terça-feira, março 24, 2009

Super-Trepadores: a crónica

A Super-Trepadores, realizada no sábado passado, cumpriu as melhores expectativas, uma jornada de grande ciclismo, exigente e dura, e também proveitoso treino para apuro de forma para o Verão «quente» que se aguarda. Depois das encostas íngremes e curtas do Roteiro dos Muros, mais suaves e mais extensas pendentes se impunham, num percurso com cerca de 120 km. Já se sabia que não iria ser fácil... mas a minha abordagem, de véspera, às primeiras cinco subidas, dissipou as poucas dúvidas que poderiam subsistir.
Às oito da manhã, um grupo bem composto saiu de Loures para enfrentar o desafio. O duo de Alverca, Mota e Capela, não faltou à chamada, depois de tomar o gosto na presença inesperada nos Muros. Os Ciclomix também, com representação reforçada: os dois Hugos (Garfield e Lopes Marsan?), o Filipe e o Salu; os Pina Bikes, Freitas, eu e o Filipe (que, pelos vistos, não se atemorizou com os meus conselhos e cumpriu o percurso na íntegra, com inseparável companhia: grande exemplo!). E a completar o grupo, o André.
As brandas inclinações da subida de A-dos-Melros, a partir de Alverca, a ligação em descida a Alhandra e o regresso a Alverca foram meros aquecimentos para o primeiro pitéu da tirada: o Cabeço da Rosa. Logo aos seus primeiros metros, bastante duros, o grupo partiu-se. O Capela, a grande revelação dos Muros, meteu passo forte e só foi com ele quem pôde... Entre estes, houve quem tivesse cometido o «pecado» do exagero, que acabou por pagar, ao longo da manhã, com a enorme acumulação de desnível. Firmes no topo do Cabeço, só o Capela, o Mota, o André, o Hugo Lopes, todos em ritmo abaixo dos 8 minutos, que significa ter sido excelente subida! A cerca de 50 metros, eu (em forçada gestão de esforço) e o Filipe (na minha roda, talvez já a transcender-se ligeiramente) e depois o Salu, que descaiu do primeiro grupo. Em ritmo muito mais moderado, os chegaram os restantes, entre eles o Freitas, em atitude bastante reservada, quiçá a pensar na glória futura em terras alentejanas.
A subida para o Forte de Alqueidão fez-se com adversário suplementar: o vento. Eu e o Capela repartimos as despesas, em toada que ele aumentou paulatinamente, acabando por atingir nível de selectividade depois dos ferros-velhos de Arranhó. Mas pouco antes do cruzamento de A-dos-Arcos, um furo forçou a paragem de alguns minutos.
Quarta subida: Feliteira. Desta vez, foi o André a assumir o comando. Surpresa! Só que fê-lo ao seu estilo: para fazer mossa! Por isso, tal como no Cabeço da Rosa impôs-se recomendável adequação do andamento à dureza do percurso. Foram praticamente os mesmos a corresponder ao ritmo da frente – mas só o Capela sem aparente dificuldade. Os demais, entre eles, o Filipe, tiveram de aliviar a carga no duro último quilómetro. De qualquer modo, como no Cabeço, foram poucas dezenas de metros a separarem os elementos da primeira metade do pelotão. Também os mesmos optaram pela moderação, e tardaram mais a chegar.
Quinta subida: Mata. A partir desta, o meu objectivo para este treino era chegar-me mais à frente. Por isso, à falta de voluntários, meti o meu ritmo à frente do grupo, mantendo-o até praticamente à última fase de descanso da subida, quando o Capela e o André aceleraram, ganhando cerca de 20/30 metros até ao alto. Aí, o Freitas marcou presença entre os mais destacados - pela primeira vez no dia. O Hugo Lopes Marsan continuou em excelente desempenho.
Nesta altura, como referi em comentário, neste blog, ao meu reconhecimento na véspera, a fadiga e a falta de gestão que a acentua começaram a causar as primeiras baixas. Entre estas, a do Filipe foi a que mais despontou. Mas a chegada a conta-gotas dos restantes eram mau augúrio para (muito!) que restava. Para mim, o tempo de subida, dentro do minuto 12, foi muito bom, tendo em conta as dificuldades da volta.
E a seguir, Ribas. A abordagem à subida foi bastante condicionada por mais um furo, para mais a cerca de 300 metros da sua picante entrada. Nova paragem, e mais prolongada que a primeira, quebrou o ritmo. No reatamento, voltei a meter o meu passo à frente, embora muito mais ponderado por ter sido a frio. Mantive-me sempre nessa posição até ao circuito de manutenção, quando o André acelerou, destacando-se alguns metros até ao alto. O Freitas voltou a pontificar, forçando também na rampa final. Eu, logo a seguir, e pouco depois o Capela, que fez toda a subida atrás – creio que entrando com atraso e sendo-lhe impossível recuperar... o suficiente. O Hugo Marsan idem. O tempo de subida foi fraco, mas sem ter em conta o que já tinha sido percorrido. E o que ainda faltava.
No Alto do Andrade, a «tal» acumulação de esforço fez a selecção definitiva. Definitiva mesmo! Ao ponto de os mais «tocados» se apresentarem «acabados», ou quase. O Filipe deu mesmo por concluída a sua prestação do dia e rumou a casa e a alguns outros elementos bastou entrarem em Montemuro para que seus andamentos fossem também... outros. O André esticou logo à saída de Lousa e partiu o elástico. Eu e o Capela seguimo-lo como pudemos, mas depois tirou tudo. E nós agradecemos. À falta de vontade do trio em pegar a condução, o Capela chegou-se à frente. Mas por pouco tempo. O André voltou a acelerar e desta vez ninguém lhe resistiu. De qualquer modo, não foi longe e no final da primeira fase da subida reentrámos. Então meti o passo até à derradeira rampa, onde vi os meus dois parceiros passarem directos, picando pela descida que nos leva rapidamente à subida da Asseiceira Pequena (Alto da Urzeira). Ligeiramente atrasado, só a meio da ascensão reentrei. O Capela mantinha-se à frente; o André na roda, obviamente a preparar a golpada final. Quando a deu, mais uma vez ninguém foi capaz de o acompanhar, embora, como sempre, por escassa margem: não mais de 20/30 metros. Lá no alto, só nós três, mas quando entrávamos na Venda do Pinheiro entrou o Hugo Marsan, que, assim, revelava não se ter atrasado muito.
Dos restantes, nem sinal... até desviar-me da rota de Loures, para a subida final, de Malha Pão, suprimida devido ao adiantado da hora: os cerca de 30 minutos perdidos com os furos colocavam-nos (ou pelo menos, colocava-me) fora do horário. E rumei ao Tojal (onde tinha o carro) com a companhia do André até Montachique. Creio que ninguém completou o percurso na íntegra, mas este bastou!...

