segunda-feira, maio 28, 2007

As revelações não páram!

Não me canso de elogiar a dedicação e o empenho de outros na prática do ciclismo. Assim, também encontro justificação para a minha «doença». No grupo em que me insiro os exemplos são muitos. Não somos profissionais, nem sequer «semi», mas quando a paixão arrebata e a disponibilidade de tempo permite traçar objectivos (uns mais, outros menos ambiciosos), é possível atingir-se níveis de aptidão física que possibilitem retirar o melhor partido da bicicleta – de estrada, entenda-se, pois o conceito que está por trás da concepção deste tipo de bicicletas é, indiscutivelmente, a performance.
Como dizia, no nosso pelotão restrito, há elementos que têm esse privilégio – o de conseguir conciliar os compromissos profissionais e pessoais (tantas vezes, à custa de sabemos bem o quê!) com os seus objectivos desportivos. Outros não, e outros mais ou menos. Por isso, existem diferenças de rendimento indisfarçáveis.
Tudo isto, para dizer que destaco, sempre com muito agrado, as boas prestações dos meus companheiros, reflectindo, lá está, a aplicação semanal nos treinos. Indiscriminadamente, se são velhos conhecidos ou se estão a dar os primeiros passos no seio do grupo.
Entre estes, o melhor exemplo é, claramente, o Jony, cujo percurso ascensional dispensa grandes explicações. Recorde-se que se «estreou» já no final da última temporada, integrando-se sem dificuldade pelas suas excelentes características inatas para a prática do ciclismo e obviamente pelo elevado espírito de camaradagem. Como traçou, de imediato, os tais «objectivos ambiciosos» para este ano, disparou rapidamente para patamares de rendimento ao nível dos melhores do grupo. Além disso, ninguém vai discordar que é o mais rápido do grupo e também o que (na minha opinião pessoal), em condições de «andamento livre», tem as melhores características de classicómano.
Mas há mais a merecer os mesmos elogios. Quem não se lembra do Salvador em Fátima-2005, de vê-lo fazer os últimos agarrado ao carro? E quem o vê actualmente, trabalhador incansável, voluntarioso, só pela fome de protagonismo, de testar os seus limites – isso é ciclismo. E continua a evoluir, a refinar a forma como anda de bicicleta, e os resultados vão aparecendo... E outros, como o Zé ou o Pedro, que entretanto decidiu fazer uma retirada para aprimorar a forma, mas cujo regresso não duvido. Bons atletas e camaradas.
Todavia, actualmente há novo «poderoso» na calha: o Polícia. Resultado comprovado de tudo o que já disse sobre empenho e disponibilidade! O homem faz-se! Chegou, viu e.... já pode «zangar-se» de vez em quando...
Ontem, ainda bem que não se «zangou»... comigo. Felizmente, pelo contrário, o seu contributo foi de enorme utilidade para que eu não tivesse acumulado ainda mais atraso aos meus compromissos familiares.

Foram estes compromissos que alteraram, a partir do Livramento, os meus planos e o cariz da volta domingueira, cujo percurso original, além de exigente, aprecio bastante. Nessa altura, apercebendo-me de que estava amplamente fora do tempo, e sem sinal do grupo que ficara a aguardar por retardatários, decidiu fazer-me à estrada a partir do «muro» de Freiria, para não mais parar.
Os meus parceiros de então, o Polícia, o Fantasma e o Salvador, não se rogaram ao repto e cerraram fileiras para me acompanhar. Vencido aquele topo, seguiram-se a subida da Encarnação, o empolgante carrossel de S. Domingos, Quintas e a dura subida final para Valongo. Se bem que, dando eu o mote para o ritmo não abrandar, principalmente o Salvador e o Polícia ajudaram a mantê-lo vivo.
À passagem por Ribeira d’Ilhas, o Fantasma começou a ceder ligeiramente à rudeza do relevo. O Salvador, pelo contrário, dava cartas, mas, na Ericeira, perante o meu anúncio de que ia cortar para Mafra, optou então por aguardar pelo grupo restante, talvez na ânsia dos 21% de Montelavar. O Fantasma parecia na dúvida e o Polícia seguiu a minha roda na subida para a rotunda nova.
Felizmente, o vento estava a favor, mas a hora que restava para entrar dentro do horário a casa era uma miragem. Tanto mais que as pernas já começam (tão cedo!) a mostrar alguma fraqueza. Até quase ao Sobreiro continuei à frente, só depois fui rendido. E em boa altura, não só para mim, como para o Fantasma. Porquê? Pois só assim me apercebi que vinha no nosso encalço, lutando desde Pinhal dos Frades para fechar os intermináveis 200 metros perdidos na subida da Ericeira. Esperámos para que reentrasse e ele agradeceu vivamente alguém ter, por fim, olhado para trás. Pudera!
Porém, como ele bem diz, já vinha «apalpado», e à saída de Mafra, antes da subida da Abrunheira, deu-nos liberdade para não esperar, afirmando o seu empenho nas descidas para tentar recolar. Não foi preciso esforçar-se muito. Os escassos metros perdidos na rotunda, recuperou-os com os seus dotes de «falcão» (antes o Polícia, vinha alcunhando o Salvador de Salvodelli, mas aplica-se bem melhor ao Fantasma).
A chegar a Alcainça, o Polícia começou a dar largas à sua frescura. Num ou outro esticão, meteu-me logo a patinar e o Fantasma a esticar na ponta do elástico, até rebentar na subida para a Malveira. Todavia, à chegada à Venda lá estava outra vez, agora sem descidas.
Aí, separamo-nos. O Salvodelli, perdão, o Fantasma, que está em excelente forma, como prova a sua classificação na Maratona de BTT de Mafra, seguiu para Loures e eu e o Polícia para Bucelas. Agradeço-lhe pela companhia, pois foi óptima ajuda, embora, no Cabeço da Rosa, tivesse mais uma vez de refrear o ímpeto para não me deixar... pendurado. Esta expressão pode parecer exagerada, mas, acredite-se, reflecte, acima de tudo, a sua excelente forma. Quanto a mim, só posso desculpar-me da semana aziaga, dos 45 km que já tinha contabilizado à partida de Loures, blá, blá, blá... A verdade é que faltaram pernas! Mas foi um treino muito bom.

«Pior» foi o que ouvi ao chegar a casa, por 18 minutos de atraso. Foi difícil fazer a «dona da pensão» compreender que, apesar do erro de cálculo, tinha dado o litro para atenuar os «prejuízos», como provam os 30 km/h de média entre Livramento e Alverca. Desde a Ericeira, foi um autêntico contra-relógio de 1h15m. Poderia ter sido melhor, é verdade, logo as pernas tivessem... boas!

P.S. Já soube que, no restante grupo, que fez o percurso completo, também houve muita animação. Na Foz do Lizandro e no famigerado muro de Montelavar. A semana promete agitação!

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