuro, até a minha avó marreca trepa de talega… Embora isso não seja para todos, não é Fantasma? :-) ).

Se bem estou a ver a coisa, a subida de Santo Quintino é aquele “topo bonito” do lado do Sobral, não é?
Contudo, faltam a majestosa “parede” do Calhandriz e o sempre belíssimo “muro” de Fontelas…

Temos de fazer um apanhado conjunto dos cumes e delinear um giro digno de qualquer selvagem do asfalto que se preze.
Entretanto, ando aqui às avessas com o “paredão” de Bolores pela vertente do Bocal, que tem de “cair” este verão... Coisa fácil, tendo em conta uma percentagem de inclinação máxima superior a 35% e o piso repleto de regos… A seguir, Almeirinhos de Baixo, com troços acima dos 40%... :-) Querem experimentar? O Fantasma já deve estar em pulgas!!

Ricardo, para a próxima diz qualquer coisa que te acompanho no ataque aos cumes.
Fantasma, não vais afiar o dente em Mafra, pois desta vez não vou participar. Boa sorte lá nas tais escadinhas que te aguardam no final… AI TANTA DOR!!

(ndr: o máximo de inclinação da Choutaria ronda os 22% na curva à direita antes da aldeia)

Ricardo Costa disse...

Amanhã de manhã, treino de subida em Montejunto, em dose tripla, como de costume...

Desta vez, subirei exclusivamente por Vila Verde dos Francos, porque satisfaz mais os meus objectivos.
No entanto, entre cada ascensão, darei a volta por Pragança e Vilar, começando a subir a partir da rotunda de Rodeio.
No final, conto regressar a Alenquer por Abrigada e Ota.

Pintainho, no domingo, dia 20, a malta vai a Montejunto (por Sobral, Merceana e Vila Verde e vice-versa). Não podes faltar! Além disso, chegou-me ao ouvido que há gente com ideias...

Ricardo Costa disse...

Curiosidade

455 W: a minha potência média na subida de Carmões (1,780 km, a 4,6%), no passado domingo, durante 4 minutos...

Quando fizer o mesmo, mas em três ou quatro subidas de 10 km a 7%, serei o Floyd Landis!

Anónimo disse...

Pintainho, "Pias" muito mas não sobes nada quando é que te calas!!!

Anónimo disse...

Mafra é o verdadeiro tira teimas para esses pseudo trepadores...

Curiosidade:

362,76 gramas de satisfação média (guilho de gambas + secretos grelhados + 2 ovinhos + musse c/ cheirinho + digestivo qb), num almoço de calmeirões (0,50 litros de Monte Velho a 12%) na passada quarta feira, durante 2h30m...

Quando fizer o mesmo mas com 3 ou 4 "bonecas" morenas de 1,80m ao mesmo tempo a 186 ppm, serei o John Holmes!

PS: não deixem as Marias ler isto...

AB e FERRO nesses qrenques!!!

Ricardo Costa disse...

Próximo domingo: Clássica do Oeste.
Exigente! A abrir o apetite para o fim-de-semana seguinte, em Montejunto.

Percurso (aprox. 100 km):
Loures
Guerreiros
Lousa
Venda
Malveira
Vila Franca do Rosário
Catefica
Torres Vedras
Ponte do Rol
S. Pedro da Cadeira
Encarnação
Picanceira
Murgueira
Mafra
Malveira
Lousa
Loures