Notas a reter:

O Capela confirmou as credenciais de trepador e foi o mais consistente. Ou seja, o que mais tempo imprimiu o ritmo em subida e mais vezes esteve entre o grupo que chegou à frente aos topos. Todas!

O André foi, sem dúvida, o mais rápido, sempre com uma estratégia muito de «corrida», resguardando-se nas transições e em grande parte das fases de subida, e aplicando as suas mudanças de velocidade para chegar ligeiramente destacado nas ascensões finais – quando o Capela começou a acusar desgaste natural.

O Hugo Lopes «Marsan» esteve muitíssimo bem: temos homem na montanha! Ele já tinha revelado que gosta deste tipo de subidas, não muito longas. E esteve em destaque quase em todas. Nunca passando à frente, mas demonstrando grande capacidade em seguir os mais rápidos.

O Filipe... esteve em dia mau! Muito mau, mesmo! E parecia prometer, quando decidiu seguir o meu andamento no Cabeço da Rosa, mostrando até entusiasmo. Mas terá pago o esforço precoce, não apenas dispendido nessa subida difícil, como também na Feliteira, em que tentou seguir as mudanças de ritmo do Capela e do André. Pagou a factura de tal modo que após ter passado por Ribas em claro sofrimento, abdicou das restantes subidas. Felipão, os treinos duros são mesmo para isso: para forçar e quiçá pagar facturas, mas também para tirar ilações importantes para não errar (devido a excessos de entusiasmo) nos grandes objectivos das clássicas espanholas.

O Freitas esteve em clara gestão de esforço. O terreno também não era o dele, mas já tinha objectivos mais ambiciosos em mente (Évora), e não pretendia correr o risco de os comprometer com intensidades demasiadas. Ainda assim forçou na Mata e em Ribas, onde se meteu entre os primeiros. Mas só...

Quanto a mim, tive boas sensações, mas ainda não tenho «pernas» para cavalgadas de exigência máxima. Para mais, estou condicionado pela acumulação de fadiga das últimas semanas. Mas foi um proveitoso treino de conjunto (com parceiros de nível), mais um específico de montanha, incluído num programa que seguirá, nos próximos tempos, com a passagem para subidas realmente... de montanha, tipo Montejunto. Em princípio, sábado dia 4, pretendo fazer saída longa, com 3 subidas a partir de Vila Verde dos Francos, com partida de Alenquer e descidas por Pragança com volta pelo Vilar. Obviamente, fica o convite geral.

Amanhã, neste blog, a apresentação da escaldante «Classíssima» de Évora, do próximo domingo. Já está a fervilhar!

3 comentários:

Anónimo disse...

Viva Ricardo pernite que te faça um correção.
O Hugo Lopes e conhecido tambem por "Maçã" dado o habito que tinha de andar sempre "a maçã do chão" (na roda).

Anónimo disse...

Olá Ricardo,
esta é a primeira vez que escrevo no blog, não por me sentir tocado com os teus comentários mas para ficar registada a minha versão.

No sabado sofri e é verdade mas gosto muito dessas voltas e NUNCA NUNCA deixo a volta por terminar. No alto do cabeço de montachique fui embora porque tinha compromissos e a volta estava a ficar muito atrasada em relação à tua hora prevista de chegada. O Paulo Pais pode confirmar isto, pois fui com ele ver a minha bicicleta nova (nao é facil fazer uma volta com uma bike de 14 kg!!!!! e a genetica a não ajudar....)

Um grande abraço e até Domingo

Ricardo Costa disse...

Ficam as correcções oportunas, malta. A reter, principalmente, a do Filipe, que, uma vez explicada a situação, tem toda a minha compreensão e solidariedade - primeiro porque também eu, às tantas, fiquei fora do horário familiar. E segundo, pelos condicionalismos da bicicleta. Com 14 kg??!! Meu caro, é o dobro do peso da minha. Desde já me «vergo» ao teu desempenho e espírito de sacrifício! Como dizem os franceses, chapeaux!